Sobre Livros

Campanha:Doe um Hobbit para uma criança!

hobbit

O Associação Paula Elizabete criou uma campanha de doações de livros e arrecadação de doações e conta com o apoio do site Tolkien Brasil. A ideia é receber 200 exemplares do livro O Hobbit e doar para as crianças dessa instituição.

A Associação Paula Elizabete, organização da sociedade civil, referência no atendimento a criança e ao adolescente na cidade de Montes Claros-MG, desde sua fundação em 1997 atua fortalecendo a política educacional e de assistência social. Para saber mais sobre a Associação acesse a página AQUI.

Nesse ano completa-se os 80 anos da publicação de O Hobbit no Reino Unido e ainda existem crianças que não leram essa grande obra que todos amamos. 

Talvez seja a hora de alguém sentir a mesma emoção que você teve ao ler uma obra do professor Tolkien.

Então chegou a nossa hora de fazer a diferença.

São mais de 200 crianças e adolescentes atendidos nessa instituição e que certamente eles merecem ler O Hobbit. 

Você pode saber mais sobre a campanha acessando AQUI.

 

São 80 anos da publicação de O HOBBIT!

A maravilhosa aventura de Bilbo Bolseiro começou em 22 de setembro de 1937, mas até hoje, muitas crianças e adolescentes ainda não conhecem suas aventuras.

Queremos mobilizar os fãs dessa saga a compartilhar suas histórias, aventuras e emoções com crianças assistidas em situação de vulnerabilidade social.

Nossa meta será arrecadar 200 livros e distribuí-los a crianças e adolescentes por meio da Associação Paula Elizabete, na cidade de Montes Claros – MG, situada no norte de Minas Gerais para que tenham a oportunidade de se aventurarem também no mundo a leitura e das fantásticas aventuras de O Hobbit.

Esperamos que essa campanha chegue a muitos fãs e seguidores do Bilbo Bolseiro.

DOANDO LIVROS

Você pode encaminhar uma versão do livro, nova ou usada para a sede do Centro Paula Elizabete através dos correios. Iremos mantê-los informados sobre a chegada dos livros, e ao fim da campanha, iremos divulgar os resultados alcançados, nossa meta é alcançar a arrecadação de 200 livros.

Os exemplares podem ser enviados para a Associação Paula Elizabete:

Rua Sagrada Família de Nazaré, 555
Jaraguá – Montes Claros, MG
CEP: 39.404-846

Não deixe de escrever uma dedicatória no exemplar, ou anexar uma mensagem compartilhando o porque resolveu compartilhar seu livro com outra pessoa que nem mesmo a conhece.

A campanha seguirá até a arrecadação dos 200 livros. Iremos sempre informar sobre a quantidade de livros que chegou em nossas redes sociais, em especial na fanpage do facebook AQUI.

Ao completar todos os livros iremos nos dirigir ao local e distribuir os livros para as crianças, com direito a um dia especial de leitura e entretenimento para elas.

Segue o vídeo da Associação Paula Elisabete:

Se você também tem uma instituição que cuida de crianças e gostaria de promover o mesmo projeto entre em contato por tolkienbrasil@gmail.com.

Se você não pode contribuir enviando o livro ou uma doação, pedimos que compartilhe esse link, pois a divulgação ajudará no projeto.

Fazerdiferença

Biografia

Sigmund Freud e a oposição de Tolkien e Lewis

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by Eduardo Stark

Ao ler as obras de J.R.R. Tolkien e estudar com mais profundidade seu universo imaginário, muitos se perguntam como uma pessoa conseguiu escrever algo tão interessante, tão criativo e tão bem conduzido a ponto de parecer não ser escrito por uma única pessoa.

Embora Tolkien fosse questionado em várias oportunidades sobre como foi o seu processo de escrita e como ele criou o seu mundo, muitas vezes nem ele mesmo sabia responder com certeza de onde surgiam as histórias.

Ao escrever pela primeira vez, por exemplo, a celebre frase “Numa Toca no chão vivia um hobbit”, o autor mal sabia o que seria um hobbit e o que viria a seguir nas histórias. E isso se repetiu em vários momentos em que os livros iam sendo feitos com se fosse algo sobrenatural e fora do controle.

Muitos estudiosos analisam o pensamento humano, o comportamento e apresentam suas teses sobre a criatividade de um escritor. A riqueza de detalhes e o cuidado com a escrita e uma imaginação incrível tem suas explicações dentro da psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud.

As obras de J.R.R. Tolkien podem ser analisadas sob a ótica de diversas disciplinas do conhecimento humano, mas a psicanálise parece nos fornecer algo mais profundo na vã tentativa de entrar na mente de um grande escritor e enxergar o seu mundo.

Diversos artigos e teses acadêmicas analisam o escritor de O Senhor dos Anéis com uma visão mais apurada do que a realizada nesse texto. Dessa forma, serão apresentados a seguir alguns pontos interessantes entre a obra de Freud e sua relação com o escritor Tolkien, possibilitando futuras pesquisas e teses com mais propriedade aos acadêmicos e estudiosos dessa área.

Importante frisar a ideia de Tolkien quanto a criticas literárias que tomam como base a vida do autor. Segundo ele a “a investigação da biografia de um autor (ou outros vislumbres semelhantes de sua “personalidade”, tal como podem ser colhidos pelos curiosos) é uma abordagem inteiramente vã e falsa de suas obras”. Desse modo, Tolkien apresenta uma ideia contrária aos estudos que buscam na vida do autor algum fundamento para suas obras. Essa ideia se assemelha a oposição que ele faz em relação a alegorias. Ou seja, dizer que algo foi colocado na história interna do mundo imaginário como se fosse uma representação de algo do mundo real.

A ideia de Tolkien era que os leitores apenas vissem a sua obra como bastante em si. Tal como acontece com as mitologias mais antigas, em que não se sabe o nome do autor e isso não tem uma relevância maior para compreender os mitos. Apesar disso, é quase inevitável buscar análises profundas sobre como o escritor tinha o seu processo criativo sem fazer uso das informações fornecidas pela psicanálise. E Joseph Campbell parece ter essa mesma ideia em relação a mitologia quando menciona em seu livro O Herói de Mil Faces, que “não conheço um instrumento moderno que supere a psicanálise” para entender a linguagem simbólica dos mitos.

Freud e Os Inklings

Sigismund Schlomo Freud (1856-1939), chamado de Sigmund Freud, foi um médico neurologista que fundou o ramo de estudos chamado psicanálise. Suas ideias foram bem divulgadas entre os intelectuais de sua época por novas descobertas sobre a mente humana, em especial a ideia da existência de um inconsciente.

Tolkien e Freud viveram na mesma época e é bem provável que o autor de O Hobbit teve contato com alguns textos psicanalista. Isso é explicado pelas diversas conversas que o Tolkien tinha com seus amigos os Inklings, em especial o seu maior amigo C.S. Lewis, o autor de Crônicas de Nárnia.

As obras de Freud repercutiam não apenas em seu campo de estudos, mas atingia vários intelectuais de sua época. O clima universitário de Oxford implicava que os professores ficassem situados nas novas ideias de seu tempo. Com isso, havia diversos debates em rodas de amigos em pubs de Oxford e o tema Freud foi abordado em algumas ocasiões.

Assim como Tolkien, C.S. Lewis divergia em vários aspectos das ideias freudianas. Até mesmo como uma reação a abordagens ateístas do psicanalista. Foi com base nessas divergências entre Freud e Lewis que Armand M. Nicholi, psiquiatra e professor de medicina de Harvard, escreveu o livro Deus em Questão: C.S. Lewis e Freud Debatem Deus, Amor, Sexo e o Sentido da Vida, publicado no Brasil pela editora Ultimato.

Livro Deus em questão
Livro Deus em questão

Existe também uma série de documentários de quatro partes produzida pela PBS com o mesmo título do livro “Deus em Questão” e com a apresentação do mesmo autor Armand M. Nicholi. Nessa série é apresentada a vida e as ideias de C.S. Lewis e Freud. Há uma parte em que J.R.R. Tolkien aparece e convence Lewis sobre o cristianismo.

O livro de Nicholi trata de temas fundamentais do ser humano e analisa em paralelo a vida desses grandes nomes do século XX. O livro coloca as opiniões de cada um dos intelectuais e aponta as suas divergências citando as fontes de suas afirmações. O livro se torna interessante pelo fato de que C.S. Lewis foi um ateu durante boa parte de sua vida e, graças aos argumentos e auxilio de Tolkien, se converteu ao cristianismo. Enquanto Freud foi considerado o expoente do ateísmo de sua época. Dessa forma o livro se torna um diálogo de duas mentes brilhantes sobre temas fundamentais do ser humano.

No livro ‘O Futuro de uma Ilusão’ de Freud, pregava a ideia de que as religiões eram consideradas neuroses (pequenos desvios mentais). Isso era do conhecimento de C.S. Lewis que apresentou suas convicções nesse aspecto em algumas de suas cartas e em artigos.

Como será a seguir tratado, C.S. Lewis não apenas conversava com seus amigos sobre Freud ou fazia algum comentário em cartas. Ele também escreveu artigos abordando temas freudianos, e em especial o “Psycho-Analysis and Literary Criticism” no livro Selected Literary Essays, pela Cambridge University Press.

Com base nessas divergências de ideias entre Lewis e Freud é que foi criado uma peça teatral “Freud, A Última Sessão” que atingindo grande sucesso nos E.U.A e Europa também chegou ao Brasil e foi apresentado em várias cidades em 2012 com Leonardo Netto no papel de C.S. Lewis e Hélio Ribeiro, como Freud. Em 2014 o papel de Lewis passou a ser de Anderson Müller enquanto Hélio se manteve como Freud. A direção da peça foi feita por Ticiana Studart, e é baseada no livro “Deus em Questão” mencionado acima.

Mesmo com essas divergências de pensamento e aparente conflito intelectual, parece que não há relação no âmbito pessoal. E é interessante como o destino interligam as pessoas. Sir Clement Raphael Freud, radialista, escritor e político era neto do Sigmund Freud e se casou com June Beatrice Flewett (conhecida como Jill Freud), uma atriz inglesa e diretora de teatro que durante a época da Segunda Guerra Mundial se refugiou em Oxford na casa de C.S. Lewis. Ela foi a inspiração para a personagem Lucy nas Crônicas de Nárnia.

Jill Freud era uma menina de um convento católico e por isso havia uma aproximação em relação a Tolkien, que era um devoto católico. Era costume que a menina fosse tomar chá na casa do autor do Hobbit e se lembrava que Lewis saia toda terça para encontrar seus amigos os Inklings.

O casamento do neto de Freud e a protegida de Lewis ocorreu em 1960, a tempo de o autor de Nárnia saber que ela se casou com um descendente de um “rival” de ideias.

Clement Freud (neto de Sigmund Freud) e Jil Freud (a protegida de Lewis que inspirou a personagem Lucy)
Clement Freud (neto de Sigmund Freud) e Jil Freud (a protegida de Lewis que inspirou a personagem Lucy)

Fantasia e escritores na visão de Freud, Tolkien e Lewis

A palavra “Fantasia” é conceituada de forma diferente para a literatura e a psicologia. Freud foi um marco na conceituação psicológica do que é fantasia, enquanto que Tolkien realizou o mesmo no campo da  literatura.

Cronologicamente a conceituação de Freud veio primeiro com os seus ensaios e conferências no início do século XX. Em especial o chamado “Escritores criativos e devaneio (1908 /1907), em que o psicanalista analisa o processo criativo de um escritor e como ele se desenvolve desde a infância.

Para entender a ideia de Freud sobre a fantasia é preciso entender o conceito de devaneio. O devaneio é como se fosse um espaço de tempo em que uma pessoa passa a ter a sua realidade parcialmente substituída por uma visão de fantasia (uma imaginação) em relação a suas felicidades, prazeres, esperanças e ambições criando uma expectativa ou desejando que se passe. O devaneio é possível tanto para pessoas que não apresentam nenhum distúrbio psíquico quando para quem tem.

Dentro dessa ideia Freud conceitua da seguinte forma “Os devaneios são fantasias (produtos da imaginação): são fenômenos muito generalizados, observáveis mais uma vez tanto nas pessoas sadias como nas doentes, e são facilmente acessíveis ao estudo em nossa própria mente”. (Freud, Sigmund, Conferências introdutórias sobre psicanálise, Conferência V).

Segundo Freud os devaneios surgem pouco antes do período da puberdade, no final da infância e continuam a ocorrer até a maturidade ser alcançada, sendo abandonadas ou mantidas ate o fim da vida. Eles se modificam e são flexíveis ao longo do tempo de vida da pessoa, podendo ter muitas variações.

É dos devaneios que surgem as fontes de criação dos escritores e artistas. Como Freud afirma:“São a matéria-prima da produção poética, pois o escritor criativo usa seus devaneios com determinadas remodelações, disfarces e omissões, para construir as situações que introduz em seus contos, novelas ou peças. O herói dos devaneios é sempre a própria pessoa, seja diretamente, seja por uma óbvia identificação com alguma outra pessoa”. (Freud, Sigmund, Conferências introdutórias sobre psicanálise, Conferência V).

Dentro da ideia de devaneio é que vemos a fantasia, em que as necessidades do individuo são satisfeitas, ou seja: “São cenas e eventos em que as necessidades egoísticas de ambição e poder da pessoa, ou seus desejos eróticos, encontram satisfação.” Dessa forma, a fantasia seria uma espécie de mecanismo de defesa do individuo em relação aos seus desejos que não foram realizados e por isso seriam fantasiados como forma de compensação ou satisfação. 

