Legendarium

Ainulindalë, a cosmogonia da mitologia de Tolkien

Acompanhe nossa série de análises dos capítulos do Silmarillion seguindo nosso canal AQUI.

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RESUMO:

No princípio havia Eru, o Deus único. Ele é a própria eternidade, embora os parâmetros humanos sejam limitados para ele, pois é o “tudo simultâneo”, ou o “primeiro motor imóvel”, “causa das causas”, “O que é”.

O Nada não pode ser absoluto. Não é possível que o Nada crie algo, pois se gerasse algo  não seria um Nada e sim alguma coisa. Por isso Eru é a existência em essência do qual emana tudo o que existe. Além disso, não existe a noção de tempo para Eru, pois ele é imutável e sempre existiu.

Além de ser imutável, imóvel, eterno, o Deus único também é a inteligência eterna, da qual deriva tudo aquilo que é abstrato em ideias e razão. Dessa forma, é um ser onisciente por excelência.

A partir do pensamento de Eru são criados os Ainur. Os Ainur são limitações de esferas do pensamento de Eru. Cada um deles consegue realizar algo ou agir conforme sua fração do pensar de Eru e aprendem mais escutando os outros Ainur que têm frações do pensar diferentes.

No momento em que se cria os Ainur surge a noção daquilo que existe e inexiste. Daquilo que é criado por Eru e daquilo que não foi criado. Nesse ponto ocorre a primeira possibilidade de noção de tempo, pois algo que é criado uma vez tem o seu ponto de início do movimento no tempo. Porém, a noção de tempo é a relativa aos Ainur e não relativa aos humanos, por isso é de difícil de ser estabelecida nesse momento.

Uma vez que os Ainur são fragmentos do pensar de Eru, logo eles podem também pensar, raciocinar e imaginar. Tudo isso é possível graças ao fato de serem inspirados com a Chama Imperecível, a essência da criação de Eru.

Eru propõe temas musicais aos Ainur, a fim de que eles o alegrassem. Os temas musicais surgem da criatividade de Eru e narram uma história cosmogônica, ou seja, a origem do universo. Cabe aos Ainur imitar o que foi indicado, a partir do que tem disponível em sua inteligência limitada.  Os Ainur cantam e chegam a uma harmonia conforme sua compreensão mais profunda do pensamento de Eru.

Vendo que o que foi feito, Eru indica um novo tema, desta vez mais poderoso. Os Ainur apresentam uma música magnífica que encanta a todos. Foi uma música tão bela que jamais ocorreu outra semelhante, pois todos estavam em harmonia com o tema de Ilúvatar. Dizem entre os elfos que no fim dos tempos haveria outra música que seria maior e mais bela do que essa primeira.

Contudo, Melkor, um Ainur de grande poder, começou a projetar suas próprias ideias e a desejar ser o criador, por si mesmo, sem seguir o tema proposto por Eru. Melkor acreditava que poderia também criar algo se tivesse posse da Chama Imperecível. Perambulando pelo Vazio ele procurou a Chama Imperecível, mas não a encontrou.

Melkor inicia a Dissonância da música, e muitos dos Ainur começam a afinar suas músicas ao que ele havia proposto e não mais conforme Ilúvatar inicialmente havia indicado.

O resultado da Dissonância de Melkor foi a primeira guerra sonora entre os Ainur. Vendo as tempestades que estavam acontecendo, Ilúvatar se pronunciou e encerrou a primeira música.

Ilúvatar apresentou um novo tema, semelhante ao anterior, porém com certas diferenças. Porém, Melkor permaneceu com sua Dissonância e ocorreu uma segunda guerra sonora, ainda mais violenta que a primeira e Melkor acabou dominando a Música.

Mais uma vez Ilúvatar intervém e cessa a música. Propõe um Terceiro Tema, nele havia uma diferença significativa em relação aos anteriores, pois haviam duas músicas distintas que depois se relacionavam para formar algo belo. Derivado desse terceiro Tema surgiu a Grande Música.

A Grande Música tem como base no Terceiro Tema Musical, possui duas músicas diferentes, sendo uma música profunda, vasta e bela e a outra música alta, fútil e repetitiva. A segunda música tenta abafar a primeira, mas essa adota as notas mais triunfais para formar um novo arranjo solene.

Novamente Ilúvatar intervém e cessa a Grande Música com um Acorde poderoso. Ele apresenta aos Ainur uma imagem conforme o que constava na Grande Música. Os Ainur se maravilham com essa imagem e com sua luz, cores e estilos. Nessa Visão os Ainur conseguem ver boa parte do que acontece com o mundo desde sua criação até pouco antes do Dominio dos Homens em Arda. Eles se encantam com o surgimento dos Filhos de Ilúvatar, que não estavam mencionados no Terceiro Tema, pois eles eram uma criação genuína do próprio Ilúvatar e por isso eram seus filhos. Os primogênitos (elfos) e os sucessores (os humanos).

Ilúvatar então dá existência a essa visão dizendo: “Ëa! Que essas coisas existam!”. Foi então que o mundo passou a existir concretamente e não mais era parte da imaginação dos Ainur.

Alguns deles se maravilharam e desejavam habitar naquele mundo criado. Aqueles que fossem para lá teriam que estar vinculados aos poderes do mundo até os fins do tempo. E assim aconteceu de surgir os Valar, os poderes do Mundo. Eram poderosos entre os Ainur que tiveram um grande papel nas músicas.

Ao chegarem no mundo os Valar perceberam que a situação não era como haviam imaginado. Eles estavam no início dos tempos e nada ainda havia sido criado. Então tiveram que moldar todas as coisas do universo e por último criaram Arda (a terra) onde os Filhos de Ilúvatar iriam habitar.

Melkor vendo a criação de Arda, a cobiçou e disse que seria o seu Reino. Foi então que Manwë e outros Ainur travaram luta contra Melkor, que fugiu. O mundo foi então sendo feito e os Valar tomaram formar que estivessem relacionadas com aquilo que mais se aproximavam. Melkor também tomou uma forma e desde então começou sua batalha contra os Ainur. E quando um dos Valar montava algo, Melkor destruía e nesse ciclo o mundo foi sendo formado.

PERSONAGENS:

 

Eru Ilúvatar: o Deus único do Legendarium de Tolkien. Ele é o criador de tudo e o único capaz de criar a partir do Nada, por ser o único que tem a Chama Imperecível.

Ainur: os sagrados, nascidos do pensamento de Eru, são como se fossem os Anjos na Religião Cristã.

Melkor: é o ainur que traz a dissonância nas músicas dos Ainur. Ele cobiça o poder e domínio de Arda e dos Filhos de Ilúvatar. Seria o equivalente a Lúcifer na Religião Cristã.

Ulmo: o Valar relativo às substâncias liquidas (água e ao Mar)

Manwë: o Valar relativo às substâncias gasosas (Ar e ao Céu).

Aulë: o Valar relativo às substâncias sólidas (metais, terra, pedras).

Filhos de Ilúvatar: são os elfos (primogênitos) e homens (sucessores), surgiram com o Terceiro Tema Musical, sendo uma criação do próprio Ilúvatar e de nenhum dos Ainur.

Eldar: é outro nome para o povo dos Elfos.

Valar: são os Ainur que se vincularam à criação, tomando forma derivada do seu conhecimento e habitando o mundo.

 

PALAVRAS-CHAVE:

 

Temas Musicais: são temas criados por Ilúvatar e que ele apresenta aos Ainur para serem cantadas. São como se fossem histórias narradas de como o Universo surgiu, formam o drama cosmogônico.

Temas Musicais iniciais: é o primeiro tema musical indicado por Ilúvatar e que o alegrou, por ter sido harmônica. Sua força ainda não era poderosa, pois Ilúvatar logo em seguida apresenta um tema mais poderoso.

Tema poderoso (Primeiro Tema Musical): é o segundo tema musical indicado por Ilúvatar contendo imagens ainda mais grandiosas e esplêndidas do que havia revelado até então.

Música Magnífica: é a música feita pelos Ainur a partir do Tema Poderoso indicado por Ilúvatar. Nessa música os Ainur podem usar seus próprios recursos e pensamentos. A música e o eco da música saíram para o Vazio e o preencheu.

Música majestosa (Tema Musical do fim dos tempos): será a música feita após o final dos tempos, onde os temas de Ilúvatar serão desenvolvidos com perfeição e irão adquirir Existência no momento em que ganharem voz, pois todos compreenderão o pensamento de Ilúvatar e este concederá o fogo secreto.

Chama Imperecível: está com Ilúvatar. É o poder de criatividade, de autoria. É com a Chama Imperecível que Ilúvatar concede existência às coisas. Também pode ser simbolizado como o Espírito Santo da religião Cristã.

Fogo Secreto: o mesmo que Chama Imperecível.

Dissonância: é o resultado do pensamento próprio de Melkor entrelaçado com sua música. O pensamento de Melkor era diferente dos outros Ainur, pois não estava em harmonia com o tema de Ilúvatar. A Dissonância provoca desanimo em alguns dos Ainur, e alguns passam a afinar sua música à de Melkor.

Primeira Guerra Sonora: é o embate sonoro entre aqueles que seguem a dissonância de Melkor e aqueles que seguem o tema inicial de Ilúvatar. Foi finalizado quando Ilúvatar se ergueu pela primeira vez e fez surgir o Segundo Tema Musical.

Tema poderoso renovado (Segundo Tema Musical): Ilúvatar apresenta o tema semelhante ao anterior, porém diferente, com uma nova beleza. Resultado do levantar da mão esquerda de Ilúvatar.

Segunda Guerra Sonora: mais violenta que a primeira e os Ainur que cantavam de acordo com Ilúvatar ficaram consternados e não cantaram mais. Melkor pôde dominar.

Terceiro Tema Musical: surge a partir da severidade de Ilúvatar, com duas músicas diferentes. Resultado do levantar da mão direita de Ilúvatar.

Grande Música: com base no Terceiro Tema Musical, possui duas músicas diferentes: 1.Uma música profunda, vasta e bela e a 2. Uma música alta, fútil e repetitiva. A segunda música tenta abafar a primeira, mas essa adota as notas mais triunfais para formar um novo arranjo solene.

Acorde de Ilúvatar: é um som mais alto que o firmamento e mais profundo que o abismo. Emitido por Ilúvatar ao levantar as duas mãos. Cessa a Grande Música.

Visão de Ilúvatar: não mais apenas como um som, Ilúvatar revela aos Ainur a imagem do novo mundo com base na música cantada no Terceiro Tema Musical. A imagem não existe concretamente ou materialmente, por isso está no Vazio, mas não faz parte dele. A Visão consiste em ver o mundo e como ele se desenvolve no tempo.

Luz e cores: foram percebidas pela primeira vez na Visão do mundo. Os corações dos Ainur se alegraram com a luz, e seus olhos enxergaram muitas cores.

Eco da Música dos Ainur: os elfos acreditam que na água ainda vive o eco da Música dos Ainur, são as vozes do Oceano.

Trevas: foi notado pelos Ainur pela primeira vez quando a Visão do mundo cessou.

Primeira Batalha: foi a primeira batalha entre os Valar contra Melkor pelo domínio de Arda. Na tentativa de livrar a terra de Melkor antes que os Filhos de Ilúvatar chegassem.

 

Sobre Filmes

Oficial: Amazon fará série prequel de O Senhor dos Anéis

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Agora é oficial. Segundo a notícia do site Variety ()  publicada nesse dia 13 de novembro de 2017 pelo jornalista Joe Otterson, a Amazon juntamente com a Tolkien Estate, HarperCollins e a Warner Bros irão produzir uma série televisiva relacionada ao Senhor dos Anéis.

“O Senhor dos Anéis é um fenômeno cultural que capturou a imaginação de gerações de fãs pela literatura e na telona”, disse Sharon Tal Yguado, chefe de séries roteirizadas da empresa. “Estamos honrados de trabalhar com o Tolkien Estate,  HarperCollins(editora dos livros do Tolkien)  e a New Line (estúdio dos filmes) nessa animadora colaboração para a televisão, e estamos ansiosos em levar os fãs de O Senhor dos Anéis para uma nova jornada épica na Terra-Média.”

