Para se inteirar sobre o tema é interessante que você tenha lido os seguintes artigos:
- Conclusões sobre a mudança de “orc” para “orque” pela editora Harper Collins Brasil
- Nota de esclarecimento sobre o novo padrão de tradução de Tolkien
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Após a Nota da Editora Harper Collins Brasil sobre a palavra Orque e Gobelim, onde verificamos que a equipe da editora não leu atentamente os artigos sobre o tema e se quer se prestaram a assistir os vídeos com comentários (pois se leram não conseguiram entender o que foi explicado, mesmo com tudo bem explicado). O tradutor Reinaldo José Lopes decidiu expressar sua opinião a respeito, pois foi ele o idealizador de “Orque” e “Gobelim”. O que se segue é o texto dele com comentários. O tom de suas palavras parece ser o de alguém com deboche ou tratando a situação de forma desprezível e em vários pontos deixou de usar argumentos para partir para a ofensa ou tratando de forma pejorativa a pesquisa realizada. No entanto, garantimos o direito de resposta em todas as ocasiões, assim como fizemos com a nota da editora sobre o caso, não deixaremos de publicar o dito com a mesma publicidade dos questionamentos. Ademais, o texto se concentra em pontos periféricos ao tema e não trata da questão central, que é a impossibilidade de se fazer adaptação fonética com as palavras Orc e Goblin, conforme enunciado pelo próprio Tolkien em diversas cartas e documentos que podem ser lidos todos na integra AQUI. Uma simples comparação entre o que o tradutor comenta e o que foi proposto no site demonstra a técnica de um e outro sobre o tema. Renovamos o pedido a editora para que corrija os erros e altere os termos “Orque” e “Gobelim” para o original “Orc” e “Goblin” que foi expresso pelo próprio Tolkien. Segue os comentários do tradutor:
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Tradutor da HarperCollins Brasil em vermelho. Respostas em preto.
A treta sobre o uso de termos como Orques e Gobelins nas novas edições da obra de Tolkien, publicadas pela editora HarperCollins Brasil, voltou com toda a força nos últimos dias. Eduardo Oliferr, do site Tolkien Brasil, que já tinha escrito uma série monumental (embora profundamente equivocada; stay tuned) de artigos sobre o tema condenando as novas traduções, iniciou uma verdadeira campanha em sua página do Facebook, conclamando outros fãs a manifestar sua contrariedade e praticamente exigindo que a editora altere os termos. Há uma ameaça mal-disfarçada de boicote no ar. Bem, como vocês sabem, eu sou parte interessada nessa história. Sou o tradutor de A Queda de Gondolin, O Silmarillion e O Hobbit e membro do Conselho de Tradução da HarperCollins Brasil junto com os colegas tradutores Gabriel Brum (também aqui da Valinor) e Ronald Kyrmse. Creio firmemente, porém, que temos argumentos muito bons do nosso lado. E me parece claríssimo que a análise feita pelo Eduardo é parcial, enviesada e, em última instância, errada. Abaixo, explico o porquê disso ponto a ponto, aproveitando para citar várias críticas ou dúvidas das pessoas que estão atacando as novas traduções.
O tradutor diz que a pesquisa sobre o tema foi “uma série monumental (embora profundamente equivocada). Estranhamente não apontou até o momento nenhum comentário abaixo que desabone a pesquisa como um todo. Não se trata de “condenando as novas traduções”. Se o tradutor tivesse visto os vídeos e lido os artigos, está expresso que se trata do questionamento quanto aos dois termos errados “Orque” e “Gobelim”. O direito de expressão é algo sagrado em nossa democracia e isso jamais pode ser eliminado, ainda mais quando uma editora pretende impor termos que contrariam as diretrizes deixadas por Tolkien. É direito de todo cidadão se manifestar contra algo que não gostou e de expor isso de forma livre, arcando com as consequências de seus atos se forem ilícitos. Da mesma forma, como consumidores e fãs dos livros do Tolkien é direito de cada um optar entre comprar os novos livros com os erros ou não comprar. Em nenhum momento nenhum membro da equipe Tolkien Brasil disse para que os livros deixem de ser comprados ou propor boicotes. Isso está na liberdade de cada consciência e não somos nós que vamos impor algo ao público. Apenas foi divulgado que existem erros nessas traduções e são erros voluntários. De fato, o Reinaldo José Lopes, que traduziu seu primeiro livro “A Queda de Gondolin” e é parte interessada nesse tema por ter sido o autor de “Orque” e “Gobelim”. Em nenhum momento do texto apresentado pelo tradutor foi evidenciado os textos completos, como fizemos nos artigos da Tolkien Brasil. Os trechos apresentados são recortados para dar a impressão de que são fundamentos, quando na verdade não foram apresentados de forma coerente, por isso são mostrados em sua integra. Além disso o tradutor da Harper Collins Brasil usa diversas falácias argumentativas que estão evidentes, como será visto a seguir.
