Famosos, Sobre Filmes

John Boyega, ator de Star Wars critica O Senhor dos Anéis por falta de diversidade!

Em entrevista para a revista “GQ”, publicada em 16 de julho de 2017, o ator John Boyega, que participa da nova trilogia de “Star Wars”, criticou a série “Game of Thrones” e os filmes de O Senhor dos Anéis pela falta de atores pretos em seus elencos.

“Não há pessoas pretas em ‘Game of Thrones’. Você não vê uma pessoa preta em ‘O Senhor dos Anéis”, disse Boyega. “Não estou pagando para sempre ver só um tipo de pessoa na tela. Você vê diferentes pessoas, de diferentes origens e culturas, todos os dias. Mesmo se você é racista, é preciso viver com isso.”[1]

Evidente que o ator está falando sobre os filmes de O Senhor dos Anéis (e provavelmente estendendo para O Hobbit). As adaptações feitas pelo diretor Peter Jackson tem diversas alterações que não são propriamente baseadas nas obras de Tolkien. Contudo, por se tratar de uma adaptação de uma obra literária, muitas pessoas acabam por tomar aquelas imagens como sendo a representação dos livros. Ou seja, chegam a conclusão que se não ha diversidade nos filmes isso e gracas aos livros que não tem.  O que não deixaria de acabar chegando as obras de Tolkien. E dentro desse tema polemico surgem acusações de todos os tipos em desfavor do seu autor.e por isso é necessário esclarecer o tema.

Esse tipo de questionamento sobre a obra máxima de Tolkien é sempre constante. Aquele tipo de assunto que sempre volta para as pessoas que não conhecem a vida e a obra do professor. Por isso é bom esclarecer alguns pontos para evitar qualquer associação da obra do Tolkien a essas ideias tão abomináveis.

O primeiro ponto é deixar claro que J.R.R. Tolkien não era racista, não defendia o racismo e muito menos tinha alguma forma de preconceito baseado em ideias desse tipo. Um longo artigo foi escrito para justamente mostrar que a mãe do Tolkien não era racista e ficou impressionada quando teve que morar no sul da África, onde havia uma clara divisão entre brancos e pretos (que gerou o Apartheid).  Além disso, em várias ocasiões o Tolkien se posicionou contrário ao racismo, declarando verdadeiro ódio ao mesmo. Então recomenda-se a leitura atenta do artigo sobre Tolkien e o Apartheid AQUI. Alem disso, Tolkien se posicionava totalmente contra o nazismo e suas ideias, como pode ser visto AQUI.

Visto que o autor do Senhor dos Anéis não defendia e não era racista. Questiona-se então as razões de não existir, por exemplo, um protagonista preto ou mesmo um asiático em suas obras. Por que Tolkien não explorou a diversidade de suas obras¿

Primeiramente é preciso entender o contexto e o que se pretendia ao iniciar os livros. A ideia inicial de Tolkien era criar uma mitologia que fosse dedicada ao seu país. Ou seja, uma mitologia que fosse cercada de elementos que se voltassem a região onde ele morava. Nisso dentro de uma ideia de patriotismo. (você pode ler mais sobre essa ideia de Tolkien e sua mitologia para a Inglaterra me nosso artigo AQUI).

Visto que a histórias tem esse vinculo com uma região setentrional (e não nórdica), como ele mesmo chamava, não parece estar relacionada com outras regiões do mundo. Ou seja, as histórias são vistas com um pensamento ‘eurocêntrico’ por assim dizer.

Além disso, a cronologia do mundo criado por Tolkien é na verdade o passado mitológico de nosso próprio mundo. Ou seja, é como se fosse um passado imaginário do planeta terra. Onde, segundo o Tolkien estaríamos na sexta ou sétima era do sol (três ou quatro eras após os acontecimentos que levaram a destruição do anel). Segundo o próprio Tolkien, por exemplo, o condado onde viveram os Hobbits se localiza basicamente na Inglaterra. (Veja mais sobre esse assunto AQUI).

Então se o autor pretende construir histórias de um passado mitológico, que tem relação com a região setentrional europeia, é uma questão de observação histórica não incluir pessoas de outras etnias naquele tempo. Tolkien utilizou muitas características do período medieval da Inglaterra e por isso a obra tem vários elementos que a evocam. Por exemplo, era algo altamente raro uma pessoa preta na Inglaterra naquela época.

A Inglaterra só tem seus primeiros relatos de pessoas assim na época do Rei Henrique VIII e Rainha Elisabeth I, nos séculos XVI e XVII, o que demonstra que o contato com as pessoas com esse perfil em épocas que as navegações estavam ampliadas por todo o mundo. E até hoje a grande maioria da população Inglesa é constituída de brancos, enquanto que apenas 2% são pessoas pretas descendentes de africanos e caribenhos.

Então, fazendo uma analogia. Se um japonês quisesse criar uma mitologia para o Japão, tendo aquele país em seu passado mitológico não seria muito coerente colocar em suas histórias personagens protagonistas vindos de lugares que só tiveram aproximação recentemente. Ou mesmo se um escritor de algum pais africano desejasse escrever uma mitologia para seu pais que tratasse de uma época ocorrida a mais de dez mil anos atras, certamente não haveria representação de uma pessoa branca, pois esse contato só ocorreu em tempos recentes. Ou ainda para deixar bem evidente, um brasileiro que quisesse escrever uma mitologia para os índios brasileiros, certamente não contemplaria os brancos por ser uma historia ocorrida em um tempo muito remoto ao primeiro dia que os portugueses chegaram na América do sul.

Um questionamento parecido aconteceu com o escritor George R. Martin. Onde um leitor questionou por que não tem asiáticos em suas histórias. Ao que o autor de Crônicas de Gelo e Fogo respondeu:

“Bem, Westeros é análoga a uma versão fantástica das ilhas britânicas em seu mundo, por isso é um longo, longo caminho até a Ásia. Não havia um monte de asiáticos na Inglaterra York também[2].

A resposta parece semelhante ao que o próprio Tolkien poderia afirmar. Tem a mesma lógica e argumento semelhante. Contudo, as situações de Martin e Tolkien são diferentes. Tolkien era um inglês, enquanto que Martin não. Além disso, Tolkien iniciou sua obra por um sentimento de patriotismo e em uma época que esse ideal era ainda mais aguçado por causa da guerra mundial (Tolkien foi um soldado na primeira guerra mundial), como pode ser observado nesse artigo sobre o Tema AQUI. Existe todo um contexto para explicar as razões de Tolkien e tudo aquilo que ele colocou em suas obras, que passou praticamente sua vida inteira para escrever.

Além disso tudo, Tolkien não projetava detalhes sobre características de seus personagens. Em alguns casos ele praticamente ignorava detalhes sobre como eram portes físicos e focava mais em detalhes do seu mundo. Alguns personagens são inclusive representados como tendo pele morena ou escura (e isso geraria um artigo enorme no site, mas não vou me estender muito aqui, pois sera feito posteriormente). Dentre eles pode ser destacado o Beorn, que é representado na obra de O Hobbit como tendo uma pele escura e na ilustração de John Howe pode ser vista a representação abaixo:

Certamente esse personagem poderia ser uma pessoa preta nos filmes de o Hobbit. Mas ao que parece, o diretor trouxe uma imagem que nem mesmo os fãs esperavam para o personagem.

As obras de Tolkien demonstram justamente uma ideia do Tolkien de que vários povos, mesmo que de diferentes culturas (anões, elfos, hobbits, humanos etc) podem se unir para um bem comum e lutar contra o mal. Ou seja, as obras pregam justamente a diversidade, a pluralidade de ideias, o convívio de pessoas diferentes em um universo cheio perigos estranhos.

Além de todos os pontos apresentados, deve ser destacado que o motivo principal de suas obras, em especial o Senhor dos Anéis, foi simplesmente fazer com que os seus leitores se divertissem. E assim, Tolkien não pretendia apresentar ideias  de moral, critica social, politica, religião etc. Ele queria `apenas` escrever historias que todos pudessem ler e se divertir. Veja mais sobre o motivo da obra nesse artigo AQUI.

Enfim, esse tipo de acusação se torna infundada quando se busca conhecer um pouco mais sobre as obras de Tolkien e o que se pretendia com elas.

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NOTAS

[1] “There are no black people on Game of Thrones,”  “You don’t see one black person in 
Lord of the Rings.” “I ain’t paying money to always see one type of person on-screen,” says Boyega. “Because you see different people from different backgrounds, different cultures, every day. Even if you’re a racist, you have to live with that.

[2] Well, Westeros is the fantasy analogue of the British Isles in its world, so it is a long long way from the Asia analogue. There weren’t a lot of Asians in Yorkish England either. (http://grrm.livejournal.com/375353.html?thread=19273017#t19273017)

Mitopoeia

Antes de Tolkien havia a mitologia de William Blake

by Eduardo Stark

Os mitos e as lendas sempre exerceram sobre a humanidade um grande fascínio. Seja pelo mistério que buscavam desvendar através de suas histórias de Deuses ou por grandes momentos vividos por heróis vitoriosos. Ambos parecem se entrelaçar na pretensão de revelar sentimentos por meio de suas narrativas.

A criatividade humana parece não ter encontrado limites para tentar explicar seu espaço e vida. Mas é difícil precisar quando a primeira pessoa decidiu contar uma história que viria a se tornar uma mitologia, pois elas estavam enraizadas nas diversas culturas que preservaram essas histórias por meio oral.

Contudo, alguns escritores decidiram criar sua própria mitologia, em que não tivesse o mesmo processo cultural e vínculo histórico com um povo. A esse tipo de atividade literária é dado o nome de “mitopoeia”.

O termo Mitopoeia, derivado do Inglês “Mythopoeia”, vem do grego μυθοποιία (criador de mito). Inicialmente a palavra se referia a criação de mitos na antiguidade, mas foi adotada por Tolkien como título de um poema escrito em 1931 e publicado no livro “Árvore e Folha”.O poema de Tolkien popularizou a palavra mythopoeia com o sentido de um novo gênero literário dedicado a criação mitos.

No livro The Oxford Dictionary of Literary Terms (O Dicionário Oxford de Termos Literários), de Chris Baldick, apresenta um conceito preciso da palavra:

Mitopoeia (mitopoese) A criação de mitos, ou coletivamente no folclore e na religião de uma cultura dada (geralmente pré-alfabetizada), ou individualmente por um escritor que elabora um sistema pessoal de princípios espirituais como nos escritos de William Blake. O termo é frequentemente usado em um sentido solto para descrever qualquer tipo de escrita que se baseie em mitos mais antigos ou se assemelhe a mitos em matéria ou alcance imaginativo. Adjetivo: mitopéico ou mitopoético.[1]

Com o passar do tempo a Mitopoeia é encarada como um gênero narrativo na literatura moderna e em filmes, em que uma mitologia ficcional ou artificial é criada pelo escritor. Estando agora comparável aos gêneros como Drama, Épico, Erótico, Nonsense, Lírico, Romance, Satira, Tragédia e Tragicomédia.

A ideia central da Mitopoeia é desenvolver uma mitologia que seja baseada, ou que tenha os mesmos princípios daquelas que já existem. È uma simulação de como seria uma mitologia, na mente de um autor (ou autores) com premissas daquelas histórias existentes, em geral utilizando derivações e arquétipos.

Comentando sobre seu legendarium e seu processo de criação, Tolkien afirma que a construção de uma nova mitologia exige a observação de “motivos ou elementos antigos e difundidos”, que atualmente são chamados de arquétipos:

“Essas histórias são “novas”, não são derivadas diretamente de outros mitos e lendas, mas devem possuir inevitavelmente uma ampla medida de motivos ou elementos antigos e difundidos; afinal, acredito que as lendas e mitos são compostos mormente da “verdade”, e sem dúvida aspectos presentes nela só podem ser recebidos nesse modo; e há muito tempo certas verdades e modos dessa espécie foram descobertos e devem reaparecer sempre. (Carta 131, para 1951)

É importante destacar que a Mitopoeia não tem como objetivo a criação de uma nova religião. Os Deuses ou Deus que estão em suas histórias não são desenvolvidos para ser objeto de culto. Pois é uma atividade literária e não religiosa. Nesse sentido, em carta, Tolkien expressa que se trata de uma “invenção imaginativa” como se lê a seguir:

Permita-me dizer que tudo isso é “mítico” e não qualquer tipo de nova religião ou visão. Pelo que sei é meramente uma invenção imaginativa, para expressar, do único modo que sei, algumas de minhas (turvas) apreensões do mundo. (Carta 181)

Da mesma forma, não é possível considerar uma Mitopoeia, aquela narrativa que tenha como finalidade adequar ideias filosóficas ou mostrar alguma verdade através de uma mitologia artificial.

