Gerais, Sérgio Ramos

Os legados da Casa de Isildur (Relíquias dos Dúnedain)

O Retorno do Rei (arte de Ted Nasmith).
O Retorno do Rei (arte de Ted Nasmith).

Por: Sérgio Ramos*.

Publicado em 24/01/2016.

Uma das histórias mais importantes do Livro Vermelho do Marco Ocidental é a de Aragorn e Arwen, onde uma “parte” é publicada no Apêndice A, I, v, de “O Senhor dos Anéis”, que foi ali inserido por Barahir, neto de Faramir e Éowyn (não confundir com Barahir pai de Beren).

Há uma passagem emblemática onde Elrond transfere para Aragorn algumas das relíquias de sua linhagem.

Mas, quando Estel tinha apenas vinte anos de idade, aconteceu que um dia retornava a Valfenda depois de ter realizado grandes feitos na companhia dos filhos de Elrond; Elrond olhou para ele e ficou satisfeito, pois viu que era belo e nobre, e precocemente atingiria a idade adulta, embora ainda fosse crescer no corpo e na mente. Naquele dia, portanto, Elrond o chamou por seu verdadeiro nome, e revelou-lhe quem era, e o nome de seu pai; entregou-lhe então os legados de sua casa.

– Aqui está o anel de Barahir – disse ele -, o sinal de nosso antigo parentesco; e aqui também estão os fragmentos de Narsil. Com eles você ainda poderá realizar grandes feitos, pois eu prevejo que sua vida será mais longa que a da maioria dos homens, a não ser que o mal o acometa ou que você falhe no teste. Mas o teste será longo e difícil. O Cetro de Annúminas eu reterei, pois você ainda deve fazer por merecê-lo.”

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, v) (destaque nosso)

Já na versão do manuscrito da história, está relatado que:

Elrond mantinha sob sua guarda os legados dos Dúnedain, o principal dos quais eram os fragmentos da espada de Elendil, que veio para a Terra-média de Númenor em sua queda.

(The History of Middle-earth, Vol VII, The Peoples of Middle-earth, Part One, IX, ii) (destaque nosso)

Portanto, revelou-se que aquele jovem Guardião do Norte era, na verdade, da linhagem real de Númenor e Herdeiro de Isildur, sendo assim o Senhor dos Dúnedain. Os legados de sua Casa, que haviam sido guardados pelo Senhor Elrond, começavam a passar para quem de direito.

Valfenda passou a guardar as heranças da Casa de Isildur desde a extinção do Reino do Norte, quando caiu o último Rei e seu filho se tornou o primeiro líder dos dúnedain.

Após Arvedui o Reino do Norte terminou, pois os dúnedain agora eram poucos e todos os povos de Eriador diminuíram. Apesar disso, a linhagem dos reis foi continuada pelos líderes dos dúnedain, dos quais Aranarth, filho de Arvedui, foi o primeiro. Arahael, seu filho, foi criado em Valfenda, assim como todos os filhos de líderes depois dele; ali também foram guardadas as heranças de sua casa: o anel de Barahir, os fragmentos de Narsil, a estrela de Elendil e o cetro de Annúminas.

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, iii) (destaque nosso)

Estava profetizado que um dia o Rei retornaria na pessoa de um descendente de Isildur. Aragorn, filho de Arathorn, seria aquele que passaria por todas as provações necessárias para reivindicar o Trono de Gondor e voltar a envergar os Legados da Casa de Isildur.

– Os vivos nunca usaram aquela estrada desde a chegada dos rohirrim – disse Aragorn -, pois ela está fechada para eles. Mas nesta hora escura o herdeiro de Isildur poderá tomá-la, se ousar fazê-lo. Escutem! Esta é a mensagem que os filhos de Elrond me trazem, enviada de Valfenda por seu pai, o mais sábio na tradição: Peçam a Aragorn que se lembre das palavras do vidente e das Sendas dos Mortos.

– E quais podem ser as palavras do vidente? – disse Legolas.

– Assim falou Malbeth, o Vidente, nos dias de Arvedui, o último rei de Fornost – disse Aragorn:

Sobre a terra se estende longa treva,

asas obscuras que alcançam o oeste.

