Famosos

Escritor James Rollins declara “Meu favorito absoluto é o mestre do gênero J.R.R. Tolkien”

O escritor James Rollins agora soma-se a lista de grandes escritores que tiveram influência de Tolkien.  Em entrevista publicada em 28 de dezembro de 2017 no site do jornal New York Times o escritor admitiu se considerar um fã de Tolkien e um admirador de George R.R. Martin.

James Rollins, é um dos pseudônimos de James Paul Czajkowski (Chicago, 20 de agosto de 1961), um ex-veterinário e escritor estadunidense que se tornou famoso com a série Força SIGMA. Também é conhecido por James Clemens, outro pseudónimo.

No Brasil seus livros foram traduzidos com os títulos: O Mapa dos Ossos, A Ordem Negra, A Nova Traição de Judas, O Evangelho de Sangue, e Sangue Inocente, dentre outros.

Além de seus romances de ação-aventura e thrillers, você escreve romances de fantasia com o nome de James Clemens. Quais são os seus romances de fantasia favoritos de todos os tempos? E o seu romancista de fantasia favorito hoje?

Meu favorito absoluto é o mestre do gênero, J. R. R. Tolkien. Eu era muito fã (e geek) na escola que eu tinha uma camiseta impressa com as palavras “Keep on Tolkien” (Foque em Tolkien). Durante esses mesmos anos do ensino médio, também fiquei obcecado com um novo escritor em o campo, um desconhecido na época com o nome de George R.R. Martin. Como não poderia, pois ambos escritores compartilhavam os Rs duplos? Então fiquei emocionado quando o Sr. Martin voltou à fantasia escrevendo décadas depois com o primeiro livro em sua nova série, “Game of Thrones”. Infelizmente, em um ataque de fúria assustada, quebrei a lombada do meu livro capa dura da primeira edição desse romance, quando eu o joguei no quarto depois de ler a passagem de Jon Snow descobrindo o pacote de filhotes lobisotos (direwolf). Era uma perfeição tanto em enredo e em prosa que eu sabia que nunca poderia alcança-lo. Novamente então, duvido que alguém possa.[1]

Essa declaração é mais uma demonstração do quanto J.R.R. Tolkien influenciou diversos escritores famosos e exemplares em todo o mundo.

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[1] In addition to your action-adventure novels and thrillers, you write fantasy novels under the name James Clemens. What are your favorite fantasy novels of all time? And your favorite fantasy novelist writing today? My absolute favorite is the master of the genre, J. R. R. Tolkien. I was so much of a fan (and geek) in high school that I had a well-worn T-shirt emblazoned with the words “Keep on Tolkien.” During those same high school years, I also became obsessed with a new writer in the field, an unknown at the time by the name of George R. R. Martin. How could I not as both writers shared the double R’s? So I was thrilled when Mr. Martin returned to fantasy writing decades later with the first book in his new series, “Game of Thrones.” Sadly, in a fit of awed rage, I broke the spine of my first-edition hardback of that novel when I threw it across the room after reading the passage of Jon Snow discovering the pack of direwolf pups. It was such perfection in both plotting and prose that I knew I could never match it. Then again, I doubt anyone can.

 

Mitopoeia

Tolkien e os Manuscritos Medievais

O Silmarillion em forma medieval por Benjamin Harff

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by Eduardo Stark

É uma tarefa atualmente quase impossível enumerar todos os livros e manuscritos medievais que Tolkien teve acesso durante sua vida. Isso por que praticamente todo o material histórico relacionado ao Reino Unido sobre aquele período foi lido detidamente por Tolkien. Ele se tornou uma das maiores, se não a maior, autoridade sobre estudos do Anglo-saxão e Médio Inglês.

O estudo direto dos manuscritos ou suas versões em facsimile afetaram sua criação imaginária diretamente. Sendo diversas ilustrações, textos e referências sobre caligrafia, paleografia e estilos medievais. Se tornou parte do homem uma constante reflexão sobre a literatura, cultura e história.