Nesse sentido, a obra de Ferécides de Siro (600 a.c a 550 a.c), não poderia ser considera uma Mitopoeia propriamente, pois tinha pretensões filosóficas, visando esclarecer ideias relativas aos elementos e a origem do mundo. Aristóteles o considerava como um teólogo que misturava filosofia e mitologia. Ferécides transformou o panteão Grego em três grandes elementos que sempre existiram Zas (Zeus), Chronos (Tempo) e Cthonie (Terra). Porém, apenas reminiscências dessa obra são encontradas e não há precisão nas informações, o que dificulta saber qual a intenção do autor e como foi escrito seu livro. De todo modo, Ferécides pode ser considerado o precursor mais antigo dessa ideia de cosmogonias inventadas.

Outras tentativas de criação de mitos não parecem ter sido comuns na história da humanidade. Talvez chegassem a existir, mas foram completamente perdidos em bibliotecas esquecidas ou queimadas. Provavelmente a mentalidade religiosa muito enraizada na cultura ocidental implicou em evitar escritas que pudesse “brincar” com os Deuses ou Deus.

Assim, observado a impossibilidade de encontrar uma mitopoeia em tempos remotos, o primeiro nome relacionado a Mitopoeia que pode ser mencionado é William Blake, porém, tal como Ferécides de Siro, sua mitologia está mais relacionada com a propagação de suas ideias religiosas ou filosóficas do que com o sentido literário de se criar mitos, porém melhor documentada do que o escritor da antiguidade.

 

O poeta William Blake e sua mitologia

Na história muitos passam despercebidos em seu próprio tempo e somente muitos anos depois é que são reconhecidos por suas realizações. Esse é o caso de William Blake (28 de novembro de 1757 – 12 de agosto de 1827), que foi um poeta inglês e pintor, foi ignorado em seu tempo, exceto por suas ilustrações e alguns de seus poemas. Atualmente ele foi reconhecido como um dos expoentes das artes visuais e poesia da era Romantica.

Blake foi um revolucionário. Apoiou movimentos que estavam em ascensão como a Revolução Francesa. Suas ideias estavam intimamente ligadas com os pensamentos iluministas, porém sem perder seu vínculo religioso de origem protestante inglesa.

Contudo, ele se distancia do cristianismo quando escreve os aforismos “All Religions Are One” (Todas as Religiões São Uma) e “There Is No Natural Religion” (Não Existe Religião Natural). Nesse conjunto de enunciados Blake rejeita a ideia de uma religião individualizada a uma cultura e considera isso uma imposição autoritária, pois não há diferença entre as religiões e nenhuma delas surgiu naturalmente. Segundo ele, existiu apenas uma única religião no mundo, tal como uma única língua, mas que com o passar do tempo elas foram se distanciando em características, porém sua essência permanecia a mesma.

William Blake

Com o objetivo de comunicar sua mensagem revolucionária, Blake criou seu próprio sistema de mitologia. Através de deuses como personagens, significados e simbolismos complexos esboçam as relações no contexto de profecia. Ele incorporou figuras bíblicas em suas poesias, porém os alterou para dar a ideia de uma universalidade.

Influenciado pelos escritos de John Milton, em especial o livro “Paraíso Perdido” e ideias de Emanuel Swedenborg e Jakob Böhme, Blake começou uma série de poesias que revelassem uma nova mitologia em que fundisse aspectos bíblicos com o paganismo dos druidas. Essa série ficou conhecida como “Os livros das profecias” e foram publicados nessa ordem:

·Tiriel (c. 1789)

·The Book of Thel (c. 1789)

·America a Prophecy (1793)

·Europe a Prophecy (1794)

·Visions of the Daughters of Albion (1793)

·The Book of Urizen (1794)

·The Book of Ahania (1795)

·The Book of Los (1795)

·The Song of Los (1795)

·Vala, or The Four Zoas (begun 1797, unfinished; abandoned c. 1804)

·Milton a Poem (1804–1810)

·Jerusalem The Emanation of the Giant Albion (1804–1820)

Na mitologia de Blake há uma mistura da religião judaico-cristã com seus conceitos filosóficos. Aparecem figuras como Jesus Cristo, Adão, Eva, Abraão, Satã, Noé, bem como da mitologia grega como Albion e poseidon. Por se tratar de uma mitologia expressada em poesias e imagens ela se torna complexa e muito abstrata para ser entendida com profunda objetividade. Muito o que foi escrito por Blake está associado com as suas próprias crenças e visão de mundo, sendo expressões de sua realidade e, portanto, mais uma religião pessoal do que uma mitologia propriamente.

William Blake também era um ilustrador e suas poesias mitológicas eram acompanhadas de figuras inusitadas. Uma das mais conhecidas é a “The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun”. 

As obras de Blake tiveram influência na cultura popular ocidental sobretudo depois de sua redescoberta por Aleister Crowley, um conhecido ocultista inglês. Seus seguidores passaram a usar as obras de Blake como referências em obras literárias, musicas e poesias.

Após a morte de Crowley em 1947, surgiu uma nova onda de músicas populares entre 1950 e 1960 e Blake passou a ser considerado um ícone da chamada “contracultura”. Ele era comumente estudado entre os hippies, idealistas da “Nova Era” e ocultistas.

Nessa época o cantor Bob Dylan é considerado um admirador das obras de William Blake e trabalhou junto com Allen Ginsberg na gravação de alguns dos poemas. É nesse período também que bandas de rock como Black Sabbath e posteriormente Iron Maiden, U2 e os cantores Bruce Dickson e Marilion Manson demonstram terem sido influenciados.

A partir de então suas influências se ampliaram pelo mundo afora em diversas mídias. Nas histórias em quadrinhos, Alan Moore apresenta conhecer a obra de Blake quando faz referencias em V de Vingança, Watchmen e Do Inferno. Além disso, nos filmes Manhunter (1986) e Red Dragon (2002), pode ser visto a imagem de Blake “The Great Red Dragon and the Woman Clothed in Sun”. 

William Blake é reconhecido como um santo pela Ecclesia Gnostica Catholica (E.G.C.), ou também chamada Igreja Católica Gnóstica. Essa entidade é um braço eclesiástico da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), uma organização de fraternidade iniciática internacional devotada a divulgar a Lei de Thelema. Thelema é um sistema religioso e mistico desenvolvido por Aleister Crowley e baseado em seu escrito “O Livro da Lei”.  A palavra católica denota a universalidade da doutrina não tem relação com o cristianismo ou a Igreja Católica Romana. A principal função da Ecclesia Gnostica Catholica  é realizar publicamente ou de forma privada a Missa Gnóstica (Liber XV), um ritual escrito por Crowley em 1913. Os santos da Ecclesia Gnostica Catholica são aqueles que estabeleceram princípios adotados na Thelema. Crowley fez uma lista com todos os nomes e publicou em seus ensaios, porém inicialmente William Blake não fazia parte da lista. Ele só foi adicionado posteriormente pelo Patriarca Hymenaeus Beta no final de 1997, baseado em um ensaio escrito por Crowley entitulado “William Blake”, que foi publicado no periódico Oriflamme 2, Ordo Templi Orientis, 1998.

Aleister Crowley

 

J.R.R. Tolkien e sua opinião sobre William Blake

Cerca de setenta e cinco anos após a morte de William Blake nasceu J.R.R. Tolkien. Por serem ambos escritores que criaram mitologias, a primeira impressão que se poderia ter é uma comparação das duas obras visando encontrar em Tolkien alguma influência de Blake como predecessor.

Justamente em uma das primeiras resenhas feitas para o primeiro livro A Sociedade do Anel, que foi publicada no jornal Time and Tide com o título ‘The Gods Return to Earth” em 14 de agosto de 1954, Lewis expressa certa comparação de O Senhor dos Anéis com o livro Canções da Inocência (Songs of Innocence) de William Blake:

Este livro é como um raio de um céu claro: tão fortemente diferente, tão imprevisível em nossa época quanto o Canções da Inocência foi na dele. É inadequado dizer que nele o romance heroico, lindo, eloquente e sem pesar, de repente voltou em um período quase patológico em seu anti-romantismo. Para nós, que vivemos nesse período estranho, o retorno (e o alívio dele) sem dúvida é uma coisa importante. Mas na história do Romance em si, uma história que remonta à Odisseia e além, não ocorre um retorno, mas um avanço ou revolução: a conquista do novo território.[2]

Então, para os primeiros leitores de O Senhor dos Anéis que buscavam mais informações sobre a obra de Tolkien começaram a fazer as primeiras analises comparativas da obra de William Blake, e o posicionando como um predecessor e até influenciador.

Isso também é acentuado pelo fato de C.S. Lewis ter escrito a resenha acima. Ele era um amigo próximo de Tolkien e teve acesso aos seus escritos antes de serem publicados. Além disso, Lewis também escreveu suas histórias com um mundo imaginário e uma mitologia própria.

De fato, a vida de Tolkien era quase que completamente desconhecida por seus leitores. As poucas impressões que existem estavam no prefácio da primeira e segunda edições de O Senhor dos Anéis.  Aliado a isso, raramente Tolkien concedia entrevistas e não se envolvia em grandes mídias ou buscava o sucesso, preferindo ficar distante de seus leitores e apenas os respondia por carta.

Com o surgimento da “contracultura” entre os anos de 1950 e 1960, muitos desses jovens passaram a ler O Senhor dos Anéis e o sucesso foi quase que explosivo com o lançamento das edições paperback nos Estados Unidos em 1965.

Assim, diversos leitores realizavam interpretações do Senhor dos Anéis a luz de suas ideias revolucionárias. Alguns acreditavam inclusive que o autor seria um defensor das mesmas ideias. Foi dentro desse questionamento que Tolkien chegou a receber duas cartas de leitores perguntando se existia alguma relação de O Senhor dos Anéis com as obras mitológicas de William Blake.

A primeira vista a relação parece ter sentido, uma vez que Blake é um precursor na ideia de criação de mitologias e várias palavras usadas por ele em seus poemas parecem ter relação com as obras de Tolkien. Como exemplo: Orc, Vala, Tiriel, Thiriel, Albion, Luvah. Além do fato de C.S. Lewis ter feito a referência na primeira resenha. Somando esses pontos muitos acabavam concluindo pela influência de Blake na obra de Tolkien.

Sigrid Hanson Fowler foi um desses milhares de admiradores que morava nos Estados Unidos. Ele estudava a obra de Tolkien com muita determinação. Na década de 60 Fowler era um estudante universitário e chegou a defender sua tese em 1966 com título “Speech Patterns in J.R.R. Tolkien’s The Lord of the Rings” (Padrões de fala em O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien), com cerca de 278 páginas. Posteriormente Fowler se tornou professor de literatura e língua Inglesa na Universidade Augusta.

Em suas pesquisas, Fowler se questionou sobre a possível influência que Tolkien poderia ter absorvido de William Blake. Foi então que enviou carta para o próprio autor, enfatizando a relação dos nomes da mitologia de Blake e sua presença na obra de Tolkien.

Em 29 de dezembro de 1968, Tolkien respondeu a carta de Sigrid Hanson Fowler. Nessa oportundiade Tolkien apontou que em seu antigo diário está anotado em 21 de Fevereiro de 1919 que teve contato pela primeira vez com os livros da profecia de Blake. (ver. HAMMOND, Chronology, p.737). Na carta Tolkien explica que:

“[Em 21 de fevereiro de 1919] estava lendo parte dos livros da profecia de Blake, que eu não tinha visto antes, e descobri para meu espanto várias semelhanças na nomenclatura (embora não necessariamente em função), por exemplo: Tiriel, Vala, Orc. Qualquer que seja a explicação dessas semelhanças elas são poucas: a maioria dos nomes inventados de Blake são tão estranhos quanto a sua “mitologia” – talvez, elas não são “proféticas” por parte de Blake, nem por qualquer imitação da minha parte: sua mente (na medida em que tentei entendê-la) e arte ou concepção de arte, não me atraem. Os nomes inventados são susceptíveis de mostrar oportunas semelhanças entre escritores familiarizados com a nomenclatura grega, latina e especialmente hebraica. Na minha obra, Orc não é uma “invenção”, mas um empréstimo do Inglês Antigo orc “demônio”. Isto é suposto ser derivado do Latin Orcus, que Blake sem dúvida conhecia. E também se supõe não estar relacionado com orc o nome de um animal marítimo. Mas eu recentemente investiguei orc e achei um tema complexo. [Arquivo Tolkien-George Allen & Unwin, HarperCollins] (HAMMOND, The Lord of the rings companion… p.25) [3]

Nessa carta fica demonstrado que Tolkien não gostava da mitologia de William Blake e que achava estranha a forma como foi desenvolvida. As semelhanças ocorreram, portanto, pelo fato de ambos os escritores terem utilizado palavras com derivações de línguas antigas que eram familiarizados. Embora a fonte fosse a mesma, os seus significados dentro das duas mitologias são muito diferentes entre si.