“Estamos encantados que a Amazon, e seu longo compromisso com a literatura, seja a casa da primeira série de TV multi-temporada de O Senhor dos Anéis”, disse Matt Galsor, representante da Tolkien Estate e HarperCollins. “Sharon e a equipe da Amazon Studios tem ideias excepcionais de trazer para as telas as histórias não-exploradas anteriormente com base nas escritas originais de J.R.R. Tolkien”, concluiu.

Segundo o comunicado oficial a trama será ambientada antes do primeiro filme. “Ambientada na Terra-Média, a adaptação televisiva explorará novas tramas antecedendo A Sociedade do Anel, de J.R.R. Tolkien.”[1]

O desenvolvimento da série “Senhor dos Anéis” vem quando a Amazon está preparada para prosseguir um novo mandato de programação ditado pelo CEO da Amazon, Jeff Bezos. O streamer está à procura de uma programação de gênero “Game of Thrones”, com amplo apelo internacional.

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[1] Set in Middle Earth, the television adaptation will explore new storylines preceding J.R.R. Tolkien’s The Fellowship of the Ring. The deal includes a potential additional spin-off series.

Biografia

Encontrada Carta de J.R.R. Tolkien na Universidade de Edimburgo

O autor do Senhor dos Anéis viveu em um período que a Internet não era acessível a uma grande quantidade de pessoas. Por isso, a forma mais comum de comunicação entre indivíduos ainda era por meio de cartas. Praticamente todos os dias Tolkien escreveu respostas aos seus leitores e tratava de diversos assuntos com amigos e familiares. As cartas de Tolkien são um ótimo recurso para entender melhor as suas histórias e sua vida. Nelas é possível saber a posição política, religião, relações familiares etc. Como as cartas eram enviadas para as pessoas, a tendência é que cada uma delas guardasse em suas casas a carta. Como um objeto de valor por ter uma resposta de um grande escritor.

Com o falecimento de Tolkien em 1973, coube a seu filho Christopher Tolkien ser o responsável por lidar com os manuscritos e a obra do pai. Em trabalho com Humphrey Carpenter editou um livro que contém grande parte das cartas que conseguiram reunir. Mas muitas das cartas não haviam sido encontradas e algumas se encontravam perdidas. No prefácio do livro “As Cartas de J.R.R. Tolkien” é solicitado que as pessoas que encontrassem cartas entrassem em contato com a família Tolkien e talvez haveria uma possível nova edição do livro contendo o novo material.

Desde então centenas de cartas foram sendo descobertas. Muitas delas com informações sobre o mundo imaginário de Tolkien e outras com informações pessoais. Recentemente uma nova carta foi descoberta na Universidade de Edimburgo.

Uma funcionária do “Centre for Research Collections” da Universidade de Edimburgo, enquanto estava olhando os arquivos acabou encontrando uma carta de J.R.R. Tolkien para o professor Campbell, agradecendo pela homenagem feita na Universidade.

 

 

A transcrição da carta com uma tradução direta para o Português:[1]

28 de Julho de 1973

Prezado Professor Campbell,

Voltei agora a Oxford depois de mais algumas viagens, e escrevo, bastante tardiamente, para agradecer por sua participação nos eventos dos dias 11 e 12 de julho, que tanto na festa como no cerimonial foram para mim a ocasião acadêmica mais resplandecente na qual eu participei. As ocasiões festivas, para minha própria surpresa, sobrevivi com um prazer não frustrante devido à generosa substituição do whisky pelo vinho, e estou inveterado no conselho do meu médico: “você deve transferir sua fidelidade inteiramente de Bacus para Ceres”. Na laureação, me senti como um hobbit, como é mostrado em ‘O Senhor dos Anéis’, especialmente por Merry e Pippin: grande orgulho e prazer na recepção de alta honra e título, combinado com (e de uma maneira reforçada por) uma dificuldade em acreditar que isso realmente estava acontecendo comigo, ou era realmente merecido, exceto pela generosidade dos meus superiores. As palavras do discurso deixaram-me emocionado. Especialmente as palavras “tornando-o um de nós”. Garanto-vos que Edimburgo me conquistou rapidamente, e apesar dos meus 81 anos terem me deixado relutante em viajar muito, uma viagem para o norte, se a oportunidade e a saúde permitir, não será relutante.

Atenciosamente,

J.R.R. Tolkien.

 

Em 10 de julho Tolkien e sua filha Priscilla haviam viajado para Edimburgo e permaneceram na casa de um amigo chamado Angus McIntosh, que era professor de Inglês, e com sua esposa Barbara.Em 12 de julho de 1973, a Universidade de Edimburgo concedeu ao Tolkien um título honorário de Doutor em Letras. A carta foi escrita em 28 de Julho de 1973, poucos dias antes do falecimento do Tolkien em 2 de setembro do mesmo ano.

Nesse período o professor Tolkien estava sob cuidados médicos. Ele estava com algumas gastrites e precisava estar atento a seus hábitos alimentares, especialmente evitar bebidas alcoólicas muito pesadas. Um ponto que chama a atenção na carta é a comparação do sentimento do Tolkien em relação a receber o título da Universidade, com os personagens Merry e Pippin em O Senhor dos Anéis.

A carta não é totalmente inédita, pois o escritor Jason Fisher já havia tomado conhecimento dela em 2011 e feito uma citação em seu livro “Tolkien and the Study of His Sources: Critical Essays”.

 

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[1] July 28th 1973, Dear Professor Campbell, I have now returned to Oxford after some further travelling, and write, rather belatedly to thank you for your part in the events of July 11th and 12th, which both in feasting and in ceremonial were to me the most resplendent academic occasion in which I have taken part. The festive occasions to my own surprise I survived with unmarred pleasure, owing to the generous substitution of whisky for wine, and I am confirmed in my doctor’s advice: ‘you must transfer your allegiance wholly from Bacchus to Ceres’. At the laureation I felt like a hobbit would: as is exhibited in  ‘The Lord of the Rings’, especially by Merry and Pippin: great pride and delight in the reception of high honour and title, combined with (and in a way enhanced by) a difficulty ^in believing that^ it was really happening to me, or was really deserved except by the generosity of my superiors. The words of the Address left me overwhelmed. Especially the words ‘making him one of us’. I assure you that Edinburgh has gripped me fast; and though my 81 years had begun to make me reluctant to travel far, a journey back north, if opportunity and health allows, will not be reluctant. Yours sincerely, J R R Tolkien.

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Nicholas Hoult Frontrunner poderá interpretar Tolkien em cinebiografia do autor!

Nicholas Hoult

Segundo o site Deadline  o ator Nicholas Hoult Frontrunner está negociando o papel  de J.R.R. Tolkien no filme que narra a vida do escritor chamado “TOLKIEN”, com direção de  Dome Karukoski, roteiro de David Gleeson e Stephen Beresford. As negociações ainda estão sendo realizadas, mas até o momento esse Nicholas Hoult parece ser a escolha para o protagonista do filme.

Hoult já trabalhou nos em filmes como X-Men Apocalipse, no papel de Fera (Hank McCoy), e como protagonista do filme João e os Gigantes. Atualmente está trabalhando no filme “The Current War” no papel de Nicolas Tesla e participa das filmagens de X-Men Dark Phoenix no papel ainda de Fera.

A ideia do filme começou a ser concretizada em 2013 e ontem o diretor foi escolhido. As filmagens ainda não estão previstas.

 

Sobre Filmes

Diretor do filme “Tolkien” é escalado!

Em novembro de 2013  foi noticiado (AQUI) que estava sendo produzido um filme que narra a vida de Tolkien, com roteiro de David Gleeson, um especialista em Tolkien e muito fã do escritor e produção de Peter Chernin.

Segundo informado hoje (24 de julho de 2017) pelo site Deadline, o filme “TOLKIEN” agora já tem um diretor contratado, que será o Dome Karukoski, mesmo diretor do filme “The Starling” com Keanu Reeves, que ainda está em produção e outros filmes. 

O filme contará a história de J.R.R. Tolkien desde sua infância passando pela fase em que luta na primeira guerra mundial e começa a escrever a sua grande mitologia.Ainda não há previsão para o lançamento.

Como já anunciado AQUI, também está em produção o filme “Tolkien & Lewis” que contará a história da amizade de dois dos maiores escritores do século XX. Além de novas produções que estão sendo feitas para o ano que vem… então os fãs de Tolkien tem apenas que esperar e se divertir com grandes novidades.

Dome Karukoski
Diversas

Tolkien Estate faz acordo com Warner Bross e encerra processo judicial!

Em 19 de novembro de 2012, a Tolkien Estate, entidade que representa os herdeiros de J.R.R. Tolkien, iniciaram ação judicial contra a Warner Bross  em relação ao Merchandising dos filmes de O Senhor dos Anéis e O Hobbit.

Segundo a família Tolkien, a empresa estaria exorbitando do que foi decidido em contrato sobre o tema, especialmente em jogos de vídeo game relacionados às obras de Tolkien. (veja mais sobre o início do processo AQUI). Basicamente a família Tolkien não reconhecia o direito de se explorar os personagens e as histórias em jogos, pois isso não estaria propriamente especificado no contrato que cedia os direitos.

Em seguida a empresa que tem os direitos dos filmes de O Senhor dos Anéis e o Hobbit, a Sauz Zantz respondeu no processo (veja mais AQUI ). Logo depois foi a vez da Warner Bross responder no processo alegando que a Tolkien Estate estaria na verdade quebrando o contrato e afirmaram ter o direito de criar os jogos e tinham planos de fazer jogos para cassino com os personagens (veja mais AQUI ).

Depois de quase cinco anos, finalmente as partes fizeram um acordo que encerrou o processo. E agora, tecnicamente a Tolkien Estate está em “paz” com a Warner Bross em relação aos filmes. Em 2008, a família Tolkien havia processado a Newline por não ter recebidos os direitos em relação aos filmes do Senhor dos Anéis, depois fizeram um acordo e finalmente os filmes de O Hobbit puderam ser produzidos. Com o dinheiro do acordo a Tolkien Estate fez uma doação do valor de vinte milhões para entidades que cuidam de crianças carentes, pessoas com câncer e outros.

Agora com esse novo processo não há dados sobre como o acordo foi realizado e quais os termos, pois foi feito extrajudicialmente. Porém, segundo Paul McGuire, representante da Warner Bros:

“A partes estão satisfeitas por terem resolvido esta questão amigavelmente e têm interesse em trabalhar juntas no futuro

Do mesmo modo, Bonnie Eskenazi, advogada do espólio de Tolkien e da HarperCollins, fez uma declaração quase idêntica.

A afirmação acima pode parecer interessante para aqueles que esperam uma adaptação cinematográfica de outros livros do Tolkien, como por exemplo o Silmarillion. É fato que até o momento a família Tolkien não mudou de ideia quanto a possibilidade de ceder os direitos para filmes, tendo em vista a forte oposição de Christopher Tolkien e Priscilla Tolkien em relação a exploração das obras literárias em outras mídias.

Contudo, talvez a esposa e filho do Christopher Tolkien, a Baillie e Adam Tolkien, estejam preparando algo que será inevitável, pois os escritos do Tolkien entrarão em domínio público em 2044, época em que qualquer pessoa poderá explorar economicamente as obras. Talvez tenham feito um acordo de somente realizar qualquer negociação sobre filmes após a morte de Christopher Tolkien. Enfim, as possibilidades são múltiplas quanto ao ano que novos filmes virão, mas como dito eles virão de todo modo em 2044 (veja mais sobre isso AQUI).