Tudo isso parece ter sido despertado desde muito cedo. Por influência de sua mãe, desde criança J.R.R. Tolkien passou a ter um gosto pelo estudo das línguas e a seguir a religião cristã católica. Além disso, sua genitora despertou nele o interesse em alfabetos e caligrafia.[1] Esses estudos primários levaram Tolkien a buscar aprofundamento, passando a estudar na universida de Oxford e depois se tornando professor.

Durante seus dias de estudante, Tolkien desenvolveu o seu interesse de infância pela pintura e pelo desenho, e começou a demonstrar uma certa habilidade, principalmente no esboço de paisagens. Começou a dedicar também bastante atenção à letra manuscrita e à caligrafia e tornou-se perito em muitos estilos de manuscritos. Esse interesse era uma combinação de seu entusiasmo pelas palavras e o seu olho artístico, mas refletia também sua personalidade multifacetada, pois, como observou alguém que o conheceu durante esses anos (quase que sem exagero): “Ele tinha um estilo de caligrafia diferente para cada amigo.” (CARPENTER, Biografia, p. 64).

Os estudos acadêmicos das línguas Anglo-saxão e Médio Inglês exigiram que o professor J.R.R. Tolkien estudasse os diversos manuscritos disponíveis. Esses documentos preservaram as formas originais das línguas e compreender o contexto, a história, forma de escrita e características era um dos trabalhos em que ele atuava na Univerdade de Oxford.

Tolkien teve contato com diversos manuscritos ou suas versões em facsimile. Era comum a leitura de épicos e histórias para seus estudos acadêmicos e entretenimento pessoal. Em 1922 ele publicou o “Middle English Vocabulary”, uma espécie de dicionário da língua Média Inglesa, o que foi necessário uma pesquisa ampla por vários textos medievais que continham as palavras em seu contexto original.

Em 1925, trabalhou em uma transcrição do manuscrito de “Sir Gawain and the Green Knight”, que foi publicada em forma de livro e se tornou referência básica nas universidades. Posteriormente sua tradução do mesmo manuscrito foi publicada em 1975, com edição de seu filho Christopher Tolkien.

O épico Beowulf foi objeto de muitos estudos em que escreveu ensaios e realizou tradução do texto original. Tolkien escreveu o famoso ensaio para sua palestra em 1936 “Beowulf: The Monsters and the Critics” (Beowulf: Os Monstros e as Criticas). Nessa obra o autor criticou os críticos que consideravam Beowulf apenas um documento histórico e não um poema com um valor literário.

Ensaio Beowulf The Monster and the critics de Tolkien publicado em 1936 e reimpresso nos anos seguintes

O fato de ser católico e um estudioso do período medieval possibilitou o contato com diversos manuscritos e estudos relacionados a religião. Na medida em que havia interesse por estudar os manuscritos medievais, havia o estudo de seus autores, que eram em grande parte monges reclusos que se dedicavam a copiar os textos. O professor de Oxford teve acesso ao “Codex Argenteus”, também chamado de Bíblia Cinza, preservado na Biblioteca da Universidade de Uppsala na Suécia. Esse manuscrito contém seções dos quatro evangelhos escritos em Gótico. Ele também trabalhou na leitura direta e transcrição de manuscritos medievais que tinha relação com mulheres reclusas em mosteiros. Os manuscritos “Hali Meidhad” (“Sagrada Virgindade”) e “Sawles Warde” (que é uma alegoria sobre o cuidado da alma) e um manuscrito que contém a biografia de Santa Katherine, Magaret e Juliana. Trabalhou com a edição e a transcrição do manuscrito “Ancrene Wisse” que foi publicado em livro em 1962.

O interesse de Tolkien estava ainda associado ao fato de que os grandes épicos que costumama ler como forma de entretenimento pessoal eram originalmente manuscritos medievais. Como exemplo o Edda em prosa e o Edda em verso, que tratam sobre a mitologia nórdica e diversos textos relacionados a Lendade Sigurd e Gudrun, a Batalha de Maldon dentre outros.