Contudo, é interessante observar que Tolkien teve contato com a obra de Blake quando estava começando a desenvolver o seu legendarium. Quando ainda estava escrevendo seus primeiro poemas relacionados a Earendel, cerca de seis meses após ter escrito “A Viagem de Earendel, a estrela vespertina”, seu amigo pessoal C.B.Smith havia lido seus poemas e feito duras criticas, tendo recomendado que lesse os poemas de William Blake como exemplo de clareza e simplicidade.

?3 de abril de 1915 Smith escreve para Tolkien. Ele está indisposto e doente do coração, mas encontra consolo nas cartas de Tolkien e seus comentários sobre o assento de Newdigate de Smith. Ele agora enviou os poemas de Tolkien para Gilson, exceto as coisas de “Earendel”. Ele acha que o verso de Tolkien “é muito propenso a ser complicado e confuso e ser ainda mais difícil de distinguir”; The Mermaid’s Flute (A Flauta de Mermaid) é bastante ruim a este respeito (Tolkien Papers, Bodleian Library, Oxford). Ele gostaria que Tolkien tornasse seu verso mais lúcido sem perder a luxúria, e sugere que leia as liricas curtas de William Blake como um exemplo de clareza e simplicidade. (HAMMOND, Chronology, p. 62) [4]

Se Tolkien seguiu o conselho de seu amigo é algo que precisa ser analisado com bastante cuidado. Já que não há nenhum sinal de que Tolkien tenha buscado alguma influência de Blake e suas afirmações posteriores demonstram que ele não gostava.

Cerca de vinte dias depois de ter recebido a carta de Smith com as criticas e a recomendação de leitura das poesias de Blake, Tolkien escreveu um poema chamado Goblin Feet (Pés de Goblin), que décadas mais tarde se arrependeu de ter escrito[5].  O poema foi publicado no periódico “Oxford Poetry” em 1 de dezembro de 1915, pela editora Blackwell e editado por G.D.H. C. (Gerald H. Crow) e T.W. E. (T.W. Earp). Nesse mesmo periódico havia também um poema de Aldous Huxley chamada “Home-Sickness… From the Town”.

Aldous Huxley e William Blake

Aldous Leonard Huxley (1894-1963) foi um escritor britânico, que ficou conhecido por seu romance Brave New World (Admirável Mundo Novo) em 1932, que narra um futuro ficcional onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas e funções na sociedade.

Huxley teve influências de William Blake, chegando a citar em suas obras trechos de suas poesias. No livro The Doors of Perception (As Portas da Percepção), publicado em 1954, Huxley deu o nome do livro em referencia a um poema de Blake chamado “The Marriage of Heaven and Hell (O Casamento do Céu e Inferno). Nesse livro o autor defende o uso de drogas psicotrópicas, em especial a mescalina, como chave para libertação da mente criativa. A critica da época foi variada, mas chama a atenção a boa recepção do poeta Edwin Muir que afirmou ser “O experimento do Sr.Huxley é extraordinário e é lindamente descrito” [6] E no mesmo ano Edwin Muir se referindo ao Senhor dos Anéis disse “No entanto, pode-se ver que A Sociedade do Anel é um livro extraordinário,” [7]

Huxley ficou conhecido entre os apoiadores da contracultura. A banda “The Doors”[8] adotou o nome com base na obra psicodélica de Huxley, em especial a referência a citação de William Blake “Se as portas da percepção estivessem abertas, o homem poderia ver as coisas como elas realmente são: infinitas”[9].

Banda The Doors

Os Beatles, que também eram fãs de J.R.R. Tolkien, colocaram o rosto de Aldous Huxley, ao lado de Aleister Crowly, entre dezenas de grandes personalidades para a capa do álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, com músicas que trazem a ideia de alteração da percepção. 

Ao lerem os livros de Huxley, os hippies e apoiadores da contracultura tinham a impressão que pelo fato de ser um escritor britânico, com vínculos em Oxford, fosse da mesma turma de Tolkien e C.S. Lewis e que por sua vez seriam influenciados pelos escritores daquele país. Tendo um diferencial por coisas fantásticas e diferentes da realidade. Muitos pensavam que eram como se fossem herdeiros literários de histórias como Alice no País das Maravilhas.

Charles Williams, que era amigo pessoal de C.S. Lewis, e também de Tolkien, por ser membro dos Inklings também teve contato com as obras de William Blake e até mesmo com escritos de Aleister Crowley, a quem Tolkien não apreciava nem um pouco.

Esse contato de Aldous Huxley, G.B. Smith, C.S. Lewis, Charles Williams e J.R.R. Tolkien no início do século XX, demonstra que a atmosfera intelectual inglesa, sobretudo em Oxford, estava sendo influenciada pelas ideias da modernidade, com reflexos da ascenção de Aleister Crowley, que enfatizou as obras de William Blake naquele periodo.

Apesar disso, Tolkien não parece estar na mesma linha de ideias modernas que os citados. O autor de O Hobbit era um católico tradicional, e não assimilava facilmente ideias de sua época. Nem mesmo as mudanças que a Igreja Católica Romana passava com o Concílio Vaticano II, foram bem vistas por Tolkien. Talvez por isso não se sentisse a vontade com o grande sucesso que O Senhor dos Anéis teve repentinamente entre os jovens que estavam inspirados pelas ideias que surgiam na época.

 

BIBLIOGRAFIA:

APIRYON, Helena and Tau. The Gnostic Mass: Annotations and Commentary (footnote). Ordo Templi Orientis, 2004. Disponível em: https://hermetic.com/sabazius/gmnotes#Blake. Acessado em: 18 de Junho de 2017.

BALDICK, Chris. The Oxford Dictionary of Literary Terms, Oxford University Press, Oxford, 2008.

BLAKE, William. Songs of Innocence and Songs of Experience. Guildford: A.C.Curtis, Londres, 1901.

Hammond Wayne G. SCULL, Christina, J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Reader’s Guide, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________, J.R.R. Tolkien Companion and Guide, Chronology, HarperCollins, Londres, 2006.

______________________________, The Lord of the Rings: A Reader’s Companion, HarperCollins, Londres, 2005.

LEWIS. C.S.’The Gods Return to Earth”, Time and Tide, Londres, 14 de agosto de 1954.

TOLKIEN, J.R.R. The History of Middle Earth I,The Book of Lost Tales Part One, ed. Christopher Tolkien, HarperCollins, Londres, 2002

 

NOTAS:

[1] Mythopoeia [mith-oh-pee-a] (mythopoesis) [mith-o-poh-ees-is] The making of myths, either collectively in the folklore and religion of a given (usually pre-literate) culture, or indivisually by a writer who elaborates a personal system of spiritual principles as in the writings of William Blake. The term is often used in a loose sense to describe any kind of writing that either draws upon older myths or resembles myths in subject-matter or imaginative scope. Adjective: mythopoeic or mythopoetic.
[2] This book is like lightning from a clear sky: as sharply different, as unpredictable in our age as Songs of Innocence were in theirs. To say that in it heroic romance, gorgeous, eloquent, and unashamed, has suddenly returned at a period almost pathological in its anti-romanticism, is inadequate. To us, who live in that odd period, the return – and the sheer relief of it – is doubtless the important thing. But in the history of Romance itself – a history which stretches back to the Odyssey and beyond – it makes not a return but an advance or revolution: the conquest of new territory.
[3] I had never seen before, and discovered to my astonishment several similarities ol nomenclature (though not necessarily in function) e.g. Tiriel, Vala, Orc. Whatever explanation of these similarities – few: most of Blake’s invented names are as alien to me as his ‘mythology’ – may be, they are not ‘prophetic’ on Blake’s part, nor due to any imitation on my part: his mind (as far as I have attempted to understand it) and art or conception of Art, have no attraction for me at all. Invented names are likely to show chance similarities between writers familiar with Greek, Latin, and especially Hebrew nomenclature. In my work Orc is not an ‘invention’ but a borrowing from Old English orc ‘demon’. This is supposed to be derived from Latin Orcus, which Blake no doubt knew. And is also supposed to be unconnected with orc the name of a maritime animal. But I recently investigated orc, and find the matter complex. [Tolkien-George Allen & Unwin archive, HarperCollins] (HAMMOND, The Lord of the rings companion… p.25)
[4] ?3 April 1915 Smith writes to Tolkien. He is unwell and sick at heart, but finds consolation in Tolkien’s letters and his comments on Smith’s Newdi­gate Prize entry. He has now forwarded to Gilson Tolkien’s poems, except the ‘”Earendel” things’. He thinks that Tolkien’s verse ‘is very apt to get too compli­cated and twisted and to be most damned difficult to make out’; The Mermaid’s Flute is rather bad in this respect (Tolkien Papers, Bodleian Library, Oxford). He would like Tolkien to make his verse more lucid without losing its luxuri­ance, and suggests that he read shorter lyrics by William Blake as an example of the clear and simple. (HAMMOND, Chronology, p. 62)
[5] “I wish the unhappy little thing, representing all that I came (so soon after) to fervently dislike, could be buried for ever”.
[6] “Mr. Huxley’s experiment is extraordinary, and is beautifully described”
[7] “However one may look at it The Fellowship of the Ring is an extraordinary book,” Observer, 22 de Agosto de 1954.
[8] http://www.doorshistory.com/doors1965.html
[9] “If the doors of perception were cleansed man could see things as they truly are, infinite”

Biografia

O Hobbit segundo C.S. Lewis

O Hobbit primeira edição
O Hobbit primeira edição

by Eduardo Stark

Já é de conhecimento dos leitores desse site que J.R.R. Tolkien não gostou de As Crônicas de Nárnia escritas por C.S. Lewis (Veja o artigo completo AQUI). A mesma crítica negativa parece não ocorrer por parte de C.S. Lewis quanto ao livro O Hobbit. Nesse artigo é feita uma breve exposição da opinião do autor de Nárnia sobre o clássico infantil sobre hobbits.

Quando J.R.R. Tolkien era professor de Anglo-Saxão na Pembroke College, no final da segunda década do século XX, ele atuava corrigindo exames de escola. Pego de surpresa com uma folha em branco ele escreveu as seguintes palavras “Numa toca no chão vivia um hobbit”. Ele não prosseguiu na escrita até a metade da década trinta.

Os manuscritos foram então fornecidos para leitura para algumas poucas pessoas que Tolkien tinha contato, em especial Elaine Griffiths, a Revenda Madre St. Teresa Gale (a madre superiora em Cherwell Edge, um convento da Ordem da Divina Criança Jesus) e uma menina de doze anos Aileen Jennings, irmã mais velha da poeta Elizabeth Jennings, cuja família era próxima dos Tolkiens.

Além desses leitores, destaca-se também C.S. Lewis, que ao terminar de ler os manuscritos ficou admirado com a história.  Lewis havia conhecido Tolkien brevemente em 1926 e manteve contato desde então e a amizade foi ampliando ao ponto de Tolkien lhe confiar o manuscrito de O Hobbit. A empolgação dele foi tão grande que ele encaminhou carta a seu melhor amigo para relatar suas impressões. Em 4 de Fevereiro de 1933, C.S. Lewis escreveu a seguinte carta para Arthur Greeves:

Desde que o termo[1] começou passei um tempo delicioso lendo uma história para crianças que Tolkien acabou de escrever. Eu já lhe falei dele antes: o único homem absolutamente adequado, se o destino permitiu, a ser um terço da nossa amizade nos velhos tempos, pois ele também cresceu com W. Morris e George Macdonald. Ler seu conto de fadas foi estranho – é exatamente como o que nós [Lewis e Greeves] poderíamos ansiar em escrever (ou ler) em 1916: um jeito que sinto que ele não está inventando aquilo, mas apenas descrevendo o mesmo mundo em que nós três já entramos. Se realmente é bom (acho que é até o fim), obviamente, é outra questão: ainda mais, se ele terá sucesso com as crianças modernas. (They Stand Together: The Letters of C. S. Lewis to Arthur Greeves, ed. Walter Hooper, p. 449).

A leitura de O Hobbit foi para C.S. Lewis uma sensação de nostalgia de sua juventude que estava envolta com a leitura de livros de George Macdonalds e William Morris. Em uma certa previsão, Lewis demonstra que o laço de amizade com Tolkien poderia vir a ser muito forte.