1)“Tolkien odiava/não aceitava adaptações fonéticas de qualquer tipo nos termos de suas obras” Isso é, no máximo, sendo muito generoso, uma meia-verdade. O problema é tomar como verdade absoluta uma “fotografia” de UM momento específico citado nas Cartas de Tolkien, nos anos 1950, e extrapolar isso pra todos os lugares e todas as épocas em que foram feitas traduções da obra tolkieniana. Não sei se vocês sabem, mas Tolkien era… gente. Um ser humano, que mudava de ideia, negociava, avançava e recuava, esquecia as coisas. Isso tem de ser levado em consideração. Sim, Tolkien ficou chocado quando tradutores holandeses e suecos, nos anos 1950, resolveram traduzir ou adaptar a nomenclatura inglesa do Condado e dos nomes dos hobbits. A primeira reação dele foi vetar tudo, e aí teremos edições totalmente anglicizadas por aí. Mas lentamente ele foi levando em consideração que suas obras são, em tese, supostas traduções de manuscritos antigos em línguas que não têm nada a ver com o inglês, e que, portanto, tudo o que está em inglês – segundo essa teoria – seria “traduzível” ou adaptável foneticamente, em alguma medida. Ele continuou meio infeliz com a ideia num nível visceral, mas sabia que era o certo a fazer.
Aqui o tradutor incorre na Falácia do espantalho, posto que não foi mencionado nos artigos da Tolkien a frase em negrito e nem mesmo por algum membro do site. O fato é que o foco dos artigos foi em torno das palavras “Orc” e “Goblin” e não há nenhuma carta ou documento que mostre que tais palavras são adaptáveis foneticamente conforme regras do Tolkien. Todas as citações do Tolkien sobre a palavra Orc e como deve ser traduzida podem ser lidas AQUI.
Aqui é apresentado um breve retrospecto de como Tolkien lidava com traduções. Para verificar o que o Tolkien dizia, em ordem cronológica, acesse esse artigo AQUI. Tolkien não gostava de adaptações fonéticas ou criações feitas por tradutores, como foi o caso da Suécia e o exposto acima. Mas o tradutor erra ao dizer que “tudo o que está em inglês – segundo essa teoria – seria traduzível ou adaptável foneticamente, em alguma medida”. Pois a ideia do Tolkien era de que sua obra era tipicamente inglesa, mesmo que fosse traduzida para dar maior conforto aos leitores, a essência da obra se manteria inglesa.
Como um princípio geral para a orientação da [Sra. Skibniewska], minha preferência é, o quanto possível, pelo mínimo de tradução ou alteração de qualquer nome. Como ela percebeu, este é um livro em Inglês e seu jeito Inglês não deve ser erradicado. (SCULL. HAMMOND. Reader’s Guide. p. 1036-1037).[1]
O que aconteceu depois dessa afirmação foi que o Tolkien escreveu um guia para os tradutores dinamarqueses e alemães. Nesse guia, muitas palavras foram deixadas inalteradas e se manteve a essência “inglesa” da obra. Várias são as palavras que foram inalteradas e que tem sua origem no Inglês Antigo. Por exemplo, a palavra “Ent”. Então, a tradução tem que dar significado para o leitor de língua não inglesa, mas as características não são completamente abandonadas, especialmente as de forma setentrional europeia.
E ele próprio sugere a possibilidade de adaptações ortográficas e fonéticas na Nomenclatura de O Senhor dos Anéis, documento que preparou para os tradutores nos anos 1960. Dois exemplos claros são os nomes Sharkey (o apelido de Saruman, traduzido como Charcote na edição da Martins Fontes) e Maggot, sobrenome do fazendeiro Magote. Sobre Sharkey, Tolkien escreve: “A palavra, portanto, com uma modificação de ortografia para se adequar à LT [língua de tradução]; a alteração do sufixo diminutivo e quase afetuoso –ey para se adequar à LT também seria adequada”. Daí “Charcote” (a terminação lembra “mascote”, “filhote” em português). Eis um trecho do verbete sobre Maggot: “A ideia é que seja um nome ‘sem significado’ (…) provavelmente é melhor deixá-lo intacto, embora alguma assimilação ao estilo da LT também fosse adequada”. Isso explica a remoção do “g” duplo e a vogal no final em “Magote”. (Aliás, notem o “provavelmente”. Tolkien sabia que o trabalho de tradução comporta incertezas e soluções que variam – diferentemente de alguns de seus fãs…).
Em seguida o tradutor incorre na falácia da Generalização apressada (também chamada de Inversão do Acidente). Esse tipo de falácia implica em apresentar uma exceção como sendo base para uma generalização. Ou seja, se pode uma coisa específica, logo podemos fazer o mesmo com o total. Seria o caso de dizer “se Tolkien aceitou algumas adaptações, logo, ele aceitaria também adaptação fonética das palavras Orque e Gobelim”. Ora, não é preciso dizer que isso está fora da lógica. Primeiramente pelo fato de que a exceção não forma a regra. O guia dos tradutores é bem claro ao dizer que “as palavras devem ser traduzidas pelo seu significado (o mais próximo possível)”. Essa é a regra, que tem que ser aplicada, as exceções são quando o próprio autor, por liberalidade concede alguma possibilidade não enquadrada na regra geral.
O Guia para tradutores apresenta regras para diversas palavras. Cada uma com seu significado e características próprias. Sharkey e Maggot são regras específicas, onde o autor tentou conformar os nomes para as línguas germânicas (para quem o guia foi escrito originalmente). A seguir são apresentados os textos na integra, para elucidar melhor o tema:
Sharkey. Este é suposto ser um apelido modificado para se encaixar na Língua Comum (no Inglês textanglicizado), baseado no orkish sharkû ‘homem velho’. A palavra deve, portanto, ser mantida com a modificação da ortografia para se adequar à Língua da Tradução; a alteração do sufixo diminutivo e quase afetivo -ey para se ajustar à Língua de Tradução também seria aplicável. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p.763).[2]
A regra é clara, uma vez que a palavra “Sharkey” é uma forma inglesa da palavra “sharku”, o tradutor deveria se preocupar em realizar algo parecido. Mas isso implica em dizer que Tolkien está liberando a adaptação fonética para todas as palavras? Não. Trata-se de caso específico e não tem relação com as palavras “Orc” e “Goblin”, pois o próprio guia dos tradutores tem a regra expressa sobre Orc.