Antes de deixá-los ir, gostaria, contudo, de chamar-lhes um pouco mais a atenção para um aspecto da vida de fantasia que merece o mais amplo interesse. Isto porque existe um caminho que conduz da fantasia de volta à realidade – isto é, o caminho da arte. Um artista é, certamente, em princípio um introvertido, uma pessoa não muito distante da neurose. É uma pessoa oprimida por necessidades instintuais demasiado intensas. Deseja conquistar honras, poder, riqueza, fama e o amor das mulheres; mas faltam-lhe os meios de conquistar essas satisfações. Consequentemente, assim como qualquer outro homem insatisfeito, afasta-se da realidade e transfere todo o seu interesse, e também toda a sua libido, para as construções, plenas de desejos, de sua vida de fantasia, de onde o caminho pode levar à neurose. Sem dúvida, deve haver uma convergência de todos os tipos de coisas, para que tal não se torne o resultado completo de sua evolução; na verdade, sabe-se muito bem com quanta frequência os artistas, em especial, sofrem de uma inibição parcial de sua eficiência devido à neurose. Sua constituição provavelmente conta com uma intensa capacidade de sublimação e com determinado grau de frouxidão nas repressões, o que é decisivo para um conflito. Um artista encontra, porém, o caminho de retorno à realidade da maneira expressa a seguir. A dizer a verdade, ele não é o único que leva uma vida de fantasia. O acesso à região equidistante da fantasia e da realidade é permitido pelo consentimento universal da humanidade, e todo aquele que sofre privação espera obter dela alívio e consolo. Entretanto, para aqueles que não são artistas, é muito limitada a produção de prazer que se deriva das fontes da fantasia. A crueldade de suas repressões força-os a se contentarem com esses estéreis devaneios aos quais é permitido o acesso à consciência. Um homem que é um verdadeiro artista, tem mais coisa à sua disposição. Em primeiro lugar, sabe como dar forma a seus devaneios de modo tal que estes perdem aquilo que neles é excessivamente pessoal e que afasta as demais pessoas, possibilitando que os outros compartilhem do prazer obtido nesses devaneios. Também sabe como abrandá-los de modo que não traiam sua origem em fontes proscritas. Ademais, possui o misterioso poder de moldar determinado material até que se torne imagem fiel de sua fantasia; e sabe, principalmente, pôr em conexão uma tão vasta produção de prazer com essa representação de sua fantasia inconsciente, que, pelo menos no momento considerado, as repressões são sobrepujadas e suspensas. Se o artista é capaz de realizar tudo isso, possibilita a outras pessoas, novamente, obter consolo e alívio a partir de suas próprias fontes de prazer em seu inconsciente, que para elas se tornaram inacessíveis; granjeia a gratidão e a admiração delas, e, dessa forma, através de sua fantasia conseguiu o que originalmente alcançara apenas em sua fantasia – honras, poder e o amor das mulheres. (Freud, Sigmund.Conferências introdutórias sobre psicanálise, Conferência XXIII, p.314)

Nesse trecho destacado Freud apresenta a ideia de que o escritor tem devaneios e os coloca em forma de histórias, ou seja, como ele se sente frustrado na vida por não conseguir atingir “honras, poder e o amor das mulheres” ele repercute esse desejo em uma forma criativa que realizasse esses anseios.

Apresetando uma ideia diferente sobre o tema, C.S.Lewis comenta o mesmo trecho destacado e em seu ensaio “Psycho-Analysis and Literary Criticism” publicado no livro Selected Literary Essays. Segundo o autor de Crônicas de Nárnia, o escritor não cria suas histórias com base apenas em ambições não concretizadas, existem outras motivações para ele. E é por isso que Lewis deixa claro que não discorda das ideias de Freud, mas que apenas pretende realizar uma adição aos argumentos do psicanalista quanto ao tema.

Para Lewis existem duas origens da criatividade do escritor. A primeira é a destacada por Freud, como sendo o produto de desejos que não foram realizados e que por isso são imaginados, como um mecanismo de defesa pela ausência de “honra, poder e amor das mulheres”. Ou seja, a atividade imaginativa está presa ao psicológico do individuo. A segunda está relaciona a liberdade imaginativa.

Por estas razões eu desejo emendar a teoria freudiana da literatura em algo como isto: Há duas atividades da imaginação, uma livre, e a outra escravizada aos desejos de seu dono, para quem tem que fornecer gratificações imaginárias. Ambos podem ser o ponto de partida para as obras de arte. A atividade precedente ou “livre” prossegue nas obras que produz e passa do estatuto de sonho para o da arte por um processo que pode legitimamente ser chamado de “elaboração”: as incoerências são arrumadas, as banalidades removidas, os valores e associações privados substituídos, Proporção, alívio e temperança são introduzidas. Mas a outra, ou tipo servil, não é “elaborado” em uma obra de arte: é uma força motriz que inicia a atividade e é retirada quando uma vez que o motor está funcionando, ou um andaime que é derrubado quando o edifício está completo. Finalmente, os produtos característicos da imaginação livre pertencem ao que pode ser chamado de literatura fantástica, mítica ou improvável: a da fantasia, da imaginação que satisfaz os desejos, àquilo que, num sentido muito solto, pode ser chamado de Tipo realista. Eu digo “produtos característicos” porque o princípio sem dúvida admite de exceções inumeráveis. (C.S. Lewis. Psycho-Analysis and Literary Criticism” in. Selected Literary Essays, p.290)

Dessa forma, C.S. Lewis acrescenta uma nova forma de ver a teoria de Freud e acrescenta a ideia de que é possível a criação sem passar por devaneios ou imaginação com finalidade de consolo psíquico. O artigo segue relacionando outros comentários de Lewis sobre a psicanálise e os pontos que ele discorda.

Nesse sentido, o Lewis estaria incluindo a personalidade de Tolkien como essa nova categoria de imaginação livre. Pois o autor de O Senhor dos Anéis não procurava em seu processo criativo “honras, poder, riqueza, fama e o amor das mulheres” como Freud mencionará.Na época em que Tolkien vivia os escritores de literatura fantástica eram de certa forma discriminados em meios acadêmicos, então não seria uma busca por fama sua pretensão. Tolkien não buscava poder, até por que suas obras são de certa forma uma crítica a ideia de controle e do poder absoluto. Nem mesmo riqueza o autor de O Senhor dos Anéis buscava, pois como ele mesmo ressaltou em entrevista ao The Telegraph em 1966 “Eu nunca esperei um sucesso financeiro. De fato, eu nunca nem mesmo pensei em uma publicação comercial quando eu escrevi O Hobbit nos anos trinta”. Da mesma forma não buscava o “amor das mulheres” pois ele era um senhor casado e com uma mulher que amava profundamente. Tolkien escrevia seus textos de forma privada como um entretenimento pessoal. Como se fosse a sua brincadeira intelectualizada. O seu tempo criativo de apenas realizar algo que fosse bom.

Em seu ensaio “Sobre Contos de Fadas”, Tolkien tenta conceituar de uma forma diferenciada a palavra “Fantasia” e apresenta as primeiras ideias de um gênero literário. É por isso que esse texto é considerado um marco nesse tipo de literatura por apresentar as primeiras ideias do uso da palavra “Fantasia” em oposição ao uso na época com um aspecto psicológico.

Na época de Tolkien ainda existia um grande preconceito em relação as atividades de fantasia, aos escritos de mundos imaginários. E havia a necessidade de alguém se impor contra essas ideias e apresentar uma nova visão relacionada ao tema. Para Tolkien a Fantasia não poderia ser considerada como um produto de um devaneio ou mesmo uma neurose como afirmava Freud:

É claro que a Fantasia começa com uma vantagem: a estranheza cativante. Mas essa vantagem tem se voltado contra ela, e contribuiu para sua difamação. Muitas pessoas não gostam de ser “cativadas”. Não gostam de nenhuma interferência com o Mundo Primário, ou com os pequenos vislumbres dele que lhes são familiares. Portanto elas confundem, tolamente e até maldosamente, a Fantasia com o Sonho, no qual não existe Arte; e com distúrbios mentais, nos quais não existe nem mesmo controle: com ilusão e alucinação. (Sobre Contos de Fadas, in Árvore e Folha, Wmf Martins Fontes)

Há uma forte oposição de Tolkien em relação a ideia de que a Fantasia pudesse destruir a razão, ou seja, que pudesse levar a algum distúrbio mental. Para ele havia a necessidade de existir a razão para que a fantasia fosse produzida da melhor forma possível:

A Fantasia é uma atividade humana natural. Certamente ela não destrói a Razão, muito menos insulta; e não abranda o apetite pela verdade científica nem obscurece a percepção dela. Ao contrário. Quanto mais arguta e clara a razão, melhor fantasia produzirá. Se os homens estivessem num estado em que não quisessem conhecer ou não pudessem perceber a verdade (fatos ou evidência), então a Fantasia definharia até que eles se curassem. Se chegarem a atingir esse estado (não parece totalmente impossível), a Fantasia perecerá e se transformará em Ilusão Mórbida. (Sobre Contos de Fadas, in Árvore e Folha, Wmf Martins Fontes)

É nesse sentido que Tolkien conclui com propriedade que:

Creio que a fantasia (neste sentido) não é uma forma inferior de Arte, e sim superior, de fato a mais próxima da forma pura, e portanto (quando alcançada) a mais potente. (Sobre Contos de Fadas, in Árvore e Folha, Wmf Martins Fontes)

As grandes divergências de pensamento entre Freud e C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien mostram que as formas de pensar sobre o ser humano e sua capacidade de criar e de imaginar é algo a ser sempre estudado. E que não existe ainda algo completamente seguro sobre o que se passa na mente humana. Nem mesmo Freud conseguiu desvendar todos os mistérios da imaginação e os seus seguidores e outros estudiosos ainda estão distantes de saber a verdade, porém a busca continua.

Freud
Sigmund Freud

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O ensaio que se segue foi escrito por Sigmund Freud e ele é bem interessante para se conhecer mais sobre a forma de pensar do psicanalista em relação aos escritores criativos e a ideia do devaneio. Muitos pontos são interessantes de se destacar por justamente serem similares ao que a obra e vida de Tolkien nos mostra, muito embora, como visto acima eles discordassem de muitas dessas ideias.

Escritores criativos e devaneio (1908 /1907),  Sigmund Freud

Nós, leigos, sempre sentimos uma intensa curiosidade – como o Cardeal que fez uma idêntica indagação a Ariosto – em saber de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material, e como consegue impressionar-nos com o mesmo e despertar-nos emoções das quais talvez nem nos julgássemos capazes. Nosso interesse intensifica-se ainda mais pelo fato de que, ao ser interrogado, o escritor não nos oferece uma explicação, ou pelo menos nenhuma satisfatória; e de forma alguma ele é enfraquecido por sabermos que nem a mais clara compreensão interna (insight) dos determinantes de sua escolha de material e da natureza da arte de criação imaginativa em nada irá contribuir para nos tornar escritores criativos.

Se ao menos pudéssemos descobrir em nós mesmos ou em nossos semelhantes uma atividade afim à criação literária! Uma investigação dessa atividade nos daria a esperança de obter as primeiras explicações do trabalho criador do escritor. E, na verdade, essa perspectiva é possível. Afinal, os próprios escritores criativos gostam de diminuir a distância entre a sua classe e o homem comum, assegurando-nos com muita frequência de que todos, no íntimo, somos poetas, e de que só com o último homem morrerá o último poeta.

Será que deveríamos procurar já na infância os primeiros traços de atividade imaginativa? A ocupação favorita e mais intensa da criança é o brinquedo ou os jogos. Acaso não poderíamos dizer que ao brincar toda criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade? Seria errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrário, leva muito a sério a sua brincadeira e despende na mesma muita emoção. A antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da realidade, e gosta de ligar seus objetos e situações imaginados às coisas visíveis e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o ‘brincar’ infantil do ‘fantasiar’.

O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoção, enquanto mantém uma separação nítida entre o mesmo e a realidade. A linguagem preservou essa relação entre o brincar infantil e a criação poética. Dá [em alemão] o nome de ‘Spiel‘ [‘peça’] às formas literárias que são necessariamente ligadas a objetos tangíveis e que podem ser representadas. Fala em ‘Lustspiel‘ ou ‘Trauerspiel‘ [‘comédia’ e ‘tragédia’: literalmente, ‘brincadeira prazerosa’ e ‘brincadeira lutuosa’], chamando os que realizam a representação de ‘Schauspieler‘ [‘atores’: literalmente, ‘jogadores de espetáculo’]. A irrealidade do mundo imaginativo do escritor tem, porém, consequências importantes para a técnica de sua arte, pois muita coisa que, se fosse real, não causaria prazer, pode proporcioná-lo como jogo de fantasia, e muitos excitamentos que em si são realmente penosos, podem tornar-se uma fonte de prazer para os ouvintes e espectadores na representação da obra de um escritor.

Existe uma outra circunstância que nos leva a examinar por mais alguns instantes essa oposição entre a realidade e o brincar. Quando a criança cresce e para de brincar, após esforçar-se por algumas décadas para encarar as realidades da vida com a devida seriedade, pode colocar-se certo dia numa situação mental em que mais uma vez desaparece essa oposição entre o brincar e a realidade. Como adulto, pode refletir sobre a intensa seriedade com que realizava seus jogos na infância, equiparando suas ocupações do presente, aparentemente tão sérias, aos seus jogos de criança, pode livrar-se da pesada carga imposta pela vida e conquistar o intenso prazer proporcionado pelo humor.

Ao crescer, as pessoas param de brincar e parecem renunciar ao prazer que obtinham do brincar. Contudo, quem compreende a mente humana sabe que nada é tão difícil para o homem quanto abdicar de um prazer que já experimentou. Na realidade, nunca renunciamos a nada; apenas trocamos uma coisa por outra. O que parece ser uma renúncia é, na verdade, a formação de um substituto ou sub-rogado. Da mesma forma, a criança em crescimento, quando para de brincar, só abdica do elo com os objetos reais; em vez de brincar, ela agora fantasia. Constrói castelos no ar e cria o que chamamos de devaneios. Acredito que a maioria das pessoas construa fantasias em algum período de suas vidas. Este é um fato a que, por muito tempo, não se deu atenção, e cuja importância não foi, assim, suficientemente considerada.

As fantasias das pessoas são menos fáceis de observar do que o brincar das crianças. A criança, é verdade, brinca sozinha ou estabelece um sistema psíquico fechado com outras crianças, com vistas a um jogo, mas mesmo que não brinque em frente dos adultos, não lhes oculta seu brinquedo. O adulto, ao contrário, envergonha-se de suas fantasias, escondendo-as das outras pessoas. Acalenta suas fantasias como seu bem mais íntimo, e em geral preferiria confessar suas faltas do que confiar a outro suas fantasias. Pode acontecer, consequentemente, que acredite ser a única pessoa a inventar tais fantasias, ignorando que criações desse tipo são bem comuns nas outras pessoas. A diferença entre o comportamento da pessoa que brinca e da fantasia é explicada pelos motivos dessas duas atividades, que, entretanto, são subordinadas uma à outra.

O brincar da criança é determinado por desejos: de fato, por um único desejo – que auxilia o seu desenvolvimento -, o desejo de ser grande e adulto. A criança está sempre brincando ‘de adulto’, imitando em seus jogos aquilo que conhece da vida dos mais velhos. Ela não tem motivos para ocultar esse desejo. Já com o adulto o caso é diferente. Por um lado, sabe que dele se espera que não continue a brincar ou a fantasiar, mas que atue no mundo real; por outro lado, alguns dos desejos que provocaram suas fantasias são de tal gênero que é essencial ocultá-las. Assim, o adulto envergonha-se de suas fantasias por serem infantis e proibidas.

Mas, indagarão os senhores, se as pessoas fazem tanto mistério a respeito do seu fantasiar, como os conhecemos tão bem? É que existe uma classe de seres humanos a quem, não um deus, mas uma deusa severa – a Necessidade – delegou a tarefa de revelar aquilo de que sofrem e aquilo que lhes dá felicidade. São as vítimas de doenças nervosas, obrigadas a revelar suas fantasias, entre outras coisas, ao médico por quem esperam ser curadas através de tratamento mental. É esta a nossa melhor fonte de conhecimento, e desde então sentimo-nos justificados em supor que os nossos pacientes nada nos revelam que não possamos também ouvir de pessoas saudáveis.