Glossopoeia

Como é “Tolkien Brasil” em élfico Quenya?

by Eduardo Stark

Em se tratando de tradução de palavras normalmente se consultaria um dicionário da língua Quenya. Contudo, não existe um livro completamente escrito por Tolkien e consolidado que pode ser chamado de dicionário. Existem rascunhos com palavras e seus significados e anotações em cadernos e folhas avulsas, o que evidentemente acaba dificultando o processo de tradução. Aliado a isso, nem todas as palavras encontradas em listas feitas por Tolkien podem ser consideradas como sendo “válidas”. Isso porque o autor escreveu diversas palavras e conforme os anos foram passando acabou abandonando algumas delas. Ou seja, uma palavra que era considerada como sendo em Quenya, passou a ter um significado diferente ou mesmo foi excluída como parte da língua.

É por isso que existem períodos do idioma que os estudiosos das línguas tolkienianas separaram em três: Quenya inicial (escrito no período dos anos iniciais do legendarium 1914-1930), Quenya médio (período entre 1930-1950) e Quenya tardio ou Quenya autêntico (1950-1973). Com as palavras de cada período é possível fazer uma série de análises linguísticas que podem ser tão empolgantes quanto uma língua de nossa realidade.

Por serem períodos em que o Quenya estava sendo desenvolvido, o Quenya Inicial e o Quenya médio não são considerados como sendo propriamente parte do legendarium, salvo em casos específicos. Portanto, o que pode ser considerado como sendo o Quenya falado pelos elfos conforme o legendarium de Tolkien escrito na época do Senhor dos Anéis é o chamado Quenya tardio.

Tolkien não terminou a criação do Quenya. Ou seja, ele não formou um vocabulário completo, com um número significativo de palavras. Nem mesmo uma gramática organizada com todas as regras necessária de uma língua. É por isso que uma parte significativa de estudiosos da língua não admitem a possibilidade de se usar o Quenya como uma segunda língua, ao estilo do Esperanto. (veja mais AQUI ). Porém, contrariando essa corrente existe aqueles que acreditam ser possível extrair das palavras e frases existentes todo (ou boa parte) do complexo de uma língua. A esse tipo de estudo linguístico é dado o nome de “neo-élfico”, especificamente o “Neo-Quenya”.

Como o Tolkien não escreveu o nome “Brasil” em Quenya, será necessário fazer uma tradução da palavra e usar algumas análises do Neo-élfico. Um dos maiores problemas do Neo-élfico é a ausência de consenso, uma vez que não existem parâmetros concretos em alguns pontos. Assim, como já ressaltado, escrever algumas palavras em Quenya pode ser objeto de longos debates e correntes de ideias sobre sua real aplicação ou forma mais aproximada com a intenção de Tolkien. Contudo, quase sempre sem uma conclusão categórica, já que Tolkien não está mais entre nós para encerrar tais questões.

Para formar um consenso, ao menos entre os nomes conhecidos, consultamos Helge Fauskanger, autor do livro “Curso de Quenya”, Edouard Kloczko, autor do livro “Le Haut Elfique pour lês debutantes” e Erunno Alcarinollo (pseudônimo) do site Quenya 101.

Existem diversas lendas e histórias sobre como o Brasil ganhou esse nome. Inicialmente os primeiros portugueses que chegaram apelidaram a região de “Terra de Vera Cruz” ou “Ilha de Vera Cruz”, porém o nome não se tornou popular e aos poucos foi sendo abandonado. A região passou a ser chamada desde o início como “Brasil”. Inicialmente por causa de um rio e depois como o nome do próprio local. Uma árvore com tonalidade vermelha interna foi chamada de “Pau-Brasil” e assim, ao que parece, o nome foi se popularizando. Essa é a origem mais reconhecida entre historiadores, tendo em vista textos da época.

Contudo, existe a lenda da ilha de Hy-Brasil, mais antiga que a data em que os Portugueses encontraram a região. Nessa lenda, existe uma ilha mágica, ou abençoada, onde há uma farta natureza e beleza e existe um rio vermelho que passa por ela, ou mesmo um grande vulcão. Alguns atribuem a ser essa a origem verdadeira do nome Brasil, como sendo a ilha que se localiza justamente a oeste da Europa no atlântico.

Se a origem do nome é resultado do Pau-Brasil ou da ilha Hy-Brasil, não será objeto de análise nesse texto. O que se procura inicialmente é o significado da palavra “Brasil”. Assim deve ser observado o que ela quer dizer, etimologicamente, e ser feita a tradução para o Quenya. Contudo, tendo em vista que a origem mais aceita está relacionada com o Pau-Brasil, será considerado o significado de Brasil como sendo “brasa”.

 

O nome “Tolkien” em Quenya

Em 1968 Tolkien foi protagonista de um documentário feito pela BBC chamado “Tolkien in Oxford” e nessa oportunidade ele escreveu “Arcastar Mondósaresse” que é traduzido como “Tolkien in Oxford”. Então “Arcastar” é basicamente o mesmo que “Tolkien”. Não há controvérsia sobre o nome em Quenya, pois o próprio autor da língua o escreveu em uma época pós-Senhor dos Anéis.

Quanto ao significado de “Arcastar”, não existe uma definição concreta, porém o significado não se torna necessário para essa análise, uma vez que o nome foi reconhecido por Tolkien. Especula-se que seja o mesmo significado da palavra “Tolkien” que o próprio entendia como sendo originária do germânico tollkühn “corajoso, ousado, estouvado”.

Ronald Kyrmse fez a transcrição do texto onde “Arcastar” aparece, e pode ser conferido abaixo:

Transcrição feita por Ronald Kyrmse.

O “Brasil” da Ilha “Hy-Brasil”

Se fosse considerada a lenda de Hy-Brasil (também escrito como Brasail) a palavra não tem origens conhecidas, mas a tradição da lenda céltica traz a ideia que seria uma “ilha abençoada” ou “ilha sagrada” dentro das histórias de São Brandão.  Em se tratando do mundo de Tolkien a palavra equivale em médio Quenya a “Almaren”[1], que significa “lugar abençoado”, “terra sagrada”, e como se trata de uma ilha a ideia se torna bem parecida “Ilha de Hy-Brasil” e “Ilha de Almaren”, ambas significando “ilha abençoada”.

Interessante notar que nas histórias internas de Tolkien “Almaren” é uma ilha que no início dos tempos, abrigava os Valar e as lâmpadas. Era o centro da terra e seu terreno era plano e formal. Porém, com os ataques de Melkor as terras de Arda foram mudadas e a ilha foi destruída completamente. Contudo, os Valar se direcionaram para outro local chamado de “Aman”, que em Quenya quer dizer “Terra abençoada” (conforme VT 49, pp.26-27).

Assim, “Aman” está localizada em relação a Terra-média no mesmo lugar que a Ilha de Hy-Brasil estaria localizada em relação a Europa, a oeste do atlântico. Desse modo, se for levado em consideração para a tradução do nome “Tolkien Brasil” para o Quenya o resultado seria “Arkastar Aman”. Contudo, sabe-se que a América não é o mesmo local que os Valar habitavam propriamente, então a tradução não poderia ser considerada.

Earendil, arte de Ted Nasmith

O “Brasil” do “Pau-Brasil” e a palavra “Yúla” em Quenya médio

A origem do nome “Brasil” mais conhecida é que tem sua origem relacionada a árvore de pau-brasil (Caesalpinia echinata), chamada pelos índios de pernambuco, muito presente na mata atlântica no período colonial português, que foi assim chamado por causa da sua madeira avermelhada, da cor de brasa, daí a origem do nome Brasil.

Esse nome “brasa” parece estar enraizado nas línguas que tem descendência do povo Indo-Europeu. Assim várias palavras historicamente são colocadas dentro dessa análise. Em Pro-Indo-Europeu é o mesmo que *bʰres- (explodir, quebrar, queimar, crepitar). Dessa a palavra foi utilizada em duas vertentes a relacionada ao Latim e a línguas germânicas. Em Proto-Germânico *brasō  (brasa, crepitação de carvão), em dialeto Dinamarquês brase (“flamejar, inflamar”), Em Norueguês/Sueco braseld (“cintilante,fogo”), em dialeto Norueguês/Sueco brasa (“assar”) e em Islandês brasa (“queimando de fogo”). Quanto ao latim a palavra parece ter se mantido a mesma brasa e influenciou suas línguas derivadas como Espanhol e Português. Em Francês o desenvolvimento é diferenciado, e parece estar relacionado aos aspectos germânicos, pois em Francês Antigo é breze (brasa), Francês Médio bresze e o Francês moderno ficou braise (carvões vivos).

Uma vez definido o significado, agora passa-se a análise da palavra escrita por Tolkien que é o equivalente em significado de “brasa”.

Entre os anos de 1930 e 1950, Tolkien escreveu um conjunto de palavras de sua língua Quenya, que é chamado de “Etymologies” (Etimologias), que servem para explicar melhor as palavras que ele estava desenvolvendo em suas histórias. Esses textos foram publicados postumamente no livro “The Lost Road and Other Writings”, o quinto da série de doze volumes do History of Middle-earth, editado pro Christopher Tolkien.

Assim, a palavra em Quenya que significa “brasa” é “Yúla”, especificamente no verbete “YUL-“ conforme pode ser lido na página 400 do livro The Lost Roads:

YUL – ardente. Q yúla brasa, madeira ardente; yulme vermelho [coração], calor ardente; yulma marca ON iolf marca; iûl brasa.[2]

Assim, se utilizado a palavra “nóre” (país, nação, terra, raça)[3] como sufixo, e observado sua utilização em outras palavras como “Númenóre”, que simplificado fica “Númenor”, o mesmo utilizando Yúla, seria a palavra “Yúlanóre” que de forma simplificada seria “Yúlanor”

Porém, conforme afirmado por Helge Fauskanger “Yúlanóre (também em forma curta Yúlanor) pode estar correto. Contudo, é um fato complicado que Tolkien depois usou a raiz YUL com referência a ‘beber’ ao invés de ‘brasa’”.[4]

Deve ser notado que “Yúla” é uma palavra de uma fase em desenvolvimento da língua Quenya, escrito no período de 1930 a 1950. Ou seja, não se trata de algo definitivo e nem mesmo tardio na intenção de Tolkien. Enquanto que a raiz YUL, publicada no Parma Eldalamberon nº17 e também presente em O Senhor dos Anéis, no lamento de Galadriel, traz a palavra “Yulma” que significa “Copo, taça”, o que implicaria em dizer que “Yúla” estaria obsoleta para ser considerada como uma palavra em Quenya. Seria necessária a existência de outra palavra no Quenya tardio que substituísse a anterior, porém não existe uma palavra correspondente a “brasa”.

Tendo em vista a ausência da palavra em Quenya tardio, Erunno Alcarinollo entende que pode ser feita uma análise comparativa com a palavra “Cristo”, que foi colocado como “Hristo” em Quenya pelo próprio Tolkien, em sua tradução da Litania de Loreto (Ver. VT nº 44). Assim, ao traduzir “Brasil” o nome seria equivalente a “Hrasil” em Quenya. Embora seja uma ideia interessante, Helge Fauskanger entende que não seria apropriada uma tradução do nome nesse sentido.

De um modo diferente, para solucionar a questão, Edouard Kloczko apresenta em seu dicionário o verbete “Yúla” separado das outras palavras que derivam da raiz do Quenya moderno “YUL-“. Isso porque o acento agudo na letra “U” poderia fazer diferença entre as palavras. Enquanto que as palavras com mesma escrita, (“Yulma” por exemplo) são apresentadas como sendo homônimas, ou seja, escritas com a mesma grafia, mas com significados diferentes. Além disso, Kloczko entende que a raiz “YUL-“ embora traduzida como “drink” (beber) pode ser entendida também com o sentido de “consumir algo”, o que tornaria lógica a similaridade das palavras, pois a “brasa” é a madeira sendo consumida, enquanto que “beber” é a água sendo consumida.