Maggot. Pretende ser um nome “sem sentido”, parecido com hobbit no som. Na verdade, é um acidente que maggot é uma palavra inglesa que significa ‘verme’ ‘larva’. A tradução holandesa tem Van de Made, (made = Alemão Made, Inglês Antigo maða ‘maggot’), mas é provavelmente melhor deixar o nome inalterável, como na tradução sueca, apesar de alguma assimilação ao estilo da língua da tradução pudesse ser colocada. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p. 760)[3]
Como visto, Tolkien novamente se preocupa com o sentido das palavras. Ele observou que a palavra “Maggot” era do seu mundo e não tinha um sentido claro, por isso deveria ser mantida com pequenas alterações. Não se trata de adaptação fonética como pretendem os tradutores brasileiros nas palavras “Orc” e “Goblin”.
Mesmo com essas diretrizes das palavras “Sharkey” e “Maggot”, Tolkien deixou claro no mesmo guia como pretendia que a palavra “Orc” fosse colocada em suas obras. E é claro que ele afirmou que “Deveria ser mantida”, ou seja, nada de adaptação fonética. O trecho do guia a seguir foi analisado parágrafo por parágrafo em nosso artigo sobre as diretrizes do Tolkien AQUI.
Orc. Este é o suposto nome na Língua Comum dessas criaturas naquela época. Portanto, de acordo com o sistema deve ser traduzido para o inglês, ou a língua da tradução. Foi traduzido como “goblin” em O Hobbit, exceto em um lugar; mas esta palavra, e outras palavras de sentido similar em outras línguas europeias (até onde eu sei), não são realmente adequadas. O orc em O Senhor dos Anéis e O Silmarillion, embora certamente feito em parte de características tradicionais, não é realmente comparável em suposta origem, funções e relação aos Elfos. Em qualquer caso orc me pareceu, e parece, no som um bom nome para essas criaturas. Deveria ser mantido. Deveria ser escrito ork (como na tradução holandesa) em uma língua germânica, mas eu usei a grafia orc em tantos lugares que hesitei em mudá-lo no texto em inglês, embora o adjetivo seja necessariamente escrito orkish. A forma élfica-cinzenta é orch, plural yrch. Eu originalmente peguei a palavra do inglês antigo orc [Beowulf 112 orc-nass e a glosa orc = pyrs (‘ogre’), heldeofol (‘diabo do inferno’)]. Não se deve supor que isso esteja ligado com o Inglês moderno orc, ork, um nome aplicado a vários animais marinhos da ordem dos golfinhos. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p. 761-762)[4]
2)Mas ele jamais permitiria esse tipo de coisa com as palavras mais importantes de sua obra!!! Errado. Um dos volumes da obra “The J.R.R. Tolkien Companion & Guide”, obra de referência organizada por Christina Scull e Wayne Hammond, mostra Tolkien totalmente aberto a negociar mudanças sutis e mesmo brutais para o termo “hobbit”. Sim, “hobbit”. Em 1962, a editora Fabril, de Buenos Aires, estava negociando a publicação de uma tradução de O Hobbit, e Tolkien disse o seguinte: “Numa língua latina, o termo ‘hobbits’ parece horroroso e, se eu tivesse sido consultado antes, teria concordado imediatamente com alguma naturalização da forma: p. ex. ‘hobitos’, que combina melhor com ‘elfos’, palavra adotada há muito, além da boa sorte de conter o sufixo normal diminutivo do espanhol [-ito, no caso].”A editora chegou a propor ‘jobitos’, uma vez que, como em português, o “h” do espanhol é mudo, enquanto o “j” do castelhano é aspirado. Tolkien disse que preferia “hobitos” e acrescentou que muitos hobbits provavelmente abandonavam o “h” aspirado no começo das palavras, tal como os camponeses da Inglaterra. Ou seja, alguns hobbits diziam ser “óbits”!
Aqui o tradutor incorre na Falácia do espantalho, posto que não foi mencionado nos artigos da Tolkien a frase em negrito e nem mesmo por algum membro do site. O fato é que o foco dos artigos foi em torno das palavras “Orc” e “Goblin” e não há nenhuma carta ou documento que mostre que tais palavras são adaptáveis foneticamente conforme regras do Tolkien. Em seguida o tradutor incorre novamente na falácia da Generalização apressada (também chamada de Inversão do Acidente).