Vamos agora examinar algumas características do fantasiar. Podemos partir da tese de que a pessoa feliz nunca fantasia, somente a insatisfeita. As forças motivadoras das fantasias são os desejos insatisfeitos, e toda fantasia é a realização de um desejo, uma correção da realidade insatisfatória. Os desejos motivadores variam de acordo com o sexo, o caráter e as circunstâncias da pessoa que fantasia, dividindo-se naturalmente em dois grupos principais: ou são desejos ambiciosos, que se destinam a elevar a personalidade do sujeito, ou são desejos eróticos. Nas mulheres jovens predominam, quase com exclusividade, os desejos eróticos, sendo em geral sua ambição absorvida pelas tendências eróticas. Nos homens jovens os desejos egoístas e ambiciosos ocupam o primeiro plano, de forma bem clara, ao lado dos desejos eróticos. Mas não acentuaremos a oposição entre essas duas tendências, preferindo salientar o fato de que estão frequentemente unidas. Assim como em muitos retábulos em que é visível num canto qualquer o retrato do doador, na maioria das fantasias de ambição podemos descobrir em algum canto a dama a que seu criador dedicou todos aqueles feitos heroicos e a cujos pés deposita seus triunfos. Veremos que aqui existem motivos bem fortes para ocultamento; à jovem bem educada só é permitido um mínimo de desejos eróticos, e o rapaz tem de aprender a suprimir o excesso de autoestima remanescente de sua infância mimada, para que possa encontrar seu lugar numa sociedade repleta de outros indivíduos com idênticas reivindicações.

Não devemos supor que os produtos dessa atividade imaginativa – as diversas fantasias, castelos no ar e devaneios – sejam estereotipados ou inalteráveis. Ao contrário, adaptam-se às impressões mutáveis que o sujeito tem da vida, alterando-se a cada mudança de sua situação e recebendo de cada nova impressão ativa uma espécie de ‘carimbo de data de fabricação.’ A relação entre a fantasia e o tempo é, em geral, muito importante. É como se ela flutuasse entre três tempos – os três momentos abrangidos pela nossa ideação. O trabalho mental vincula-se a uma impressão atual, a alguma ocasião motivadora no presente que foi capaz de despertar um dos desejos principais do sujeito. Dali, retrocede à lembrança de uma experiência anterior (geralmente da infância) na qual esse desejo foi realizado, criando uma situação referente ao futuro que representa a realização do desejo. O que se cria então é um devaneio ou fantasia, que encerra traços de sua origem a partir da ocasião que o provocou e a partir da lembrança. Dessa forma o passado, o presente e o futuro são entrelaçados pelo fio do desejo que os une.

Um exemplo bastante comum pode servir para tornar claro o que eu disse. Tomemos o caso de um pobre órfão que se dirige a uma firma onde talvez encontre trabalho. A caminho, permite-se um devaneio adequado à situação da qual este surge. O conteúdo de sua fantasia talvez seja, mais ou menos, o que se segue. Ele consegue o emprego, conquista as boas graças do novo patrão, torna-se indispensável, é recebido pela família do patrão, casa-se com sua encantadora filha, é promovido a diretor da firma, primeiro na posição de sócio do seu chefe, e depois como seu sucessor. Nessa fantasia, o sonhador reconquista o que possui em sua feliz infância: o lar protetor, os pais amantíssimos e os primeiros objetos do seu afeto. Esse exemplo mostra como o desejo utiliza uma ocasião do presente para construir, segundo moldes do passado, um quadro do futuro.

Há muito mais a dizer sobre as fantasias, mas limitar-me-ei a salientar aqui, de forma sucinta, mais alguns aspectos. Quando as fantasias se tornam exageradamente profusas e poderosas, estão assentes as condições para o desencadeamento da neurose ou da psicose. As fantasias também são precursoras mentais imediatas dos penosos sintomas que afligem nossos pacientes, abrindo-se aqui um amplo desvio que conduz à patologia.

Não posso ignorar a relação entre as fantasias e o sonhos. Nossos sonhos noturnos nada mais são do que fantasias dessa espécie, como podemos demonstrar pela interpretação de sonhos. A linguagem, com sua inigualável sabedoria, há muito lançou luz sobre a natureza básica dos sonhos, denominando de ‘devaneios’ as etéreas criações da fantasia. Se, apesar desse indício, geralmente permanece obscuro o significado de nossos sonhos, isto é por causa da circunstância de que à noite também surgem em nós desejos de que nos envergonhamos; têm de ser ocultos de nós mesmos, e foram consequentemente reprimidos, empurrados para o inconsciente. Tais desejos reprimidos e seus derivados só podem ser expressos de forma muito distorcida. Depois que trabalhos científicos conseguiram elucidar o fator de distorção onírica, foi fácil constatar que os sonhos noturnos são realização de desejos, da mesma forma que os devaneios – as fantasias que todos conhecemos tão bem.

Deixemos agora as fantasias e passemos ao escritor criativo. Acaso é realmente válido comparar o escritor imaginativo ao ‘sonhador em plena luz do dia’, e suas criações com os devaneios? Inicialmente devemos estabelecer uma distinção, separando os escritores que, como os antigos poetas egípcios e trágicos, utilizam temas preexistentes, daqueles que parecem criar o próprio material. Vamos examinar esses últimos, e, para os nossos fins, não escolheremos os mais aplaudidos pelos críticos, mas os menos pretensiosos autores de novelas, romances e contos, que gozam, entretanto, da estima de um amplo círculo de leitores entusiastas de ambos os sexos. Nas criações desses escritores um aspecto salienta-se de forma irrefutável: todas possuem um herói, centro do interesse, para quem o autor procura de todas as maneiras possíveis dirigir a nossa simpatia, e que parece estar sob a proteção de uma Providência especial. Se ao fim de um capítulo deixamos o herói ferido, inconsciente e esvaindo-se em sangue, com certeza o encontraremos no próximo cuidadosamente assistido e próximo da recuperação. Se o primeiro volume termina com o naufrágio do herói, no segundo logo o veremos milagrosamente salvo, sem o que a história não poderia prosseguir. O sentimento de segurança com que acompanhamos o herói através de suas perigosas aventuras é o mesmo com que o herói da vida real atira-se à água para salvar um homem que se afoga, ou se expõe à artilharia inimiga para investir contra uma bateria. Este é o genuíno sentimento heroico, expresso por um dos nossos melhores escritores numa frase inimitável. ‘Nada me pode acontecer’! Parece-me que através desse sinal revelador de invulnerabilidade, podemos reconhecer de imediato Sua Majestade o Ego, o herói de todo devaneio e de todas as histórias.

Outros traços típicos dessas histórias egocêntricas revelam idêntica afinidade. O fato de que todas as personagens femininas se apaixonam invariavelmente pelo herói não pode ser encarado como um retrato da realidade, mas será de fácil compreensão se o encararmos como um componente necessário do devaneio. O mesmo aplica-se ao fato de todos os demais personagens da história dividirem-se rigidamente em bons e maus, em flagrante oposição à verdade de caracteres humanos observáveis na vida real. Os ‘bons’ são aliados do ego que se tornou o herói da história, e os ‘maus’ são seus inimigos e rivais.

Sabemos que muitas obras imaginativas guardam boa distância do modelo do devaneio ingênuo, mas não posso deixar de suspeitar que até mesmo os exemplos mais afastados daquele modelo podem ser ligados ao mesmo através de uma sequencia ininterrupta de casos transicionais. Notei que, na maioria dos chamados ‘romances psicológicos’, só uma pessoa – o herói – é descrita anteriormente, como se o autor se colocasse em sua mente e observasse as outras personagens de fora. O romance psicológico, sem dúvida, deve sua singularidade à inclinação do escritor moderno de dividir seu ego, pela auto-observação, em muitos egos parciais, e em consequência personificar as correntes conflitantes de sua própria vida mental por vários heróis. Certos romances, que poderíamos classificar de ‘excêntricos’, parecem contrapor-se ao devaneio modelo. Nestes, a pessoa apresentada como herói desempenha um papel muito pouco ativo; vê os atos e sofrimentos das demais pessoas como espectador. Muitos dos últimos romances de Zola pertencem a essa categoria. Mas devo assinalar que a análise psicológica de indivíduos que não são escritores criativos, e que em alguns aspectos se afastam da norma, mostrou-nos variações análogas do devaneio, nos quais o ego se contenta com o papel de espectador.

Para que nossa comparação do escritor imaginativo com o homem que devaneia e da criação poética com o devaneio tenha algum valor é necessário, acima de tudo, que se revele frutuosa, de uma forma ou de outra. Tentemos, por exemplo, aplicar à obra desses autores a nossa tese anterior referente à relação entre a fantasia e os três períodos de tempo, e o desejo que o entrelaça; e com seu auxílio estudemos as conexões existentes entre a vida do escritor e suas obras. Em geral, até agora não se formou uma ideia concreta da natureza dos resultados dessa investigação, e com frequência fez-se da mesma uma concepção simplista. À luz da compreensão interna (insight) de tais fantasias, podemos encarar a situação como se segue. Uma poderosa experiência no presente desperta no escritor criativo uma lembrança de uma experiência anterior (geralmente de sua infância), da qual se origina então um desejo que encontra realização na obra criativa. A própria obra revela elementos da ocasião motivadora do presente e da lembrança antiga.

Não se alarmem ante a complexidade dessa fórmula. Na verdade suspeito que a mesma irá revelar-se como um esquema muito insuficiente. Entretanto, mesmo assim talvez ofereça uma primeira aproximação do verdadeiro estado de coisas; por experiências que realizei, inclino-me a pensar que essa visão das obras criativas pode produzir seus frutos. Não se esqueçam que a ênfase colocada nas lembranças infantis da vida do escritor – ênfase talvez desconcertante – deriva-se basicamente da suposição de que a obra literária, como o devaneio, é uma continuação, ou um substituto, do que foi o brincar infantil.

Não devemos esquecer, entretanto, de examinar aquele outro gênero de obras imaginativas, que não são uma criação original do autor, mas uma reformulação de material preexistente e conhecido. Mesmo nessas obras o escritor conserva uma certa independência que se manifesta na escolha do material e nas alterações do mesmo, às vezes muito amplas. Embora esse material não seja novo, procede do tesouro popular dos mitos, lendas e contos de fadas. Ainda está incompleto o estudo de tais construções da psicologia dos povos, mas é muito provável que os mitos, por exemplo, sejam vestígios distorcidos de fantasias plenas de desejos de nações inteiras, os sonhos seculares da humanidade jovem.

Poderão dizer que, embora eu tenha colocado o escritor criativo em primeiro lugar no título deste artigo, me ocupei menos dele que das fantasias. Reconheço o fato, e devo tentar desculpar-me alegando o estado atual de nossos conhecimentos. Pude apenas oferecer certos encorajamentos e sugestões que, partindo do estudo das fantasias, levaram ao problema da escolha do material literário pelo escritor. Quanto ao outro problema – como o escritor criativo consegue em nós os efeitos emocionais provocados por suas criações -, ainda não o tocamos. Mas gostaria, ao menos, de indicar-lhes o caminho que do nosso exame das fantasias conduz aos problemas dos efeitos poéticos.

Devem estar lembrados de que eu disse que o indivíduo que devaneia oculta cuidadosamente suas fantasias dos demais, porque sente ter razões para se envergonhar das mesmas. Devo acrescentar agora que, mesmo que ele as comunicasse para nós, o relato não nos causaria prazer. Sentiríamos repulsa, ou permaneceríamos indiferentes ao tomar conhecimento de tais fantasias. Mas quando um escritor criativo nos apresenta suas peças, ou nos relata o que julgamos ser seus próprios devaneios, sentimos um grande prazer, provavelmente originário da confluência de muitas fontes. Como o escritor o consegue constitui seu segredo mais íntimo. A verdadeira ars poetica está na técnica de superar esse nosso sentimento de repulsa, sem dúvida ligado às barreiras que separam cada ego dos demais. Podemos perceber dois dos métodos empregados por essa técnica. O escritor suaviza o caráter de seus devaneios egoístas por meio de alterações e disfarces, e nos suborna com o prazer puramente formal, isto é, estético, que nos oferece na apresentação de suas fantasias. Denominamos de prêmio de estímulo ou de prazer preliminar ao prazer desse gênero, que nos é oferecido para possibilitar a liberação de um prazer ainda maior, proveniente de fontes psíquicas mais profundas. Em minha opinião, todo prazer estético que o escritor criativo nos proporciona é da mesma natureza desse prazer preliminar, e a verdadeira satisfação que usufruímos de uma obra literária procede de uma libertação de tensões em nossas mentes. Talvez até grande parte desse efeito seja devida à possibilidade que o escritor nos oferece de, dali em diante, nos deleitarmos com nossos próprios devaneios, sem autoacusações ou vergonha. Isso nos leva ao limiar de novas e complexas investigações, mas também, pelo menos no momento, ao fim deste exame.

NOTA DO EDITOR INGLÊS 

DER DICHTER UND DAS PHANTASIEREN 

(a) EDIÇÕES ALEMÃS:
(1907 6 de dezembro. Pronunciado como conferência)
1908 Neue Revue, 1 (10) [março], 716-2.
1909 S.K.S.N., 2,197-206 (1912, 2ª ed.; 1921, 3ª ed.)
1924 G.S. 10, 229-239.
1924 Dichtung und Kunst, 3-14.
1941 G.W., 7, 213-223. 

(b) TRADUÇÃO INGLESA:
‘The Relation of the Poet to Day-Dreaming’
1925 C.P., 4, 172-183. (Trad. de I. F. Frant Duff.) 

A presente tradução, com um título alterado, é uma versão modificada da publicada em 1925. Este trabalho foi originalmente pronunciado como conferência a 6 de dezembro de 1907, diante de uma plateia de noventa pessoas, nos salões do editor e livreiro vienense Hugo Heller, que também era membro da Sociedade Psicanalítica de Viena. Um minucioso resumo da conferência apareceu, no dia seguinte, no diário vienense Die Zeit, mas a versão completa de Freud foi publicada pela primeira vez no início de 1908, num novo periódico literário de Berlim. Alguns problemas da literatura criativa haviam sido mencionados pouco antes no estudo de Freud sobre Gradiva (por exemplo, em [1]), e cerca de um ou dois anos antes ele examinara a questão em um ensaio não publicado sobre ‘Tipos Psicopáticos no Palco’ (1924a [1905]). O interesse principal deste artigo, como do que se segue, escrito na mesma época, reside no exame das fantasias.

“Gradiva” de Jensen e outros trabalhos, VOLUME IX, (1906 – 1908)

Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Ed. Standard Brasileira, vol.IX Rio de Janeiro, Imago. 1976.

Famosos, Sobre Livros

J.K. Rowling ama O Hobbit e acha que Tolkien é genial!

harry potter
harry potter

By Eduardo Stark

Esse artigo é uma homenagem a todos os fãs de Harry Potter e especial os que reconhecem a importância das obras de Tolkien e que vieram me pedir mais informações a respeito do tema e que participam de nosso grupo no facebook AQUI.