Até antes da leitura de O Hobbit não havia passado pela mente de C.S. Lewis alguma história como viria a escrever nas Crônicas de Nárnia. Mas o entusiamo com a leitura do manuscrito de Tolkien parece demonstrar que uma chama havia nascido naquele momento.

Logo, o Hobbit foi publicado em 1937 e teve uma boa aceitação pelo público. Contudo, havia ainda uma certa critica por parte dos acadêmicos de Oxford em relação a atitude de Tolkien em publicar um livro para crianças.

Foi dentro desse ambiente, aparentemente hostil, aos escritores de fantasia que eram acadêmicos em Oxford, é que C.S. Lewis se levantou em defesa de Tolkien com duas resenhas em impressos de notável circulação.

Tolkien e C. S. Lewis
Tolkien e C. S. Lewis

A primeira resenha publicada teve o título “Um mundo para as crianças: J.R.R. Tolkien, The Hobbit: There and Back Again”. Publicado em 2 de outubro de 1937 na The Time Literary Suplement.

Nessa resenha C.S. Lewis ressalta as qualidades de O Hobbit como sendo algo jamais visto e que poderia se tornar um clássico por sua originalidade. O texto completo está a seguir exposto:

Os editores dizem que “O Hobbit”, apesar de bem diferente de “Alice”, parece ser a obra de um professor brincando. O mais importante é que ambos pertencem a uma classe restrita de livros que não possuem nada em comum, salvo que cada um de nós admite um mundo próprio – um mundo que parece ter sido gerado muito antes de nós tropeçarmos nele, mas que, uma vez encontrado pelo leitor certo, torna-se indispensável para ele. Seu lugar é com “Alice”[2], “Planolânida”[3], “Phantastes”[4], “O Vento nos Salgueiros.”[5] 

Definir o mundo de “O Hobbit” é, obviamente, impossível, porque é algo novo. Você não pode antecipá-lo antes de estar lá, e uma vez que está, nunca mais consegue esquecê-lo. As admiráveis ilustrações do autor e mapas da Floresta das Trevas, Goblin e Esgaroth deixam o leitor suspeito – assim como os nomes dos anões e do dragão que saltam aos olhos assim que começamos a virar as páginas.

Mas existem anões e anões, e nenhuma história para crianças oferece criaturas tão enraizadas em suas próprias origens e histórias do que essas criadas pelo professor Tolkien – que obviamente conhece muito mais do que seria necessário para a criação desse conto. E a receita comum da criação de histórias não nos prepara para as mudanças curiosas e feitas tão casualmente no tom do começo do livro (“Hobbits são pessoas pequenas, menores do que anões – e não possuem barbas – mas muito maiores do que Lilliputianos”)[6]  para as proporções épicas dos capítulos vistos mais para o final (“Está em minha mente questionar qual parte da nossa herança você teria dado aos de nossa raça caso encontrasse o tesouro sem guardião e nós mortos”)[7]. Você deve ler com seus próprios olhos para descobrir como a mudança na escrita é inevitável e como ela se mantém lado a lado na jornada do herói. Apesar de tudo ser maravilhoso, nada é arbitrário: todos os habitantes das Terras Ermas parecem possuir o direito inquestionável de existência do que aqueles do nosso mundo, mesmo que a criança sortuda que os conhecer não possuía noção alguma – assim como seus pais – das fontes profundas em nosso sangue e tradição que dão vida a eles.

Deve ser entendido que esse é um livro para crianças somente no sentido de que ele pode ser lido desde a mais nova infância. Alice é lido de forma grave por crianças e como algo engraçado por adultos; O Hobbit, por outro lado, será mais engraçado para os leitores jovens e, apenas anos mais tarde, na décima ou décima primeira leitura, será possível perceber a profunda reflexão e estudos vigorosos que foram utilizados para que tudo fosse tão maduro e tão amigável, e de sua própria maneira, tão verdadeiro. Previsões são perigosas: mas O Hobbit pode muito bem se tornar um clássico.”

Interessante destacar na resenha, é que C.S. Lewis não considerava a obra de Tolkien apenas como mais um livro para crianças e que seria logo afastado pelos adultos. Ele invoca os adultos a lerem e perceberem as sutilezas do conto. Essa percepção da profundidade da obra só é possível com uma releitura critica e reflexiva. Então, ele faz uma previsão que se provou realizada “O Hobbit pode muito bem se tornar um clássico”.

Em 8 de outubro de 1937, C.S. Lewis publicou novamente outra resenha sobre o Hobbit intitulada “Professor Tolkien’s Hobbit” (O Hobbit do Professor Tolkien) no jornal The Times. Contudo, o texto foi publicado sem o nome do autor e apenas um tempo depois foi descoberto a autoria de C.S. Lewis.

Todos os que amam esse tipo de livro infantil, que pode ser lido e relido por adultos, devem tomar nota de que uma nova estrela apareceu nesta constelação. Se você gosta das aventuras de Ratty e Mole[8] você vai gostar de HOBBIT, por J. R. R. Tolkien (Allen e Unwin, 7s. 6d.). Se, nessas aventuras, você aprecia a solidez do contexto social e geográfico em que seus pequenos amigos circulam, você vai gostar de “O Hobbit” ainda mais. O próprio hobbit, Sr. Bilbo Bolseiro, é tão prosaico quanto Mole, mas o destino o coloca vagando entre anões e elfos, sobre montanhas de goblins, em busca do ouro guardado por dragões. Cada um que ele encontra pode ser apreciado no berçário. Mas para o olho treinado alguns personagens parecerão quase mitopoeica – notadamente o lúgubre gollum o peixe-homem, e o ferozmente benevolente Beorn, meio homem, meio urso, em seu jardim zumbindo com abelhas.

A verdade é que neste livro uma série de coisas boas, nunca antes unidas, se juntaram: Um fundo de humor, uma compreensão das crianças, e uma feliz fusão do erudito com a compreensão poética da mitologia. Na borda de um vale, um dos personagens do professor Tolkien pode fazer uma pausa e dizer: “Cheira a elfos”. Pode haver anos antes de produzir outro autor com tal nariz para um elfo. O professor tem o ar de não inventar nada. Ele estudou trolls e dragões de primeira mão e descreve-os com essa fidelidade que vale oceanos de loquaz “originalidade”. Os mapas (com runas) são excelentes e serão encontrados completamente seguros por jovens viajantes na mesma região.

Certamente o professor Tolkien deu um exemplar autografado e dedicatória ao C.S. Lewis para que ele fizesse sua primeira leitura. Talvez esse seja um dos livros mais caros relacionado a esse autor. Provavelmente deve estar guardado na biblioteca particular de Christopher Tolkien, filho do autor do hobbit.

As análises positivas de C.S. Lewis em relação ao Hobbit serviram para alavancar ainda mais o sucesso do livro. E com o bom número de venda das primeiras tiragens o editor requereu a Tolkien que escrevesse outro livro contando mais histórias sobre Hobbits. E foi assim que o professor Tolkien começou a escrever O Senhor dos Anéis, que viria a ser a sua obra máxima.

[1]  “term” é uma espécie de período letivo da Univerdade de Oxford.
[2] “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carrol.
[3] “Flatland: A Romance of Many Dimensions” de  Edwin Abbott, publicado em 1884. No Brasil foi traduzido por Leila de Souza Mendes (Editora Conrad, 2002) com o título “Planolândia: Um Romance de Muitas Dimensões.”  
[4] “Phantastes” de George Macdonald, publicado em 1858. No Brasil foi traduzido por Letícia Campopiano (Editora Dracaena, 2015) com título de “Phantastes, Na Terra das Fadas”.
[5] “The Wind in the Willows” de Kenneth Grahame, publicado em 1908. No Brasil foi traduzido por Ivan Angelo (Editora Moderna, 1998) com o título “O Vento nos Salgueiros”.
[6] Citação do primeiro capítulo de O Hobbit. Liliputianos são seres minúsculos que viviam na illha de Liliput nas histórias de As Aventuras de Guilliver de Jonathan Swift.
[7] Citação do capítulo 15 de O Hobbit.
[8] Referência a dois personagens do livro “O Vento nos Salgueiros” de Kenneth Grahame.

Biografia

Tolkien e C. S. Lewis foram agentes secretos durante a Segunda Guerra Mundial?

Eduardo Stark

C. S. Lewis é conhecido por ter sido o autor de Crônicas de Nárnia e por muitos anos foi amigo de J. R. R. Tolkien. Ambos serviram como soldados na Primeira Guerra Mundial e aparentemente seus serviços à nação não se limitaram ao cambo de batalha. Descobertas recentes indicam que ambos realizaram trabalhos de atividade secreta para o governo britânico durante a Segunda Guerra Mundial.

Em artigo anterior (postado AQUI), foi detalhado aspectos da possibilidade de que Tolkien teria atuado como um agente do governo para quebrar códigos secretos dos Alemães durante a Segunda Guerra.

Está registrado em carta escrita pelo próprio Tolkien e no livro dos estudiosos Wayne Hammond e Christina Scull, que o Professor foi chamado para trabalhar no departamento de Criptografia do Ministério das Relações Exteriores em caso de guerra em Janeiro de 1939 e que realizou cursos nessa área em Março, tendo sido dispensado naquele momento em outubro do mesmo ano.

Em 16 de Setembro de 2009, o jornal The Daily Telegraph publicou uma notícia com o título: “J. R. R. Tolkien treinado como um espião britânico: O novelista J. R. R. Tolkien treinou secretamente como um espião do governo pouco antes da Segunda Guerra mundial, novos documentos foram divulgados”. A reportagem diz que Tolkien foi considerado apto e que passou nos exames do curso, podendo ser logo depois chamado para servir ao governo. 

Em Abril de 2015 foi publicado o livro “J.R.R. Tolkien: Codemaker, Spy-Master, Hero: an unauthorised biography” (J. R. R. Tolkien: codificador, Mestre Espião, Herói: uma biografia não autorizada) de Alex Lewis (ex diretor da The Tolkien Society) e Ruth Lacon. Nesse livro, os autores detalham essas atividades de Tolkien como um suposto agente secreto do governo britânico.

Tolkien e C. S. Lewis
Tolkien e C. S. Lewis

Há uma série de documentos e informações sobre as atividades de Tolkien na época da Guerra, enquanto que até o momento não havia nada que levantasse a hipótese de C. S. Lewis ter realizado alguma coisa do tipo secreta.Mas parece que essa ideia está começando a ser discutida entre os estudiosos do autor de Nárnia.

C. S. Lewis como agente secreto

Agora, em uma descoberta recente, um estudioso de C. S. Lewis descobriu que esse escritor possivelmente foi também um agente secreto a serviço do governo britânico contra os nazistas, durante o período da Segunda Guerra Mundial.

No artigo publicado em dezembro de 2015, com o título “C. S. Lewis was a secret Government Agent” (C. S. Lewis foi um agente secreto do governo), Harry Lee Poe, que é um colecionador de livros e objetos relacionados a C. S. Lewis, afirma ter encontrado um áudio com a voz de C. S. Lewis em uma palestra intitulada: “The Norse Spirit in English Literature.” (O Espirito Nórdico na Literatura Inglesa).

Dr. Harry Lee Poe é professor na Union University in Tennessee e é autor de vários livros, incluindo The Inklings of Oxford: C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, and Their Friends. A descoberta do áudio ocorreu de forma corriqueira, quando o estudioso comprou pelo Ebay acreditando ser alguma das gravações feitas pelo C. S. Lewis no período da guerra.

O áudio foi gravado em Maio de 1941, e segundo Harry Lee Poe esse trabalho tinha a finalidade de ser transmitido aos Islandeses, em uma espécie de propaganda de guerra.

Segue abaixo os principais trechos e conclusões traduzidos para o português:

A primeira coisa que descobri foi que o the Joint Broadcasting Committee foi um braço de inteligência secreto britânico que serviu com o propósito de propaganda por meio da radiodifusão para as pessoas em território inimigo ocupado durante a Segunda Guerra Mundial. Até agora, o público em geral e do mundo da erudição não tinham ideia de que C. S. Lewis iniciou um serviço de guerra com a realização de uma missão para o MI6.

Muito antes de James Bond, Lewis prestou serviço a este ramo clandestino de inteligência britânica, que foi tão secreto por tanto tempo que poucas pessoas sabiam da sua existência e poucos desses sabiam seu nome real. Alternativamente conhecido como Inteligência Militar, o Serviço Secreto, e MI6, seu nome atual deve ser Serviço Secreto de Inteligência.