Tolkien era um escritor que valorizava suas palavras criadas e não gostava da ideia de outra pessoa intervindo nisso. O mundo do Tolkien foi criado, aliás, tendo como base as palavras sendo criadas em primeiro momento e, posteriormente, as histórias. Conforme pode ser visto no trecho abaixo, quando o autor se deparou com tradutores que desejavam criar coisas com seus nomes:
Gostaria de evitar uma repetição de minha experiência com a tradução sueca de O Hobbit. Descobri que essa tradução tomou liberdades injustificadas com o texto e com outros detalhes, sem consulta ou aprovação; ela também foi desfavoravelmente criticada no geral por um especialista sueco, familiarizado com o original, a quem a enviei. Tenho em conta o texto (em todos seus detalhes) de O Senhor dos Anéis com muito mais ciúme. Alterações, grandes ou pequenas, rearranjos ou resumos deste texto não serão aprovados por mim — a não ser que provenham de mim mesmo ou de consulta direta. Espero sinceramente que essa minha preocupação seja levada em consideração. (TOLKIEN. Carta de 3 de abril de 1956, para a Allen & Unwin)[5]
Em seus comentários, o tradutor não mencionou o trecho completo e omitiu especialmente o início do parágrafo que contextualiza o ocorrido. Aqui está o trecho na integra, onde está demonstrado que se trata de casos excepcionais, onde o próprio Tolkien aceitou modificar as palavras.
Seguindo as dificuldades de Tolkien com O Senhor dos Anéis da Suécia, os contratos para traduções de O Hobbit e O Senhor dos Anéis estipulavam que a palavra Hobbit fosse mantida. Tolkien estava, no entanto, disposto a aceitar outra palavra em circunstâncias especiais. Quando uma nova tradução sueca de O Hobbit estava sendo preparada, Tolkien escreveu para Alina Dadlez que seria melhor usar a mesma palavra que havia aparecido no Senhor dos Anéis da Suécia – mas ‘Hobbit’ foi usado mesmo assim. Em uma carta sobre a tradução para o espanhol de O Hobbit, em 20 de julho de 1962, ele escreveu: “Em uma língua latina hobbits parece terrível, e se eu tivesse sido consultado anteriormente, teria prontamente concordado com alguma naturalização da forma: por ex. hobitos, que consorcia melhor com elfos há muito adotados, ao mesmo tempo que tinha a sorte de conter o sufixo diminutivo Es[panhol] normal, e um tronco hob-, que, tanto quanto sei, não tem associações em espanhol” (Tolkien- George Allen & Unwin, HarperCollins). Dadlez passou os comentários de Tolkien para o editor, Fabril, em Buenos Aires, que respondeu em 14 de setembro de 1962 que como h é mudo em espanhol talvez devesse ser jobitos. Dadlez explicou isso a Tolkien, que escreveu em 19 de setembro: “Prefiro hobitos, pois preserva melhor a relação com a palavra original. Eu não me importo muito que o h seja “mudo”; Tenho certeza de que muitos hobbits engolem seus hs como a maioria das crianças rurais na Inglaterra” (arquivo de Tolkien-George Allen & Unwin, HarperCollins). (Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins). (SCULL, Christina. HAMMOND, Wayne. The J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, p. 1035-1036).[6]
Posterior a edição de 1964, as versões em espanhol vieram com o nome “hobbit”, pois decidiram seguir o Guia para tradutores do Tolkien de 1967, que diz expressamente que a palavra Hobbit deve ser mantida. Mas, voltando ao foco do assunto, que é tratar sobre “Orc” e “Goblin”, é importante ressaltar que a tradutora argentina Tereza Sánchez Cuevas traduziu “goblin” como sendo “duende”. Nada de adaptação fonética aqui. Se fosse o caso, o próprio Tolkien teria sugerido alteração ou reclamaria disso, caso verificasse uma incoerência muito evidente. Mas a tradutora realizou uma tradução de “Goblin” pelo seu significado mais próximo no espanhol.
Em outra negociação, desta vez em 1968, com a editora francesa Editions Stock, a empresa propôs alterar “hobbit” para “hopin” porque “hobbit” parecia um palavrão francês (eles não dizem qual). Tolkien fez birra, jogou-se no chão e chamou os franceses de bobos, feios e chatos. Né?Não. Tolkien embarcou na ideia.“De qualquer modo, ‘hopin’ me parece uma solução apropriada e engenhosa: ‘hopin’ está para ‘lapin’ [“coelho” em francês] assim como ‘hobbit’ está para ‘rabbit’ [“coelho” em inglês].” Para quem não se lembra, essa comparação entre hobbits e coelhos aparece várias vezes no livro. Ele só pediu para os ilustradores não desenharem Bilbo com cara de coelho por causa disso. Mas fiquem tranquilos – estamos sendo conservadores e não vamos mexer em “hobbit”. Mais conservadores que o próprio Tolkien, pelo visto…
Continuando na mesma empreitada falaciosa, novamente o tradutor não apresenta argumentos sólidos e não mostrou o texto de forma completa. Segue abaixo o parágrafo na integra, onde diz logo ao final que na edição francesa, após os debates a palavra “hobbit” foi mantida:
Em 13 de maio de 1968, Andre Bay da Editions Stock, que estava prestes a publicar uma tradução francesa de O Hobbit, escreveu a Alina Dadlez que ele estava insatisfeito com a palavra Hobbit, que tinha conotações em francês – que, no entanto, ele não ousava explicar a uma mulher. Ele sugeriu Hopin em seu lugar. Quando isto foi levado ao Tolkien, ele respondeu: “Devemos confiar nas objeções levantadas por aqueles que sabem mais das profundezas da linguagem coloquial! De qualquer forma, hopin parece-me uma solução adequada e engenhosa: hopin / lapin = hobbit / rabbit, suponho. Não que eu pretendesse tal conexão. Então, esperemos que seja assim: desde que qualquer ilustrador saiba que isso não deve influenciá-lo indevidamente ”(15 de maio de 1968, arquivo Tolkien-George Allen & Unwin, HarperCollins). No final, a tradução francesa também usou a forma hobbit. (SCULL, Christina. HAMMOND, Wayne. The J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, p. 1036).[7]
Não é preciso racionar muito para perceber que a preocupação do Tolkien e do tradutor francês era com o significado e não com uma adaptação fonética (nos moldes dos tradutores brasileiros). A ideia central foi a confusão de significado que a palavra poderia trazer aos franceses. Enquanto que o caso apresentado “Gobelim”, por exemplo, tem o significado que é o mesmo que a “tapeçaria francesa”. Não é uma palavra com significado semelhante. Enquanto que “Orque” não existe em língua portuguesa e não significa nada. Deve ser acrescentado o fato de que essa palavra “hopin” foi feita com a autorização do próprio Tolkien, enquanto que a tradução brasileira não conta com esse fino acompanhamento, uma vez que, logicamente, Tolkien não está mais entre nós fisicamente.