Ademais, foi justamente com as palavras em anglo-saxão, transcritas do manuscrito do poeta medieval Cinewulf, que Tolkien começou a desenvolver o seu legendarium. No poema “Crist” há os versos “Eala Earendel engla beorhtast ofer middangeard magnum sented” que levaram Tolkien a uma pesquisa sobre o seu significado, em especial a palavra “Earendel”. E foi dessas análises que surgiu o primeiro escrito relacionado a seu mundo secundário, o poema “A Viagem de Earendel, a estrela vespertina” em 24 de setembro de 1914.

Surge então a ideia de se escrever uma “mitologia dedicada à Inglaterra”. Tolkien começou a elaborar histórias em um tempo imaginário com aspectos de fantasia e que levaria a uma relação cultural e histórica com o seu país. A ideia era proporcionar a si mesmo o mesmo sentimento de pertencer a um país com uma tradição multimilenar que remontam a tempos muito antigos. Como base ele usou as mitologias que tinham relação com a região setentrional da Europa. E como a maioria desse material eram constituídos de fontes de manuscritos medievais, Tolkien pensou que sua mitologia também deveria ser um conjunto de histórias em manuscritos agora encontrados e traduzidos, dando uma sensação de maior veracidade. Foi assim que iniciou uma série de textos buscando sempre aproveitar o estilo medieval.

As obras de Tolkien e o estilo do manuscrito medieval

Foi com um divertimento pessoal e familiar que Tolkien começou a fazer cartas no natal destinadas aos filhos. Essas cartas eram bem desenhadas e coloridas e com uma preocupação em relação a caligrafia. A ideia é que elas eram feitas pelo próprio Papai Noel no polo norte, junto com seu ajudando o Urso Polar.

Essa atividade de escrever algo com a imaginação de que aquele escrito tivesse um autor imaginário foi desenvolvida nessa época. O autor ficcional produzia algo que passava a fazer parte da realidade. Uma brincadeira que divertia seus filhos que ainda acreditavam na existência do Papai Noel.

Mas a autoria ficcional não era utilizada apenas em suas cartas, mas também em obras mais densas e adultas. Tolkien começou a desenvolver as primeiras histórias do legendarium no que chamou de “O Livro dos Contos Perdidos”. Em cadernos anotava as histórias de um mundo cheio de possibilidades fantásticas. Conforme as ideias do mundo secundário se amadureciam, em processos de revisões constantes, segundo Humphrey Carpenter: “No final dos anos trinta, todo este trabalho no Silmarillion resultara num grande volume de manuscritos, muitos em requintada caligrafia” (CARPENTER, Biografia, p. 190).

Em diversos textos, especialmente os que datam entre 1916 a 1940, cada história tinha um livro ou texto que era uma simulação de um manuscrito antigo. Assim, o Quenta Silmarillion não era apenas o texto escrito com as informações, ele era antes de tudo um manuscrito no estilo medieval que agora fora encontrado por um estudioso de suas tradições.

A caligrafia era cuidadosamente preparada, variando de manuscrito para manuscrito, conforme se modificava o autor ficcional. Dessa forma, se Rúmil de Valinor era o autor do “Ainulindalë”, esse manuscrito teria letras diferentes do “Conto dos Anos” de Pengolod. Se as letras eram dos Hobbits teriam uma variação diferenciada dos Humanos de Gondor e assim por diante.

Essa diferenciação da caligrafia dos autores ficcionais foi realizada com a finalidade de dar uma maior profundidade e credibilidade no mundo secundário. Os manuscritos diferenciam entre si a ponto de ser possível em alguns casos realizar verdadeiros trabalhos de paeleografia e caligrafia.

Manuscritos de Tolkien em comparação

Como exemplo, a diferenciação de estilo dos manuscritos pode ser vista no “The Tale of Year” a esquerda” e no ”Dangweth Pengolod” a direita.Cada um apresenta um estilo de escrita diferente e características na forma de justapor os textos.

O gosto pela caligrafia e os manuscritos parece ter agradado tanto Tolkien a ponto de realizar simulações como entretenimento pessoal.A grande maioria dos manuscritos antigos de Tolkien imita o estilo dos registros medievais. Foram feitos vários anais, relatos, contos e poemas com uma caligrafia e estilo diferenciado. Havia cartas e cartões postais com os alfabetos dos elfos que costumava enviar aos amigos ou que fazia como divertimento pessoal. Além disso, sua religião influenciava a estética de sua caligrafia. Estilos diferentes eram utilizados que remetiam a idade média e a religião. Como exemplo, se encontra publicado no Parma Eldalamberon nº 20 vários manuscritos do Tolkien com orações em alfabeto dos elfos.