Lewis chamou a atenção do MI6, que precisou dele logo depois da invasão alemã da Noruega e da Dinamarca, em 9 de abril de 1940. Mesmo os britânicos terem enviado tropas para a Noruega para combater a invasão alemã, já era tarde demais para intervir na Dinamarca, cuja submissão foi realizada em apenas um dia. Um mês depois, em 10 de Maio de 1940, as forças alemãs invadiram a Holanda, Bélgica e França, e até 22 de Junho o governo francês capitulou, deixando a Grã-Bretanha para lutar sozinho.

Naquela mesma manhã de Maio, no entanto, os britânicos fizeram a melhor coisa possível para ajudar a Dinamarca e o resto da Europa: Eles iniciaram uma invasão surpresa na Islândia, que era parte do Reino da Dinamarca. A Importância estratégica da Islândia no Atlântico Norte era conhecida desde as viagens dos Vikings há mil anos…

Embora o controle britânico da Islândia fosse crítico, a Grã-Bretanha não podia se dar ao luxo de manter suas tropas na ilha enquanto batalhas maiores aconteciam em outros lugares, começando com a luta pela África do Norte. Sustentar a Islândia dependia da boa vontade do povo da Islândia, que nunca pediu para ser invadido pelos britânicos. Se a Grã-Bretanha mantivesse a boa-fé dos islandeses, em seguida, Churchill poderia ocupar a ilha com tropas de reserva, em vez de suas melhores forças de combate.

O Joint Broadcasting Committee recrutou C. S. Lewis para gravar uma mensagem para o povo da Islândia a ser difundida por rádio daquele país. Lewis não fez registro algum de sua missão, nem parece ter mencionado a ninguém. Sem revelar seu envolvimento com a inteligência militar, no entanto, Lewis fez uma revelação indiscreta para seu amigo Arthur Greeves, em uma carta datada de 25 de maio de 1941. Lewis observou que três semanas antes, ele havia feito um registro de gramofone que ele ouviu depois. Ele escreveu que tinha sido um choque ouvir sua própria voz pela primeira vez. Não soou como sua voz soava para si mesmo, e ele percebeu que as pessoas que o imitavam tinham realmente chegado perto!

Dr. Harry Lee Poe se questiona sobre quem poderia ter indicado C. S. Lewis para essa missão e afirma: “Talvez um de seus alunos em Oxford o recomendo para sua missão”. E Lee Poe ainda complementa: “Uma missão incomum para a qual poucas pessoas eram adequadas. J. R. R. Tolkien tinha o conhecimento para o trabalho, até mais do que o Lewis, mas Tolkien não tinha outras habilidades que Lewis possuía”.

C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien
C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien

Até aquele momento (1941), Tolkien não havia publicado seu livro de maior sucesso “O Senhor dos Anéis” e era conhecido apenas por suas habilidades como professor de Oxford e pelo pequeno livro publicado O Hobbit. Tolkien nunca foi visto como um bom orador, até pelo seu jeito rápido e retraído de falar.

Mas se for analisada uma ordem cronológica, Tolkien havia sido contactado pelo governo dois anos antes que Lewis, então pode ser que o próprio amigo tenha indicado o outro para uma missão secreta.

Os mistérios em torno dessas atividades permanecem em secreto. Tal como boa parte dos documentos da Segunda Guerra ainda permanecem. Possivelmente em alguns anos as respostas concretas virão a público, ou essas missões eram tão secretas que não deixou registro para a posteridade…

Bradley J. Birzer

Sir Martin Gilbert e os Inkilings

Bradley j. birzer

Bradley J. Birzer é co-fundador da The Imaginative Conservative and Russell Amos Kirk, catedrático em Historia na Hillsdale College. Dr. Birzer é autor de  J.R.R. Tolkien’s Sanctifying Myth: Understanding Middle-earth.

Durante meu tempo na Hillsdale College, tendo chegado no outono de 1999, a faculdade contratou um número de pessoas fascinantes para vir e palestrar sobre o que poderia ser considerado  constante, uma base em tempo parcial. Ou seja, esses estudiosos e escritores vinham, digamos, a cada semestre de outono e davam aulas por até três ou quatro semanas. Estes eram cursos de três créditos, em geral, intensivos e compactos.

No meu tempo em Hillsdale, tivemos luminares como Victor Davis Hanson, David McCulloch, Mark Halprin, e Sir Martin Gilbert. Eu realmente nunca cheguei a conhecer os dois do meio, mas eu tive a grande bênção de conhecer Dr. Hanson e Sir Martin. Imagino que uma série de leitores possam achar o Dr. Hanson um pouco pro-guerra demais, mas ele é uma ótima pessoa. Ele é tão brilhante quanto é bom, e adora um bom argumento. Mas uma vez que o argumento é feito, está feito. Depois, é hora de tomar uma cerveja e falar sobre tudo sob o sol, tudo em nome do bem, diversão clara.

Sir Martin, porém, vem de uma geração e mundo diferentes. Um conservador britânico tradicional, Sir Martin é o biógrafo oficial de Winston Churchill, e é também um ex-membro do governo britânico. Ele possui um charme do velho mundo que é tão atraente e ao mesmo tempo tão estranho para nós americanos. Também passou grande parte do inicio de sua carreira, no começo da década de 1950, como aluno e depois como professor na Faculdade de Merton, Oxford. Trabalhou com o famoso historiador A. J. P. Taylor. Embora agora com a saúde debilitada, Sir Martin ainda escreve em Israel e Inglaterra. Ele é, orgulhosamente, um judeu e um sionista.

Em resumo, eu fiquei repentinamente bastante feliz quando Sir Martin me convidou para o almoço, para que pudéssemos falar do meu livro sobre J.R.R Tolkien. Eu não tinha ideia de que Sir Martin mesmo sabia quem eu era, além de ser apresentado a ele em um grande ambiente acadêmico, e certamente não tinha ideia de que ele sabia que eu havia escrito um livro sobre Tolkien. Felizmente, eu concordei. No dia seguinte, 13 de setembro de 2006, Sir Martin, Lady Esther (sua esposa) e eu almoçamos juntos em Jonesville, Michigan. Acabamos conversando por duas horas e quarenta minutos.

Sir Martin Gilbert
Sir Martin Gilbert

Como se constata, Sir Martin tinha chegado a conhecer o Professor Tolkien muito bem no final de 1950 e início de 1960, muitas vezes jantando juntos em Merton College. Quando perguntei ao Sir Martin se isso aconteceu por causa de interesses mútuos, ele riu. Porque nem ele nem Tolkien eram protestantes, eles não eram autorizados a sentar-se com os outros professores e estudantes. Em vez disso, os católicos e os judeus tinham que se sentar separadamente dos protestantes. Por isso, como Sir Martin me disse, católicos e judeus sempre foram os melhores amigos. Em alguns aspectos, Sir Martin observou, os judeus se saíam melhor do que os católicos. Ser um anticatólica era algo tão arraigado no caráter Inglês, que todos os ingleses protestantes acreditavam estar no seu direito e, talvez, no seu dever, atacar intelectualmente e brutalmente qualquer Católico Romano.

Não era apenas Tolkien que Sir Martin conhecia. Ele conheceu C. S. Lewis consideravelmente bem, pois os dois homens tinham feito um curso em conjunto, oferecido privadamente aos domingos por um especialista em Salmos. Na verdade, Sir Martin está convencido de que a própria compreensão de Lewis dos Salmos veio diretamente a partir deste curso e os debates que se seguiram.

Sir Martin também conhecia bem Nevill Coghill, que foi um dos seus tutores; C.E. Stevens, um amigo historiador próximo; o biógrafo famoso, Lord David Cecil; o professor de literatura, Hugo Dyson; e J.A.W. Bennett. Mais importante, porém, Sir Martin e Christopher Tolkien ficaram muito próximos. De fato, quando Sir Martin, sua esposa e eu estávamos almoçando, Sir Martin tinha acabado de receber um convite de Christopher para visitá-lo no sul da França.

J. R. R. Tolkien jovem soldado da Primeira Guerra Mundial
J. R. R. Tolkien jovem soldado da Primeira Guerra Mundial

Durante o almoço de duas horas e quarenta minutos, Sir Martin ofereceu poucas histórias específicas sobre Tolkien. Em vez disso, ele me deu suas impressões sobre o grande homem e seus associados literários, conhecidos como os Inklings, e da Oxford de seu tempo. Aqui estão algumas das impressões de Sir Martin retransmitidas para mim durante essa maravilhosa conversa no almoço:

  • Primeiro: Tolkien simplesmente amava, gostava, e valorizava excesso de detalhes. Isso parece ter sido tão verdadeiro na sua vida pessoal e acadêmica quanto foi em sua ficção.
  • Segundo: embora Sir Martin não conhecesse a família de Tolkien além de Christopher, ele não ficava nem um pouco surpreso que Tolkien fosse conhecido por ser um homem de família e ter relações tão boas com seus próprios filhos e netos.
  • Terceiro: muitos professores em Oxford, em princípio, tinham receio de qualquer um que publicasse em qualquer forma popular, o que foi percebido ao ser negado tempo para aulas e bolsas de pesquisas.
  • Quarto: quase todos os membros dos Inklings foram considerados pelos estudantes em Oxford como os melhores entre os docentes.
  • Quinto: Tolkien foi sempre, sem exceção, um homem a seu modo. Foi tão verdadeiro em suas crenças pessoais, como foi no que escolheu vestir e como se apresentava para os outros. Em grande parte, este “individualismo” manifestou-se em todos os Inklings. Numa época em que a formalidade governou todas as relações sociais na Inglaterra, os Inklings atacavam a estrutura social muito rígida na metade do século XX.
  • Sexto: Todos os membros dos Inklings sustentavam um verdadeiro patriotismo pela Inglaterra, isto é, pela própria estrutura e solo daquele país. Igualmente importante, todos os membros dos Inklings, em algum nível, lamentavam que não tivessem morrido durante a Primeira Guerra Mundial; ou seja, cada um sofria uma culpa de sobrevivente. Em muitos aspectos, isso explica por que tão poucos falavam de suas experiências nos horrores das trincheiras.
  • Sétimo: A Primeira Guerra Mundial afetou todos os membros dos Inklings de tal maneira que palavras nunca poderiam expressar. Só falavam raramente de suas experiências durante a Grande Guerra, mas cada um deles acreditava que tinham lutado para defender não só a Inglaterra, mas a própria Civilização Ocidental.
  • Oitavo: Sir Martin se lembrou de suas refeições com Tolkien como alguns dos melhores momentos de sua vida. Se eles jantavam juntos, a conversa normalmente durava pelo menos até meia-noite. Os homens não só falavam sobre cada tópico sob o sol, mas constantemente fumavam e bebiam. Raramente falavam sobre assuntos relacionados com a academia, mas eles gostavam de piadas, humor, e especialmente trocadilhos.

Como observado no início deste artigo, a conversa aconteceu no segundo semestre de 2006. Você, caro leitor, deve, naturalmente, ser cético sobre detalhes que vêm de tais memórias distantes. Mas a minha memória é ajudada por um fato importante: no momento que eu deixei esse glorioso almoço, anotei cada única coisa que eu podia. Eu nunca disse a ninguém, a não ser meus amigos mais próximos, sobre essa conversa de almoço. Eu não estou exatamente certo porque este é o caso, mas eu acho que tem a ver com proteger um momento pessoal de tal beleza. Certamente egoísmo da minha parte. Agora que quase uma década se passou desde aquela conversa, eu absolutamente odiaria que qualquer desse conhecimento fosse desperdiçado ou perdido, ou ambos.

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Este artigo foi publicado originalmente em 21 de Janeiro de 2015, no site theimaginativeconservative.org. A publicação e a tradução para o Português foi autorizada expressamente pelo autor do artigo.

Biografia

A opinião de Tolkien sobre As Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis

Tolkien e C. S. Lewis
Tolkien e C. S. Lewis

by Eduardo Stark

Durante muitos anos o professor J. R. R. Tolkien foi amigo de C.S. Lewis, conhecido autor da série de livro As Crônicas de Nárnia. Era uma amizade que passava pelo campo pessoal intimo e tendo até mesmo fortes discussões intelectuais.

C.S. Lewis foi um grande entusiasta das obras de Tolkien. Ele teve acesso aos escritos antes de serem publicados e foi o primeiro a escrever uma resenha sobre O Hobbit e também sobre O Senhor dos Anéis.

Nessas resenhas publicadas em jornais da época, Lewis não poupou elogios aos livros de seu amigo Tolkien. Mas então vem a dúvida se o professor Tolkien teria tido a mesma recepção quanto aos livros de C. S. Lewis, em especial sua obra de fantasia As Crônicas de Nárnia.