3)Ah, mas nenhuma tradução europeia acabou seguindo essas ideias. Dois grandes especialistas em Tolkien também são contra elas. Vocês querem saber mais que eles? Verdadeiro, porém irrelevante. Esse raciocínio parte de uma visão binária: se a nossa escolha de tradução é boa, a deles é ruim, e vice-versa. Bom, em tradução isso é relativamente raro. A não ser que a gente estivesse errando o significado ou o tom de uma palavra (trocando um termo formal por gíria, por exemplo), não existe 100% errado ou certo nessa área. O que existe são ESCOLHAS que podem ser defensáveis ou não, por diferentes motivos. Manter o termo original é defensável? Totalmente. Ligeiras adaptações ao estilo da língua de tradução são defensáveis? A resposta, como o próprio Tolkien deixou entrever, também é SIM. Ah, e só pra arrematar, isso é, no fundo, argumento de autoridade. Ou seja, uma falácia lógica.
Novamente outra falácia do espantalho. Em nenhum momento foi dito que apenas dois especialistas estrangeiros são em desfavor de adaptações fonéticas. A pesquisa foi feita com base em informações colhidas por diversos tradutores e especialistas. Foi uma pesquisa ampla. Os nomes estão listados logo no início do primeiro artigo sobre o tema. Mas que são aqui novamente repetidos: Oronzo Cilli, Carl F. Hostetter, Jared Lobdell David Giraudeau, Paulo Pereira, Henk Brassien, Edouard Kloczko, Audrey Morelle, Vicent Ferré, Daniel Lauzon e Vittoria Alliatta di Vilafranca.
Esses foram especialistas em Tolkien que foram consultados por sua relevância acadêmica e por terem trabalhado diretamente com as obras do Tolkien. Em especial, Jared Lobdell que foi o editor oficial do “Guia para tradutores” em 1975, com auxílio de Christopher Tolkien. O guia foi escrito pelo próprio Tolkien em 1967, como dito acima. Jared Lobdell tem atualmente 82 anos, sendo professor de crítica literária nos E.U.A e é considerado um grande especialista em Tolkien desde a década de 60. Tendo diversos livros e artigos acadêmicos publicados. Sim, o editor do mesmo “guia para tradutores” que os tradutores brasileiros não seguem da forma correta nas palavras “Orc” e “Goblin”. Ao questionarmos sobre o tema Jared Lobdell nos informou o seguinte, com base no guia dos tradutores escrito pelo Tolkien, que o próprio Jared publicou:
“Provavelmente “ork” seria melhor. Tolkien sugeriu manter Orc (ou Ork). Não confundir com o monstro marítimo “orc” “orca”. Quanto a “Goblin”, fique longe de tapeçarias ou carpetes. Deve existir uma palavra em Português para essa criatura. Mas você deve procurar. Não conheço ninguém que tenha traduzido foneticamente tais palavras.” Jared Lobdell, editor oficial do Guia para tradutores em 20 de janeiro de 2019.
Se não for válido o próprio editor do Guia para tradutores, alguém academicamente preparado em sua própria língua nativa inglesa (que não é a língua nativa dos tradutores), interpreta de forma completamente diferente dos tradutores brasileiros (que são os únicos que adotam adaptação fonética), quem poderia ser mais confiável no tema?
Bom, consultamos também, a princesa italiana Vittoria Alliata de Villa Franca, cuja entrevista completa está publicada AQUI. Ela teve contato com o próprio Tolkien durante a tradução para o italiano. E novamente… ela não realizou adaptação fonética e Tolkien não permitiu que ela fizesse. A sua tradução foi feita passo a passo acompanhada pelo Tolkien, que considerou a melhor tradução feita naquela época (Tolkien sabia falar italiano e até viajou para a Itália na década de 50).
Não basta esses dois nomes ? Tudo bem. Veja abaixo a lista de traduções e como os tradutores de línguas românicas fizeram em relação a palavra Goblin. Nenhum deles realizou adaptação fonética, nem mesmo os que tiveram contato com o Tolkien, como foi o caso da edição argentina de 1964, como mencionado acima. A opção foi a de manter o nome “Goblin” ou traduzir para uma criatura folclórica de cada região. Nada de adaptação fonética.
Mesmo apresentando todas as citações do próprio Tolkien em artigos completos. Mesmo diante de estudo com fontes de diversos outros especialistas internacionais, mesmo com posição totalmente diferente de todos os outros tradutores, será que estão realmente corretos?