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Desde o grande sucesso de O Senhor dos Anéis esse livro é visto como um parâmetro para comparação em relação a outras obras do mesmo gênero literário. Já ressaltamos aqui influências de G.R.R. Martin (veja o artigo aqui) e Stephen King (veja o artigo aqui) e outros escritores (veja aqui). Agora apresentamos detalhes sobre J.K. Rowling e sua relação com a obra de Tolkien.

Joanne Kathleen Rowling ou J. K. Rowling é uma notável escritora conhecida por sua série de livros infantis Harry Potter. Ela é uma típica inglesa e com isso acabou tendo contato com essa cultura e evidentemente com os seus escritores clássicos e renomados. Com isso, a escritora ainda na juventude leu os livros de J.R.R. Tolkien e C. S. Lewis.

Desde que foi publicado o primeiro livro da série Harry Potter foi comum em diversas entrevistas e até entre os amigos pessoais da escritora o questionamento dela ter sido influenciada por escritores de fantasia que a antecederam.

O presente texto visa apresentar grande parte das entrevistas que Rowling ressaltou algo sobre as obras de Tolkien e tentar verificar quando a escritora teve o primeiro contato com O Senhor dos Anéis.

Os paralelos de suas obras não foram levados em consideração e o foco do texto são as declarações da própria escritora J.K. Rowling. Ela diz em várias ocasiões que leu o Hobbit e que foi “maravilhoso” e que ama a obra. Sobre o escritor Tolkien diz que o admira e dentre outras afirmações que serão expostas.

Existe uma certa dificuldade em determinar com qual idade a autora leu o Senhor dos Anéis e isso é verificado em contradições nas diversas entrevistas. Fato é que em sua vida a escritora desejou estudar na Universidade de Oxford, onde não foi admitida como aluna. Essa era a mesma universidade em que J.R.R. Tolkien foi professor durante muitos anos e se tornou doutor.

Abaixo segue a compilação de grande parte de suas referências sobre Tolkien em entrevistas. As fontes de onde foram publicadas estão junto ao corpo do texto em que é feita a citação. (boa parte das entrevistas completas podem ser encontradas no site conteudo.potterish.com).

O marketing da comparação de Tolkien aplicado a Harry Potter

As obras de Tolkien em relação a fantasia são consideradas padrões ou objetos de parâmetro.Ou seja, elas são algo basilar nesse tipo de literatura. E devido ao seu grande sucesso literário não é estranho que os novos escritores que venham a surgir sejam comparados com ele.

Parece ser uma estratégia comum do marketing utilizar as obras de Tolkien para conseguir assim chamar a atenção e atrair novas pessoas. Não é preciso relatar os vários momentos em que isso acontece com os livros de G.R.R. Martin, Eragon e outros.

Com os livro de Harry Potter não é diferente. Logo no início da publicação dos livros, ainda na década de 90, vários jornais e mídias já iniciavam as comparações da pedra filosofal e O senhor dos Anéis.

Essa questão toda refletiu até mesmo na forma como o nome da autoria seria colocado no livro. De fato, os autores de fantasia infantil tinham o nome abreviado logo no início C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, etc. Como podemos ler a seguir, a ideia partiu da editora e não da autora:

Ela se nomeia J.K. porque imagina ser uma moderna Tolkien? “Não, foi ideia da editora.” ela diz. “Eles eram cautelosos por eu ser uma mulher.” A Bloomsbury  acha que não alcançariam os meninos, então eles a fizeram hermafrodita. “Eu estava tão agradecida com a publicação que isso não importava para mim” (Hattestone, Simon. “Harry, Jessica e eu”. The Guardian, 08 de julho de 2000).

As primeiras notícias em jornais entre os anos de 1995 e 1998 utilizam ideias de comparação entre os autores de Nárnia e O Hobbit em relação aos livros de Harry Potter. E isso começou a ser mais continuo com os lançamentos dos filmes.

J. K. Rowling
J. K. Rowling

Com que idade Rowling leu O Senhor dos Anéis? 14, 19 ou 20 anos?

Como ressaltado, Rowling por ser uma típica mulher inglesa isso implicou com as primeiras leituras dos escritores de seu país. Mas a escritora parece se contradizer em várias entrevistas sobre o momento em que ela leu O Senhor dos Anéis, variando de 14 para 21 anos.

A primeira entrevista concedida em que a escritora fala algo sobre Tolkien ocorreu em 1999 em que afirmou ter lido as obras de Tolkien e Lewis e reconheceu os autores como gênios:

Eu li ambos, ahn – ambos eram gênios, estou imensamente lisonjeada em ser comparada a eles, mas acho que estou fazendo algo ligeiramente diferente. Fonte: “Christopher Lydon. “Transcrição da entrevista com J.K. Rowling para o The Connection”. Rádio WBUR, 12 de outubro de 1999. Transmitida em: 12 de outubro de 1999, das 10h06min às 11h00min da manhã”).

Em uma entrevista no ano seguinte a escritora informa ter lido O Senhor dos Anéis com 14 anos de idade. Nada mais natural, pois em 1977 e 1978 os filmes animados de O Hobbit e O Senhor dos Anéis estavam nos cinemas e  proporcionaram uma publicidade maior em relação as obras naqueles anos. Na entrevista foi perguntado “Você tem algum tipo de público alvo quando escreve esses livros?” e ela respondeu:

Eu mesma. Eu sinceramente nunca sentei e pensei, O que será que as crianças vão gostar? Eu realmente estava tão empolgada com a idéia quando ela veio a mim que eu pensei que seria divertido de escrever. De fato, eu não gosto muito de fantasia. Não é bem que eu não goste, na verdade eu não li muito isso. Eu li “Senhor dos Anéis” no entanto. Li quando tinha uns 14 anos. Fui ler “O Hobbit” depois dos vinte. Nessa época eu já tinha começado “Harry Potter”, e alguém me deu esse livro, e eu pensei: Sim, Eu realmente devo ler isso, porque as pessoas sempre diziam, “Você já leu “O Hobbit, obviamente?” e eu dizia, “Hum, não”. Então eu pensei “Bem, vou ler”, li, e foi maravilhoso. (Sorriso encabulado). (Jones, Malcolm. “A mulher que inventou Harry”. Newsweek, 17 de julho de 2000).

Em resposta na entrevista publicada no site Scholastic.com, “Sobre os livros: Entrevista de J.K. Rowling para Scholastic.com”, (16 de Outubro de 2000), Rowling afirmou ter lido a obra de O Senhor dos Anéis com dezenove anos de idade. A pergunta foi a seguinte: “eu estava pensando em o quanto Tolkien inspirou e influenciou a sua escrita?”:

Difí­cil de dizer. Eu não li O Hobbit até que o primeiro Harry estava escrito, se bem que eu li O Senhor dos Anéis quando eu tinha dezenove. Eu acho que deixando de lado o fato óbvio que ambos usamos mito e lenda, as similaridades são muito superficiais. Tolkien criou uma nova mitologia inteira, o que eu nunca poderei dizer que fiz. Por outro lado, eu acho que faço piadas melhores. (Scholastic.com, “Sobre os livros: Entrevista de J.K. Rowling para Scholastic.com”, 16 de Outubro de 2000)

No ano seguinte em março de 2001, em entrevista para Comic Relief (trecho publicado mais abaixo na parte de influências), a autora de Harry Potter disse ter lido O Senhor dos Anéis com vinte anos. Estranhamente, no mesmo mês, poucos dias após essa entrevista ela afirmou em entrevista na BBC Online que tinha lido O Senhor dos Anéis com vinte anos.Assim foram feitas as perguntas “O que você acha de “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien?” e ela respondeu o seguinte:

Eu li quando tinha uns vinte anos, creio e eu gostei muito, embora nunca tenha relido, que é algo revelador (normalmente releio meus livros favoritos constantemente), mas ele criou toda uma mitologia, uma incrível façanha. (“Transcrição do chat ao vivo da Comic Relief”. Comic Relief, março de 2001).

Com uma ideia diferente, diferindo em pouco em sua resposta afirmou o mesmo, ao ser perguntada “O que você acha do livro “O Senhor dos Anéis“, de Tolkien?” em que ela responde:

Eu li quando eu tinha mais ou menos vinte anos e eu gostei muito, apesar de nunca ter tido a oportunidade de reler. O que é relevante, porque meus livros favoritos eu leio várias vezes. Mas ele criou uma nova mitologia, uma façanha incrível. (“Chat do dia do Red Nose”. BBC Online, 12 de março de 2001).

Para ter uma ideia mais formada sobre isso, é interessante ver o que o Sean Smith escreveu na biografia de J.K. Rowling a respeito de O Senhor dos Anéis.

Um dos livros que ela leu durante os seus dias universitários foi O Senhor dos Anéis, o famoso romance de fantasia do Professor de Oxford, J. R. R. Tolkien. Joanne se tornou uma grande admiradora da saga e seu volume de 1000 páginas contendo toda a história, que se tornou maltratado e desgastado ao longo dos anos. (J.K. Rowling A Biography, 2003, p. 90).

Esse trecho demonstra que ela leu o livro aos 19 anos e que ela se tornou uma grande admiradora da saga de Tolkien. E para ressaltar ainda mais, o biografo expõe que Rowling levou para Portugal o seu volume de O Senhor dos Anéis:

Joanne invariavelmente tinha o Senhor dos Anéis com ela [em Portugal], que ela tinha lido pela primeira vez quando tinha dezenove anos, mas era um dos livros que ela queria levar para Portugal. Maria Ines confirma que ela sempre teve sua cópia com ela e Jorge lembra que não podia deixar o livro. (J.K. Rowling A Biography, 2003, p. 108)

Fato é que J.K. Rowling leu O Senhor dos Anéis em alguma parte de sua juventude. Estranhamente ela parece mudar a idade em que ela leu o livro com o passar dos tempos e até evitar comentar que teve alguma influência de Tolkien. Sua resposta sobre ter lido O Senhor dos Anéis e não ter relido é uma demonstração disso, pois o seu próprio biografo afirma que ela releu a obra e a carregou para a viagem a Portugal.

Com o lançamento dos filmes de Harry Potter quase que simultaneamente com os filmes de O Senhor dos Anéis foi necessário uma resposta menos clara quanto a essa influência por parte da autora. O marketing da comparação já não era mais necessário. Pois era comum a comparação de sua obra com O Senhor dos Anéis e foi agora necessário ter uma autonomia.

Então se supõe ter sido algo em relação às empresas relacionadas que recomendaram a ela evitar assumir influência ou pelo fato dela pretender se dissociar de alguma influência de autores antecedentes. A mesma forma de atuação parece ter ocorrido em relação a influência de C.S. Lewis, visto logo adiante.

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Em 2005, a Revista Time disse que “Rowling nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis” e a autora afirma que não é muito fã de fantasia e que não sabia que estava escrevendo um estilo de livro de fantasia:

A escritora de fantasias mais popular do mundo nem mesmo gosta especialmente de romances de fantasia. Nunca sequer ocorreu a ela, até publicar Pedra Filosofal, que havia escrito um. “Esta é a verdade nua e crua”, diz ela. “Você sabe, os unicórnios estavam lá. Existia o castelo, Deus sabe. Mas eu realmente não sabia que era isso que eu estava escrevendo. E eu acho que talvez a razão de isso nunca ter me ocorrido é que eu não sou muito fã de fantasia”. Rowling nunca terminou de ler “O Senhor dos Anéis”. (Grossman, Lev. “J.K. Rowling, Hogwarts e tudo”. Revista Time, 17 de julho de 2005).

Talvez um erro da Revista Time? Ou alguém passou essa informação errada para o jornalista?

Com essas entrevistas verifica-se que a escritora não parece se localizar muito no tempo quanto o momento em que leu O Senhor dos Anéis. Ao que parece que ela pretende se distanciar de alguma influência ou afirmação do tipo, chegando a afirmar como lido acima que ela não releu a obra e culminando com a afirmação da Revista Time de que ela não leu.

1999 – 12 outubro – Diz que leu Tolkien. E ele é um gênio. Grata em ser comparada.

2000 – 17 julho – Diz que leu o Senhor dos Anéis com 14 anos.

2000 – 16 outubro – Diz que leu O Senhor dos Anéis com 19 anos.

2001 – Março – Diz que leu com 20 anos

2005 – 17 Julho – Nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis (Segundo a Revista Time)

O fato é que ela leu O Senhor dos Anéis e que leu antes de O Hobbit.

A influência de Tolkien

Ao ser perguntada diretamente  “Você é uma fã de Tolkien? O trabalho dele influenciou a série de Harry Potter?”, Rowling respondeu o seguinte:

Bem, eu amo “O Hobbit“, mas eu acho, se você deixar de lado o fato que os livros se sobrepõem em termos de dragões e varinhas e bruxos, os livros sobre Harry Potter são muito diferentes, especialmente no tom. Tolkien criou uma mitologia inteira, eu não acho que alguém possa dizer que fiz isso. Por outro lado… ele não tinha o Duda.  (“Bate-papo com J.K. Rowling”. AOL Live, 04 de maio de 2000).

Ainda ela confessa admirar o escritor Tolkien por sua capacidade de detalhes:

Outra comparação foi feita com a série de sete livros Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, a qual tem um forte tema moral e religioso. Ainda mais, sobre tudo a maior parte desta escrita é a realização de J.R.R.Tolkien. “Eu o admiro”, ela fala sobre o autor cuja atenção obsessiva aos detalhes excede até a dela própria. (“Mãe de todos os trouxas”. The Irish Times, 13 de julho de 2000).

Nessa mesma entrevista ela respondeu a comparação da capa da invisibilidade em relação ao Anel de O Senhor dos Anéis: “Capas são mais divertidas que anéis, você pode tropeçar nelas, rasgá-las, elas podem cair – elas são divertidas”.

Em 2001, Rowling faz um comentário sobre a necessidade que as crianças tem em relação a obras de fantasia e mencionou Tolkien como referência a conhecimento e soberania dentro de um mundo imaginado:

as crianças adoram “conhecimento e soberania dentro de um mundo imaginado. Daí o apelo de coisas tão diversas como Sherlock Holmes e Tolkien”. Entretanto, até esses dois são ofuscados pelo bruxinho que usa óculos. “Nenhum deles apresenta uma mistura tão única de humor, medo e diversão”. (Gaisford, Sue. “Dando voz a Harry e Cia”. BBC Worldwide, abril de 2001).

Ao ser perguntado sobre influências de seus livros ela respondeu o seguinte:

Bem, é muito, muito difícil separar as influências. Coisas como Guerra nas Estrelas e Senhor dos Anéis e a série Harry Potter, muitos são… Eles, eles seguem o formato de aventura. Eles seguem o formato de bem contra o mal e o que isso faz com as pessoas. (Vieira, Meredith. “J.K. Rowling cara-a-cara: parte um”. Today Show (NBC), 26 de julho de 2007).

J.K. Rowling se aprofundou nas obras de Tolkien

Em uma entrevista ao jornal El País, publicada em 8 de fevereiro de 2008, a autora de Harry Potter demonstra um conhecimento de certa forma aprofundado sobre as obras de Tolkien.

Pergunta: Solidão, morte. Falamos de coisas sombrias. Talvez tenha tudo a ver com literatura.