Esse artigo tem o objetivo de analisar a opinião de Tolkien sobre essa obra, com base em fontes primárias e secundárias. Mostrando de forma clara e sincera a opinião do professor sobre as obras de As Crônicas de Nárnia.

As fontes primárias são as duas cartas de Tolkien que expressam sua opinião sobre o tema. Já as fontes secundárias são os relatos de pessoas próximas de Lewis e Tolkien que se lembram da repercussão de Nárnia entre os dois.

Evidentemente que o presente artigo não visa denegrir ou desaconselhar a leitura de As Crônicas de Nárnia. Ao contrário, recomenda-se a leitura até mesmo para se perceber a noção de desgosto ou gosto de Tolkien em relação a essa obra, que é certamente um clássico da literatura de fantasia, mesmo com as falhas apontadas por Tolkien.

A origem de As Crônicas de Nárnia

A amizade de C. S. Lewis e Tolkien começou em 11 de maio de 1926, em um encontro casual em Oxford. Desde então era frequente as reuniões em bares ou em suas próprias casas.

Em 1937 foi publicado O Hobbit de J. R. R. Tolkien e o sucesso literário foi rápido. Uma das primeiras resenhas publicadas em jornais foi escrita justamente pelo C. S. Lewis ao Times Literary Supplement,  em 2 de Outubro de 1937, com o titulo “A World for Children”. Nessa resenha Lewis traça elogios à obra de Tolkien, mostrando que não havia precedentes para definir o Hobbit:

Definir o mundo de O Hobbit é, obviamente, impossível, porque é um mundo completamente novo. Você não pode antecipá-lo antes de estar lá, e uma vez que está, nunca mais consegue esquecê-lo.

C.S. Lewis entendia que o Hobbit podia ser lido tanto pelas crianças quanto pelos adultos, tamanha era a profundidade colocada na obra de Tolkien e conclui que seria um clássico com o passar do tempo:

Deve ser entendido que esse é um livro para crianças somente no sentido de que ele pode ser lido desde a mais nova infância. Alice é lido de forma grave por crianças e como algo engraçado por adultos; O Hobbit, por outro lado, será mais engraçado para os leitores jovens e, apenas anos mais tarde, na décima ou décima primeira leitura, será possível perceber a profunda reflexão e estudos vigorosos que foram utilizados para que tudo fosse tão maduro e tão amigável, e de sua própria maneira, tão verdadeiro. Previsões são perigosas: mas O Hobbit pode muito bem se tornar um clássico.

Mas a ideia de se criar um mundo e histórias de fantasia não surgiu com o Hobbit, foi algo que cresceu com o professor Tolkien ao longo de toda a sua vida. Desde 1914 ele se empenhava em desenvolver seu mundo próprio com todas as características e línguas etc.

E com o sucesso do Hobbit seu empenho começou a se aprofundar ainda mais, tentando ampliar o pequeno mapa do norte da Terra-Média e dando consistência ao mundo. Nesse tempo todo, Tolkien reescrevia, editava e até abandonava manuscritos inteiros.

narnia-poster-with-Aslan

Era um trabalho de busca de algo que fosse completo e polido da melhor forma. O mundo criado deveria ter uma lógica consistente e uma coerência interna para proporcionar o realismo ou ao menos a sensação de credibilidade das histórias.

Nesse tempo, C.S. Lewis teve acesso aos manuscritos e também presenciou a leitura feitas pelo próprio autor. Conforme o Tolkien escreveu na carta 276:

C. S. Lewis foi uma das únicas três pessoas que até agora leram tudo ou uma parte considerável de minha “mitologia” das Primeira e Segunda Eras, que já havia sido construída nas linhas principais antes de nos encontrarmos. Ele possuía a peculiaridade de gostar que lhe lessem as histórias. Tudo o que ele sabia de meu “material” foi o que sua ampla mas não infalível memória guardara de minhas leituras para ele como meu único público. (Carta 276)

Não há certeza quanto a data, mas ao que parece a ideia de escrever um livro de fantasia para crianças veio a mente de Lewis em um dia que tomava um café da manhã com a Sra. Moore e Maureen, possivelmente entre setembro de 1939 e março de 1940.

Nessa época Lewis já tinha lido o Hobbit e feito a resenha para o jornal, além disso teve acesso aos primeiros escritos de o Silmarillion e estava escutando os primeiros textos de o Senhor dos Anéis.

Em várias reuniões com outros amigos Tolkien costumava ler algum capítulo de sua obra e Lewis certamente ficava encantado. Isso pode ter acendido o desejo de escrever sua própria história de fantasia.

Em 1947 foi publicado o livro Essays Presented to Charles Williams, em homenagem ao falecido Charles Williams, amigo de C. S. Lewis e por extensão também de Tolkien. Nesse livro foram reunidos diversos ensaios sobre literatura, dentre eles o On Fairy-Stories “Sobre Contos de Fadas” de Tolkien.

Nesse ensaio, Tolkien apresenta suas ideias sobre os Contos de Fadas, traçando suas origens e como eles devem ser encarados. Há uma parte dedicada a relação das crianças com esse tipo de literatura.

Entre aqueles que ainda têm sabedoria suficiente para não achar que contos de fadas são perniciosos, a opinião comum parece ser a de que existe uma ligação natural entre as mentes das crianças e os contos de fadas, da mesma ordem da ligação entre os corpos das crianças e o leite. Creio que isso é um erro; na melhor das hipóteses um erro de falso sentimento, e portanto um erro cometido mais frequentemente por aqueles que, seja qual for seu motivo particular (como não ter filhos), tendem a enxergar as crianças como um tipo especial de criaturas, quase uma raça diferente, e não como membros normais, embora imaturos, de uma determinada família e da família humana em geral. (Sobre Contos de Fadas, Tolkien, in Àrvore e Folha, Wmf Martins Fontes, 2014).

Nesse mesmo livro, Lewis escreveu o ensaio “On Stories” em uma espécie de complemento ou abordagem diferenciada ao que Tolkien havia escrito em “On Fairy-Stories”. No ensaio, Lewis cita como referência o Hobbit, o que aponta a preferência por esse livro como um padrão no gênero.

Mostrando a influência recebida do Hobbit e o ensaio “Sobre Contos de Fadas” Lewis escreveu em 1952 o texto “Três Maneiras de Escrever para Crianças”, publicado postumamente em 1966 em “Of Other Worlds”, com edição de Walter Hooper:

A associação dos contos de fadas e histórias fantásticas com a infância é um fenômeno local e acidental. Espero que todos já tenham lido o ensaio de Tolkien sobre os contos de fadas, que talvez seja a contribuição mais importante que alguém já tenha dado a esse tema. (Três maneiras de escrever in As Crônicas de Nárnia, Wmf Martins Fontes, p.745)

Entre 1948 e 1949 o professor Tolkien havia finalmente concluído O Senhor dos Anéis. Porém iria demorar alguns anos até que sua obra fosse revisada e publicada, o que veio a ocorrer apenas em 1954 e 1955.

Antes de começar a escrever As Crônicas de Nárnia, Lewis teve uma intensa atividade literária ligada a Tolkien diretamente. Ele tinha lido O Hobbit, o ensaio “Sobre Contos de Fadas”, bem como os manuscritos de O Silmarillion e o Senhor dos Anéis.

Assim, em 1948 C.S. Lewis decidiu fazer o mesmo que Tolkien vinha fazendo, escrever livros de fantasia ambientados em um mundo criado, porém sem ser tão criterioso como Tolkien.

Em carta escrita para Laurence Krieg, em 21 de Abril de 1957, C. S. Lewis afirmou que escreveu os livros sem ter formado antes as ideias primárias de seu mundo. Ou seja, ele escreveu um livro após o outro sem imaginá-los anteriormente. Para Tolkien isso era inconcebível. Era necessário primeiro formar o mundo para depois formar suas histórias (ou tudo isso ao mesmo tempo).

A série não foi planejada de antemão como ela pensa. Quando escrevi O Leão eu não pensava que eu ia escrever mais. Então escrevi P. Caspian como uma sequela e ainda não achava que haveria mais, e quando tinha terminado O Viagem senti-me bastante certo de que ele seria o último. (The Collected Letters of C. S. Lewis, Narnia, Cambridge, and Joy 1950-1963, Vol III, Edited by Walter Hooper, Harper San Francisco, p. 846)

As Crônicas de Nárnia foram escritas para o agrado de um público infantil e por isso o autor adotou uma forma de escrita mais simplificada e sem tanto apego a pretensão de colocar um realismo nas histórias.

As histórias infantis que se pretendem “realistas” tendem muito mais a enganar as crianças. Quanto a mim, nunca achei que o mundo real pudesse ser igual aos contos de fadas. (Três maneiras de escrever para crianças In As Crônicas de Narnia wmf, p.742).

Lewis publicou entre os anos de 1938 e 1945 três livros que ficaram conhecidos como a “Trilogia Cósmica”, em que o personagem principal é uma espécie de alegoria ao próprio Tolkien, um filólogo.

Esses livros foram escritos em uma espécie de parceria com o Tolkien, em que o mesmo se comprometia a escrever sobre uma história com viagem no tempo e o Lewis sobre viagens cósmicas. Contudo, Tolkien não terminou seus textos, ao contrário de Lewis que terminou e publicou a série de livros. Além disso, Lewis ainda dedicou para Tolkien o livro “Cartas de um Diabo a seu aprendiz” publicado em 1942, mostrando seu afeto e amizade.

A composição da série, no geral, fluiu com facilidade. Apesar de seus crescentes problemas pessoais e profissionais, Lewis conseguiu escrever cinco dos sete romances entre o meio de 1948 e o primeiro semestre de 1951. Seguiu-se um período estéril, antes de Lewis começar a escrever A última batalha no fim de 1952, obra que foi concluída no semestre seguinte. O último volume a ser escrito foi O Sobrinho do mago, que Lewis nitidamente achou mais problemático do que os outros livros da série. Embora Lewis começasse a esboçar essa obra logo depois de terminado o texto de O leão, a feiticeira e o guarda-roupa, ele não a completou antes de março de 1954. (A vida de C.S. Lewis. Do ateísmo às terras de Nárnia. Alister McGrath. p. 282)

Assim, C. S. Lewis parecia ter facilidade de escrever livros com uma rapidez que impressionava Tolkien, pois acreditava que os textos deveriam ser melhor preparados antes de se pretender publicar. Como atesta o biografo Alister McGrath:

Alguns veriam essa facilidade de redação como uma marca do gênio criativo de Lewis. Outros – sobretudo J. R. R. Tolkien – consideraram a rapidez com que essas obras foram escritas como um indicativo de sua superficialidade. Não tinham um contexto histórico consistente e eram recortes mitológicos, desprovidos de coerência. Por que, perguntava-se Tolkien, introduzir o Papai Noel na história? Ele não cabia ali. Alimentando pensamentos mais sombrios, Tolkien também sustentava de que Lewis havia tomado suas próprias ideias e inserido nas crônicas de Nárnia sem lhe dar os devidos créditos. (A vida de C.S. Lewis. Do ateísmo às terras de Nárnia, Alister McGrath.p. 282)

Tolkien percebeu que algumas de suas palavras criadas influenciaram determinados nomes nas obras de Lewis, tais como Numinor (Uma Força Medonha), Eldil (Além do Planeta Silencioso), Tur e Tinidril (Perelandra). Em carta para Dick Plotz escrita em 12 de setembro de 1965, Tolkien ressaltou essas palavras utilizadas:

Lewis, creio eu, ficou impressionado com “o Silmarillion e tudo aquilo”, e certamente guardou algumas vagas memórias dele e de seus nomes na cabeça. Por exemplo, uma vez que ele o ouviu antes de compor ou pensar sobre Além do Planeta Silencioso, imagino que Eldil seja um eco dos Eldar; em Perelandra, “Tor e Tinidril” certamente são um eco, visto que Tuor e Idril, pais de Eärendil, são personagens principais em “A Queda de Gondolin”, a primeira das lendas da Primeira Era a ser escrita. Mas sua própria mitologia (incipiente nunca completamente concretizada) era bem diferente. De qualquer forma, ela foi partida em pedaços antes de tornar-se coerente pelo contato com C. S. (Carta 276).

Isso deve ter irritado Tolkien certamente, pois para ele a criação de palavras, o uso das línguas não era algo apenas ilustrativo em seus livros. Toda a questão linguística tem um encanto próprio. Tanto é que ele afirmava que suas histórias foram criadas para serem as histórias de suas línguas criadas.