Mas claro… “apenas” os tradutores Gabriel Oliva Blum e Reinaldo José Lopes “são os melhores e maiores quando se trata sobre Tolkien”… conforme eles mesmos publicaram em redes sociais em sua página (momento para rir bastante):
4) Vocês não estão traduzindo, estão só inventando palavra!Bom, não sei se vocês sabem, mas palavras são inventadas o tempo todo. Tipo “futebol”, “upar”, e “shippar”. Isso normalmente acontece quando a língua de tradução não tem equivalentes considerados precisos para o termo designado na chamada língua de partida (o idioma original). “Duendes”, em português, são entidades com associações fofinhas e naturebas que não dão conta dos “goblins” de Tolkien – daí a opção por “gobelim/gobelins”. Quanto a “Orc”, nunca tivemos uma palavra que sequer se aproximasse em sentido ou tom no nosso idioma. A opção mais lógica é abraçá-las como neologismos – desde que a adaptação fonética necessária seja feita. Aliás, no caso de “Orc” a adaptação fica na fronteira entre o fonético e o gráfico. Ou você conhece algum brasileiro que pronunciasse “Orc” de um jeito que não soasse como “Orque” (aliás, “orqui”, né)?
Ao que indica, o tradutor incorreu em uma falácia “tu quoque”. O tradutor compara palavras que são incorporadas em um processo diferente do que estão propondo. A palavra “Orc” e “Goblin” já comporta um significado na língua portuguesa. É como a palavra “Rock” ou “Marketing” e tantas outras que tem seu significado próprio sem ter alterações fonéticas. E importante dizer que
Em princípio, oponho-me de toda maneira tão fortemente quanto possível à “tradução” da nomenclatura (mesmo por uma pessoa competente). Pergunto-me por que um tradutor deva considerar-se requisitado ou no direito de fazer qualquer coisa semelhante. O fato de este ser um mundo “imaginário” não lhe dá qualquer direito de remodelá-lo de acordo com seu gosto, mesmo que ele pudesse em poucos meses criar uma nova estrutura coerente que levei anos para desenvolver. (TOLKIEN. Carta para Rayner Unwin de 3 de julho de 1956).[8]
A passagem acima evidencia que o Tolkien se preocupava com as palavras do seu mundo. Ele gostaria que os tradutores tivessem o mínimo de respeito e o consultassem antes de criar uma palavra no ato de traduzir. Foi devido a esses problemas com tradutores que em 1967 ele escreveu o guia para tradutores, com a finalidade de evitar que os tradutores tivessem ampla liberdade com nomes de seu mundo. É evidente que o Tolkien tinha bastante cuidado com os nomes do seu mundo a ponto de os considerar como uma parte fundamental de todas as histórias. Será que realmente ele daria liberdade a um tradutor para criar palavras ou mesmo fazer “adaptação fonética” não expressa em seu guia? Não. A conclusão parece ser bem enfática, uma vez que ele, por muito tempo achava que os nomes não deveriam ser traduzidos e somente com a escrita do guia foi que ele listou os nomes que teriam essa possibilidade.
5) O próximo passo vai ser “robitos” e “Tomás Bombadinho”! É um absurdo! Temer essa possibilidade é simples falta de atenção com a maneira como temos trabalhado. As mudanças só afetaram essas palavras porque elas não foram criadas por Tolkien nem são nomes pessoais, mas estão em uso na língua inglesa faz tempo e, portanto, podem ser pensadas como substantivos comuns “adaptáveis”. E, de novo, Tolkien ressalta que o importante é o SOM de “Orc”, não a grafia. Aliás, nota de rodapé: “hobbit” também tinha registro em certos compêndios antes da obra de Tolkien, mas parece que era o termo usado para falar de um ente sobrenatural que não tem nada a ver com Bilbo e companhia. Para todos os efeitos, faz mais sentido tratá-la como invenção de Tolkien e, portanto, mais “intocável”.
Essa é uma Falácia do Espantalho. Em nenhum momento dos artigos foi mencionado tal expressão ou mesmo indicativo de que seria dessa forma as novas edições da HarperCollins Brasil. Além disso,o tradutor usou a falácia da redução ao absurdo. Por serem apenas falácias e não apresentar argumentos sólidos é prudente ignorar e prosseguir nos comentários.
6)Mas gobelim é nome de tapeçaria! Meia-verdade, mas irrelevante. Na verdade o termo preferido pelos dicionários, como o Houaiss, é “gobelino”.Mas e daí? Será que, a esta altura do campeonato, preciso mesmo apresentar a alguém supostamente tão douto quanto o Eduardo o conceito de homófono e homógrafo? “Pena” pode ser de galinha, de dó ou de tempo passado na prisão. Isso por acaso faz a palavra ser proibida em português? De mais a mais, quantas pessoas com nível superior que você conhece vão imediatamente gritar “tapete!” quando você diz “gobelim”?