A Torre treme; nas tumbas dos reis

o destino se adensa. Despertam os Mortos;

pois a hora chegou em que os ímpios se erguem:

na Pedra de Erech de pé ficarão

atentos à trompa tocando nos morros.

De quem é a corneta? Quem os convoca

na aurora cinzenta, a gente esquecida?

O herdeiro do fidalgo a quem fiança fizeram.

Do Norte virá, a necessidade o impele:

passará o portal para as Sendas dos Mortos.*

(O Retorno do Rei, A Passagem da Companhia Cinzenta)

*Tradução retirada da coletânea Poemas de O Senhor dos Anéis.

O Anel de Barahir

Este anel representava a amizade entre elfos e homens. Originalmente, pertencia a Finrod Felagund e foi dado de presente a Barahir (pai de Beren) por ter salvo sua vida em Dagor Bragollach (Batalha das Chamas Repentinas) – a batalha em que Morgoth rompeu o Cerco a Angband e Glaurung liderou Balrogs e Orcs contra as forças élficas, ao final da qual Fingolfin duelou contra o próprio Senhor do Escuro, vindo a encontrar seu fim.

Os filhos de Finarfin foram os mais atingidos pelo impacto do ataque; e Angrod e Argnor foram mortos. A seu lado, caiu Bregolas, senhor da casa de Bëor, bem como grande parte dos guerreiros daquela gente. No entanto, Barahir, irmão de Bregolas, estava na luta mais para o oeste, perto do Passo do Sirion. Ali, o Rei Finrod Felagund, vindo apressado do sul, ficou isolado de sua gente e cercado com poucos acompanhantes no Pântano de Serech. E teria sido morto ou capturado, se Barahir não chegasse com seus homens mais valentes e o resgatasse, protegendo-o com um círculo de lanças para abrir caminho em meio à batalha, com enormes perdas. Assim escapou Felagund e retornou às profundezas de sua fortaleza em Nargothrond; mas fez um juramento de amizade e auxílio permanente em qualquer necessidade a Barahir e toda a sua gente; e, como prova do juramento, deu a Barahir seu anel. Barahir era agora por direito o senhor da Casa de Bëor, e voltou a Dorthonion; mas a maior parte de seu povo fugira de casa para se refugiar na segurança de Hithlum.

(O Silmarillion, cap. XVIII) (destaque nosso)

Felagund entrega o anel a Barahir (arte de Anke-Katrin Eiszmann).
Felagund entrega o anel a Barahir (arte de Anke-Katrin Eiszmann).

Barahir foi morto posteriormente por orcs e o anel quase foi perdido para Sauron, para quem o objeto estava sendo levado pelo capitão orc que o matara, mas Beren recuperou o artefato.

Ali Beren enterrou os ossos do pai e ergueu um túmulo de pedras sobre ele, fazendo um juramento de vingança. Em primeiro lugar, portanto, perseguiu os orcs que haviam matado seu pai e seus parentes. E encontrou seu acampamento à noite, junto ao Poço do Rivil, acima do Pântano de Serech. Graças a sua perícia em andar pelas florestas, conseguiu se aproximar da fogueira sem ser visto. Ali, o capitão se vangloriava de seus feitos e exibia a mão de Barahir, que decepara, para levar a Sauron como sinal de que sua missão fora cumprida. E o anel de Felagund estava nessa mão. Então, Beren saltou de onde estava atrás de uma rocha e matou o capitão. Tomou-lhe a mão com o anel e escapou, sendo defendido pelo destino, pois os orcs ficaram desnorteados, e suas flechas não tinham direção.

(O Silmarillion, cap. XIX)

O anel havia sido criado pelos elfos em Valinor, e tinha uma forma peculiar:

– A morte o senhor pode me dar justa ou injustamente; mas não aceitarei os 

Anel de Barahir (arte de danijel_knez).
Anel de Barahir (arte de danijel_knez).

nomes de plebeu, espião ou escravo. Pelo anel de Felagund, que ele entregou a meu pai no campo de batalha no norte, meu clã não merece ser assim chamado por nenhum elfo, rei ou não.