Resposta: Bom, acho que foi Tolkien quem disse que todos os livros importantes tratam sobre a morte. E há algo de verdade nisso, porque a morte é nosso destino e devemos afrontá-la. Tudo o que fazemos na vida é uma tentativa de negar a morte. (Cruz, Juan. “Ficar invisível? Isso seria o melhor…”. El País, 8 de fevereiro de 2008).

Essa relação que Tolkien faz em relação a morte em suas obras não é algo muito divulgado em massa, o que demonstra que a escritora pesquisou com mais profundidade preceitos sobre O Senhor dos Anéis.

A referência sobre a morte em o Senhor dos Anéis é vista no documentário da BBC de Londres de 1968, um material secundário, pois no livro não há referências sobre a morte por parte de Tolkien. O que demonstra que ela buscou mais informações sobre o tema e o autor.

C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien
C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien

J.K. Rowling é uma fã de C. S. Lewis

Rowling parece ser muito mais uma fã de C.S. Lewis do que de Tolkien propriamente. Ela afirmou ter lido os livros de Crônicas de Nárnia quando era criança ao recebê-los como presentes de sua mãe aos oito anos.

Bertodano, Helena. “Harry Potter encantou uma nação”. Eletronic Telegraph, 25 de julho de 1998.  “Até mesmo hoje, se encontrasse um dos livros Nárnia em minha frente, com certeza o pegaria para reler de uma vez só”.

E nesse mesmo sentido, uma entrevista em novembro foi afirmado que ela sempre relê As Crônicas de Nárnia:

Hoje em dia, pessoas com boas intenções dão livros de fantasia para que Rowling os leia. Mas ela prefere Jane Austen e Roddy Doyle. “Fantasia não é o meu gênero predileto. Embora eu adore C. S. Lewis, eu tenho um problema com aqueles que o imitam”.Aos 33 anos, Rowling ainda relê As Crônicas de Nárnia, famosas por O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa (seu preferido é A Viagem do Peregrino da Alvorada), junto com os outros preferidos de sua infância, E. Nesbit, Paul Gallico e Noel Streatfield. “Eu tento fazer o mesmo que eles no quesito de pegar uma boa história e contá-la da melhor maneira possível”, ela diz. “Não havia nada de descuidado com o jeito que eles escreviam”. (Blakeney, Sally. “O conto de fadas dourado”. The Australian, 7 de novembro de 1998).

Pergunta sobre quais seriam seus heróis e heroínas favoritos em literatura infantil a escritora respondeu o seguinte:

Eu realmente gosto do Eustáquio em “A Viagem do Peregrino da Alvorada” de C.S. Lewis (terceiro na série de Nárnia). Ele é um personagem muito desagradável que se torna bom. Ele é um dos personagens mais engraçados de C.S. Lewis, e eu gosto muito dele. “Entrevista de Barnes and Noble”. Barnes and Noble, 19 de março de 1999.

Quando perguntada sobre quais são suas maiores influências e qual o preferido quando ela leu quando crianças ela respondeu:

“Quem eu mais admiro são E. Nesbit, Paul Gallico e C.S. Lewis. Meu livro favorito quando era criança era “O Pequeno Cavalo Branco” de Elizabeth Goudge”. (“Transcrição da entrevista na eToys”. eToys.com, outono de 2000)

Assim como visto com O Senhor dos Anéis, antes dos filmes Rowling parece ter uma visão mais amigável em relação a C.S. Lewis. Admitindo influência e dizendo que iria ler sempre que pudesse as Crônicas de Nárnia.  Com o passar do tempo, em 2005 ela afirma não ter lido o último livro de Crônicas de Nárnia, dando a ideia de um distanciamento de influência em relação a C.S. Lewis, provavelmente por conta dos diversos comentários que relacionavam sua obra a do Lewis:

Na verdade eu não li muita fantasia, e o mais engraçado é que mesmo que tenha lido os livros de Nárnia, eu nunca terminei a série, nunca li o último livro. Talvez eu devesse voltar e completar a minha educação nesse assunto. Mas eu li muito livros adultos, e minha mãe nunca me proibiu, nunca fui proibida de ler nada da estante, então eu lia tudo e qualquer coisa, e não apenas livros infantis. (Conferência “mirim” em Edimburgo. ITV, 16 de julho de 2005).

Contudo, evidente que mesmo assim a autora não negou sua influência das obras de C.S. Lewis, de modo que as afirmações anteriores se mantém coerentes. Em uma entrevista no dia seguinte a revista Time afirma que a autora não leu As Crônicas de Nárnia, o que contradiz as afirmações da própria autora vistas acima, e logo em seguida a mesma tece criticas quanto a obra de Lewis:

Ela nem leu as “Crônicas de Nárnia” de C.S.Lewis, aos quais seus livros são muito comparados. Existe algo na sentimentalidade de Lewis em relação a crianças que a deixa irritada. “Tem um momento lá onde Susan, a menina mais velha, se perde em Nárnia porque se interessa por batom. Ela se torna sem religião principalmente porque descobre sexo”, diz Rowling. “Eu tenho um grande problema com isso”. (Grossman, Lev. “J.K. Rowling, Hogwarts e tudo”. Revista Time, 17 de julho de 2005).

Com isso, podemos concluir que J.K. Rowling leu O Senhor dos Anéis de Tolkien em sua juventude provavelmente aos 19 anos e O Hobbit aos 20 anos. Ela diz não ter relido o livro, mas o seu biografo diz ter relido e andava com o livro sempre, isso com base em duas testemunhas que viram ela levando o livro para portugal. Ela disse que ama O Hobbit, chama Tolkien de Gênio e acha que não seria capaz de criar uma mitologia como a dele. E, ressaltando que  J. K. Rownling leu as Crônicas de Nárnia por volta dos oito anos e se tornou uma influência em suas obras.

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Atores dos filmes e sua relação com O Senhor dos Anéis

Vários atores dos filmes se declaram fãs de O Senhor dos Anéis e outros atores tiveram papéis relacionados ao Senhor dos Anéis como dublador de Aragorn e a voz de Sam na Rádio BBC, John Vincent Hurt e William Francis Nighy.  Um outro artigo só falando sobre o elenco e o quanto eles são fãs de O Senhor dos Anéis seria necessário, já que grande parte deles são ingleses, assim como o próprio Tolkien.

Daniel parece ter um certo apresso pelos filmes do diretor Peter Jackson, já que uma vez foi assistir aos filmes de forma ‘escondida’:  “eu fui ver uma prévia de O Senhor dos Anéis em Leicester Square, que é um dos maiores cinemas do país. Estava lotado e ninguém me reconheceu. Eu faço mais coisas do que as pessoas pensam”. (novembro de 2003, DanRadcliffe.com) 

Existe uma certa tendência por parte de alguns leitores em atacar uma ou outra obra.Em “My Boy Jack” entrevista do  GQ concedida em 05 de outubro de 2007, o ator Daniel Radcliffe apresenta um exemplo de conduta com relação a essas ideias de comparação entre as obras e conflitos entre fãs:

Eu sou constantemente confundido com Elijah Wood. Eu estava no Japão e alguém me deu uma foto dele para assinar. Eu não sabia falar isso em japonês, então eu escrevi “Eu não sou Elijah Wood, mas obrigado de qualquer forma, Daniel Radcliffe.” Se eu fosse um pouco mais infantil eu teria escrito “O Senhor dos Anéis é um lixo.”

Acho que essas palavras finais de Elijah Wood… digo… Daniel Radcliffe dizem muita coisa.

Biografia

Hilary Tolkien, o desconhecido irmão de J.R.R. Tolkien

Hilary Tolkien
Hilary Tolkien

 

by Eduardo Stark

Em todas as partes do mundo o escritor J.R.R. Tolkien é bastante prestigiado por seus livros de fantasia e obras relacionadas a mitologia e contos de fadas. Mas o que poucos analisam é que o escritor teve um irmão mais novo, que de certa forma o influenciou em sua vida e determinados pontos de suas obras. Pouco se sabe sobre a vida dele e o que se segue é um conjunto de informações colhidas em diversos livros e materiais reunidos.

Na esquerda Hilary e na direita Ronald
Na esquerda Hilary e na direita Ronald

Hilary Arthur Reuel Tolkien, assim como seu irmão mais velho, nasceu em Bloemfontein, no sul da África, em 17 de fevereiro de 1894. Tendo nascido saudável, pouco mais de um ano teve que partir para a Inglaterra com sua mãe e irmão, em abril de 1895.

Em 1896, sua família se mudou para Sarehole, e pouco depois já estava acompanhando seu irmão mais velho nas aventuras pelo campo verde. A relação de irmão se estabelece como naturalmente ocorre, com brincadeiras e divertimentos diversos.

Em 1900, Mabel Tolkien se converteu ao catolicismo e passou a instruir seus filhos nessa fé. Hilary começou os estudos com sua mãe, mas não conseguiu sucesso no exame para ingresso na King’s Edward School, pois foi dito que ele era “muito disperso e lento na escrita”.

Em 1904 Hilary pegou sarampo e que foi agravado e se transformou em uma tosse forte e pneumonia. Foi logo enviado aos seus avós, os Suffield, para se recuperar. Pouco depois, sua mãe faleceu por causa de diabetes e assim se tornou órfão como seu irmão.

A ideia de responsabilidade do irmão mais velho sobre o mais novo foi ampliada. Já que agora no mundo os dois tinham apenas um ao outro como família. O tutor que os auxiliava era o Padre Francis Morgan, um amigo de sua mãe.

Desde então os dois irmãos passaram a morar em pensionatos, em 1908 na 37 Duchess Road e em 1911 foram morar com Beatrice Suffield, viúva do irmão mais novo de Mabel. Na casa da tia Beatrice, Hilary passava bons momentos junto com seu irmão, jogando pedras nos gatos que ficavam abaixo da janela do quarto. Ele frequentava também o Oratório de Birgmingham e já estudava na King’s Edward School e acompanhava o seu irmão na escola.

Ronald (direita) e Hilary (esquerda)
Ronald (direita) e Hilary (esquerda)

Dessa época, J.R.R. Tolkien lembra em carta de 1968 (Carta 306) que “a observância da religião era rígida. Hilary e eu devíamos, e geralmente o fazíamos, comparecer à Missa antes de subirmos em nossas bicicletas para ir para o colégio na New Street”.

Os dois irmãos eram inseparáveis e juntos criavam várias histórias com fantasia, misturada com sua realidade. Foi nessa época que Ronald criava histórias para seu irmão mais novo e ambos se aventuravam na zona rural e no gramado verde.

Em 1910, Hilary deixou a escola para se juntar à empresa de seu tio Walter Incledon, que cuidava de negociação de ouro e pedras preciosas. Depois foi ajudar sua tia Jane Neave com a empresa Phoenix, que pertencia a Brookes-Smith na vila de Gedling, Nottinghamshire.

No verão de 1911, J.R.R. Tolkien e seu irmão Hilary foram em uma expedição para a Suíça com a família Brookes-Smith. A foto abaixo mostra o grupo inteiro da direita para a esquerda: Doris Brookes-Smith, Tony Robson, Colin Brookes-Smith, Phyllis Brookes-Smith, Rev. C. Hunt (da Hurst Green), um amigo de J. R. R. Tolkien, Jane Neave (tia de Tolkien), Hilary Tolkien (com suéter branco), uma mulher, Tolkien (com um cachecol), Jeanne Swalen (uma bába sueca), Muriel Hunt, Dorothy Le Couteur (inspetor de escola), Helen Preston (uma amiga de Jane Neave), e um guia sueco.

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Essa viagem posteriormente trouxe uma série de influências ao escritor J.R.R. Tolkien, em especial a imagem que ele passou a ter de Valfenda e a viagem de Bilbo. Como afirmou em carta 1967, em uma carta para seu filho Michael:

“A viagem do hobbit (de Bilbo) de Valfenda ao outro lado das Montanhas Nevoentas, incluindo a descida pela encosta nevada e de pedras escorregadias até o bosque de pinheiros, é baseada em minhas aventuras em 1911: o annus mirabilis de luz do sol no qual praticamente não houve chuva entre abril e o final de outubro, exceto na véspera e na manhã da coroação de George V.”.

Com o início da guerra do Reino Unido contra a Alemanha em 1914, Hilary se alistou no regimento real de Warwickshire. Ele foi ferido por estilhaços em 1916, ao transportar munição na fronteira de Passchendaele, na Bélgica.  Por seus atos militares, Hilary ganhou várias medalhas, algumas das quais parecem ter sido erroneamente atribuída a “Folkien”.

Hilary como corneteiro na I Guerra Mundial
Hilary como corneteiro na I Guerra Mundial

Não tendo nenhuma mulher e nenhuma mãe foi para Edith, mulher de seu irmão Ronald, que as cartas do exército eram enviadas. Com o fim da guerra, ele voltou para a Inglaterra no mesmo dia de seu aniversário.

Hilary Tolkien serviu ao Exército com o cargo de Bugler (Corneteiro), enquanto Bilbo Bolseiro foi contratado pelos anões como um Burglar (ladrão, assaltante), um trocadilho de palavras que o autor do Hobbit pode ter incluído em suas histórias e gostava de fazer.

Em 22 de Novembro de 1917 Hilary foi escolhido por seu irmão mais velho para ser o padrinho de batismo de seu primeiro filho John Tolkien. Mostrando que os irmãos Tolkien eram ainda unidos pela memória e pela fé de sua mãe na tradição da Igreja Católica. E ainda, em homenagem ao seu irmão, J.R.R. Tolkien também deu o nome ao seu segundo filho Michael Hilary Reuel Tolkien em 1920.

Como seu irmão, Hilary adorava tudo relacionado com a natureza. Depois da guerra, ele comprou um pomar de ameixa perto de Evesham, Worcestershire. Pouco tempo depois , seu irmão, com pneumonia, vem para descansar em sua fazenda em 1923. Ele também adquire um viveiro em Blackminster.

Ronald e Hilary permaneceram muito próximos ao longo da vida, escrevendo cartas regularmente entre si. Ele é a pessoa a quem Ronald escreveu quando sua reputação e suas obrigações profissionais pesavam muito. Eram constantes os encontros em festas familiares como casamentos, aniversários e batismos.

Hilary tinha o costume de fazer ilustrações e cartões para enviar aos familiares, um hábito que adquiriu de sua mãe e de seu irmão mais velho. Abaixo uma ilustração feita por Hilary Tolkien:

house-watercolour por Hilary Tolkien

Em 1928, Hilary se casou com Annie Madeline Matthews e tiveram três filhos Gabriel (1931), Julian (1935) e Paul (1938).

Hilary foi umas das doze primeiras pessoas que recebeu um exemplar de O Hobbit assinado pelo autor, logo após o lançamento em 21 de setembro de 1937. Ao adotar um cão, Hilary o chamava de Bilbo Baggins. Bilbo quando o cão estava bom e Baggins quando estava bravo.