“Deus Salve a Rainha e O Pai Nosso” Parma Eldalamberon nº 20, p. 85.

Ao escrever O Hobbit, todo esse estilo parece não ter sido considerado. Tal como era frequente em outros escritos dedicados aos filhos como Mr. Bliss e As Cartas de Papai Noel. Durante a escrita do Hobbit seus filhos já estavam se tornando adultos e não havia tanta necessidade de fazer ilustrações junto aos textos. Além disso, os trabalhos na Universidade não possibilitava um tempo disponível suficiente para fazer ilustrações.

Assim, o Hobbit foi escrito inicialmente sem uma noção de autor ficcional. Contudo, quando o livro havia sido aceito para publicação, o próprio Tolkien fez ilustrações para o livro. Além de incluir a ideia do autor ficcional na parte superior e inferior do livro. Assim, o Hobbit não seria propriamente o manuscrito feito e anotado por um homem da idade média. Seria agora um registro das aventuras do Hobbit que chegou às mãos dele atualmente e que teve uma tradução para a língua inglesa. Isso explicaria por que o livro não foi publicado com um estilo de manuscrito medieval.

Da mesma forma, quando O Senhor dos Anéis estava sendo escrito, logo Tolkien percebeu que não seria possível escrever e manter o mesmo estilo que estava desenvolvendo com os escritos do Silmarillion. Foi então utilizada a mesma ideia que teve com o livro o Hobbit. Os relatos da Guerra do Anel seriam manuscritos separados em que ele teria acesso em sua língua original o “Westron” e ele seria o tradutor do Livro Vermelho do Marco Ocidental e por isso o fomato apresentado. 

Segundo os autores David Day e Mark T. Hooker provavelmente Tolkien teve a ideia do “Livro Vermelho do Marco Ocidental” baseado no Livro Vermelho de Hergest ou “Llyfr Coch Hergerst”, que é um livro em Galês datado de 1382.

Em O Senhor dos Anéis o autor fez algumas ilustrações, mapas e uns poucos manuscritos que pudesse considerar como parte daquele Universo. Dando assim, a ideia de profundidade e que desejava na obra. Como a “Carta do Rei Elessar” ou o “Livro de Mazarbul” e outros.

Mestre Gil de Ham e seu estilo medieval

A primeira edição britânica publicada pela George Allen and Unwin em 1949 é o único dos livros publicados de Tolkien em que ele conseguiu plenamente o que pretendia quanto a ideia da autoria ficcional. Nessa edição não existe nota ou prefácio do editor ou do próprio Tolkien como autor real. O que está impresso é o prefácio ficcitício, que diz que a obra é resultado de uma tradução do latim para o inglês.

O único indicativo que a obra é uma ficcção é o texto da Dustcover que enunciar ser obra “uma história imaginativa de um passado distante e maravilhoso”. Dessa forma, se eventualmente alguma pessoa desatenta e pouco versada em literatura e período medieval tivesse acesso a obra, poderia imaginar que aquele livro fosse mais um dos contos populares da idade média que agora tinha sua tradução para a língua moderna. Conforme pode ser lido no trecho a seguir:

 “RESTAM poucos fragmentos da história do Pequeno Reino, mas por acaso um relato de sua origem foi preservado; talvez mais uma lenda que um relato, pois evidentemente se trata de uma compilação tardia, cheia de fatos assombrosos, derivada não de crônicas confiáveis, mas das baladas populares às quais seu autor faz freqüentes referências. Para ele, os acontecimentos que registra já estavam num passado remoto; não obstante, ele próprio parece ter vivido no território do Pequeno Reino. Todo conhecimento geográfico que revela (o que não é seu ponto forte) é daquela região, ao passo que de outras regiões, ao norte ou a oeste, não conhece nada. Um motivo para apresentar uma tradução desse interessante relato, passando-o do seu latim insular para o idioma moderno do Reino Unido, pode ser a visão de época que ele nos proporciona, num período obscuro da história da Grã-Bretanha, sem mencionar a luz que lança sobre a origem de alguns topônimos difíceis. Há quem considere o caráter e as aventuras de seu herói interessantes por si mesmos”. (Mestre Gil de Ham, p.1).