Por todo o exposto, descartadas as divergências, é consenso que “Yúla” signifique “Brasa”, tendo em vista a ausência de outra palavra escrita pelo próprio Tolkien. Assim, a tradução de “Tolkien Brasil” para o Quenya a ser adotada é “Arcastar Yúlanor”.

ARCASTAR YÚLANOR pode ser transcrita em Tengwar de duas formas, que são consideradas aceitas:

 FORMA 1:

FORMA 2: 

 

Não se pode considerar uma como sendo correta e outra incorreta, pois não se pode impor necessariamente um padrão de escrita. Como afirma Helge Fauskanger: “A Terra-média é, afinal, um mundo pseudo-medieval sem línguas acadêmicas para impor rigorosamente a ortografia “correta”, por isso seria igualmente válidas muitas variações, assim como em nosso próprio mundo na Idade Média.[5]

Essa ausência de um parâmetro altamente confiável é que torna difícil uma tradução coerente e padronizada. Nesse texto é possível ver um pouco da complexidade das questões linguísticas tolkinianas, o que demonstra o quanto as obras de Tolkien são aprofundadas e interessantes a níveis acadêmicos.

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NOTAS:

[1] Embora seja uma palavra em seu estágio de desenvolvimento (ver. Lost Tales, p.357), Christopher Tolkien a manteve na sua edição de O Silmarillion, provavelmente observando a existência da palavra “almë” em Quenya tardio com o significado de “sorte, benção”, conforme PE 17, p.146. No entanto, Talvez por existir essa controvérsia em relação aos nomes que o editor não incluiu o significado de “Almaren” no Silmarillion de 1977.

[2] YUL – smoulder. Q yúla ember, smoudering Wood; yulme red [heart], smouldering heat; yulma brand. ON iolf brand; iûl embers.

[3] The Lost Roads, p.378.

[4]Yúlanóre (also shortened Yúlanor) should be correct. However, it is a complicating factor that Tolkien later used the root YUL with reference to ‘drinking’ instead of ‘embers’”.

[5] “Middle-earth is after all a pseudo-medieval world with no language academies to strictly enforce “correct” spelling, so there would be many equally valid variations, just like in our own world in the middle ages”.

Biografia, Diversas

As praias da Cornualha e as influências no legendarium de Tolkien

by Eduardo Stark

 

A viagem de Tolkien para a Cornualha


Em agosto de 1914, o padre Francis Vincent Reade, do Oratório de Birmingham, decidiu viajar até a casa de sua mãe, uma senhora agora de idade avançada. Ela residia na Cornualha, na península de Lizard, no leste da Inglaterra.

Tendo em vista que Tolkien era o protegido do Padre Francis Morgan, que atuava no mesmo oratório que Reade, e assim tinha boas relações com todos daquela paróquia, foi decidido que o jovem poderia ir na mesma viagem e aproveitar as férias perto do mar.

Ao chegar na Cornualha a empolgação foi instantânea. Todos os dias, Tolkien e o padre Vincent Reade, realizavam longas caminhadas em que conversavam sobre vários temas. Desde questões religiosas até sobre as lendas populares da região. O padre era professor de educação religiosa e literatura inglesa na St. Philip’s Grammar School. O que implicava em verdadeiras aulas e emocionantes relatos sobre aquela região.

A própria descrição de Tolkien do local soa como algo poético na mente dele. O animo fica bastante evidenciado na carta que escreveu para sua amada Edith Brath, cujo trecho foi reproduzido na biografia escrita por Humphrey Carpenter:

Andamos pelas charnecas no topo dos penhascos até a enseada de Kynance. Nada do que eu possa dizer numa simples carta poderia descrevê-la. O sol brilha sobre nós, as águas do Atlântico erguem-se numa onda gigantesca, que se despedaça e jorra sobre as rochas e os recifes. O mar escavou nos penhascos bizarras gretas e gárgulas, onde o vento soa como trombetas e a espuma se arroja como do dorso de uma baleia; e em toda parte vemos rochas negras e vermelhas, e a espuma branca contra o violeta e o verde-mar translúcido.(CARPENTER, biografia, 1992, p. )[1]

Um dia Tolkien e o padre Vincent foram explorar os vilarejos que ficam nas proximidades, além do promontório Lizard. Sobre esta expedição o padre Vincent Reade registrou:

Nossa caminhada para casa, após o chá, teve início através de um rústico cenário ‘de Warwickshire’; descemos até as margens do rio Helford (quase como um fiorde), e depois subimos veredas ‘de Devonshire’ até a margem oposta, quando passamos então a um terreno mais aberto, onde o caminho se torcia e retorcia, subia e descia, até que a penumbra foi chegando e o sol vermelho começou a se pôr. Daí, após aventuras e reconsiderações de rota, saímos nas áridas e nuas colinas ‘Goonhilly’, e atravessamos um trecho reto de seis quilômetros e meio, com relva para nossos pés doloridos. Fomos então surpreendidos pela noite nas vizinhanças de Ruan Minor, e voltamos a encontrar ladeiras e caminhos serpeantes. A luz tornou-se muito ‘lúgubre’. Às vezes mergulhávamos num cinturão de árvores, e as corujas e os morcegos nos davam arrepios; às vezes, um cavalo asmático detrás de uma sebe ou um velho porco com insônia faziam nossos corações dar pulos; ou, às vezes, o pior que acontecia era nos enfiarmos dentro de um riacho inesperado. Até que os vinte e dois quilômetros chegaram ao fim – os três últimos animados pelo clarão majestoso do farol de Lizard e pelo som do mar, cada vez mais próximo. (CARPENTER, biografia, 1992, p. )[2]

A região de Kynance é até hoje um ponto turístico por sua beleza singular. Os montes que se formaram e a coloração da água marítima em verde translúcido, refletindo a luz solar faz o local ficar ainda mais belo.

A viagem de Tolkien a Cornualha foi marcante em sua vida. Conforme afirma Humphrey Carpenter “Tolkien nunca esqueceu essa visão do mar e da costa da Cornualha, que se tornou uma paisagem ideal na sua mente” (CARPENTER, 1992, p. ).

É por isso que seu encantamento pelo lugar é demonstrado em suas produções literária e artística. As lendas e histórias que colheu naquelas férias, aliado ao encantamento do lugar trouxeram um misto de ideias que culminaria com seus primeiros escritos sobre o legendarium.

Durante as férias de 1914, Tolkien fez duas ilustrações “Cadgwith, Cornwall, Caer-thilian Cove & Lion Rock” (ver acima) e ”Cove near the Lizard” (ver abaixo), que foram publicadas no livro “J.R.R. Tolkien: Artist and Ilustrator”, de autoria de Wayne G. Hammond e sua esposa Christina Scull.

O ato de ter feito ilustrações do local mostra o quanto Tolkien havia gostado do lugar e, tendo em vista não dispor de uma máquina fotográfica (naquela época um objeto ainda muito caro) registrou o local da melhor forma realista. As ilustrações ficaram guardadas desde então. Embora o mesmo caderno de desenhos tenha sido utilizado para outras ilustrações posteriormente.

Inspirado pelas lendas da Cornualha e pelas palavras de Cynewulf, no mês seguinte, em 24 de setembro de 1914, Tolkien escreve o que seria o primeiro poema relacionado ao seu legendarium “A Viagem de Earendel, a Estrela Vespertina”, que trata da viagem de um marinheiro para terras desconhecidas. E os seus poemas seguintes vão estar associados sempre a ideia de viagens marítimas.

As investigações de Tolkien sobre viagens marítimas relacionadas a lendas antigas o levaram a conhecer a lenda de São Brandão. O monge marinheiro que viajando rumo ao norte e depois oeste acaba encontrando uma ilha fantástica. Esse mesmo santo da Igreja Católica e Anglicana é considerado um dos principais relacionados a região da Cornualha, conforme está catalogado no livro The Saints of Cornwall (Os Santos da Cornualha) de Nicholas Orme (ver. p.73). Além disso, interessante notar que o Santo Meriadoc, é muito reverenciado na Cornualha, talvez seja uma das fontes para o nome ao personagem hobbit Meriadoc Brandebuque.

Em 4 de dezembro de 1914, Tolkien reescreveu seu poema “The Grimness of the Sea” (A severidade do Mar), dando um novo título “The Tides” (As Marés). No manuscrito ele escreveu “On the Cornish Coast” (Sobre a Costa da Cornualha). Prosseguindo com esse mesmo poema no mês seguinte, janeiro de 1915, novamente o renomeou dando o título de “Sea-Chant of an Elder Day”, que depois de alguns anos passou a ser parte do seu legendarium com o título “The Horns of Ylmir”.

Em 1921, um jovem irlandês chamado C.S. Lewis visitou a região da Cornualha, passando um fim de semana no castelo Tintagel, ficando fascinado com sua relação com as lendas arturianas. Anos mais tarde Lewis se tornou amigo pessoal de Tolkien e juntos formaram o grupo Inklings. Certamente as conexões das lendas arturianas e a Cornualha devem ter sido assunto em conversas longas com amigos, fumo e bebidas.

Foi dentro desse ciclo de amizades, que certa vez Lewis e Tolkien convencionaram escrever histórias. Aquele escreveria sobre viagens espaciais e este sobre viagens no tempo. Foi assim que surgiram as histórias da Trilogia Cósmica de C.S. Lewis e as histórias inacabadas de The Notion Club Papers de J.R.R. Tolkien, escrita por volta de 1945, em que alguns dos personagens tinham relações com a Cornualha.

A família Tolkien realizou diversas viagens nas férias. Em 1927 e 1928 foram para Lyme Regis em Dorset, junto com o Padre Francis Morgan. Em 1931 passaram as férias na primavera em Milford-on-sea, onde o padrinho de Michael, o Padre Gus Mery morava.

Tolkien visitou mais de uma vez a região da Cornualha. Em 1932 passou as férias em Lamorna na Cornualha, junto com seu amigo C.L.Wreen. Lá eles disputaram natação e fumaram cachimbos. Foi nessa oportunidade que apeldou um sujeito de Gaffer Gamgee, nomes que seriam anos depois utilizados em seus personagens de O Senhor dos Anéis. Conforme está escrito na biografia:

As férias da família na enseada de Lamorna, na Cornualha, em 1932, com Charles Wrenn, a esposa e a filha, quando Wrenn e Tolkien competiram nadando com chapéus panamá e cachimbos acesos. Foi sobre estas férias que Tolkien escreveu mais tarde: “Havia um sujeito esquisito do lugar, um velho que andava por lá mexericando, falando sobre o tempo e coisas assim. Para divertir meus garotos chamei-o Gaffer Gamgee (Vovô Gamgee) e tornou-se costume da família usar o nome para designar velhinhos desse tipo. Escolhi Gamgee principalmente por causa da aliteração, mas não inventei o nome. (CARPENTER, biografia, 1992, p.) [3]

Foram momentos de intensa alegria. A família estava bem, seus filhos ainda crianças brincavam e se divertiam no mar. Isso faz com que mais uma vez as praias da Cornualha fossem o reflexo de boa memórias para Tolkien. Ao que parece isso teve reflexos em suas obras.

Priscilla, Christopher e J.R.R. Tolkien em 1932

No livro The Tolkien Family Album, de autoria dos filhos de Tolkien, John e Priscilla, eles relatam como foi essa viagem a Cornualha: “Foi um feriado delicioso e despreocupado, com caminhadas até o fim da terra, banhando na enseada e um completo o isolamento do mundo exterior ” (p.62)

A escolha do nome de Gamgee e a região da Cornualha se torna ainda mais profunda quando há a despedida do Frodo nos Portos Cinzentos, em O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei:

Mas para Sam, que permanecera no Porto, a noite se aprofundou na escuridão; e enquanto contemplava o mar cinzento ele via apenas uma sombra sobre as águas, que logo se perdeu no oeste. Sam continuou ali ainda um bom tempo, ouvindo apenas o suspiro e o murmúrio das ondas nas praias da Terra-média, e o som delas penetrava fundo em seu coração. (O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei).