Foram palavras altivas, e todos os olhos se voltaram para o anel. Pois Beren agora o segurava no alto, e ali refulgiam as gemas verdes que os noldor haviam criado em Valinor. É que esse anel era como serpentes gêmeas, cujos olhos eram esmeraldas, e suas cabeças se encontravam sob uma coroa de flores douradas, que uma serpente sustentava e a outra devorava. Esse era o emblema de Finarfin e de sua Casa. Inclinou-se então Melian para perto de Thingol e, aos sussurros, insistiu para que ele deixasse passar sua ira.

(O Silmarillion, cap. XIX)

O anel, apesar de não possuir poderes especiais, era usado por Beren e servia como verdadeiro amuleto em horas difíceis, além de protegê-lo contra elfos que o confundissem com um inimigo.

Toda aquela planície era mantida sob vigilância pelos elfos de Nargothrond; e cada colina em suas fronteiras era coroada com torres ocultas. Além disso, em todos os seus bosques e campos, arqueiros rondavam em segredo, com equipamento excelente. Suas flechas eram certeiras e letais; e nada se insinuava ali contra a sua vontade. Por isso, antes que Beren avançasse muito na estrada, eles já o haviam percebido, e sua morte estava próxima. Contudo, reconhecendo o perigo, ele sempre segurava no alto o anel de Felagund. E, embora não visse nenhuma criatura viva, em virtude da atitude furtiva dos caçadores, sentia que estava sendo vigiado.

– Sou Beren, filho de Barahir, amigo de Felagund – gritava ele, com frequência. – Levem-me ao Rei!

Por conseguinte, os caçadores não o mataram, mas, reunidos, armaram uma emboscada e ordenaram que parasse. Contudo, ao ver o anel, eles fizeram reverência diante de Beren; embora ele estivesse em estado lastimável, desgrenhado e cansado de caminhar.

(O Silmarillion, cap. XIX)

O Anel de Barahir, assim, se tornou um legado da família, tendo passado de geração para geração, chegando até a família real de Númenor (Elwing o passou para Elros), tendo sobrevivido à sua submersão.

Somente o Anel de Barahir, pai de Beren Maneta, sobreviveu à Queda; pois foi dado por Tar-Elendil a sua filha Silmarien e preservado na Casa dos Senhores de Andúnië, o último dos quais foi Elendil, o Fiel, que fugiu da destruição de Númenor para a Terra-média.

(Contos Inacabados, Segunda Parte, I, Nota2)

Na Terra-média, o Anel continuou como Herança dos Dúnedain até Arvedui, último Rei de Arthedain, e passando aos Chefes dos Dúnedain.

Durante as batalhas contra o Reino de Angmar, Arvedui acabou fugindo para as terras geladas do norte, encontrando auxílio junto aos lossoth, os Homens das Neves de Forochel. Círdan, o Armador, enviou um navio em seu auxílio.

Mas os Homens das Neves estavam inquietos, pois diziam que farejavam perigo no vento. E o chefe dos lossoth disse a Arvedui: – Não monte no monstro do mar! Se as tiverem, os homens do mar poderão nos trazer comida e outras coisas de que necessitamos, e vocês podem permanecer aqui até que o Rei dos Bruxos vá para casa. Pois no verão o poder dele míngua, mas agora seu hálito é mortal, e seu braço frio é comprido.

Mas Arvedui não seguiu o conselho. Agradeceu ao chefe dos lossoth e na despedida deu-lhe seu anel, dizendo: – Este é um objeto que vale muito mais do que você possa imaginar. Simplesmente por ser antigo. Não tem poder algum, exceto a estima que lhe dedicam os membros de minha casa. Não vai ajudá-lo em nada, mas, se seu povo tiver qualquer necessidade, meus parentes podem resgatá-lo em troca de um grande estoque de tudo o que vocês desejarem*.

*Dessa forma foi salvo o anel da Casa de Isildur, já que depois ele foi resgatado pelos dúnedain. Conta-se que era nada menos que o anel que Felagund de Nargothrond deu a Barahir, e que Beren recuperou correndo grandes riscos.

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, iii)

Assim, quase perdido duas vezes (uma com a morte de Barahir e outra com a entrega do objeto ao senhor dos lossoth), o Anel acabou sendo recuperado e finalmente entregue a Aragorn, filho de Arathorn.

Os fragmentos de Narsil

Narsil era a espada de Elendil, Alto-Rei dos Homens na Terra-média, feita na Primeira Era pelo maior ferreiro dos anões daquele tempo.