O restante do prefácio tenta localizar o livro em um período medieval próximo aos acontecimentos lendários do Rei Artur e apresenta a possível localização. Na edição expandida de Mestre Gil de Ham, Christina Scull e Wayne Hammond comentam que talvez Tolkien estivesse fazendo uma critica aos estudiosos que consideravam histórias medievais como Beowulf apenas como registros históricos e não como obra literária.

A escolha da ilustradora Pauline Baynes para trabalhar nesse livro foi uma decisão direta de Tolkien. Ele tinha visto uma ilustração da artista e gostou do estilo. Foi decidido que as imagens fossem feitas no estilo dos manuscritos medievais, conforme Tolkien declarou em carta:  

Pauline Baynes tirou sua inspiração para L. Giles em grande parte de desenhos ms. medievais — exceto pelos cavaleiros (que são um pouco “arthurianos”), o estilo parece se adequar suficientemente bem. (Carta 211, para Rhona Beare, em 14 de outubro de 1958).

Posteriormente, Baynes também foi ilustradora dos livros “As Aventuras de Tom Bombadil” (The Adventures of Tom Bombadil) e  “Smith of Wooton Major” (Ferreiro de Bosque Grande), que também contém imagens com inspiração medieval. Além disso, a ilustradora fez ilustrações de mapas da Terra-média e ilustrou o livro “Bilbo’s Last Song” publicado em forma de livro em 1991.

Folha de Migalha e a árvore medieval

Ao preparar o livro “Árvore e Folha” de Tolkien, o editor Rayner Unwin perguntou se Tolkien poderia sugerir um desenho adequado de uma árvore para a capa, talvez retirado de um manuscrito medieval. A resposta de Tolkien revela a familiaridade do autor com manuscritos medievais, em especial as árvores:

Fico feliz que você aprova o título sugerido. Mss. medievais não são (pela minha experiência não muito extensa) bons em árvores. Tenho entre meus “papéis” mais de uma versão de uma “árvore” mítica, que surge regularmente naqueles momentos em que me sinto atraído para o desenho de moldes. São elaboradas e coloridas e mais adequadas para bordado do que para impressão; e a árvore possui, além de várias formas de folhas, muitas flores, pequenas e grandes, que significam poemas e lendas maiores. (Carta 253, para Rayner Unwin, em 23 de dezembro de 1963).

A ilustração feita por Tolkien foi utilizada na capa da primeira edição em paperback do livro Árvore e Folha, porém com uma forma mais simplificada do que a apresentada por Tolkien. A ilustração, conhecida como “A Árvore de Amalion” é datada de 1928, quase trinta anos antes de o livro ser publicado. Versões da árvore de Amalion foram publicadas nos livros “Pictures by Tolkien” e “J.R.R. Tolkien: Artist and Illustrator”.

Árvore de Amalion por Tolkien

Breve histórico dos copistas e manuscritos medievais

Na Idade Antiga era comum se registrar as informações em rolos. Entre os Hebreus os livros religiosos eram grandes rolos com escritos em pele de animais, enquanto os Egípcios escreviam em rolos de papiro, assim como os Gregos e Romanos. Mas por volta do século III os pergaminhos, que continham escritos contínuos em rolos, foram substituídos por Códices, folhas enfileiradas e ligadas entre si. Durante a Idade Média os textos eram escritos e dispostos em formas de códices, com costuras e colagens, cujas técnicas foram aperfeiçoadas e são utilizadas nos livros até o momento.

Escrever livros e disseminar a informação na Idade Média era um processo demorado e trabalhoso. Havia primeiramente a constante ameaça de invasões dos bárbaros, que eram povos que não haviam assimilado a cultura do império romano e que agora atacavam por toda a Europa. Esse clima dificultava qualquer grande investimento em literatura.