Tal como Sam Gamgee, Tolkien manteve na memória e em seu coração o som das marés da cornualha. A ponto de gerarem suas primeiras histórias de viagens marítimas. Além disso, a distãncia do Condado até os Portos Cinzentos equivale a praticamente o mesmo tanto de milhas de Oxford até a Cornualha.

É interessante analisar as palavras “Grey Havens” (Portos Cinzentos). Em inglês “Haven” pode ser traduzido como “porto”, mas também pode ser algo como “Refúgio”, “abrigo”, “firmamento”. A ideia de local para refugiados parece estar presente nas obras de Tolkien. Nas histórias de O Silmarillion, muitos dos elfos que sobreviveram a destruição de Beleriand, especialmente os Noldor, se mudaram para Lindon[4] (região onde ficava os portos) no início da Segunda Era, onde foram governados por Gil-galad.

A palavra “Haven” tem origem do Médio Inglês “Haven” (firmamento, terra) em relação com “Heven” (céu, paraíso) na mesma língua. Existe, portanto, uma relação das palavras. Além disso, era bastante comum nas praias da Cornualha um tipo de granito acinzentado, que por ser típico daquela região foi apelidado de “granito da cornualha”. Talvez essa tenha sido uma inspiração para os Portos Cinzentos.

Quando Edith Tolkien faleceu em 29 de novembro de 1971, seu marido se preocupou com a lápide e pediu que fosse feita justamente do material granito da Cornualha. Para que sempre que fosse ao local se lembrasse dos bons momentos que passaram naquelas praias. No túmulo logo abaixo do nome de Edith está o apelido “Lúthien”. Posteriormente, Tolkien faleceu em 1973 e foi enterrado no mesmo túmulo e logo abaixo do seu nome está escrito “Beren”, um personagem protagonista de seu Silmarillion.

 

Túmulo de J.R.R. Tolkien e Edith Tolkien

O folclore e lendas Arturianas da Cornualha

O local não é apenas belo, mas apresenta também uma cultura muito antiga, com diversas lendas e mitos. Muitas delas contadas pelos marinheiros que ali passavam. A biografia de Tolkien escrita por Leslie Ellen Jones apresenta um comentário sobre o lugar, relacionando com as histórias e cultura local:

Lizard é a localização do Land’s End, o ponto mais ocidental da Grã-Bretanha continental. Uma viagem de marinheiro a oeste desta ponta não chegaria a terra até se aproximar da América do Norte. A Cornualha também é uma das áreas celtas da Grã-Bretanha, embora ‘Cornish’, outra linguagem intimamente relacionada com o galês, quase deixou de ser falada desde o século XVIII. A Cornualha é rica em folclore de gigantes, sereias e numerosas “pessoas pequenas”, como os piskies, spriggans e Lyonesse, uma Atlântida britânica coberta pelo mar na época do rei Arthur. As Ilhas Scilly são consideradas os únicos restos da terra rica e bela, dos tipos de antigas montanhas que somente emergem das ondas. (JONES, p.38) [5]

No livro “An Unsentimental Journey through Cornwall” escrito por Dinah Maria Craik, mostra várias conexões entre a Cornualha e as lendas arturianas e célticas. Especialmente o cartelo de Tintagel é associado com as lendas Arturianas. Inicialmente por Welshman Geoffrey de Monmouth em seu livro Historia Regum Britanniae (“A História dos Reis da Bretanha”), escrito por volta de 1135, onde narra as histórias dos Reis da Bretanha da sua fundação pelo troiano Brutus até a chegada dos Anglo-saxões, incluindo os feitos do Rei Artur e as profecias de Merlin.

Conforme a lenda narrada por Geoffrey, o pai de Artur era Uther Pendragon, rei de toda a Bretanha. Ele travou batalhas contra Gorlois, o Duque da Cornualha, que tinha uma esposa chamada Igraine. Ela foi enviada para o castelo de Tintagel para se proteger. Uther havia se apaixonado por Igraine e decidiu invadir o castelo. Mas parecia ser impossível de invadir, pois estava cercado por águas. Foi então que o mago Merlin apareceu e com sua magia disfarçou Uther, que conseguiu entrar no castelo e segundo Geoffrey “naquela noite foi concebido o mais famoso dos homens: Artur”. Gorlois morreu e deixou Igraine viúva com sua filha Morgana, a fada.

Além de ser considerada a região que gerou o Rei Artur, existe também a lenda das terras de Lionesse (também escrito como Lyonesse, Lennoys, Leonais). Segundo a lenda era uma terra que foi tomada pelo mar, que estava situada entre a Cornualha e as ilhas Scilly. O nome dessa terra aparece nas lendas arturianas a partir do livro Le Morte Darthur de Sir Thomas Malory, como sendo a terra nativa do herói Tristão. A ilha é mencionada mais de uma vez nas história escritas por Tolkien de Aelfwine e The Notion Club Papers.

O estudo das lendas do Rei Artur foi sempre constante na vida de Tolkien. Com seus trabalhos em relação ao manuscrito de “Sir Gawain e o Cavaleiro Verde” e com seus próprios escritos da morte de Artur, que posteriormente foi publicado por seu filho Christopher Tolkien, no livro “A Queda de Artur”.

No livro “Popular romances of the west of England; or, The drolls, traditions, and superstitions of old Cornwall” escrito por Robert Hunt, traz mais detalhes sobre as lendas que eram contadas e relacionadas a região da Cornualha. Ele expõe anotações de escritores e depoimentos de moradores da região.

 

Portos Cinzentos de Alan Lee

 

O Padre Francis Vincent Reade (1874-1958)

Pouco se sabe sobre a vida do Padre Francis Vincent Reade. Porém pode-se extrair um breve relato sobre sua vida em um artigo que foi publicado no “Oratory Parish Magazine” no início de 2007 (“Francis Vincent Reade”, pp. 2-3; nº 1 da série “Pais do Oratório de Birmingham”). Que foi então reproduzido por Christina Scull e Wayne Hammond em sua página especial de “Addenda and Corriegenda”

Padre Francis Vincent Reade (1874-1958) era um homem de pequena estatura, conhecido como “Padre Vincent” para evitar a confusão com o padre Francis (Morgan). Era um costume do Oratório que nenhum dos membros da comunidade tivesse o mesmo nome. O padre Vincent entrou no Pembroke College, em Cambridge, em 1894, ganhou o seu B.A. (Teologia Tripos de segunda classe) em 1897, quando passou a frequentar a faculdade Teológica Ely e foi condecorado com um M.A. em 1903. Embora ele tenha se tornado sacerdote da Igreja da Inglaterra em 1899, em 1904 se converteu ao catolicismo romano e estudou em Roma para a ordenação.

Vincent Reade entrou no noviciado do Oratório de Birmingham em 1906 e foi ordenado sucessivamente Diácono e Padre em 1908. Seu principal trabalho no Oratório foi de professor de educação religiosa e literatura inglesa na St. Philip’s Grammar School e atuou como diretor de 1910 a 1937. De 1932 a 1947 foi Supervisor do Oratório.[6]

Christopher Tolkien lembra que o padre Vincent Reade visitou seu pai em Oxford pouco antes da Segunda Guerra Mundial e descreveu o maltrato de judeus na Alemanha, que havia visitado recentemente. (HAMMOND. Readers, p.774)

Entre suas poucas publicações, Vincent Reade escreveu o capítulo ‘The Sentimental Myth’ no John Henry Newman: Centenary Essays (ed. Henry Tristram, 1945), e também escreveu “The Spirituality of Cardinal Newman” no livro “Homage to Newman, 1845-1945: a collection of essays to make the cardinal more widely known and more greatly loved in the centenary year of his conversion by Wheeler” pela editora Gordon, em 1945.

Um retrato do padre Vincent Reade, do artista de Birmingham B. Fleetwood-Walker, feito em 1948, é reproduzido abaixo:

Padre Vincent Reade

Membros da família de Vincent Reade no Brasil

 

A Família de Padre Francis Vincent Reade era cheia de soldados e marinheiros a serviço da coroa britânica. Inicialmente se destaca o seu antepassado William Barrington Reade da casa Ipsden. Ele foi um importante soldado e marinheiro a serviço da coroa britânica que realizou expedições nas Índias e na África. Recebendo diversas honrarias e títulos por seus serviços prestados.

A família Reade não se destaca apenas por seus serviços militares. Mas também por intelectuais que escreveram livros como irmão mais novo de William Barrington Read chamado Charles Reade (1814-1884). Charles foi um escritor, novelista e jornalista que escreveu o livro The Cloister and the Hearth (1861) e também foi escritor William Winwood Read, sobrinho de Charles Reade.

Interessante também notar a conexão com o Brasil. Um dos descendentes de William Barrington Reade seguiu a carreira do antepassado na marinha britânica, e acabou morando no Brasil. Charles Vincent Reade (24 de Julho de 1887- ?), filho de Vincent Reade e Mary Louisa, foi batizado em 1 de fevereiro de 1888 na igreja St. Mary, no distrito de Walton em Hill, Liverpool[7]. Ele foi um marinheiro respeitado e com alta posição. Passou a residir no Maranhão, onde se casou com Elzira Reade com quem teve filhos: Charles Vincent Reade Junior, Elsie Nealon, Sifney Vincent Reade. Abaixo uma foto de Charles Vincent Reade:

Charles Vincent Reade

Na lista para receber o título de Commander of the Order of the British Empire (CBE) em 1967, pela Rainha Elisabeth II[8] consta o nome “Charles Vincent Reade, DFC[9], British Subject resident in Brazil”, na categoria “Diplomatic Service and Overseas List”. Trata-se de Charles Vincent Reade Junior, que nasceu em São Luis, no Maranhão em 20 de fevereiro de 1914 e faleceu em 19 julho de 1990 no Rio de Janeiro. Charles Reade gerou Nicholas Vincent Reade, graduado na Universidade de Cambridge e atual empresário líder da Brookfield Incorporações S.A.

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:

Baptisms at St Mary in the District of Walton on the Hill, Liverpool . Disponível em: “http://www.lan-opc.org.uk/Liverpool/Walton/stmary/baptisms_1887-1888.html”. Acessado em: 22 de junho de 2017.

CARPENTER. Humphrey, J.R.R. Tolkien, uma biografia, Martins Fontes, 1992.

CRAIK, Dinah Maria. An Unsentimental Journey through Cornwall. Il: C. Napier

Hemy, Macmillan And Co, Londres, 1884.

GARTH, John.Tolkien and the Great War.HarperCollins, Londres, 2002.

Hammond Wayne G. SCULL, Christina, J.R.R. Tolkien Companion and GuideReader’s Guide, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________,J.R.R. Tolkien Companion and GuideChronology, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________J.R.R. Tolkien: Artist and Illustrator. HarperCollins, London, 1995.

_______________________________Addenda and Corrigenda to The J.R.R. Tolkien Companion and Guide (2006), Vol. 1: Chronology. Disponível em: “http://www.hammondandscull.com/addenda/chronology_by_date.html”. Acessado em: 24 de junho de 2017.

HUNT, Robert. Popular romances of the west of England; or, The drolls, traditions, and superstitions of old Cornwall. Chato e Windus, Londres, 1908.

JONES, Leslie Ellen. J.R.R. Tolkien: A Biography. Greenwood Press, Londres,2003.

ORME, Nicholas. The Saints of Cornwall. Oxford University Press, Oxford, 2000.

TOLKIEN.J.R.R. O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei. Ed. Martins Fontes. São Paulo, 1994.

TOLKIEN, John e Priscilla. The Tolkien Family Album. HarperCollins, 1992.

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NOTAS:

[1]  ‘We walked over the moor-land on top of the cliffs to Kynance Cove. Nothing I could say in a dull old letter would describe it to you. The sun beats down on you and a huge Atlantic swell smashes and spouts over the snags and reefs. The sea has carved weird wind-holes and spouts into the cliffs which blow with trumpety noises or spout foam like a whale, and everywhere you see black and red rock and white foam against violet and transparent seagreen.’