Pelo menos três falácias são usadas nessa parte: do apelo à vaidade, Non sectur, Apelo ao rico (Ad Crumenam). Mesmo sendo argumentos sem base, é importante apresentar mais informações ao leitor a seguir. Ao que parece o tradutor não pesquisou a respeito do tema. Uma simples pesquisa no Google é possível se verificar o uso da palavra “Gobelim” com o significado de “tapete francês” em diversos dicionários online. A palavra pode ser escrita “Gobelino” ou “Gobelim”. O fato desse ser o conceito da palavra implica em justamente um grande erro. Pois a ideia central do Tolkien era que os nomes de seu mundo fossem compreendidos pelo significado. Palavras de seu mundo que conflitassem com outras de significado diferente deveriam ser analisadas. Como foi o mesmo caso do nome Hobbit na edição francesa, visto acima. Onde o tradutor estava questionando o significado da palavra em Francês e dizendo que seria conflitante adotar a palavra dessa forma. O mesmo ocorre com Gobelim, que por já ter um significado próprio em língua portuguesa conflita com a escolha. Não se trata de colocar uma palavra em nosso idioma com dois ou mais significados, mas sim de observar as diretrizes do Tolkien que foi “traduzir pelo significado” as palavras indicadas no guia para tradutores. Gobelim não é o mesmo que Goblin na língua portuguesa e só por isso não é correto, dentro das diretrizes do Tolkien, escolher tal palavra. Ademais, no Guia para os tradutores do Tolkien a primeira regra básica é “as palavras não listadas no guia, devem permanecer inalteráveis inteiramente”. Não é difícil analisar o guia e verificar que Goblin não está listado como um nome traduzível e não existe nenhuma regra do Tolkien dizendo que tal nome deva ser adaptado foneticamente. A regra é simples: ou se mantém Goblin no original ou se traduz pelo significado. Foi assim que todos os tradutores atuaram e apenas os tradutores brasileiros da Harper Collins Brasil fizeram adaptação fonética (sem previsão expressa do Tolkien).
Ainda está sendo finalizado um artigo sobre a palavra Goblin e diversas informações são apresentadas. Mas já pode ser adiantado que “Gobelim” foi a escolha mais equivocada da Harper Collins Brasil, pelo simples fato de que: Tolkien não escreveu nenhuma regra para que essa palavra seja adaptada foneticamente. Além disso, como visto acima, nenhum tradutor (nem mesmo os que tiveram contato com o Tolkien) realizaram adaptação fonética.
7)Vocês estão fugindo do debate! Parafraseando Bilbo, parece que tem gente que sabe mais do que acontece dentro da minha própria casa do que eu mesmo (ou da casa dos demais membros do Conselho de Tradução). O convite para o debate veio em janeiro, o mês em que eu tenho duas crianças pequenas de férias em casa o dia todo, quando eu também preciso trabalhar como repórter, atualizar meu blog (que sou pago pra fazer), escrever meu próprio livro (que tá atrasado…), traduzir O Hobbit, cozinhar, arrumar a casa, cuidar das porquinhas-da-índia… e eu ainda não defini data pra debater com o rapaz porque estou com medo. Então tá. Debato com a maior tranquilidade – quando eu tiver tempo, e quando houver honestidade intelectual e um mínimo de cortesia pra debater. Nem um minuto antes disso. Essa história toda me lembra a obra do psicólogo Jonathan Haidt sobre como as decisões humanas são tomadas. Ele resume os achados dele da seguinte maneira: “As intuições vêm primeiro, o raciocínio estratégico vem depois”. A estranheza inicial de “Orques” e “Gobelins”, a “feiura”, fez com que intuitivamente muita gente achasse que as traduções estavam erradas. Correram, então, atrás de todo tipo de argumento para tentar justificar racionalmente essa intuição. Faltou, porém, olhar os argumentos por todos os lados possíveis. Tudo bem você achar as palavras feias ou, em termos tolkienianos, “pouco eufônicas”. Tudo bem você achar que outra solução seria melhor. Mas dizer que as nossas opções estão “erradas” e “contrariam Tolkien” não é opinião, meu amigo. É puro autoengano. E agora, se vocês me dão licença, tenho de entregar a tradução de O Hobbit até o dia 10 de fevereiro.
Na metade de Janeiro de 2019, fomos contatados por um rapaz que tem um podcast e é amigo do tradutor da HarperCollins Brasil. Ele já havia inclusive gravado um podcast anterior sobre os livros do Tolkien. Ele pretendia que fosse feito um debate da melhor forma possível. Evidente que aceitamos, pois se trata de um tema relevante e seria uma ótima oportunidade de explicar melhor o erro da HarperCollins Brasil e corrigi-lo. Após ter aceitado o convite. O rapaz do podcast disse que o tradutor não parecia disposto ou estava enrolando, pois não respondia mais. De todos os argumentos falaciosos levantados, esse trecho final parece ser a demonstração de que o tradutor não anda muito bem. Era realmente necessário usar a família como escudo para não participar de um debate? Ou é apenas o tradutor que tem família e afazeres? o tradutor gastou um bom tempo para escrever todo esse texto com falácias e não tem tempo para um debate? Ele realmente não teria tempo para participar do debate? De todo modo, a ação mais lógica seria ter respondido o rapaz do podcast e dizer que estava ocupado no momento e agendasse uma data posterior. Usar a família dessa forma, foi uma exposição desnecessária. O tradutor coloca como requisito para o debate a “honestidade intelectual”. Pois bem, como pôde ser visto acima, a desonestidade intelectual por parte do tradutor foi visível. Não rebateu nenhum argumento central, não expôs fontes sobre o tema e utilizou falácias, bem como recursos como ironias, desqualificação ou ataque pessoal (além de usar os filhos como argumento para não debater). Ressaltando que, em nenhum momento este site, ou qualquer de seus membros usou ataques pessoais a quem quer que seja. Basta ver os artigos sobre o tema que o foco é sempre, por óbvio, o tema. Agora demonstrado nesse texto um pouco da personalidade e forma de agir do tradutor. Se esse é o tradutor da HarperCollins Brasil, sentimos pena daqueles que dependem apenas das edições brasileiras para conhecer mais sobre Tolkien. Pois a empresa e o tradutor não parecem demonstrar respeito pelos leitores.