A grande maioria da população não era alfabetizada e poucos clérigos tinham o conhecimento da escrita. Dessa forma, para que um livro fosse escrito exigiria uma dedicação quase integral a essa atividade. Os monges copistas acreditavam que realizando seus trabalhos nos manuscritos estariam cumprindo um dever imputado por Deus para preservar seus ensinamentos. O processo de escrita era demorado devido a falta de recursos ou mesmo o tempo necessário. Havia casos de monges que dedicavam toda a vida escrevendo ou copiando apenas um livro.

Foi assim que o trabalho de cópia dos manuscritos durante a Idade Média se concentrou no interior dos mosteiros, em quartos chamados “scriptorium”. Sem esse trabalho a maior parte das obras da Idade Antiga e Medieval não teria chegado aos tempos modernos, quando a Imprensa foi desenvolvida e difundida pela Europa. A imprensa foi surgiu no ocidente por volta de 1439 com a criação de Johannes Gutenberg. As primeiras cópias de livros completos foram finalizadas em 1456, versões da Bíblia Católica, conhecida como “Vulgata Latina”, uma tradução para o latim por São Jerônimo e moldada pela Universidade de Paris no século XIII.

O livro é considerado uma grande evolução no processo de impressão, e rapidamente sua invenção se espalhou por toda Europa e mais tarde pelo mundo. O gráfico a seguir mostra a produção de livros em quantidade entre os anos de 500 a 1800.

Europa livro 500–1800

No final da Idade Média, ocorreu uma série de fatores que contribuíram para surgirem novos livros. As invasões bárbaras diminuíram consideravelmente e as relações comerciais e sociais foram ampliadas após as Cruzadas. Com isso, ocorreu um aumento populacional na Europa ocidental. Havia cerca de 34 milhões de pessoas no século XIII, saltando para 50,35 no século XIV[2]. Aliada a essas e outras circunstâncias, as primeiras Universidades foram fundadas pela Igreja Católica Romana, o que implicou em maiores estudos entre aqueles que não eram parte do clero e consequentemente maior produção literária.

Ilustrações e manuscritos feitos por fãs

Diversas atividades de criar manuscritos ou ilustrações no estilo medieval foram realizadas por fãs e oficialmente. Por exemplo, Patrick Wynne, um dos editores dos periódicos Vinyar Tengwar e Parma Eldalamberon, que fez ilustrações com textos em élfico.

Em 1993, a edição de O Senhor dos Anéis publicada na Rússia contou com ilustrações de S. Juchimov, que tiveram como base o estilo medieval.

Na produção dos filmes dirigidos por Peter Jackson, O Senhor dos Anéis (1997 a 2004) e O Hobbit (2011 a 2015), Daniel Reeve foi o cartografista contratado para desenhar os mapas e criar os manuscritos que seriam parte dos filmes.

Em 2009, o ilustrador alemão Benjamin Harff concluiu o “Edel-Silmarillion”. Uma versão do livro O Silmarillion em estilo dos códices medievais com iluminadas coloridas. Foram gastos cerca de dois anos para concluir o trabalho realizado de forma manual.

Seguindo essa mesma tendência em 2012, o húngaro Hari Istvan divulgou sua versão em manuscrito do Livro Vermelho do Marco Ocidental. O trabalho se concretizou após três anos com trabalho diário de quatro horas.

Existem diversas ilustrações na internet com o estilo das iluminuras e quadros medievais. O artista Jay Johnstone se notabiliza por seu estilo e fidelidade a obra de Tolkien.

A maioria do material original de Tolkien encontra-se publicado nos livros “Pictures by Tolkien” (1979), “J.R.R. Tolkien: Artist and Illustrator” (1995), “The Art of the Hobbit” (2011) e “The Art of the Lord of the Rings” (2014). Bem como diversas cópias nos períodicos relacionados a línguas artificiais de Tolkien como Vinyar Tengwar e Parma Eldalamberon.

Ilustração do Frodo e Sam por Jay Johnstone

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NOTAS:

[1] Carta 294, 8 de fevereiro de 1967, Carta para Charlotte e Denis Plimmer.