[2]  ‘Our walk home after tea started through rustic “Warwickshire” scenery, dropped down to the banks of the Helford river (almost like a fjord), and then climbed through “Devonshire” lanes up to the opposite bank, and then got into more open country, where it twisted and wiggled and wobbled and upped and downed until dusk was already coming on and the red sun just dropping. Then after adventures and redirections we came out on the bleak bare “Goonhilly” downs and had a four mile straight piece with turf for our sore feet. Then we got benighted in the neighbourhood of Ruan Minor, and got into the dips and waggles again. The light got very “eerie”. Sometimes we plunged into a belt of trees, and owls and bats made you creep: sometimes a horse with asthma behind a hedge or an old pig with insomnia made your heart jump: or perhaps it was nothing worse than walking into an unexpected stream. The fourteen miles eventually drew to an end – and the last two miles were enlivened by the sweeping flash of the Lizard Lights and the sounds of the sea drawing nearer.’ CARPENTER, p.

[3] The family holiday at Lamorna Cove in Cornwall in 1932 with Charles Wrenn and his wife and daughter, when Wrenn and Tolkien held a swimming race wearing panama hats and smoking pipes while they swam. This was the holiday about which Tolkien later wrote: ‘There was a curious local character, an old man who used to go about swapping gossip and weather-wisdom and such like. To amuse my boys I named him Gaffer Gamgee, and the name became part of family lore to fix on old chaps of the kind. The choice of Gamgee was primarily directed by alliteration.

[4] Lindon em Quenya contém o element “lin-“ “canção, cantar” também presente em Lindar. Assim “Lindon” significa “terra da música”, uma associação com os elfos que tocavam música diante do mar ou os sons que o mar faz dando a ideia de se ouvir músicas vindas do Oeste. Talvez músicas vindas de Valinor, como sugere a passagem de despedida de Frodo nos Portos Cinzentos em O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei: “E o navio avançou para o Alto Mar e prosseguiu para o oeste, até que por fim, numa noite de chuva, Frodo sentiu uma doce fragrância no ar e ouviu o som de um canto chegando pela água. E então teve a mesma impressão que tivera no sonho na casa de Bombadil; a cortina cinzenta de chuva se transformou num cristal prateado e se afastou, e Frodo avistou praias brancas e atrás delas uma terra vasta e verde sob o sol que subia depressa” (O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei).

[5] Lizard is the location of Land’s End, the most westerly point of mainland Britain; a sailor setting due west from this port would not hit land until he reached North America. Cornwall is also one of the Celtic areas of Britain, although Cornish, another language closely related to Welsh, had almost ceased to be spoken since the eighteenth century. Cornwall is rich in folklore of giants, mermaids, and numerous “little peoples” such as piskies, spriggans, and Lyonesse, a British Atlantis overwhelmed by the sea during the time of King Arthur; the Scilly Islands are said to be the sole remains of the rich and beautiful land, the tips of former mountains that alone emerge from the waves. (JONES, p.38)

[6] A man of small stature, he was known as ‘Father Vincent’ to avoid confusion with Father Francis (Morgan): it was an Oratory custom that no two members of the community should have the same name. Father Vincent entered Pembroke College, Cambridge, in 1894, earned his B.A. (second-class Theology Tripos) in 1897, when he proceeded to attend Ely Theological College, and was awarded an M.A. in 1903. Although he had become a Priest of the Church of England in 1899, in 1904 he converted to Roman Catholicism and studied in Rome for ordination. He entered the noviciate of the Birmingham Oratory in 1906, and was ordained successively Deacon and Priest in 1908. His main work at the Oratory was as a teacher of religious education and English literature at St Philip’s Grammar School, and from 1910 to 1937 as Headmaster. From 1932 until 1947 he was Supervisor of the Oratory. (HAMMOND. In. Addenda and Corrigenda).

[7] Baptisms at St Mary in the District of Walton on the Hill, Liverpool.

[8]Announced in supplements to the London Gazette of 2 June 1967:“https://en.wikipedia.org/wiki/1967_Birthday_Honours”

[9] DFC – Distinguished Flying Cross: é uma condecoração militar da Real Força Aérea do Reino Unido e formalmente aos oficiais de outros países da Commonwealth, instituida por “um ato ou atos de valor, coragem ou devoção pelo dever cumprido em operação ativa de voo contra o inimigo”.

Brasil

Os “hobbits”, uma gente que não é anã – Robert D. Evans

O sucesso de Tolkien já estava em grande crescimento desde seu lançamento em 1954-1955, porém no Brasil ainda não existia muita influência da obra e nenhuma tradução. Nem mesmo em Portugal existia traduções de obras do Tolkien, com exceção do livro O Gnomo (The Hobbit) publicado em 1962.

Assim, quase vinte anos após a publicação de O Senhor dos Anéis, temos pela primeira vez um artigo sobre Tolkien no Brasil. O texto que se segue foi escrito por Robert D. Evans e publicado pela primeira vez no Jornal do Brasil em 2 de dezembro de 1972.

Esse é o primeiro texto publicado no Brasil que trata sobre o professor Tolkien e suas obras. Por isso merece a devida atenção. Nessa época Tolkien ainda estava vivo. Ele só viria a falecer no ano seguinte, 1973.

O artigo serve para termos um pouco do pensamento da época sobre as obras de Tolkien e entender um pouco mais como a obra chegou no Brasil. Depois desse artigo, a editora Artenova se apresentou para a editora britânica a fim de adquirir os direitos dos livros e então publicou pela primeira vez a obra de O Senhor dos Anéis entre os anos de 1974 a 1979.

Eis a integra do artigo de Robert D. Evans:

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Londres – Um dos autores de best sellers atuais é um homem pouco conhecido, professor de Filologia da Universidade de Oxford, distinguido recentemente por essa Universidade com o título honorário de Doutor em Letras por sua contribuição à Literatura. Trata-se do professor Ronald Tolkien, Autor de The Lord of the Rings (Senhor dos Anéis), primeiro livro da trilogia sobre os hobbits.

Os hobbits são um povo gentil de baixa estatura, não chegando a ser anões. Eles são reconhecidamente ingleses e habitam aquela parte da Inglaterra que os leitores logo identificam como sendo um território no coração dos Midlands (condados centrais), onde nasceu Shakespeare. Grande parte dessa região está agora bastante industrializada, mas Tolkien escreve sobre ela recorrendo às suas lembranças de colegial, nos primeiros anos deste século, antes do advento do automóvel e do trator, quando ainda era uma zona rural e agrícola. (Tolkien está agora com mais de 80 anos).

Os hobbits como se descobre à medida que a história vai sendo contada, se envolveram no conflito humano entre o Mal e o Bem. Um deles é o único dono do Anel do Poder, que, caso caísse nas mãos do Senhor das Trevas, daria ao mundo por eles conhecido um poder maléfico.

O tema se desenvolve em torno da viagem épica de um grupo de hobbits, bravos mas assustados, sob a orientação de Gandalf, o Sábio, cuja magia é forte mas limitada, para a terra do Senhor das Trevas.

Se se quiser impedir uma calamidade, o Anel terá de ser derretido e destruído numa montanha de fogo no reino do poder maléfico. No curso de sua viagem através das grandes florestas de carvalho do tipo em que Robin Hood se abrigou, os hobbits encontram aliados: entre ele acham-se os anões, que são bons lutadores e corajosos, e os duendes, comandados por sua rainha, Galadriel, e que são a personificação da bondade num mundo onde esta qualidade de vida se acha na defensiva. O Senhor das Trevas também tem seus aliados, tais como os orcs, um povo vil e brutalizado cuja força está crescendo.

O Dr. Tolkien começou a escrever essa história como obra de erudição, mas de forma leve e humorística, para o que lançou mão de seu extenso conhecimento da velha poesia heroica inglesa e das sagas nórdicas da época em que os invasores escandinavos foram se estabelecer na Inglaterra. O seu domínio do idioma torna-se mais aparente na escolha das palavras e nomes com o objetivo de ajustá-los aos locais e personagens, em algumas frases, entremeadas na narrativa e nos diálogos, que possuem o sabor autêntico da História antiga, dos mitos e das lendas. Mas guerra é guerra, mesmo nesses dias longínquos, e assim como usou suas recordações de infância para retratar as áreas rurais, Tolkien recorreu às suas experiências nos campos de batalha de Flandres, na Primeira Guerra Mundial, para descrever cenas de desolação na terra sinistra do Senhor das Trevas.

Para grande surpresa do Autor, Lord of the Rings foi-se tornando aos poucos popular. Juntamente com duas obras que deram continuação ao mesmo tema e que já foram traduzidas em muitas línguas, calcula-se que pelo menos 50 milhões de pessoas já tenham lido esses três livros. O livro tornou-se uma saga, a saga um culto e do culto nasceu um grupo numeroso de entusiastas dos hobbits.

Um dos aspectos mais estranhos é a maneira como esses livros prenderam a imaginação dos estudantes, particularmente nos EUA. E também como a maioria dos jovens que vivem cruzando fronteiras, de continente para continente e de pais para pais, ajudou a disseminar as ideias dos hobbits.

Segundo o Dr. Tolkien, “os hobbits possuem o que se poderia chamar de moral universal; diria mesmo que são exemplos de filosofia e religião naturais.”

Mas a atração principal dos hobbits é sem dúvida a maneira como cativam a imaginação dos leitores, especialmente dos jovens, com suas visões de vida tranquila, numa espécie de terra própria de Sonho de uma Noite de Verão, em contraste com a vida que muitos deles têm de levar na cultura técnica de hoje, num mundo de violência e poluição ambiental.

Mitopoeia

Antes de Tolkien havia a mitologia de William Blake

by Eduardo Stark

Os mitos e as lendas sempre exerceram sobre a humanidade um grande fascínio. Seja pelo mistério que buscavam desvendar através de suas histórias de Deuses ou por grandes momentos vividos por heróis vitoriosos. Ambos parecem se entrelaçar na pretensão de revelar sentimentos por meio de suas narrativas.

A criatividade humana parece não ter encontrado limites para tentar explicar seu espaço e vida. Mas é difícil precisar quando a primeira pessoa decidiu contar uma história que viria a se tornar uma mitologia, pois elas estavam enraizadas nas diversas culturas que preservaram essas histórias por meio oral.

Contudo, alguns escritores decidiram criar sua própria mitologia, em que não tivesse o mesmo processo cultural e vínculo histórico com um povo. A esse tipo de atividade literária é dado o nome de “mitopoeia”.

O termo Mitopoeia, derivado do Inglês “Mythopoeia”, vem do grego μυθοποιία (criador de mito). Inicialmente a palavra se referia a criação de mitos na antiguidade, mas foi adotada por Tolkien como título de um poema escrito em 1931 e publicado no livro “Árvore e Folha”.O poema de Tolkien popularizou a palavra mythopoeia com o sentido de um novo gênero literário dedicado a criação mitos.

No livro The Oxford Dictionary of Literary Terms (O Dicionário Oxford de Termos Literários), de Chris Baldick, apresenta um conceito preciso da palavra:

Mitopoeia (mitopoese) A criação de mitos, ou coletivamente no folclore e na religião de uma cultura dada (geralmente pré-alfabetizada), ou individualmente por um escritor que elabora um sistema pessoal de princípios espirituais como nos escritos de William Blake. O termo é frequentemente usado em um sentido solto para descrever qualquer tipo de escrita que se baseie em mitos mais antigos ou se assemelhe a mitos em matéria ou alcance imaginativo. Adjetivo: mitopéico ou mitopoético.[1]

Com o passar do tempo a Mitopoeia é encarada como um gênero narrativo na literatura moderna e em filmes, em que uma mitologia ficcional ou artificial é criada pelo escritor. Estando agora comparável aos gêneros como Drama, Épico, Erótico, Nonsense, Lírico, Romance, Satira, Tragédia e Tragicomédia.