O sucesso de O Senhor dos Anéis surpreendeu toda a família Tolkien. Nem mesmo autor acreditava que o sucesso chegasse nas proporções que chegou. Pelo fato de morar em uma região rural, Hilary de certa forma ficou distante da popularidade de seu irmão, mas sabia dos acontecimentos pelas cartas que recebia.

Hilary e seu cão Bilbo Baggins
Hilary e seu cão Bilbo Baggins

Com o falecimento de seu irmão mais velho em 1973, Hilary passou a contribuir com informações para o biografo Humphrey Carpenter, que estava escrevendo uma biografia autorizada da vida de J.R.R. Tolkien, contudo ele não chegou a ver a obra finalizada, pois faleceu em 1976 na Evesham, Worcestershire, no Reino Unido.

Os Livros de Hilary Tolkien

O neto de Hilary Tolkien, ao procurar arquivos em sua casa encontrou uma caixa escondida que continha várias fotos e manuscritos antigos de seu avô e do seu tio avô J.R.R. Tolkien. Assim, um grupo de pessoas decidiu reunir o material e editar.

Foi assim que em 2009 foi publicado o livro Black & White Ogre Country: The Lost Tales of Hilary Tolkien contendo um conto escrito por Hilary Tolkien, editado por Angela Gardner e ilustrado por Jef Murray. Além disso, o livro contém fotos e partes de cartas inéditas de Tolkien para Hilary.

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No início de 2010 a editora ADC tinha a intenção de se publicar um livro chamado Wheelbarrows at Dawn: Memories of Hilary Tolkien que conteria a biografia de Hilary Tolkien. Contudo o livro cancelado, devido a advertência relativo a direitos autorais pela Tolkien Estate, grupo de descendentes do escritor do Hobbit. Haviam cartas não publicadas de J.R.R. Tolkien que seriam colocadas no livro e a Tolkien Estate entendeu que não poderiam ser publicadas:

Os direitos autorais dessas cartas privadas e não publicadas pertece a Tolkien Estate. Como guardião desses direitos e a privacidade da família Tolkien, ambos dos quais há grande cuidado em se proteger, a Estate propriamente declina da permissão para as cartas serem reproduzidas dessa forma. Contudo, a Estate deixa claro a ADC que não há problema com a publicação do livro tratando do material em questão, pois apenas 20 páginas de um total de 300 seriam removidas[1].

Contudo, o cancelamento da publicação do livro foi anunciado em novembro de 2010. E até o momento não há previsão para ser publicado.Em 2014 a caixa com diversas fotos e manuscritos de Hilary Tolkien foi vendida por mais de 300.000 reais.

[1] “The copyright in these private, unpublished letters belongs to the Tolkien Estate. As the guardian of these rights and of the privacy of the Tolkien family, both of which it takes great care to protect, the Estate quite properly declined permission for the letters to be reproduced in this way. However, the Estate made clear to ADC that it had no issue with the publication of the book providing the material in question – affecting only 20 pages out of a total of some 300 – was removed”. Fonte: http://www.theonering.net/torwp/2010/11/16/40512-tolkien-estate-comments-on-book-cancellation/#more-40512 (16 de novembro de 2010).

Eventos

A importância do Fórum Literário Lewis e Tolkien!

fórum literário lewis e tolkien2

O Brasil está entre os dez países no mundo com grande quantidade de fãs do escritor J.R.R. Tolkien e isso implica em uma promoção de eventos e relações entre milhares de pessoas em prol de um gosto em comum.

Os filmes do diretor Peter Jackson serviu como um grande marketing para atrair novos leitores para as obras. Contudo, com o passar da euforia dos filmes de Peter Jackson os grupos de fãs parecem diminuir seu vigor e se reduzem apenas aqueles realmente interessados.

O Fórum Literário Lewis e Tolkien surge para mostrar que é possível manter um encontro anual. Um local e horário para os leitores e estudiosos do escritor C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien que permita ampliar o conhecimento e estimular o debate sobre a obra desses grandes escritores.

A ideia surgiu com William Falcão, que é um admirador das obras de C.S. Lewis. Ao se mudar para Juiz de Fora (Minas Gerais) para estudos de mestrado em História fez amizade com Eliza Feres. De suas conversas tiveram a ideia de realiar um evento sobre C.S. Lewis em Juiz de Fora. O evento foi realizado em 2015 e tratou apenas do escritor de Crônicas de Nárnia.

Eliza Feres passou a ser a coordenadora do evento e decidiu ampliar a ideia para também tratar de Tolkien. Assim, em 2016 o evento passou a ser chamado de “Fórum Literário Lewis e Tolkien”.

C.S. Lewis e J.R.R. Tolkien eram grandes amigos. Ambos eram professores universitários e escritores, amantes do fumo de cachimbo e de longas conversas sobre cristianismo e cultura nórdica na literatura. A amizade foi tão forte a ponto de Tolkien afirmar que Lewis foi de fundamental importância no incentivo moral para que sua obra fosse publicada. Enquanto que Lewis realizou diversas resenhas do Hobbit e O Senhor dos Anéis em jornais de grande renome a fim de defender a obra de seu amigo.

Fórum Literário Lewis e Tolkien

As portas da Faculdade Metodista Granbery se abriram em 25 e 26 de novembro para acolher um bom número de interessados. O evento não exigiu retorno financeiro de quem se interessava, porém tiveram a boa vontade de aproveitar o momento e fazer um ato de ajuda a quem precisa.

A entrada foi condicionada a apenas doações de livros de literatura (novos ou usados) e/ou lápis de cor (em bom estado de uso) para doar a crianças e jovens em vulnerabilidade social por meio da Associação para Mobilização Educacional e Beneficente – AMEB que é uma associação civil sem fins lucrativos atuante no bairro Amazônia, Zona Norte de Juiz de Fora, que desenvolve uma gama variada de ações em prol dos morados do bairro e adjacências. 

Além de ser uma grata possibilidade de um evento anual entre os leitores desses grandes escritores que gostamos (preferimos Tolkien do que Lewis, obviamente, mas o Jack era um cara legal), o participante pode ajudar crianças com um ato de doação. É uma sintonia justa e proveitosa para todos.

Evidente que organizar e manter um evento como esse exige não apenas o esforço dos organizadores, mas especialmente de apoio financeiro de todos os interessados e estamos certos que os leitores desse site vão reconhecer a importância do evento.

O site Tolkien Brasil irá apoiar sempre o evento para que ele se fortaleça cada vez mais e que se consolide por anos e anos.

O evento para esse ano (2017) já tem data marcada e está sendo organizado com o mesmo empenho do que no ano anterior e ao que indica será realizado no Rio de Janeiro. Em breve iremos anunciar os detalhes em um novo texto aqui nesse site.

Aqui estão duas palestras que foram gravadas no I Fórum Literário Lewis e Tolkien:

PRIMEIRA PALESTRA:

 
SEGUNDA PALESTRA:
 


 

A Faculdade Metodista Granbery, que acolheu o evento fica na R. Batista de Oliveira, 1.145, em Juiz de Fora. A programação para do primeiro evento foi a seguinte:

25/11 – ANEXO II
17:20 – Abertura do evento
17:30 às 18:30 Contação de história – Ulisses Belleigoli. Escritor e contador de história.
18:40 – Abertura das palestras – AUDITÓRIO VITTÓRIO BERGO
19:00 – “Entre amigos: diálogos entre Lewis e Tolkien”
Palestrante: Edson Munck Jr. (UFJF) (Universidade Federal de Juiz de Fora)
20:00 “Lealdade e camaradagem na mitologia de Tolkien”
Palestrante: Humberto Schubert Coelho (UFJF)

26/11 – ANEXO II
15:00 – Oficina I – A simbologia e o imaginário em C.S.Lewis
Aline Gasperi – mestranda em Comunicação pela UEL (Universidade Estadual de Londrina)
16:00 – Oficina II – O universo de Tolkien: um sistema dentro do polissistema tradutório
Isabella Leite – estudante do curso de Letras da UFJF
17:00 às 18:30 – Sarau
19:00 – Palestra “Ciência e Sociedade em Lewis”
Palestrante: Luiz Adriano Borges (UTFPR)

Sobre Livros

Seminário sobre Beowulf com Tom Shippey

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Um dos maiores especialistas em Tolkien, Tom Shippey apresenta um pequeno seminário online pela signumuniversity.org. Nesses três encontros Shippey apresenta suas considerações sobre a obra de Tolkien relacionada ao Beowulf.

O professor J.R.R. Tolkien foi um profundo estudioso da lenda Beowulf, tendo apresentado artigos e livros sobre o tema. O principal deles foi “Beowulf the monsters and the criticas” em 1936 e mais recentemente foi publicada a tradução feita pelo próprio Tolkien a partir do inglês arcaico “Beowulf, tradução e comentários” publicada no Brasil pela editora Wmf Martins Fontes.

O seminário de Tom Shippey foi apresentado em três dias: 12, 19 de janeiro e 2 de fevereiro de 2017. As palestras estão todas em inglês. Para assistir cada uma delas basta clicar nos links abaixo, e será remetido ao canal da universidade que publicou os vídeos:

O seminário de Tom Shippey apresenta desde conceitos básicos para quem não tem entendimento sobre a literatura relacionada a lenda de Beowulf, até análises mais aprofundadas e que trazem maiores esclarecimentos a nível acadêmico.

Tom Shippey é conhecido por ser autor de livros especializados em Tolkien como The Road to Middle-earth, J.R.R. Tolkien: Author of the Century, Roots and Branches: Selected papers on Tolkien e diversos artigos.

Se você sabe inglês vale a pena conferir. Para ter mais informações basta acessar AQUI.

Diversas

O que os fãs de Tolkien podem esperar de 2017

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O ano que vem será especial para quem é leitor de J.R.R. Tolkien. Várias datas importantes serão comemoradas ao longo de todos os meses. Geralmente as editoras fazem edições especiais ou lançam algo novo para celebrar as datas e quem ganha com isso são os colecionadores fãs de Tolkien

Aqui estão algumas dessas datas comemorativas:

 

  • 125 anos de nascimento de Tolkien: O professor nasceu em 03 de janeiro de 1892, portanto, logo no início do ano já temos essa grande comemoração do dia que nasceu o grande escritor.
  • 100 anos do início da Terra-média: Foi em 1917 que Tolkien começou a escrever os primeiros contos relacionados ao seu mundo. Tendo início os primeiros escritos em seu caderno que ficou conhecido como “The Book of Lost Tales”. O lançamento do livro Beren e Lúthien tem uma certa relação com essa data.
  • 80 anos da publicação do ensaio Beowulf: The Monsters and the Critics. Em 01 de junho de 1937 Tolkien publicou esse importante ensaio que mudou a forma de se pensar sobre o Beowulf. Esse texto foi republicado em outros livros posteriormente e em uma edição especial com comentários no inicio desse século. Mas nada impede de ser relançado em uma nova edição especial.
  • 80 anos da publicação de O HOBBIT: A maravilhosa aventura de Bilbo Bolseiro completa oitenta anos em 22 de setembro de 1937. Nesse ano já foi lançada a edição do Hobbit facsmile (que reimprime a primeira edição de 1937). Mas podemos esperar algo novo da editora. Existem áudios do Tolkien lendo o hobbit que nunca foram publicados anteriormente e que há planos para ser lançado em CDL. Além de ser provável o relançamento da premiada edição ilustrada por Alan Lee.
  • 80 anos do início da escrita de O Senhor dos Anéis: Tolkien começou a escrever o primeiro capítulo de O Senhor dos Anéis em 16 de dezembro de 1937. Oitenta anos em que o professor começava sua jornada de quase 12 anos de escrita dessa grande saga.
  • 50 anos da publicação de Ferreiro de Bosque Grande: Lançado em 9 de novembro de 1967, esse foi o último livro do professor publicado em vida. Em 2014 foi relançada uma edição com material adicional e comentários, porém nada impede que haja uma nova edição especial.
  • 40 anos da publicação de O Silmarillion: Após a morte do professor em 1973, seu filho decidiu reunir o material de seus contos e publicar em um livro em 15 de setembro de 1977. Desde então o Silmarillion é um sucesso literário e objeto de cobiça de diretores para ser adaptado em filmes e séries. Talvez será publicado uma edição especial capa dura.
  • 10 anos da publicação de Os Filhos de Húrin: Após longos anos sem publicar nada novo relacionado a Terra-média, Christopher Tolkien editou esse livro e publicou em 16 de abril de 2007, sendo um grande sucesso literário. Talvez uma edição comemorativa seja lançada, mas sem planos no momento.

Além de celebrarmos todas essas datas, em 04 de Maio de 2017 será lançado o livro BEREN E LÚTHIEN, com edição e comentários de Christopher Tolkien, em que reúne os materiais de seu pai sobre a lenda romântica de uma elfa e um humano. Talvez seja o último livro lançado pelo Christopher Tolkien sobre o legendarium, já que este senhor tem atualmente noventa e dois anos de idade.

Aqui no Brasil será lançada a nova versão de As Aventuras de Tom Bombadil e talvez até mais um novo lançamento.

Capa de "Beren and Lúthien", arte de Alan Lee (clique para ampliar).
Capa de “Beren and Lúthien”, arte de Alan Lee
Resenhas, Sobre Filmes

Qual a sua edição de O Hobbit?

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O Brasil possui seis versões do livro O Hobbit. Seis tipos de capas diferentes e estilo do livro. Número suficiente para poder escolher o seu preferido. A presente resenha tem o objetivo de apresentar um pouco sobre cada versão, mostrando suas capas e o interior do livro.

Uma análise comparada serve para nos questionarmos qual versão é considerada mais interessante, em aspectos estéticos e forma do livro. Além de ajudar aqueles que ainda não tem o livro, mas que querem saber mais informações sobre as várias versões.

Primeiramente temos a edição do Hobbit de 1975, publicada pela editora Artenova. Essa edição não é considerada oficial no Brasil, pois não obteve aprovação dos detentores de direitos autorais. Por isso  é mais uma edição para aqueles que pretendem colecionar. Possui uma tradução muito ruim, sem um critério para tradução dos nomes (como na versão de Portugal), o que torna certos nomes cômicos.

Em seguida o Hobbit foi publicado oficialmente pela editora Martins Fontes em 1995, contendo uma capa azul. A tradução é a mesma que conhecemos hoje desde essa época.

Uma das edições mais belas é a edição do hobbit com ilustração do Tolkien (a capa verde). Essa talvez seja a edição mais rara (até mais rara do que a edição de 1975), pois ela foi vendida apenas dentro do Box dos livros do Senhor dos Anéis.

A edição  em que aparece na capa o dragão Smaug é considerada por muitos como a mais interessante, por justamente conter essa ilustração.

A edição de capa do filme também é interessante para os leitores que estão descobrindo os escritos de Tolkien com a visão dos filmes de Peter Jackson.

E ainda temos a edição comemorativa de 75 anos do hobbit, versão capa dura. Que pode ser vista e analisada também na resenha em que fala-se das edições comemorativas do senhor dos anéis e do hobbit (Veja AQUI).

 

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Após os lançamentos dos filmes a nossa biblioteca de edições do Hobbit se ampliou. Tendo a versão ilustrada pela Jemima Catlin e edições dos filmes.