[2] FRANCO, p.23.

Sérgio Ramos

Você já deu seu último adeus à Terra-média?

Por: Sérgio Ramos*

 

“Earendel ergueu-se da Taça do Oceano

Na escuridão da borda do mundo-médio;

Da porta da Noite, como um raio de luz,

Saltou por sobre a orla do crepúsculo,

E, lançando sua barca, como uma centelha de prata,

Da areia dourada que esmaecia,

Descendo pelo ensolarado hálito de ígnea morte do Dia

Fugiu célere da Terra Ocidental.”*

*Este poema é considerado o primeiro escrito de Tolkien sobre a Terra-média, datado de 1914, e aqui traduzido por Ronald Kyrmse na forma que aparece no livro “J. R. R. Tolkien: Uma Biografia”, de Humphrey Carpenter, da Editora Martins Fontes.

A sensação, ao final do ano de 2014 e início de 2015, é que uma Era estava se encerrando… Algo que começou em 1914 com um poema parecia estar acabando e seria hora de dar adeus, exatamente um século depois de sua criação. A tão querida e amada Terra-média iria findar, visto que veríamos “pela última vez” este mundo maravilhoso no cinema, e a chave que iria trancar a mitologia criada por Tolkien se chamava A Batalha dos Cinco Exércitos.

Campanhas publicitárias de grandes produtoras e distribuidoras de filmes afirmavam que seria a última oportunidade de se ver a Terra-média, e foi feita até uma música bela, mas triste, com um clipe com clima de despedida intitulado “The Last Goodbye” (O Último Adeus). E pessoas ao redor do mundo compraram a ideia… Muitos cantaram lamentos nas redes sociais pelo fim da Terra-média, jovens corriam diversas vezes para rever o último filme da trilogia cinematográfica como se assim pudessem manter vivo algo que, para eles, estava morrendo. A impressão que se tinha era algo similar ao que líamos n´O Senhor dos Anéis quando víamos os belos elfos fazendo jornadas para os Portos Cinzentos no intuito de velejar para as Terras Imortais. Enfim, uma sensação de que algo estava mudando e belezas antes desfrutadas não seriam mais usufruídas…

Cena da adaptação cinematográfica de O Hobbit.
Cena da adaptação cinematográfica de O Hobbit.

Mas (e aqui coloque-se um grande MAS), se nem o falecimento do querido Professor Tolkien em 1973 impediu que gerações e mais gerações de leitores e fãs se despedissem da Terra-média, por que um filme que foi apenas levemente baseado em um de seus livros selaria o funeral da Terra-média? Aliás, parece que a Terra-média começou realmente a ser desvendada após a passagem de seu criador, quando seu filho prodígio, Christopher Tolkien, organizou e editou os papéis deixados pelo patriarca da família Tolkien e publicou uma série de livros incríveis que mostram em detalhes a evolução do mundo criado pelo pai. Não só isso, mas um século depois da criação deste mundo imaginário (mas tão real na mente de milhões de pessoas), ainda eventualmente somos surpreendidos com o lançamento de algum escrito inédito que ficou guardado por décadas até ser lançado nas livrarias (por exemplo, Os Filhos de Húrin, que foi disponibilizado em sua forma mais completa em 2007; e agora em 2015 haverá o lançamento do The Art of The Lord of The Rings, que trará praticamente todas as artes, desenhos e pinturas que o próprio autor fez para a história, ajudando enormemente a compreender sua visão do Legendarium).

Os filmes são de fato incríveis do ponto de vista visual (embora bem diferentes do que Tolkien tenha imaginado em alguns momentos) e possuem várias passagens de diversão. São também uma bela oportunidade de angariar novos leitores que queiram conhecer realmente o mundo de Bilbo Bolseiro e Elrond Meio-Elfo. No entanto, de forma alguma eles devem ser considerados o fim do legado mitológico, a não ser, claro, por aqueles que são fãs apenas do cinema e não se interessam pelos livros.