A ideia central da Mitopoeia é desenvolver uma mitologia que seja baseada, ou que tenha os mesmos princípios daquelas que já existem. È uma simulação de como seria uma mitologia, na mente de um autor (ou autores) com premissas daquelas histórias existentes, em geral utilizando derivações e arquétipos.

Comentando sobre seu legendarium e seu processo de criação, Tolkien afirma que a construção de uma nova mitologia exige a observação de “motivos ou elementos antigos e difundidos”, que atualmente são chamados de arquétipos:

“Essas histórias são “novas”, não são derivadas diretamente de outros mitos e lendas, mas devem possuir inevitavelmente uma ampla medida de motivos ou elementos antigos e difundidos; afinal, acredito que as lendas e mitos são compostos mormente da “verdade”, e sem dúvida aspectos presentes nela só podem ser recebidos nesse modo; e há muito tempo certas verdades e modos dessa espécie foram descobertos e devem reaparecer sempre. (Carta 131, para 1951)

É importante destacar que a Mitopoeia não tem como objetivo a criação de uma nova religião. Os Deuses ou Deus que estão em suas histórias não são desenvolvidos para ser objeto de culto. Pois é uma atividade literária e não religiosa. Nesse sentido, em carta, Tolkien expressa que se trata de uma “invenção imaginativa” como se lê a seguir:

Permita-me dizer que tudo isso é “mítico” e não qualquer tipo de nova religião ou visão. Pelo que sei é meramente uma invenção imaginativa, para expressar, do único modo que sei, algumas de minhas (turvas) apreensões do mundo. (Carta 181)

Da mesma forma, não é possível considerar uma Mitopoeia, aquela narrativa que tenha como finalidade adequar ideias filosóficas ou mostrar alguma verdade através de uma mitologia artificial.

Nesse sentido, a obra de Ferécides de Siro (600 a.c a 550 a.c), não poderia ser considera uma Mitopoeia propriamente, pois tinha pretensões filosóficas, visando esclarecer ideias relativas aos elementos e a origem do mundo. Aristóteles o considerava como um teólogo que misturava filosofia e mitologia. Ferécides transformou o panteão Grego em três grandes elementos que sempre existiram Zas (Zeus), Chronos (Tempo) e Cthonie (Terra). Porém, apenas reminiscências dessa obra são encontradas e não há precisão nas informações, o que dificulta saber qual a intenção do autor e como foi escrito seu livro. De todo modo, Ferécides pode ser considerado o precursor mais antigo dessa ideia de cosmogonias inventadas.

Outras tentativas de criação de mitos não parecem ter sido comuns na história da humanidade. Talvez chegassem a existir, mas foram completamente perdidos em bibliotecas esquecidas ou queimadas. Provavelmente a mentalidade religiosa muito enraizada na cultura ocidental implicou em evitar escritas que pudesse “brincar” com os Deuses ou Deus.

Assim, observado a impossibilidade de encontrar uma mitopoeia em tempos remotos, o primeiro nome relacionado a Mitopoeia que pode ser mencionado é William Blake, porém, tal como Ferécides de Siro, sua mitologia está mais relacionada com a propagação de suas ideias religiosas ou filosóficas do que com o sentido literário de se criar mitos, porém melhor documentada do que o escritor da antiguidade.

 

O poeta William Blake e sua mitologia

Na história muitos passam despercebidos em seu próprio tempo e somente muitos anos depois é que são reconhecidos por suas realizações. Esse é o caso de William Blake (28 de novembro de 1757 – 12 de agosto de 1827), que foi um poeta inglês e pintor, foi ignorado em seu tempo, exceto por suas ilustrações e alguns de seus poemas. Atualmente ele foi reconhecido como um dos expoentes das artes visuais e poesia da era Romantica.

Blake foi um revolucionário. Apoiou movimentos que estavam em ascensão como a Revolução Francesa. Suas ideias estavam intimamente ligadas com os pensamentos iluministas, porém sem perder seu vínculo religioso de origem protestante inglesa.

Contudo, ele se distancia do cristianismo quando escreve os aforismos “All Religions Are One” (Todas as Religiões São Uma) e “There Is No Natural Religion” (Não Existe Religião Natural). Nesse conjunto de enunciados Blake rejeita a ideia de uma religião individualizada a uma cultura e considera isso uma imposição autoritária, pois não há diferença entre as religiões e nenhuma delas surgiu naturalmente. Segundo ele, existiu apenas uma única religião no mundo, tal como uma única língua, mas que com o passar do tempo elas foram se distanciando em características, porém sua essência permanecia a mesma.

William Blake

Com o objetivo de comunicar sua mensagem revolucionária, Blake criou seu próprio sistema de mitologia. Através de deuses como personagens, significados e simbolismos complexos esboçam as relações no contexto de profecia. Ele incorporou figuras bíblicas em suas poesias, porém os alterou para dar a ideia de uma universalidade.

Influenciado pelos escritos de John Milton, em especial o livro “Paraíso Perdido” e ideias de Emanuel Swedenborg e Jakob Böhme, Blake começou uma série de poesias que revelassem uma nova mitologia em que fundisse aspectos bíblicos com o paganismo dos druidas. Essa série ficou conhecida como “Os livros das profecias” e foram publicados nessa ordem:

·Tiriel (c. 1789)

·The Book of Thel (c. 1789)

·America a Prophecy (1793)

·Europe a Prophecy (1794)

·Visions of the Daughters of Albion (1793)

·The Book of Urizen (1794)

·The Book of Ahania (1795)

·The Book of Los (1795)

·The Song of Los (1795)

·Vala, or The Four Zoas (begun 1797, unfinished; abandoned c. 1804)

·Milton a Poem (1804–1810)

·Jerusalem The Emanation of the Giant Albion (1804–1820)

Na mitologia de Blake há uma mistura da religião judaico-cristã com seus conceitos filosóficos. Aparecem figuras como Jesus Cristo, Adão, Eva, Abraão, Satã, Noé, bem como da mitologia grega como Albion e poseidon. Por se tratar de uma mitologia expressada em poesias e imagens ela se torna complexa e muito abstrata para ser entendida com profunda objetividade. Muito o que foi escrito por Blake está associado com as suas próprias crenças e visão de mundo, sendo expressões de sua realidade e, portanto, mais uma religião pessoal do que uma mitologia propriamente.

William Blake também era um ilustrador e suas poesias mitológicas eram acompanhadas de figuras inusitadas. Uma das mais conhecidas é a “The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun”. 

As obras de Blake tiveram influência na cultura popular ocidental sobretudo depois de sua redescoberta por Aleister Crowley, um conhecido ocultista inglês. Seus seguidores passaram a usar as obras de Blake como referências em obras literárias, musicas e poesias.

Após a morte de Crowley em 1947, surgiu uma nova onda de músicas populares entre 1950 e 1960 e Blake passou a ser considerado um ícone da chamada “contracultura”. Ele era comumente estudado entre os hippies, idealistas da “Nova Era” e ocultistas.

Nessa época o cantor Bob Dylan é considerado um admirador das obras de William Blake e trabalhou junto com Allen Ginsberg na gravação de alguns dos poemas. É nesse período também que bandas de rock como Black Sabbath e posteriormente Iron Maiden, U2 e os cantores Bruce Dickson e Marilion Manson demonstram terem sido influenciados.

A partir de então suas influências se ampliaram pelo mundo afora em diversas mídias. Nas histórias em quadrinhos, Alan Moore apresenta conhecer a obra de Blake quando faz referencias em V de Vingança, Watchmen e Do Inferno. Além disso, nos filmes Manhunter (1986) e Red Dragon (2002), pode ser visto a imagem de Blake “The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun”. 

William Blake é reconhecido como um santo pela Ecclesia Gnostica Catholica (E.G.C.), ou também chamada Igreja Católica Gnóstica. Essa entidade é um braço eclesiástico da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma organização de fraternidade iniciática internacional devotada a divulgar a Lei de Thelema. Thelema é um sistema religioso e mistico desenvolvido por Aleister Crowley e baseado em seu escrito “O Livro da Lei”.  A palavra católica denota a universalidade da doutrina não tem relação com o cristianismo ou a Igreja Católica Romana. A principal função da Ecclesia Gnostica Catholica  é realizar publicamente ou de forma privada a Missa Gnóstica (Liber XV), um ritual escrito por Crowley em 1913. Os santos da Ecclesia Gnostica Catholica são aqueles que estabeleceram princípios adotados na Thelema. Crowley fez uma lista com todos os nomes e publicou em seus ensaios, porém inicialmente William Blake não fazia parte da lista. Ele só foi adicionado posteriormente pelo Patriarca Hymenaeus Beta no final de 1997, baseado em um ensaio escrito por Crowley entitulado “William Blake”, que foi publicado no periódico Oriflamme 2, Ordo Templi Orientis, 1998.

Aleister Crowley

 

J.R.R. Tolkien e sua opinião sobre William Blake

Cerca de setenta e cinco anos após a morte de William Blake nasceu J.R.R. Tolkien. Por serem ambos escritores que criaram mitologias, a primeira impressão que se poderia ter é uma comparação das duas obras visando encontrar em Tolkien alguma influência de Blake como predecessor.

Justamente em uma das primeiras resenhas feitas para o primeiro livro A Sociedade do Anel, que foi publicada no jornal Time and Tide com o título ‘The Gods Return to Earth” em 14 de agosto de 1954, Lewis expressa certa comparação de O Senhor dos Anéis com o livro Canções da Inocência (Songs of Innocence) de William Blake:

Este livro é como um raio de um céu claro: tão fortemente diferente, tão imprevisível em nossa época quanto o Canções da Inocência foi na dele. É inadequado dizer que nele o romance heroico, lindo, eloquente e sem pesar, de repente voltou em um período quase patológico em seu anti-romantismo. Para nós, que vivemos nesse período estranho, o retorno (e o alívio dele) sem dúvida é uma coisa importante. Mas na história do Romance em si, uma história que remonta à Odisseia e além, não ocorre um retorno, mas um avanço ou revolução: a conquista do novo território.[2]

Então, para os primeiros leitores de O Senhor dos Anéis que buscavam mais informações sobre a obra de Tolkien começaram a fazer as primeiras analises comparativas da obra de William Blake, e o posicionando como um predecessor e até influenciador.

Isso também é acentuado pelo fato de C.S. Lewis ter escrito a resenha acima. Ele era um amigo próximo de Tolkien e teve acesso aos seus escritos antes de serem publicados. Além disso, Lewis também escreveu suas histórias com um mundo imaginário e uma mitologia própria.

De fato, a vida de Tolkien era quase que completamente desconhecida por seus leitores. As poucas impressões que existem estavam no prefácio da primeira e segunda edições de O Senhor dos Anéis.  Aliado a isso, raramente Tolkien concedia entrevistas e não se envolvia em grandes mídias ou buscava o sucesso, preferindo ficar distante de seus leitores e apenas os respondia por carta.

Com o surgimento da “contracultura” entre os anos de 1950 e 1960, muitos desses jovens passaram a ler O Senhor dos Anéis e o sucesso foi quase que explosivo com o lançamento das edições paperback nos Estados Unidos em 1965.

Assim, diversos leitores realizavam interpretações do Senhor dos Anéis a luz de suas ideias revolucionárias. Alguns acreditavam inclusive que o autor seria um defensor das mesmas ideias. Foi dentro desse questionamento que Tolkien chegou a receber duas cartas de leitores perguntando se existia alguma relação de O Senhor dos Anéis com as obras mitológicas de William Blake.

A primeira vista a relação parece ter sentido, uma vez que Blake é um precursor na ideia de criação de mitologias e várias palavras usadas por ele em seus poemas parecem ter relação com as obras de Tolkien. Como exemplo: Orc, Vala, Tiriel, Thiriel, Albion, Luvah. Além do fato de C.S. Lewis ter feito a referência na primeira resenha. Somando esses pontos muitos acabavam concluindo pela influência de Blake na obra de Tolkien.