Confira o vídeo completo:

 

A primeira tradução para o português de um livro do Tolkien foi o chamado “O Gnomo” da editora Livraria civilização, em 1962. 

 

 

 

Legendarium

O LEGENDARIUM DE J.R.R.TOLKIEN (ATUALIZADO)

by Eduardo Stark

Esse artigo foi publicado originalmente em 3 de novembro de 2013. Agora com novas publicações a lista foi alterada.

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Muitos leitores de Tolkien se questionam quais seriam as principais obras que compõem a mitologia criada por ele. Onde achar informações a respeito do seu universo.

A maioria dos textos que Tolkien trata sobre seu Universo mitológico estão fragmentados em várias publicações, o que muitas vezes dificulta entender o mundo em que se passa o Senhor dos Anéis.

Assim, é necessário criar uma grande lista organizada com todos os nomes dos livros, periódicos, publicações áudios etc.

Para melhor compreender as informações dividimos as variadas fontes nos seguintes tópicos:

ÌNDICE

Conceito de Legendarium

O Senhor dos Anéis como fonte primária

I – Livros de J.R.R. Tolkien

II – Periódicos sobre Línguas

III – Publicações diversas

IV – Entrevistas

V – Gravações em áudios

VI – Livros que contém elementos do Legendarium

 

Livros de Tolkien no Brasil

Conceito de Legendarium

 

Para se referir a esse conjunto de fontes literárias do mundo secundário de Tolkien muitos leitores usam a expressão “Legendarium”.

A conceituação de ‘Legendarium’ é controversa entre as variadas publicações que usam o termo. A expressão legendarium vem do latim e pode representar um conjunto de lendas de um determinado corpo de histórias ou mitologia.

A conceituação que adotamos é a seguinte:

Legendarium: são todas as expressões, escritas ou não, registradas e publicadas (áudio, escritas, livros, artigos, poesias, ilustrações e entrevistas etc) de autoria de J.R.R.Tolkien a respeito do seu Universo Mitológico. Em suma, Legendarium são as fontes que tratam sobre a mitologia de Tolkien.

Os elementos ou requisitos dessa conceituação podem ser assim expostos:

1 – Ser obra publicada oficialmente: no sentido de ser algo oficialmente publicado, com autorização da Tolkien Estate. Embora existam vários manuscritos e cartas não publicadas, o grande público não tem acesso e por isso elas não poderiam ser utilizadas como fonte do legendarium, além disso, em alguns casos elas não passaram por uma verificação de autenticidade.

2 – Autoria de J.R.R. Tolkien: somente o próprio autor pode expor e afirmar algo como sendo original de sua criação. Se existir algum texto ou livro a respeito do mundo criado que não seja do próprio Tolkien, poderá ser considerado apenas como uma interpretação ou uma obra de fã.

3 – Tratar sobre o Universo Mitológico: são consideradas todas as histórias e composições que se passam em Arda, o que incluiria Valinor e a Terra-Média.

Dessa forma, para se formar um completo Legendarium de Tolkien é necessário ter acesso a diversas fontes. Basicamente tudo o que Tolkien falou ou escreveu a respeito da sua mitologia.

O Senhor dos Anéis como fonte primária

 

O principal livro do Legendarium de Tolkien é O Senhor dos Anéis, pois ele se tornou a fonte para a construção ou alteração de todos os outros livros, tentando formar uma história coerente.

Foi a partir do Senhor dos Anéis que Tolkien modificou algumas partes do livro O Hobbit, que já havia sido publicado em 1937, e praticamente reconstruiu a história do Silmarillion para incluir as novas lendas da terceira era.

A relevância do Senhor dos Anéis é ainda mais profunda por ser uma obra publicada durante a vida do professor, mesmo que ele tivesse intenções de revisar algumas partes, essa obra é entendida como o produto final e o livro mais consolidado escrito por Tolkien.

 

I – LIVROS DE J.R.R. TOLKIEN

 

Os livros publicados sobre a mitologia de Tolkien podem ser divididos em quatro categorias, de acordo com o seu conteúdo e sua importância como fonte.

 

  1. Livros publicados durante a vida de Tolkien

Observando a importância dos livros publicados por Tolkien durante sua vida, temos os seguintes livros em ordem de relevância:

  • The Lord of the Rings (O Senhor dos Anéis) – 1954-1955
  • The Hobbit (O Hobbit) – 1937
  • The Adventures of Tom Bombadil (As Aventuras de Tom Bombadil) – 1964
  • The Road Goes Ever OnBilbo’s Last Song – 1964

 

  1. Livros publicados após a morte de Tolkien

Após a morte do professor Tolkien em 1973, muitos de seus escritos foram reunidos e publicados por seu filho Christopher Tolkien, na tentativa de apresentar a forma mais completa possível do Legendarium.

Assim, em uma segunda fonte de livros temos aqueles que foram escritos nos anos finais da vida do professor Tolkien, mas que só foram publicados e editados posteriormente por seu filho:

  • The Silmarillion (O Silmarillion) – 1977
  • Unfinished Tales (Contos Inacabados) –
  • The Children of Húrin (Os Filhos de Húrin) – 2007
  • Beren & Lúthien – 2017
  • Bilbo Last Song (A última canção de Bilbo) –

O livro Bilbo Last Song (A última canção de Bilbo) foi publicado posteriormente em um livro separado, mas ele havia sido anteriormente publicado quando Tolkien ainda era vivo.

Em 2014, o livro The Adventures of Tom Bombadil (As Aventuras de Tom Bombadil) ganhou uma versão estendida que inclui novos poemas e comentários de Christina Scull e Wayne Hammond.

 

  1. Livros com rascunhos ou ideias de Tolkien

Em um terceiro plano existem os livros complementares as principais obras do Legendarium. São livros que apresentam manuscritos, ideias não consolidadas, manuscritos, histórias rejeitadas, interpretações do Tolkien sobre sua própria obra e outros aspectos.

  • The Letters of J.R.R. Tolkien (As Cartas de J.R.R. Tolkien)
  • The History of The Hobbit: contém transcrição dos manuscritos do Hobbit.
  • A Brief History of the Hobbit
  • A Secret Vice
  • The History of Middle Earth (Doze volumes)

Os 12 volumes da série História da Terra-média podem ser divididos em quatro focos, de acordo com a época em que foram escritos, tendo como marco O Senhor dos Anéis.

I – Escritos anteriores ao Senhor dos Anéis

1. The Book of Lost Tales 1 (1983)
2. The Book of Lost Tales 2 (1984)

3. The Lays of Beleriand (1985)
4. The Shaping of Middle-earth (1986)
5. The Lost Road and Other Writings (1987)

II – Escritos de desenvolvimento de O Senhor dos Anéis

6. The Return of the Shadow (The History of The Lord of the Rings v.1) (1988)
7. The Treason of Isengard (The History of The Lord of the Rings v.2) (1989)
8. The War of the Ring (The History of The Lord of the Rings v.3) (1990)
9. Sauron Defeated (The History of The Lord of the Rings v.4) (1992)

III – Escritos posteriores ao Senhor dos Anéis

10. Morgoth’s Ring (The Later Silmarillion1) (1993)
11. The War of the Jewels (The Later Silmarillion v.2) (1994)

12. The Peoples of Middle-earth (1996)

 

4.Livros com ilustrações de Tolkien

 

Há três livros que contém ilustrações feitas pelo próprio Tolkien. Essas ilustrações são parte do legendarium pois apresentam as visões que o professor tinha sobre o mundo criado. Muitas ilustrações apresentam até novos dados sobre o mundo de Tolkien:

  • J.R.R. Tolkien: Artist and Illustrator
  • Pictures by J.R.R. Tolkien
  • The Art of the Hobbit
  • The Art of the Lord of the Rings

Livros com ilustrações de Tolkien

 

II – PERIÓDICOS SOBRE LÍNGUAS

 

Existem dois periódicos que tratam sobre as línguas criadas por Tolkien. Neles são publicados diversos textos e transcrições diretos dos originais do autor.

Esses materiais foram disponibilizados por Christopher Tolkien para publicação a um grupo de estudiosos chamados Elvish Linguistic Fellowship – E.L.F, cujos membros são: Christopher Gilson, Carl F. Hostetter, Arden R. Smith, Bill Welden, Patrick H. Wynne.

A maioria dos textos publicados nesses periódicos estão relacionados com as diversas línguas que Tolkien desenvolveu e informações adicionais que não foram publicadas nos livros anteriormente mencionados.

  1. Vinyar Tengwar

50 – Turin Wrapper

49 – “Eldarin Hands, Fingers & Numerals and Related Writings” — Part Three

“Five Late Quenya Volitive Inscriptions” —

48 – “Eldarin Hands, Fingers & Numerals and Related Writings” — Part Two

47 – Eldarin Hands, Fingers & Numerals and Related Writings” — Part One

46 – “Addenda and Corrigenda to the Etymologies” — Part Two

45 – “Addenda and Corrigenda to the Etymologies” — Part One

44 – “Words of Joy”: Five Catholic Prayers in Quenya — J.R.R. Tolkien. Part Two,  Ae Adar Nín: The Lord’s Prayer in Sindarin — Alcar mi Tarmenel na Erun: The Gloria in Exclesis Deo in Quenya

43 – Words of Joy”: Five Catholic Prayers in Quenya — J.R.R. Tolkien. Part One:

42 – The Rivers and Beacon-hills of Gondor, “Negation in Quenya”

41 – “Etymological Notes on the Ósanwe-kenta”, “From The Shibboleth of Fëanor”,  “Notes on Óre”

40 – Narqelion

39 – “From Quendi and Eldar, Appendix D” “Ósanwe-kenta: ‘Enquiry into the Communication of Thought'”

37 – “The Túrin Prose Fragments: An Analysis of a Rúmilian Document”

36 – “The Entu, Ensi, Enta Declension””Transitions in Translations: German Translations vs. Tolkien’s ‘Guide to Names’. Part II — Names of Places and Names of Things

29 – “The Tengwar Versions of the ‘King’s Letter'”

26 – “Uglúk to the Dung-pit”

24 – “Sauron Defeated: A Linguistic Review”

23 – Letters to VT” – from Nathalie Kotowski.

14 – “The Elves at Koivienéni: A New Quenya Sentence”

12 – “Nole i Meneldilo: Lore of the Astronomer” —

08 – “Full Chart of the Tengwar ” — Edouard Kloczko.

06 – A Brief Note on the Background of the Letter from J.R.R. Tolkien to Dick Plotz Concerning the Declension of the High-elvish Noun.

 

  1. Parma Eldalamberon

 

11 – I-Lam na-Ngoldathon: The Grammar and Lexicon of the Gnomish Tongue

12 – Qenyaqetsa: The Qenya Phonology and Lexicon

13 – The Alphabet of Rúmil & Early Noldorin Fragments

14 – Early Qenya and The Valmaric Script

15 – Sí Qente Feanor and Other Elvish Writings

16 – Early Elvish Poetry and Pre-Fëanorian Alphabets

17 – Words, Phrases and Passages in Various Tongues in The Lord of the Rings

18 – Tengwesta Qenderinwa and Pre-Fëanorian Alphabets Part 2

19  – Quenya Phonology

20 – The Qenya Alphabet

21 – Qenya Noun Structure

22 – The Feanorian Alphabet, Part 1 and Quenya Verb Structure

 

III –  PUBLICAÇÕES DIVERSAS

 

Além dos livros e periódicos citados acima, há certos livros que apresentam trechos, citações de escritos de Tolkien que tratam sobre o Universo Mitólogico. Assim, são parte do legendarium, mesmo que não estejam completas:

  •  The Annotated Hobbit: Revised and Expanded Edition. É uma versão comentada do Hobbit que incluí uma série de poemas e textos de Tolkien como o Elvish Song in RivendellThe Quest of Erebor, e Glip.
  • The Lord of the Rings: A Reader’s Companion. Incluí uma série de escritos, dentre eles “The Nomenclature of The Lord of the Rings”
  • A Question of Time: J.R.R. Tolkien’s Road to Faërie. Incluí citações de um texto não publicado chamado Elvish time.
  • Leaves from the Tree: J.R.R. Tolkien’s Shorter Fiction. The Proceedings of the 4th Tolkien Society Workshop. Incluí partes de um ensaio não publicado sobre os dragões.
  • Sotheby’s English Literature and English History 6-7 December 1984. Incluí textos como “Concerning … The Hoard” e “Kinship of the Half-elven”
  • A Tolkien Compass. Inclui o “Guide to the Names in The Lord of the Rings” que é praticamente o mesmo texto que o “The Nomenclature of the Lord of the Rings”.
  • Tolkien Studies: Volume 6  Inclui o texto Fate and Free Will.
  • The Grey Bridge of Tavrobel. Inter-University Magazine, May 1927, p. 82.
  • The Lonely Isle. Leeds University Verse 1914-1924. Leeds: At the Swan Press, 1924. [6], 25, [1] pp. 57. An earlier version, unpublished, was called Tol Eressea.
  • Mythopoeia. Tree and Leaf, 1988 edn., pp. 97-101. Earlier called Nisomythos: A Long Answer to Short Nonsense. A variant first line, ‘He looks at trees and labels them just so’, is quoted on p. 7. An extract was published earlier in On Fairy-Stories.
  • Narqelion. Published in ‘Narqelion: A Single, Falling Leaf at Sun-fading’ by Paul Nolan Hyde, Mythlore, Altadena, Ca., no. 56  Winter 1988, pp. 47-52. Four lines, inaccurately transcribed, were earlier published in Biography, p. 76. See also Vinyar Tengwar; Crofton, MD., no. 40 (April 1999), pp. 6-32.
  • Fragments on Elvish Reincarnation“. In J.R.R. Tolkien, l’effigie des Elfes. Michaël Devaux. Paris: Bragelonne; Livarot: La Compagnie de la Comté, 2014. 501 pp. (La Feuille de la Compagnie, 3).

hobbit livro frontispicio

IV – ENTREVISTAS

 

Durante sua vida Tolkien participou de poucas entrevistas, tinha uma vida reservada e conservadora, por isso o número de informações a seu respeito pela imprensa era muito reduzido.

Em suas poucas entrevistas concedidas há sempre  comentários a respeito das suas obras, e por isso a opinião dada pelo professor nessas entrevistas também são consideradas como parte do Legendarium.