Minha impressão pessoal da Obra Tolkieniana é que, a cada releitura que se faz dos livros, novas nuances e detalhes são revelados. A possibilidade de descoberta é infinita, pois surgem revelações a cada novo retorno àquelas páginas, e isso mantém a Terra-média sempre viva e em constante processo de evolução, pois aquele que se debruça sobre a Obra está sempre aprendendo mais e vendo nascer diante de si novos desdobramentos antes não percebidos. Isso é verdade quando se fala em reler pelo menos os livros mais conhecidos (O Hobbit, O Senhor dos Anéis e O Silmarillion). Esta trinca, por si só, daria uma vida de estudos, e o que dizer então de tudo aquilo, milhares e milhares de páginas, que foram publicadas – seja a série em doze volumes do The History of Middle-earth (A História da Terra-média, ainda sem publicação no Brasil), os Contos Inacabados, Os Filhos de Húrin, As Aventuras de Tom Bombadil, As Cartas de J. R. R. Tolkien, o The History of The Hobbit (A História de O Hobbit, ainda sem publicação no Brasil) ou mesmo tantos textos de Tolkien que saíram em outros livros ou periódicos linguísticos (tais como o Vinyar Tengwar) e até nos livros com desenhos e artes do Professor?

Créditos da foto: tolkienlibrary.com
Créditos da foto: tolkienlibrary.com

Como se percebe, é possível passar uma vida inteira aprendendo sobre a Terra-média, e cada pequena coisinha que se revela, que antes havia passado despercebida, gera um enorme contentamento por quem é fã e admirador deste complexo mundo tolkieniano. Não é o fechamento de uma série cinematográfica que irá ditar o último adeus à Terra-média, pois esta é revelada verdadeiramente nos livros. O que vemos no cinema é a visão de um diretor, suas mudanças e adaptações.

Não bastasse isso, O Senhor dos Anéis já havia sido escolhido o melhor livro de todos os tempos por leitores da Inglaterra muito antes das recentes adaptações de Peter Jackson. Aliás, este não foi o primeiro diretor a fazer sua versão da obra, embora tenha sido a de maior sucesso. Desde versões para o teatro, passando por séries de rádio, até os desenhos animados dos anos 70 e 80 e adaptações russas do final dos anos 80 e começo dos 90, O Hobbit e O Senhor dos Anéis já estiveram presentes em diversas mídias. Daqui a alguns anos, novos filmes irão surgir para recontar essas histórias.

De forma alguma a ausência de filmes irá barrar nossa entrada no Legendarium de Tolkien. A Terra-média está mais viva do que nunca, dependendo apenas do interesse de cada um em buscar saber mais. Aliás, A Terra-média é aquilo que Tolkien escreveu e produziu, e que já encanta gerações há décadas, antes mesmo de qualquer adaptação. Por isso, esqueçamos o sentimento de “último adeus”, pois ele não é necessário – estamos todos apenas começando a descobrir este mundo de hobbits, homens, elfos e anões, heróis e criaturas do mal!

Os livros sempre estarão disponíveis para podermos ir… Lá e de volta outra vez!

*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, esportista e entusiasta de histórias de heróis.
*Sérgio Ramos é membro da Tolkien Society e administrador do Tolkien Brasil. Servidor público, artista marcial e entusiasta de histórias de heróis.
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TOLKIENCAST 05 – Fãs, Fanáticos, meninas histéricas e Tolkien é para crianças!?

 

Nesse podcast falamos sobre os diversos comportamentos dos fãs (não apenas de Tolkien, mas de uma forma geral), sobre essas atitudes estéricas das fãs de crepúsculo.

Desejem o aniquilamento (e muitas machadadas) de Clinton Davisson ao afirmar que todas as obras de Tolkien são para crianças (até mesmo o Silmarillon poxa vida!).

Entenda porque Eduardo Stark acha o mundo de Tolkien muito mais complexo e mais acadêmico do que o mundo de harry potter.

E rápidos comentários sobre o filme O Hobbit, afinal falta poucos dias para a estréia.

Participam desse podcast:

Eduardo Stark, Susane Soares (Paraná). Com a participação especial de Clinton Davisson (Rio de Janeiro) e Raoni Dantas (Maranhão).
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Para as fãs de Crepúsculo, o Eduardo Stark citou esse video AQUI.

 

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