Telchar forjando Narsil (arte de Donato Giancola).
Telchar forjando Narsil (arte de Donato Giancola).

 Lentamente Aragorn desafivelou o cinto e colocou ele mesmo sua espada de pé contra a parede. – Aqui a coloco – disse ele -; mas ordeno que não a toquem, nem permitam que qualquer outra pessoa ponha as mãos nela. Nesta bainha élfica está a Espada que foi Quebrada, e foi forjada de novo. Telchar a forjou pela primeira vez nas profundezas do tempo*. A morte virá para qualquer um que brandir a espada de Elendil, a não ser o seu herdeiro.

O guarda deu um passo para trás e olhou espantado para Aragorn. Ao que parece, você chegou nas asas da canção, vindo de dias esquecidos – disse ele. – Será, senhor, como ordena.

(As Duas Torres, O Rei do Palácio Dourado) (destaque nosso)

*Trecho ausente da tradução nacional.

Telchar, anão ferreiro de Nogrod, foi responsável por fazer, além de Narsil, a faca Angrist e o Elmo-de-Dragão de Dór-lómin.

Narsil é um nome composto de 2 radicais básicos sem variação ou adjuntos: NAR “fogo” e √THIL “luz branca”. Ele assim simboliza as principais luzes celestiais, como inimigas da escuridão, o Sol (Artar) e a Lua (em Q) Isil.

Carta para Richard Jeffery, 17 de dezembro de 1972.

Não se sabe como a espada passou para os Homens do Oeste, mas ganhou fama ao final da Segunda Era:

O exército de Gil-galad e de Elendil obteve a vitória, pois o poder dos elfos ainda era tremendo naquele tempo, e os númenorianos eram altos e fortes, e terríveis em sua fúria. A Aeglos, a lança de Gil-galad, ninguém conseguia resistir; e a espada de Elendil enchia os orcs e os homens de medo, pois ela refulgia com a luz do Sol e da Lua, e se chamava Narsil.”

(O Silmarillion, Dos Anéis de Poder e da Terceira Era) (destaque nosso)

Na Batalha da Última Aliança, Elendil caiu morto sobre a espada, que foi quebrada. Com o toco de Narsil, seu filho Isildur cortou do corpo derrotado do Senhor do Escuro o dedo junto com o Um Anel.

Os fragmentos de Narsil foram levados para o Reino do Norte pelo escudeiro de Isildur após o desastre dos Campos de Lis.

Agora os orcs se aproximavam. Isildur voltou-se para seu escudeiro: – Ohtar, agora confio isto à sua guarda – disse, entregando-lhe a grande bainha e os fragmentos de Narsil, a espada de Elendil. – Salve-o da captura por todos os meios que puder encontrar e a qualquer custo; até mesmo ao custo de ser considerado um covarde que me desertou. Leve seu companheiro consigo e fuja! Vá! Eu lhe ordeno! – Então Ohtar ajoelhou-se e lhe beijou a mão, e os dois jovens fugiram, descendo ao vale escuro.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, O Desastro dos Campos de Lis)

– Essas informações só vieram para o Norte, e apenas para alguns. Não é de admirar que você não saiba de nada, Boromir. Da ruína dos Campos de Lis, onde Isildur sucumbiu, apenas três homens voltaram pelas montanhas, depois de muito vagarem. Um destes foi Ohtar, o escudeiro de Isildur, que trazia os pedaços da espada de Elendil; e ele os trouxe para Valandil, herdeiro de Isildur, que, por ser apenas uma criança, tinha ficado aqui em Valfenda. Mas Narsil estava quebrada e sua luz se extinguira, e ainda não tinha sido forjada novamente.

(A Sociedade do Anel, O Conselho de Elrond)

Finalmente, os fragmentos de Narsil foram trabalhados em Valfenda e voltaram a ser uma poderosa arma.

A Espada de Elendil foi reforjada por ferreiros élficos, e na lâmina foi inscrito o desenho de sete estrelas, colocadas entre a lua crescente e o sol raiado; em volta delas foram escritas várias runas, pois Aragorn, filho de Arathorn, ia guerrear nas fronteiras de Mordor. Muito brilhante ficou aquela espada depois de restaurada; nela a luz do sol reluzia vermelha, e a luz da lua brilhava fria, e seu gume era resistente e afiado. E Aragorn lhe deu um novo nome, chamando-a de Andúril, Chama do Oeste.