A opinião expressa de Tolkien

Até o momento, existem apenas duas cartas escritas por Tolkien que mostram sua opinião direta e clara a respeito de As Crônicas de Nárnia. Ambas mostram que o professor não gostou nenhum pouco das obras de C. S. Lewis.

Em 11 de Novembro de 1964, em carta para David Kolb, o professor Tolkien escreveu o seguinte:

É triste que “Nárnia” e toda essa parte da obra de C. S. L. deva permanecer fora do alcance de minha simpatia, tanto quanto a minha obra estava fora da dele. (Carta 265)

Nesse pequeno trecho não é possível saber as razões que levaram Tolkien a não gostar dos livros de Lewis. Contudo, isso ficou melhor evidenciado em outra carta.

Tolkien novamente mostra por que não havia gostado das obras de C. S. Lewis em uma carta não-publicada endereçada para Eileen Elgar, em 24 de dezembro de 1971:

Estou feliz que você tenha descoberto Nárnia, mas já que você perguntou se eu gostei receio que a resposta é Não. Eu não gosto de ‘alegoria’, e muito menos alegoria religiosa desse tipo. Mas essa é uma diferença de gosto que ambos reconhecemos e não interferiu com nossa amizade.

Em várias oportunidades J. R. R. Tolkien sempre se posicionou contrário ao uso de alegorias em obras de literatura. Como afirma no prefácio da segunda edição de O Senhor dos Anéis:

eu cordialmente desgosto de alegorias em todas as suas manifestações, e sempre foi assim desde que me tornei adulto e perspicaz o suficiente para detectar sua presença. Gosto muito mais de histórias, verdadeiras ou inventadas, com sua aplicabilidade variada ao pensamento e á experiência dos leitores.

Um dos motivos que levou Tolkien a não gostar de livros alegóricos é o resultado de que a obra ficaria restrita a “dominação proposital do autor”, ou seja, as margens de interpretações feitas pelos leitores (aplicabilidade) se reduziriam muito e o livro ficaria associado ao seu autor e a imposição de sua própria leitura da obra.

Apesar de não ter gostado de As Crônicas de Nárnia, Tolkien não deixou isso influenciar em sua amizade com C. S. Lewis. A prova maior disso foi o fato de Tolkien ter recomendado a artista Pauline Baynes para ilustrar os livros.

Pauline Baynes era uma jovem artista que Tolkien tinha escolhido para ser a ilustradora do livro Farmer Giles of Ham (Mestre Gil de Ham) em 1949.

Smith of wooton major pauline baynes
Ilustração de Pauline Baynes

Na biografia “Jack: C. S. Lewis and His Times”, George Sayer aponta que C. S. Lewis parecia não ter talento ou vontade de fazer suas próprias ilustrações, diferente do que Tolkien havia feito em O Hobbit. Nisso, ele aceitou a artista Pauline Baynes, talvez até em respeito a amizade que tinha com Tolkien.

Apesar disso, Lewis parece não ter gostado inteiramente das ilustrações de Pauline Baynes, em especial as artes relacionadas aos animais. Ele disse “Ela não sabe desenhar leões, mas ela é tão boa, bonita e sensível que eu não posso falar isso com ela”. É evidenciado até mesmo na questão de gosto das ilustrações o Lewis e Tolkien tinham suas diferenças.

Pauline Baynes, da mesma forma que Tolkien, se sentiu desconfortada com a alegoria estritamente cristã em As Crônicas de Nárnia e com o fato de que a comunicação com C. S. Lewis sobre as ilustrações se baseou apenas em algumas poucas cartas.

Outro exemplo de que o desgosto de Tolkien pela obra de Lewis não interferiu diretamente nos sentimentos de amizade que tinham, foi o momento em que o professor Tolkien recomendava a leitura de As Crônicas de Nárnia para sua neta Joanna Tolkien, como será visto com mais detalhes logo adiante.

Roger Green
Roger Green

Lembranças de Roger Lancelyn Green

Tolkien costumava comentar para as pessoas próximas o que achava de As Crônicas de Nárnia. Umas delas foi o Roger Lancelyn Green, que frequentava o pub Eagle and Child, em Oxford, junto com C. S. Lewis e outros amigos, os conhecidos Inklings.

A primeira coisa que Roger Green soubera a respeito foi quando, certa tarde, algumas semanas antes, Lewis lhe mencionara que estava trabalhando num livro infantil. Acrescentou:

Não sei se é bom. Minha pergunta é: devo prosseguir? Sabe, Tolkien não gosta dele. Li os dois primeiros capítulos e ele deixou bem claro que não aprovava a historia. Posso ler para você os primeiros capítulos? Veja o que acha. (O Dom da Amizade, Tolkien e C.S. Lewis, Colin Duriez. p. 199)

Green aceitou escutar a história de C. S. Lewis e pareceu gostar do que conheceu. Mas, logo depois ele se encontrou com Tolkien e tiveram uma conversa sobre essas histórias. Tolkien lhe disse o seguinte:

Ouvi dizer que você esteve lendo a história infantil de Jack [apelido e Lewis]. Sabe, assim não dá! Quero dizer, “Ninfas e seus costumes, a vida amorosa de um fauno” Ele não sabe do que está falando? (Green, Walter Hooper. C.S. Lewis: A Biography, p.241).

A conversa de Tolkien sobre a obra de Lewis fez com que Roger Green vise os textos sobre um outro aspecto. Foi nesse sentido que ele tentou persuadir Jack a abandonar o momento na história em que o Papai Noel aparece repentinamente. Mas não adiantou e lá está o Papai Noel aparecendo em um mundo diferente de seu contexto.

Lembranças de George Sayer

George Sayer, que conviveu com ambos os escritores, mostra que Lewis ficou realmente magoado com a posição de Tolkien tão severa. Provavelmente isso tenha abalado a amizade deles por parte do Lewis:

[Lewis] ficou machucado, espantado, e desanimado quando Tolkien disse que achou que o livro era quase inútil, que parecia um amontoado de mitologias não relacionadas. Tendo em vista que Aslan, os faunos, a Feiticeira Branca, Pai Natal, as ninfas, e o Sr. E a Srª Beaver tem origens mitológicas ou imaginativas bem distintas, Tolkien pensou que era um erro terrível colocá-los juntos em Nárnia, um único país imaginativo. O efeito foi incongruente e, para ele, doloroso. Mas Jack argumentou que eles existiam felizes juntos em nossas mentes na vida real. Tolkien respondeu: “Não em meu, ou pelo menos não ao mesmo tempo. (Sayer, George. Jack: C. S. Lewis and His Times. p. 189)

Essa ideia de mistura de várias mitologias em um mesmo mundo incomodou Tolkien que não conseguia conceber em sua mente essa possibilidade. George Sayes, sobre o assunto, ainda afirma a posição severa de Tolkien quanto as obras de Lewis:

Tolkien nunca mudou seu ponto de vista. Ele detestava tão fortemente o amontoado de figuras de várias mitologias nos livros infantis de Jack, que ele logo desistiu de continuar lendo. Ele também achava que foi escrito de forma descuidada e superficial. Sua condenação foi tão severa que há a suspeita que ele invejava a velocidade com que Jack escrevia e comparou com seu próprio método trabalhoso de composição. (Sayer, George. Jack: C. S. Lewis and His Times. p. 189).

A afirmação de que Tolkien talvez tivesse “inveja” de C. S. Lewis não parece ser apropriada. Primeiramente pelo fato de que Tolkien não escrevia visando um publico ou leitores em larga escala. Ele escrevia para si e seus familiares e não pensava em conseguir algum tipo de lucro com essa atividade, ao contrário de Lewis que tinha muita facilidade de se entender com editoras.

tolkien who

A critica se baseia na forma como a história foi construída e não em preceitos pessoais, como afirmou Tolkien dizendo que a amizade deles não se abalou por causa disso. Trata-se de uma critica de Tolkien em relação ao comportamento voltado a subcriação, como será visto adiante no texto de Humphrey Carpenter.

George Sayer ressalta novamente esses pontos no artigo “Recollections of J.R.R. Tolkien”:

[Tolkien] descreveu-o como “quase tão ruim quanto pode ser”. Foi escrito superficialmente e rápido demais (eu acho que talvez ele invejava a fluência de Lewis), tinha uma mensagem óbvia, mas acima de tudo era uma mistura de personagens de diferentes e incompatíveis mundos imaginativos. Dr. Cornelius, Father Time, A Feiticeira Branca, o Papai Noel e Dríades não devem ser incluídos na mesma história. (Sayer, George.Recollections of J.R.R. Tolkien, p.25)

Pode parecer aos leitores de fantasia atualmente que essa critica de Tolkien em relação a mistura de mitologias não tem razão. Pois esse tipo de literatura tem como uma de suas características essa diversidade de histórias, mitologias etc. Ocorre que nessa época a literatura de fantasia como conhecemos atualmente simplesmente não existia, já que Tolkien e também Lewis foram precursores desse gênero literário.

Mas para uma compreensão do que Tolkien pensava sobre essa mistura de mitologias e mundos diferentes, basta imaginar um momento onde Harry Potter aparece em meio a uma batalha das casas Lanister e Stark das Crônicas de Gelo e Fogo e que nessa mesma batalha Gandalf aparece junto com a Sociedade do Anel.

Lembranças de Walter Hooper

Walter McGehee Hooper é um escritor católico norte americano que foi secretário pessoal de C. S. Lewis no último ano de sua vida, e após a morte dele se tornou defensor das obras e um importante biografo. Hooper teve contato direto com o professor Tolkien e se lembra do seguinte:

O Professor Tolkien uma vez me disse que achava os elementos cristãos nas histórias Narnianas muito “óbvios.” Mas eu acho que isso é devido ao fato de que ele não apenas conhecia a Bíblia melhor que a maioria de nós, mas começou a entender até onde Lewis estava “chegando”. Julgando pelo que eu escutei, apenas cerca de metade dos leitores de Lewis achavam que Aslan significa Cristo – e que metade disso são igualmente crianças e adultos. (Hooper, Walter. Narnia: The Author, the Critics, and the Tale. p.110)

Tolkien era certamente um católico praticante e conhecia bem a Bíblia. Isso certamente auxiliou no momento de se descobrir os elementos cristãos na obra de C. S. Lewis, a ponto dele achar óbvio demais.

Do mesmo modo, Clyde S. Kilby, que conheceu Tolkien e C. S. Lewis, lembra também que “Tolkien considera que o elemento Cristão em Lewis é muito explicito”. (Kilby, Clyde S. Mythic and Christian. p. 132).

Lembranças de Robert Murray

Robert Murray é um padre católico que se tornou amigo pessoal de Tolkien por muitos anos. Ele ministrou a missa de sétimo dia de Tolkien e escreveu o obituário para The Tablet. Nesse jornal Murray lembra o seguinte:

[Tolkien] reagiu com uma forte aversão às incursões na ficção alegórica por seu amigo próximo C. S. Lewis. (Murray, Robert. A Tribute to Tolkien. p.15).

Interessante, o ponto em que Murray lembra de quando recebeu um livro das mãos do próprio Tolkien:

De fato, Tolkien foi muito insistente no sentido de que os contos de “Faerie” (Fadas) deveriam ser contados para seu próprio fim e não por qualquer “mensagem” que poderia dizer: “Aqui está um pouco de vento contrário ao Lewis que eu escrevi” (quando me entregou o Ferreiro de Bosque Grande [Smith of Wootton Major] como um presente de Natal). (Murray, Robert. A Tribute to Tolkien. p.15).

Tolkien começou a escrever o texto de Ferreiro de Bosque Grande no ano seguinte a morte de C. S. Lewis quando foi convidado para escrever um prefácio para uma nova edição do livro A Chave Dourada de George MacDonald.

C. S. Lewis reconhecia George MacDonald como uma influência em sua obra infantil, então pode ser provável que ao escrever seu texto de Ferreiro de Bosque Grande Tolkien tenha pensado em toda a repercussão das Crônicas de Nárnia e decidido fazer um contraponto a isso.

Lembranças de Joanna Tolkien

Joanna Tolkien é filha de Michael Tolkien (1920-1984)  e neta de J. R. R. Tolkien. Boa parte de sua infância e juventude ela pode conviver com o professor Tolkien. Ela se lembra do seguinte:

Quando estava com minha avó e avô na 99 Holywell, e depois na Sandfield Road, me foi entregue de sua estante os livros de Nárnia de C. S. Lewis, The Borrowers de Mary Norton e os Contos de Fadas de Andrew Lang. O fato de ele me direcionar a ler esses livros antes de O Senhor dos Anéis é talvez uma indicação de sua humildade. (Joanna Tolkien Speaks at the Tolkien Society Annual Dinner, Shrewsbury, p. 34).