Sigrid Hanson Fowler foi um desses milhares de admiradores que morava nos Estados Unidos. Ele estudava a obra de Tolkien com muita determinação. Na década de 60 Fowler era um estudante universitário e chegou a defender sua tese em 1966 com título “Speech Patterns in J.R.R. Tolkien’s The Lord of the Rings” (Padrões de fala em O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien), com cerca de 278 páginas. Posteriormente Fowler se tornou professor de literatura e língua Inglesa na Universidade Augusta.

Em suas pesquisas, Fowler se questionou sobre a possível influência que Tolkien poderia ter absorvido de William Blake. Foi então que enviou carta para o próprio autor, enfatizando a relação dos nomes da mitologia de Blake e sua presença na obra de Tolkien.

Em 29 de dezembro de 1968, Tolkien respondeu a carta de Sigrid Hanson Fowler. Nessa oportundiade Tolkien apontou que em seu antigo diário está anotado em 21 de Fevereiro de 1919 que teve contato pela primeira vez com os livros da profecia de Blake. (ver. HAMMOND, Chronology, p.737). Na carta Tolkien explica que:

“[Em 21 de fevereiro de 1919] estava lendo parte dos livros da profecia de Blake, que eu não tinha visto antes, e descobri para meu espanto várias semelhanças na nomenclatura (embora não necessariamente em função), por exemplo: Tiriel, Vala, Orc. Qualquer que seja a explicação dessas semelhanças elas são poucas: a maioria dos nomes inventados de Blake são tão estranhos quanto a sua “mitologia” – talvez, elas não são “proféticas” por parte de Blake, nem por qualquer imitação da minha parte: sua mente (na medida em que tentei entendê-la) e arte ou concepção de arte, não me atraem. Os nomes inventados são susceptíveis de mostrar oportunas semelhanças entre escritores familiarizados com a nomenclatura grega, latina e especialmente hebraica. Na minha obra, Orc não é uma “invenção”, mas um empréstimo do Inglês Antigo orc “demônio”. Isto é suposto ser derivado do Latin Orcus, que Blake sem dúvida conhecia. E também se supõe não estar relacionado com orc o nome de um animal marítimo. Mas eu recentemente investiguei orc e achei um tema complexo. [Arquivo Tolkien-George Allen & Unwin, HarperCollins] (HAMMOND, The Lord of the rings companion… p.25) [3]

Nessa carta fica demonstrado que Tolkien não gostava da mitologia de William Blake e que achava estranha a forma como foi desenvolvida. As semelhanças ocorreram, portanto, pelo fato de ambos os escritores terem utilizado palavras com derivações de línguas antigas que eram familiarizados. Embora a fonte fosse a mesma, os seus significados dentro das duas mitologias são muito diferentes entre si.

Contudo, é interessante observar que Tolkien teve contato com a obra de Blake quando estava começando a desenvolver o seu legendarium. Quando ainda estava escrevendo seus primeiro poemas relacionados a Earendel, cerca de seis meses após ter escrito “A Viagem de Earendel, a estrela vespertina”, seu amigo pessoal C.B.Smith havia lido seus poemas e feito duras criticas, tendo recomendado que lesse os poemas de William Blake como exemplo de clareza e simplicidade.

?3 de abril de 1915 Smith escreve para Tolkien. Ele está indisposto e doente do coração, mas encontra consolo nas cartas de Tolkien e seus comentários sobre o assento de Newdigate de Smith. Ele agora enviou os poemas de Tolkien para Gilson, exceto as coisas de “Earendel”. Ele acha que o verso de Tolkien “é muito propenso a ser complicado e confuso e ser ainda mais difícil de distinguir”; The Mermaid’s Flute (A Flauta de Mermaid) é bastante ruim a este respeito (Tolkien Papers, Bodleian Library, Oxford). Ele gostaria que Tolkien tornasse seu verso mais lúcido sem perder a luxúria, e sugere que leia as liricas curtas de William Blake como um exemplo de clareza e simplicidade. (HAMMOND, Chronology, p. 62) [4]

Se Tolkien seguiu o conselho de seu amigo é algo que precisa ser analisado com bastante cuidado. Já que não há nenhum sinal de que Tolkien tenha buscado alguma influência de Blake e suas afirmações posteriores demonstram que ele não gostava.

Cerca de vinte dias depois de ter recebido a carta de Smith com as criticas e a recomendação de leitura das poesias de Blake, Tolkien escreveu um poema chamado Goblin Feet (Pés de Goblin), que décadas mais tarde se arrependeu de ter escrito[5].  O poema foi publicado no periódico “Oxford Poetry” em 1 de dezembro de 1915, pela editora Blackwell e editado por G.D.H. C. (Gerald H. Crow) e T.W. E. (T.W. Earp). Nesse mesmo periódico havia também um poema de Aldous Huxley chamada “Home-Sickness… From the Town”.

Aldous Huxley e William Blake

Aldous Leonard Huxley (1894-1963) foi um escritor britânico, que ficou conhecido por seu romance Brave New World (Admirável Mundo Novo) em 1932, que narra um futuro ficcional onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas e funções na sociedade.

Huxley teve influências de William Blake, chegando a citar em suas obras trechos de suas poesias. No livro The Doors of Perception (As Portas da Percepção), publicado em 1954, Huxley deu o nome do livro em referencia a um poema de Blake chamado “The Marriage of Heaven and Hell (O Casamento do Céu e Inferno). Nesse livro o autor defende o uso de drogas psicotrópicas, em especial a mescalina, como chave para libertação da mente criativa. A critica da época foi variada, mas chama a atenção a boa recepção do poeta Edwin Muir que afirmou ser “O experimento do Sr.Huxley é extraordinário e é lindamente descrito” [6] E no mesmo ano Edwin Muir se referindo ao Senhor dos Anéis disse “No entanto, pode-se ver que A Sociedade do Anel é um livro extraordinário,” [7]

Huxley ficou conhecido entre os apoiadores da contracultura. A banda “The Doors”[8] adotou o nome com base na obra psicodélica de Huxley, em especial a referência a citação de William Blake “Se as portas da percepção estivessem abertas, o homem poderia ver as coisas como elas realmente são: infinitas”[9].

Banda The Doors

Os Beatles, que também eram fãs de J.R.R. Tolkien, colocaram o rosto de Aldous Huxley, ao lado de Aleister Crowly, entre dezenas de grandes personalidades para a capa do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, com músicas que trazem a ideia de alteração da percepção. 

Ao lerem os livros de Huxley, os hippies e apoiadores da contracultura tinham a impressão que pelo fato de ser um escritor britânico, com vínculos em Oxford, fosse da mesma turma de Tolkien e C.S. Lewis e que por sua vez seriam influenciados pelos escritores daquele país. Tendo um diferencial por coisas fantásticas e diferentes da realidade. Muitos pensavam que eram como se fossem herdeiros literários de histórias como Alice no País das Maravilhas.

Charles Williams, que era amigo pessoal de C.S. Lewis, e também de Tolkien, por ser membro dos Inklings também teve contato com as obras de William Blake e até mesmo com escritos de Aleister Crowley, a quem Tolkien não apreciava nem um pouco.

Esse contato de Aldous Huxley, G.B. Smith, C.S. Lewis, Charles Williams e J.R.R. Tolkien no início do século XX, demonstra que a atmosfera intelectual inglesa, sobretudo em Oxford, estava sendo influenciada pelas ideias da modernidade, com reflexos da ascenção de Aleister Crowley, que enfatizou as obras de William Blake naquele periodo.

Apesar disso, Tolkien não parece estar na mesma linha de ideias modernas que os citados. O autor de O Hobbit era um católico tradicional, e não assimilava facilmente ideias de sua época. Nem mesmo as mudanças que a Igreja Católica Romana passava com o Concílio Vaticano II, foram bem vistas por Tolkien. Talvez por isso não se sentisse a vontade com o grande sucesso que O Senhor dos Anéis teve repentinamente entre os jovens que estavam inspirados pelas ideias que surgiam na época.

 

BIBLIOGRAFIA:

APIRYON, Helena and Tau. The Gnostic Mass: Annotations and Commentary (footnote). Ordo Templi Orientis, 2004. Disponível em: https://hermetic.com/sabazius/gmnotes#Blake. Acessado em: 18 de Junho de 2017.

BALDICK, Chris. The Oxford Dictionary of Literary Terms, Oxford University Press, Oxford, 2008.

BLAKE, William. Songs of Innocence and Songs of Experience. Guildford: A.C.Curtis, Londres, 1901.

Hammond Wayne G. SCULL, Christina, J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________, J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Chronology, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________, The Lord of the Rings: A Reader’s Companion, HarperCollins, Londres, 2005.

LEWIS. C.S.’The Gods Return to Earth”, Time and Tide, Londres, 14 de agosto de 1954.

TOLKIEN, J.R.R. The History of Middle Earth I,The Book of Lost Tales Part One, ed. Christopher Tolkien, HarperCollins, Londres, 2002

 

NOTAS:

[1] Mythopoeia [mith-oh-pee-a] (mythopoesis) [mith-o-poh-ees-is] The making of myths, either collectively in the folklore and religion of a given (usually pre-literate) culture, or indivisually by a writer who elaborates a personal system of spiritual principles as in the writings of William Blake. The term is often used in a loose sense to describe any kind of writing that either draws upon older myths or resembles myths in subject-matter or imaginative scope. Adjective: mythopoeic or mythopoetic.
[2] This book is like lightning from a clear sky: as sharply different, as unpredictable in our age as Songs of Innocence were in theirs. To say that in it heroic romance, gorgeous, eloquent, and unashamed, has suddenly returned at a period almost pathological in its anti-romanticism, is inadequate. To us, who live in that odd period, the return – and the sheer relief of it – is doubtless the important thing. But in the history of Romance itself – a history which stretches back to the Odyssey and beyond – it makes not a return but an advance or revolution: the conquest of new territory.
[3] I had never seen before, and discovered to my astonishment several similarities ol nomenclature (though not necessarily in function) e.g. Tiriel, Vala, Orc. Whatever explanation of these similarities – few: most of Blake’s invented names are as alien to me as his ‘mythology’ – may be, they are not ‘prophetic’ on Blake’s part, nor due to any imitation on my part: his mind (as far as I have attempted to understand it) and art or conception of Art, have no attraction for me at all. Invented names are likely to show chance similarities between writers familiar with Greek, Latin, and especially Hebrew nomenclature. In my work Orc is not an ‘invention’ but a borrowing from Old English orc ‘demon’. This is supposed to be derived from Latin Orcus, which Blake no doubt knew. And is also supposed to be unconnected with orc the name of a maritime animal. But I recently investigated orc, and find the matter complex. [Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins] (HAMMOND, The Lord of the rings companion… p.25)
[4] ?3 April 1915 Smith writes to Tolkien. He is unwell and sick at heart, but finds consolation in Tolkien’s letters and his comments on Smith’s Newdi­gate Prize entry. He has now forwarded to Gilson Tolkien’s poems, except the ‘”Earendel” things’. He thinks that Tolkien’s verse ‘is very apt to get too compli­cated and twisted and to be most damned difficult to make out’; The Mermaid’s Flute is rather bad in this respect (Tolkien Papers, Bodleian Library, Oxford). He would like Tolkien to make his verse more lucid without losing its luxuri­ance, and suggests that he read shorter lyrics by William Blake as an example of the clear and simple. (HAMMOND, Chronology, p. 62)
[5] “I wish the unhappy little thing, representing all that I came (so soon after) to fervently dislike, could be buried for ever”.
[6] “Mr. Huxley’s experiment is extraordinary, and is beautifully described”
[7] “However one may look at it The Fellowship of the Ring is an extraordinary book,” Observer, 22 de Agosto de 1954.
[8] http://www.doorshistory.com/doors1965.html
[9] “If the doors of perception were cleansed man could see things as they truly are, infinite”