(A Sociedade do Anel, O Anel Vai Para o Sul)

Narsil sendo reforjada em Imladris (arte de Darrell Sweet).
Narsil sendo reforjada em Imladris (arte de Darrell Sweet).

A Estrela de Elendil (Elendilmir)

Mas à frente de todos vinha Aragorn, com a Chama do Oeste, Andúril, como um novo fogo aceso, Narsil reforjada, letal como antigamente, e em sua testa brilhava a estrela de Elendil.

(O Retorno do Rei, A Batalha dos Campos de Pelennor)

No Reino do Norte, por tradição, o Rei não usava coroa. Em seu lugar, uma pedra élfica atada a uma tira de mithril era usada na testa.

Depois da queda de Sauron, Isildur, o filho e herdeiro de Elendil, retornou a Gondor. Lá assumiu a Elendilmir como Rei de Arnor e proclamou seu domínio soberano sobre todos os dúnedain no norte e ao sul; pois era homem de grande orgulho e vigor. Permaneceu em Gondor durante um ano, restaurando sua ordem e definindo seus limites; porém a maior parte do exército de Arnor retornou a Eriador pela estrada númenoriana desde os Vaus do Isen a Fornost.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, O Desastre dos Campos de Lis)

Rei Elessar com a Elendilmir e demais relíquias dos dúnedain (arte de Rowena Morrill).
Rei Elessar com a Elendilmir e demais relíquias dos dúnedain (arte de Rowena Morrill).

Como sabemos, Isildur nunca chegou a Arnor, vindo a sofrer um ataque de orcs nos Campos de Lis, vindo a tombar por um grave ataque de flechas. Na ocasião, usava a Elendilmir (o que fazia com que os orcs o temessem).

Isildur voltou-se para o oeste e, tirando o Anel de uma bolsinha que pendia de uma fina corrente em torno de seu pescoço, colocou-o no dedo com um grito de dor, e nunca mais foi visto por pessoa alguma na Terra-média. Mas a Elendilmir do Oeste não podia ser apagada e de repente resplandeceu vermelha e irada como uma estrela em chamas. Os homens e os orcs recuaram de pavor; e Isildur, puxando um capuz sobre a cabeça, desapareceu noite adentro.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, O Desastre dos Campos de Lis)

Possivelmente, foi justamente este artefato que denunciou sua posição quando, ao atravessar o Anduin a nado de uma margem à outra (ocasião em que o Anel o deixou), foi visto pelos orcs:

Ali levantou-se da água: apenas um homem mortal, uma pequena criatura perdida e abandonada nos ermos da Terra-média. Mas para os orcs de visão noturna que se escondiam à espreita, ele se erguia como uma monstruosa sombra de pavor, com um olho penetrante como uma estrela. Atiraram nele suas flechas envenenadas e fugiram. Desnecessariamente, pois Isildur, desarmado, foi trespassado no coração e na garganta, e sem um grito caiu para trás na água. Nenhum vestígio de seu corpo jamais foi encontrado por elfos ou homens. Assim terminou a primeira vítima da malícia do Anel sem dono: Isildur, segundo Rei de todos os dúnedain, senhor de Arnor e Gondor, e o último naquela era do Mundo.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, O Desastre dos Campos de Lis) (destaque nosso)

Assim, perdeu-se a Elendilmir original, vindo a ser encontrada muito tempo depois pelo Mago Branco e, ainda posteriormente, descoberta por acaso entre artefatos guardados em Orthanc. Aragorn, na posição de Rei, usava uma segunda Elendilmir, que havia sido feita por ferreiros élficos em Imladris.

Na Torre de Isengard, Aragorn promoveu uma restauração, onde foram encontrados diversos artefatos que haviam sumido de seus donos originais. Por trás de uma porta oculta imperceptível, seu amigo Gimli encontrou um armário de aço onde estava uma arca com dois objetos guardados. Um deles era um pequeno estojo com uma fina corrente (com certeza, era a corrente em que Isildur levava o Um Anel). Vale lembrar que Saruman mandou vasculhar as margens do Anduin desde muito tempo antes em busca do Um Anel; provavelmente, ele conseguiu encontrar os próprios restos mortais de Isildur, pois, além da corrente do Anel, havia outro bem inestimável.