 

  • 1955-1956: “With Camera and Pen” (por Anthony Price; Oxford Times, 27 January 1956)
  • 1957: “Carnival of Books”
  • 1961: Entrevista por Jan Broberg
  • 1961:”Den besynnerlige professor Tolkien” (Entrevista por Lars Gustafsson)
  • 1962: Entrevista por John Bowen, para a BBC TV’s Bookstand.
  • 1964: Entrevista para a BBC (em áudio)
  • 1965: Entrevista para a BBC (em áudio)
  • 1966: “The Hobbit-forming World of J.R.R. Tolkien”
  • 1966: Daphne Castell
  • 1966, July 26: Entrevista por John Ezard, partes publicadas em “Writers Talking-1: The Hobbit Man” (Oxford Mail, 3 de agosto de1966). Outras partes diferentes foram publicadas em um artigo de John Ezard “Tolkien’s Shire” (Weekend Guardian28-29 de Dezembro de 1991)
  • 1966:  Entrevista por William Cater, publicado como “Lord of the Hobbits” (Daily Express, 22 de Novembro 1966)
  • 1966, August 9: Entrevista por Philip Norman publicado como “The Hobbit Man” (Sunday Times Magazine, 15 de Janeiro de 1967) e como “The Prevalence of Hobbits” publicado em The New York Times Magazine(15 de Janeiro de 1967). Aparentemente os artigos são parecidos mas não identicos.
  • 1966 Novembro: “J.R.R. Tolkien Talks about the Discovery of Middle-earth, the Origins of Elvish”, entrevistado por Richard Plotz; publicado em Seventeen, 17 de Janeiro de 1967.
  • 1966, Novembro: “The Man Who Understands Hobbits”
  • 1967: “A Benevolent and Furry-footed People” Entrevistado por William Foster, em The Scotsman, 25 de Março de 1967.
  • 1968: “Fireworks for the Author” (Don Chapman ‘Anthony Wood’, Oxford Mail, 9 de Fevereiro de 1968)
  • 1968: “In the Footsteps of the Hobbits”, Entrevista por Keith Brace; Birmingham Post, 25 de Maio de 1968.
  • 1968: Tolkien in Oxford(um documentário feito pela BBC com várias partes em que Tolkien aparece).
  • 1972: “Tolkien Seeks the Quiet Life in Oxford”, Oxford Mail, 22 de Março de 1972.

 

V – GRAVAÇÕES EM ÁUDIOS

 

Os áudios que Tolkien gravou são importantes, na medida em que possibilitam a compreensão das pronuncias de alguns nomes usados nos livros e as palavras que aparecem em línguas élficas. Por isso também são parte do legendarium:

1967 – Poems and Songs of Middle Earth, Caedmon TC 1231

1975 – J.R.R. Tolkien Reads and Sings his The Hobbit & The Lord of the Rings, Caedmon

1975 – J.R.R Tolkien Reads and Sings His The Lord of the Rings: The Two Towers/The Return of the King.

2001 – The J.R.R. Tolkien Audio Collection

2001 – J.R.R. Tolkien: An Audio Portrait of the Author of The Hobbit and The Lord of the Rings

2007 – Essential Tolkien

 

VI – LIVROS QUE CONTÉM ELEMENTOS DO LEGENDARIUM

 

Existem três livros em especial que a princípio não fazem parte do legendarium de Tolkien, porém apresentam elementos e aspectos que poderiam, em algumas interpretações, incluí-los no legendarium.

È o caso por exemplo do livro As Cartas de Papai Noel, em que o personagem O Homem da Lua aparece em um poema recitado no Senhor dos Anéis, a sociedade do Anel. Esse mesmo personagem aparece na história de Roverandom. Acredita-se também que haja elementos que fariam ligação da lenda de Artur com o mundo criado por Tolkien em seu poema “A Queda de Artur”.

  1. Roverandom
  2. The Fall of Arthur (A Queda de Artur)
  3. Father christmas Letters (As Cartas de Papai Noel)

 

CONCLUSÂO

 

Tendo todo esse material reunido pode-se dizer que estará com todo o Legendarium de J.R.R.Tolkien disponível para consulta e leitura. Evidente, que nem todas as pessoas conseguem ter acesso a todo esse material criado por Tolkien, especialmente porque ele se encontra fragmentado ou muitas publicações estão encerradas. Mas com um pouco de esforço e gastos é possível encontrar todo esse material e ter todas as obras publicadas sobre o mundo de Tolkien.

Essa lista poderá ser alterada com o tempo, pois novos livros e informações do Tolkien vem sendo levadas a conhecimento do público. Ainda há vários textos ainda guardados na casa de Christopher Tolkien ou em bibliotecas que cuidam do acervo dos manuscritos (veja AQUI um artigo sobre textos não publicados de autoria de Tolkien), e a tendência é que o Legendarium de Tolkien conhecido se amplie significativamente.

 

 

Eduardo Stark

O Xadrez nas obras de J. R. R. Tolkien

Eduardo Stark

O universo de J. R. R. Tolkien contém diversas batalhas entre as forças dos elfos e as que estão do lado dos Orcs. Em se tratando de guerra, logo somos levados a imaginar estratégias de combate e isso implica em pensar em tabuleiros e peças.

É certo que Tolkien influenciou diversos ramos da nossa cultura ocidental. Dentre eles a música, teatro, cinema etc. Mas um dos campos que exerceu maior influência foram os jogos de mesa, em especial os relacionados ao RPG.

Na história da humanidade o Xadrez foi um jogo de tabuleiro e peças muito valorizado como fonte de disciplina, atenção, raciocínio e estratégia. Por conter peças que remetem a batalhas medievais o jogo sempre esteve associado a essa período, muito embora seja bem mais antigo.

Há evidências que o Xadrez tenha surgido há centenas de anos, talvez na índia por volta do século V d.c. Mas esse é o tipo de informação imprecisa, e por isso a origem desse empolgante jogo é ainda não totalmente conhecida. Fato é que chegou à Europa no final da idade média e desde então tem sido amplamente utilizado, passando a ter um espaço na cultura ocidental.

O Xadrez foi (e ainda é) visto como uma forma de se demonstrar uma alta capacidade de raciocínio, mostrando o valor de uma das espécies de inteligência humana. Passou a ser ensinado em escolas e a ocorrerem campeonatos de alta qualidade pelo mundo.

Com isso, o jogo se tornou popular tendo até mesmo sido utilizado como objeto de política. A própria forma polarizada do jogo facilitava a associação da luta intelectual entre esses países e suas ideias. Durante o período da Guerra Fria foi utilizado como forma de propaganda da superioridade de uma nação sobre a outra. Eram constantes os embates entre enxadristas do lado dos Estados Unidos contra os que apoiavam a União Soviética.

Xadrez Metre Gandalf (2)

Como Tolkien descobriu o Xadrez

 

Em plena Era Vitoriana, século XIX, a Inglaterra era considerada o centro do mundo e a maior potência econômica. E com isso o desenvolvimento cultural e intelectual do país parecia também florescer.

Passou a ser comum entre os britânicos saírem em pubs e clubes para jogar o Xadrez. Jovens e crianças eram ensinados e se divertiam em competições caseiras. O jogo passou a ser parte da cultura e até encarado com um certo profissionalismo além da diversão.

Com isso o xadrez passou a ser visto com um caráter de esporte entre intelectuais. Em 1851 foi disputado em Londres o primeiro torneio internacional. E desde então vários campeonatos foram realizados nas principais cidades da Europa.

Londres havia se tornado o principal centro do xadrez nesse período e foi por isso que se tornou sede do primeiro torneio internacional. Nesse tempo surgiram também os primeiros enxadristas profissionais, que inicialmente disputavam partidas em seus clubes.

Em 1904, o sucesso se tornou crescente a ponto de ser fundada em Londres a organização The British Chess Federation (BCF), que ficou encarregada de organizar os eventos sobre Xadrez naquele país. Um ano antes, o pequenino Tolkien aprendeu as regras do jogo.

Por volta da primeira ou segunda semana de Dezembro de 1903, a família Tolkien vivia em Birmingham. Era um período difícil, pois a renda era muito baixa e os meninos Tolkien deviam se dedicar aos estudos. O pai da família, Arthur Tolkien havia falecido em 1896 e deixou suas esposa Mabel Tolkien e os dois filhos John e Hilary.

Por ter se tornado Católica, em um país predominantemente protestante, Mabel Tolkien foi abandonada inclusive pela própria família que não aceitava sua conversão. Nisso, ela tinha muito contato com padres e pessoas ligadas a Igreja. Foi então que um desses jovens padres ensinou para o pequeno Tolkien como se jogava o Xadrez.

Em uma carta endereçada a sua sogra, em 16 de Dezembro de 1903, Mabel Tolkien narra como foi que Tolkien aprendeu a jogar xadrez:

“Um rapaz do clero, jovem e alegre, está ensinando Ronald a jogar xadrez – diz que ele leu demais tudo que é adequado a um menino com menos de quinze anos, e não sabe de nenhum clássico que possa lhe recomendar. (J.R.R.Tolkien, uma biografia, Humphrey Carpenter, 1992, Martins Fontes, p. 31).

Isso demonstra que Tolkien gostava muito de ler quando criança e era favorecido com uma boa inteligência. O xadrez veio como complemento para ampliar sua intelectualidade. É bem provável que Ronald Tolkien tenha jogado diversas vezes com seu irmão Hilary Tolkien.

Tolkien com seu cachimbo
Tolkien com seu cachimbo

Não há nenhum relato posterior sobre a relação de Tolkien como Xadrez. Mas é bem possível que ao longo de toda a vida o professor de Oxford tenha travado partidas com seus amigos. Em diversas reuniões que fazia com os Inklings ou mesmo com algum colega da Universidade. E evidentemente poderia desfrutar do jogo com sua esposa e filhos.

Fato é que ao final de sua vida, Tolkien estava mais isolado, especialmente após a morte de Edith. E para se distrair escrevia O Silmarillion e costumava se entreter com jogos, em especial o jogo Paciência. Como atesta Humphrey Carpenter:

“…passava pouco tempo trabalhando no Silmarillion…
Não obstante, continuou a ocupar-se dele, e poderia tê-lo pronto para publicação nessa época se tivesse sido capaz de adotar disciplina e métodos de trabalho regulares. No entanto, gastava boa parte do tempo jogando paciência, muitas vezes até tarde da noite…”. (J.R.R.Tolkien, uma biografia, Humphrey Carpenter, 1992, Martins Fontes).

Ao que parece o Xadrez foi importante para o Tolkien. Não apenas para seu desenvolvimento intelectual, mas também como uma constante lembrança dos melhores momentos de sua infância na época que sua mãe ainda estava viva. Uma prova disso são as referencias em suas principais obras.

O Hobbit e o Xadrez

Nas primeiras páginas dos manuscritos mais antigos do livro O Hobbit, Tolkien havia incluído duas referências ao Xadrez e sua origem na Terra-média. Na mesma oportunidade em que se narra as aventuras do Urratouro, tio-bisavô do Velho Tuk:

Ele atacou os pelotões dos orcs de Monte Gram, na Batalha dos Campos Verdes, e arrancou a cabeça de seu rei Golfimbul com um taco de madeira. A cabeça voou pelos ares cerca de cem jardas e caiu numa toca de coelho, e dessa maneira a batalha foi vencida [por xeque-mate] e ao mesmo tempo foi inventado o jogo de golfe [e o Xadrez]. (O Hobbit, Capítulo I, Uma Festa Inesperada).

Posteriormente as referências ao Xadrez foram retiradas. Isso talvez tenha acontecido por ser uma piada dos filólogos e que poderia ser muito comentado, pois “xeque-mate” tem origem do Persa shah mat, “O Rei está Morto”, fazendo referência ao fato do Rei dos orcs ter sido derrotado por xeque-mate.

Apesar de não haver mais o texto que provasse a origem do Xadrez no mundo de Tolkien, é de se supor que esse jogo ainda permanecia existente. Pois há diversas referências em O Senhor dos Anéis, que notoriamente foi escrito por Hobbits e por isso carregado de seu estilo e analogias ao que já conheciam.

Xadrez Metre Gandalf

Gandalf, o mestre do Xadrez

Em O Senhor dos Anéis, as referências ao Xadrez parecem ser claras. Isso devido ao clima de batalha. Gandalf e as forças do bem de um lado (peças brancas) e Sauron e as forças do mal do outro (peças pretas).

As principais referências estão relacionadas a fala de Gandalf, quando estava na iminência da Batalha:

O tabuleiro está armado, e as peças estão se movendo. Uma peça que desejo muito encontrar é Faramir, agora o herdeiro de Denethor. Não acho que ele esteja na Cidade, mas não tive tempo de colher noticias. Preciso ir, Pippin. Devo estar nesse conselho de senhores e obter todas as informações possíveis. Mas o lance agora é do Inimigo, e ele está prestes a abrir totalmente seu jogo. E é provável que os peões possam ter um campo de visão tão amplo quanto qualquer outra peça, Peregrin, filho de Paladin, soldado de Gondor. Afie sua espada! (O Senhor dos Anéis, Retorno do Rei, Livro V, Cap I Minas Tirith)

Gandalf chama Faramir de “peça” e da mesma forma que chama os hobbits de “peões”. Como se ele estivesse no controle do jogo e fazendo as estratégias para conseguir a vitória.

Essa comparação fez até mesmo o Pippin refletir sobre a função dele como peão em meio ao jogo:

Pippin olhou para ele: grande, altivo e nobre, como todos os homens que já vira naquela terra; um brilho faiscava em seus olhos ao pensar na batalha. “É uma pena, mas minha mão parece mais leve que uma pluma”, pensou ele, mas não disse nada. “Um peão, Gandalf dissera? Talvez, mas no tabuleiro errado.” (O Senhor dos Anéis, Retorno do Rei, Livro V, Cap I Minas Tirith)

Mas a referência a peças de jogo de xadrez não se vincula apenas ao personagem Gandalf. Tolkien também associa o jogo de Xadrez com o outro lado, o dos inimigos:

Ali, nas regiões do norte, havia minas e forjas, e a concentração de tropas para uma guerra longamente planejada; ali o Poder Escuro, movendo Seus exércitos como peças num tabuleiro, os estava reunindo. Seus primeiros movimentos, seus primeiros testes de força, haviam sido feitos sobre a linha ocidental, ao norte e ao sul. (O Senhor dos Anéis, Livro VI, Cap II a Terra das Sombras).

Percebe-se que tanto o lado bom, quanto o lado mal estão fazendo suas estratégias como um jogo de xadrez. Isso é evidenciado ainda mais quando se tem a noção de que Gandalf é o verdadeiro inimigo de Sauron. Em equivalência de poderes, porém em objetivos diferentes.

Nesse sentido, várias interpretações poderiam ser feitas sobre qual personagem do Senhor dos Anéis seriam equivalentes nas peças do Xadrez. Se tomarmos como base a ideia de que Gandalf é o jogador, poderia ser considerado como sendo o Rei ou mesmo a peça Rainha. Enquanto Frodo seria aquele pião que no jogo o adversário não notou, pois está preocupado com pegar as peças mais fortes primeiro (rei, rainha, rei, torres, bispos) e acaba esquecendo que o peão está avançando.

 

Os filmes de O Senhor dos Anéis e o Xadrez

 

Na versão estendida do filme O Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel, com direção de Peter Jackson, há uma rápida cena de hobbits se divertindo com um jogo de tabuleiro que lembra o Xadrez. Isso demonstrou a preocupação da equipe dos filmes em fazer algo bem detalhado.

Xadrez hobbits

Como produto do filme vários jogos de tabuleiro foram feitos usando os personagens e os cenários. Como o jogo de xadrez do Senhor dos Anéis abaixo:

Xadrez tolkien