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NOTAS E FONTES:
[1] As a general principle for [Mrs Skibniewska’s] guidance, my preference is for as little translation or alteration of any names as possible. As she perceives, this is an English book and its Englishry should not be eradicated. (SCULL. HAMMOND. Reader’s Guide. p. 1036-1037).
[2] Sharkey. This is supposed to be a nickname modified to fit the Common Speech (in the English textanglicized), based on orkish sharkû ‘old man’. The word should therefore be kept with modification of spelling to fit the language of translation; alteration of the diminutive and quasi-affectionate ending -ey to fit that language would also be in place. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p.763).
[3] Maggot. Intended to be a ‘meaningless’ name, hobbit-like in sound. Actually it is an accident that maggot is an English word meaning ‘grub’, ‘larva’. The Dutch translation has Van de Made (made = German Made, Old English maða ‘maggot’), but the name is probably best left alone, as in the Swedish translation, though some assimilation to the style of the language of translation would be in place. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p. 760)
[4] Orc. This is supposed to be the Common Speech name of these creatures at that time; it should therefore according to the system be translated into English, or the language of translation. It was translated ‘goblin’ in The Hobbit, except in one place; but this word, and other words of similar sense in other European languages (as far as I know), are not really suitable. The orc in The Lord of the Rings and The Silmarillion, though of course partly made out of traditional features, is not really comparable in supposed origin, functions, and relation to the Elves. In any case orc seemed to me, and seems, in sound a good name for these creatures. It should be retained. It should be spelt ork (so the Dutch translation) in a Germanic language, but I had used the spelling orc in so many places that I have hesitated to change it in the English text, though the adjective is necessarily spelt orkish. The Grey-elven form is orch, plural yrch. I originally took the word from Old English orc [Beowulf 112 orc-nass and the gloss orc = pyrs (‘ogre’), heldeofol (‘hell-devil’)]. This is supposed not to be connected with modern English orc, ork,a name applied to various sea-beasts of the dolphin order. (TOLKIEN. Nomenclature of the lord of the rings, p. 761-762)
[5] I wish to avoid a repetition of my experience with the Swedish translation of The Hobbit. I discovered that this had taken unwarranted liberties with the text and other details, without consultation or approval; it was also unfavourably criticized in general by a Swedish expert, familiar with the original, to whom I submitted it. I regard the text (in all its details) of The Lord of the Rings far more jealously. No alterations, major or minor, re-arrangements, or abridgements of this text will be approved by me – unless they proceed from myself or from direct consultation. I earnestly hope that this concern of mine will be taken account of.
[6] Following Tolkien’s difficulties with the Swedish Lord of the Rings, contracts for translations of both The Hobbit and The Lord of the Rings stipulated that the word Hobbit be retained. Tolkien was, however, willing to accept another word in special circumstances. When a new Swedish translation of The Hobbit was being prepared, Tolkien wrote to Alina Dadlez that it might be best to use the same word which had appeared in the Swedish Lord of the Rings – but ‘Hobbit’ was used nonetheless. In a letter about the Spanish translation of The Hobbit on 20 July 1962 he wrote: ‘In a Latin language hobbits looks dreadful, and if I had been earlier consulted I would have readily agreed to some naturalization of the form: e.g. hobitos, which consorts better with the long-adopted elfos, while having the good fortune to contain the normal Sp[anish] diminutive suffix, and a stem hob-, which as far as I know has no associations in Spanish (Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins). Dadlez passed Tolkien’s comments to the publisher, Fabril, in Buenos Aires, who replied on 14 September 1962 that as h is mute in Spanish perhaps it should be jobitos. Dadlez put this to Tolkien, who wrote on 19 September: ‘I prefer hobitos since it preserves to the eye more relationship to the original word. I do not much mind the h being “mute”; I am sure many hobbits drop their hs like most rural folk in England’ (Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins). (SCULL, Christina. HAMMOND, Wayne. The J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, p. 1035-1036).
[7] On 13 May 1968, Andre Bay of Editions Stock, who were about to publish a French translation of The Hobbit, wrote to Alina Dadlez that he was unhappy about the word Hobbit, which had unfortunate connotations in French – which, however, he did not dare explain to a woman. He suggested Hopin instead. When this was put to Tolkien he replied: T must rely on the objections raised by those who know more of the depths of the colloquial language! Anyway hopin seems to me a suitable and ingenious solution: hopin / lapin =hobbit/rabbit, I suppose. Not that I intended any such connexion. So hopin let it be: as long as any illustrator is aware that this should not influence him unduly’ (15 May 1968, Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins). In the end, the French translation also used the form hobbit. (SCULL, Christina. HAMMOND, Wayne. The J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, p. 1036).
[8] In principle I object as strongly as is possible to the ‘translation’ of the nomenclature at all (even by a competent person). I wonder why a translator should think himself called on or entitled to do any such thing. That this is an ‘imaginary’ world does not give him any right to remodel it according to his fancy, even if he could in a few months create a new coherent structure which it took me years to work out. (TOLKIEN. Carta de 3 de abril de 1956, para a Allen & Unwin)