Ao lado estava um tesouro sem preço, pranteado por muito tempo como algo perdido para sempre: a própria Elendilmir, a estrela branca de cristal élfico sobre um filete de mithril, que chegara de Silmarien a Elendil e fora tomada por ele como sinal de realeza no Reino do Norte. Todos os reis e líderes que se seguiram a eles em Arnor haviam usado a Elendilmir, até o próprio Elessar; mas apesar de ser uma pedra de grande beleza, feita por artesãos élficos em Imladris para Valandil, filho de Isildur, não tinha a antiguidade nem a potência daquela que fora perdida quando Isildur fugiu para as trevas e não mais voltou.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, As Fontes da Lenda da Morte de Isildur)

Desta forma, ficamos sabendo que a Elendilmir vinha do Ponente, pois Silmarien era filha de Tar-Elendil, o quarto Rei de Númenor, e era passada de geração a geração aos Senhores de Andunië.

Elessar tomou-a para si com reverência, e, quando retornou ao norte e reassumiu a monarquia plena de Arnor, Arwen cingiu-lhe a fronte com a pedra, e os homens silenciavam de espanto ao ver seu esplendor. Mas Elessar não a pôs de novo em risco e somente a usava em dias festivos no Reino do Norte. Em outras ocasiões, quando envergava vestes reais usava a Elendilmir que lhe fora legada, – E também esta é objeto de reverência – dizia – e acima do meu valor; quarenta cabeças a usaram antes.

(Contos Inacabados, Terceira Parte, cap. I, As Fontes da Lenda da Morte de Isildur)

O Cetro de Annúminas

Conta-nos o Rei que o cetro era o principal símbolo de realeza em Númenor; o mesmo acontecia em Arnor, cujos reis não usavam coroa, mas traziam na testa uma única pedra, chamada Elendilmir, Estrela de Elendil, presa por um filete de prata. Falando em uma coroa, Bilbo sem dúvida estava se referindo a Gondor; ao que parece, ele se inteirou dos assuntos concernentes à linhagem de Aragorn. Comenta-se que o cetro de Númenor desapareceu com Ar-Pharazôn. O de Annúminas era o bastão de prata dos Senhores de Andunië, e talvez seja atualmente o mais antigo trabalho feito por homens preservado na Terra-média. Já tinha mais de cinco mil anos quando Elrond o entregou a Aragorn.

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, iii)

Com a coroação, Aragorn, filho de Arathorn, recebeu enfim o Cetro de Annúminas do Senhor Elrond, vindo, assim, a utilizar todos os Legados da Casa de Isildur em seu reinado.

Rei Elessar (arte de Jay Johnston).
Rei Elessar (arte de Jay Johnston).

 E aconteceu que na hora da derrota Aragorn surgiu do mar e desfraldou o estandarte de Arwen na batalha dos Campos de Pelennor, e naquele dia foi pela primeira vez aclamado como rei. E por fim, quando tudo estava consumado, ele assumiu a herança de seus antepassados e recebeu a coroa de Gondor e o cetro de Arnor; e no Solstício de Verão do ano da Queda de Sauron ele tomou a mão de Arwen Undómiel, e os dois se casaram na cidade dos reis.

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, v) (destaque nosso)

Quando chegou a hora de partir, o Rei Elessar entregou o sinal de realeza para seu filho Eldarion.

Então, dirigindo-se para a Casa dos Reis, na rua Silenciosa, Aragorn deitou-se no longo leito que lhe fora preparado. Ali disse adeus a Eldarion, e entregou-lhe nas mãos a coroa alada de Gondor e o cetro de Arnor; depois todos o deixaram, com exceção de Arwen, que ficou sozinha ao lado do leito. E, com toda a sua sabedoria e nobreza, ela não pôde evitar de implorar que ele ficasse ainda por mais um tempo. Ainda não estava cansada de seus dias, e assim provou o gosto amargo da mortalidade que assumira para si.

(O Senhor dos Anéis, Apêndice A, I, v) (destaque nosso)

*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, artista marcial e entusiasta de histórias de heróis.
*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, artista marcial e entusiasta de histórias de heróis.