Essa é a demonstração de que mesmo não tendo gostado de Nárnia, Tolkien tinha a compreensão de que talvez as crianças pudessem gostar de ler, ou que ao mesmo tempo tinha ainda a estima por ter sido uma obra escrita por um velho amigo.

Lembranças de Nan C. Scott

Em Junho de 1966 Nan C. Scott e William O. Scott visitaram os Tolkiens em Oxford. Durante esse momento, de acordo com a memória de Nan Scott:

[Tolkien] expressou seu desgosto pelos livros de ‘Nárnia’ de C. S. Lewis por causa de sua natureza alegórica. Ainda mais limitante do que alegoria religiosa, uma interpretação da literatura próxima da política era o seu ódio especial. E ele falou com desprezo de críticos que tentaram reduzir a Guerra dos Anéis a um caso análogo da Segunda Guerra Mundial, tendo Hitler como Sauron, o Senhor do Escuro. (‘A Visit with Tolkien, The Living Church, 5 February 1978, p. 12).

Novamente Tolkien falou sobre a questão do uso da alegoria em Crônicas de Nárnia, demonstrando sua forte oposição a isso e mantendo a ideia que adotou desde o inicio. Provavelmente Tolkien associava a sua lembrança de C. S. Lewis a toda essa questão das alegorias.

Eagle and Child
Eagle and Child

Humphrey Carpenter explica por que Tolkien não gostava de Nárnia

No livro que traça o perfil dos Inklings, Humphrey Carpenter dedica alguns parágrafos para falar sobre as razões que levaram Tolkien a não gostar de As Crônicas de Nárnia. É importante ressaltar essa análise por que Carpenter foi o biografo oficial de Tolkien e teve contato pessoal com várias pessoas que conheceram o professor.

Tolkien foi, por sua própria admissão, um homem de simpatias limitadas. Faltava-lhe desejo habitual de Lewis para estar entusiasmado com o trabalho de um amigo, simplesmente porque ele era um amigo. Ele julgou histórias, especialmente histórias nesta veia, por padrões severos. Ele não gostava de obras de imaginação que foram escritas às pressas, inconsistentes em seus detalhes, e nem sempre eram totalmente convincente em sua evocação de um “mundo secundário”. Esta foi uma das razões por que tinha levado os últimos onze anos para escrever O Senhor dos Anéis, que ainda não tinha terminado no momento em que Lewis começou a escrever O Leão. Cada ponta solta, cada detalhe da história – a cronologia, a geografia, mesmo a meteorologia da Terra-média – tinha que ser coerente e plausível, de modo que o leitor (como Tolkien desejou) tomasse o livro em um sentido como história.

O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa afronta contra todas essas noções. Tinha sido escrito muito às pressas, e esta pressa parecia sugerir que Lewis não estava levando o negócio da ‘sub-criação’ com o que Tolkien considerava com uma seriedade adequada. Houve inconsistências e pontas soltas na história, enquanto que além das demandas imediatas da trama a tarefa de fazer Narnia parecer ‘real’ não pareceu interessar Lewis. Além disso, a história emprestada tão indiscriminadamente a partir de outras mitologias e narrativas (faunos, ninfas, Papai Noel, animais falantes, qualquer coisa que parecia útil para a trama) que, para Tolkien a suspensão da descrença, o entrar em um mundo secundário, era simplesmente impossível. (Carpenter, Humphrey. The Inklings, p. 223-224).

De forma sintética, Carpenter mostrou que toda a questão não foi pessoal. Tolkien fez uma análise literária e sabia diferenciar a sua amizade de seus preceitos da literatura.

Conclusão

1 – Tolkien influenciou o processo de criação da obra fantástica de Lewis, direta ou indiretamente.

2 – Existe apenas duas cartas conhecidas em que Tolkien expressa sua opinião sobre As Crônicas de Nárnia. Em que ele claramente demonstra que não gostou. Dos pontos mais importantes destaca-se:

  • ESCRITA SUPERFICIAL – Tolkien considerou As Crônicas de Nárnia muito superfiais e descuidadas. Isso por que segundo ele foram escritos rápidos e sem se aprofundar em aspectos que pudessem tornar a obra mais realista ou mais coerente.
  • MISTURA MITOLÓGICA – Tolkien não gostou da mistura de mitologias de várias épocas e lugares sem nenhum tipo de padrão, apenas pela conveniência do escritor.
  • ALEGORIA RELIGIOSA – Tolkien não apoiava nenhum tipo de alegoria e muito menos alegoria religiosa em uma obra de fantasia, que pareceu muito obvio em Crônicas de Nárnia.

3 – Apesar de não ter gostado de As Crônicas de Nárnia, Tolkien recomendo a Pauline Baynes para ilustrar os livros de C. S. Lewis. Bem como emprestava primeiro os livros de Lewis para sua neta Joanna Tolkien, e muito depois recomendava a leitura de O Senhor dos Anéis.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

 

Carpenter, Humphrey. The Inklings. George Allew and Unwin, London, 1978. p. 223-224.

Duriez, Colin. O Dom da Amizade, Tolkien e C.S. Lewis.

Green, Roger Lancelyn, Walter Hooper. C.S. Lewis: A Biography. Revised Ed. San Diego: Harcourt, 1994.

Hooper, Walter. Narnia: The Author, the Critics, and the Tale. The Longing for a Form: Essays on the Fiction of C. S. Lewis. Ed. Peter J. Schakel. Kent: The Kent University Press, 1977. P. 105-118.

Kilby, Clyde S. “Mythic and Christian Elements in Tolkien.” Myth, Allegory, and Gospel: An Interpretation of J.R.R. Tolkien, C.S. Lewis, G.K. Chesterton, Charles Williams. Ed. John Warwick Montgomery. Minneapolis: Bethany Fellowship, 1974. p. 119-143.

Lewis, C. S. Três maneiras de escrever para crianças in As Crônicas de Nárnia, Wmf Martins Fontes, São Paulo, 2009. p. 742 e 745.

___ A World for Children. Times Literary Supplement, 2 de Outubro de 1937.

___ The Collected Letters of C. S. Lewis, Narnia, Cambridge, and Joy 1950-1963, Vol III, Edited by Walter Hooper, Harper San Francisco, 2006.

McGrath, Alister. A vida de C.S. Lewis. Do ateísmo às terras de Nárnia. Mundo Cristão, São Paulo, 2013 p. 282.

Murray, Robert. A Tribute to Tolkien. Obituary. The Tablet. 15 September 1973. P.15.

Sayer, George. Jack: C. S. Lewis and His Times. San Francisco: Harper and Row, 1988.

___. “Recollections of J.R.R. Tolkien.” Proceedings of the J.R.R. Tolkien Centenary Conference 1992 (Mythlore 80/Mallorn 30). Ed. Patricia Reynolds and Glen H. GoodKnight. Milton Keynes and Altadena, CA: Tolkien Society, Mythopoeic Press, 1995. p. 21-25.

Scott, Nan C.L. Tolkien–Hobbit and Wizard. In Eglerio! In Praise of Tolkien, ed. Anne Etkin. Greencastle: Quest Communications, 1978. P. 77-81.

___. A Visit with Tolkien, The Living Church, 1978, p. 12

Tolkien, J. R. R. As Cartas de J.R.R. Tolkien. Ed. Humphrey Carpenter, Christopher Tolkien, Arte e Letra, Curitiba, 2008.

Tolkien, Joanna. Joanna Tolkien Speaks at the Tolkien Society Annual Dinner, Shrewsbury, April 16 1994′, Digging Potatoes,Growing Trees, vol. 2, 1998, p. 34.

Resenhas, Sobre Livros

Cartas de um diabo a seu aprendiz – O livro de C.S. Lewis dedicado a Tolkien

 cartas do diabo2

É de conhecimento de todos os admiradores do professor Tolkien que ele tinha uma forte amizade com outro escritor também conhecido, o C.S. Lewis.  Tolkien adjetiva Lewis como um “grande amigo”, um “fã fiel”, um “admirador”, “infatigável homem”, “velho amigo”.

Além dessa amizade Jack (apelido de Lewis) foi uma das poucas pessoas que tiveram acesso aos manuscritos do Silmarillion e tomou conhecimento de O Senhor dos Anéis durante seu processo de escrita. De fato Jack escutou a maioria dos capítulos do Senhor dos Anéis em voz alta, pedaço por pedaço, e foi um grande incentivador para que Tolkien terminasse o livro (que demorou doze anos para ser escrito).

C.S. Lewis pode ser considerado não apenas o primeiro ‘fã’ de Tolkien, mas também seu grande amigo, que o confortava com suas conversas e gostos em comum em épocas solitárias durante a Segunda Grande Guerra. Ambos frequentavam o mesmo grupo de amigos conhecidos como os Inklings, que se reuniam com frequência no pub Eagle and Child em Oxford.

Em 1942, C.S. Lewis publicou um livro chamado “The Screwtape Letters”, traduzido no Brasil atualmente pela editora Wmf Martins Fontes como “Cartas de um diabo a seu aprendiz”. O livro foi dedicado ao seu amigo J.R.R.Tolkien.

No exemplar que Lewis deu ao Tolkien foi escrito o seguinte: “Em pagamento simbólico de uma grande dívida” (In token payment of a great debt). De fato, J.R.R. Tolkien foi uma das principais influências na vida de Lewis em termos literários e religiosos. O professor Tolkien teve participação ativa na conversão de Lewis ao cristianismo e seu mundo de fantasia influenciou a criação de Nárnia.

O livro Cartas de um diabo a seu aprendiz apresenta uma série de 30 cartas de um diabo sênior a seu aprendiz que tenta levar um homem britânico a condenação. Nessas cartas o diabo maior traça as principais artimanhas que um diabo tem que provocar no homem para que ele canha em tentação e no pecado.

As cartas foram originalmente escritas para o jornal The Guardian, mas depois reunidas e compiladas em livro. O sucesso do livro foi muito interessante, talvez até inesperado por C. S. Lewis, e esse foi o seu primeiro passo como escritor mais conhecido.

Opinião de Tolkien sobre o livro

 

Embora o livro seja dedicado ao Tolkien, isso não quer dizer que ele tenha gostado do livro. Em uma forma geral ele era um grande critico das obras de C.S. Lewis. Tolkien não gostava do uso de alegorias feitas por Lewis em Crônicas de Nárnia e discordava de seus preceitos teológicos.

Tolkien não expressou claramente sua opinião sobre o livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, os únicos registros conhecidos, até o momento, são duas cartas (com conteúdo parecido).

A primeira carta foi endereçada a Michael Tolkien, em novembro ou dezembro de 1963:

“Além disso, ironicamente me diverti ao ver dito (D. Telegraph), que « o próprio Lewis nunca gostou muito de Cartas de um diabo a seu aprendiz’- seu best-seller (250.000). Ele o dedicou para mim. Eu me perguntava por quê. Agora eu sei – dizem eles.” (Carta 252).

Em um conteúdo similar, Tolkien escreveu a George Sayer, em 28 de Novembro de 1963, o seguinte:

“Mas então Jack (C.S. Lewis) nunca me mandou nada. Nem mesmo o Cartas de um diabo ao seu aprendiz, que ele dedicou para mim (sem permissão). Eu sarcasticamente me diverti ao saber do Daily Telegraph que ‘Lewis nunca gostou muito de seu trabalho’. Eu depois / muitas vezes [esta palavra é especialmente difícil de discernir] me perguntei por que a dedicatória foi feita. Agora eu sei, ou deveria.

A primeira referência sobre a opinião do Tolkien vem no livro The Inklings, do biografo Humphrey Carpenter. O autor conheceu o Tolkien pessoalmente e escreveu a primeira biografia do professor autorizada, tendo procedido com diversas entrevistas e acesso amplo a documentos pessoais. Humphrey Carpenter também foi o editor do livro As Cartas de Tolkien, que reúne mais de trezentas cartas do professor.

Assim, no livro The Inklings está escrito o seguinte:

“O próprio Tolkien não era de todo modo um entusiasta do livro, pois sendo alguém que acreditava profundamente no poder do mal ele achava uma tolice brincar com essas coisas e mais ainda desdenhar”. (The Inklings, Houghton Mifflin, p. 175)

Os biógrafos posteriores ao Humphrey Carpenter apresentam a mesma tendência de que Tolkien não teria gostado do livro, porém apresentando argumentos um pouco diferentes.

Segundo o biografo Michael White:

“Ironicamente, Tolkien não se importou com a história, considerando-a bastante banal e feita de maneira apressada. Em muitos aspectos, Tolkien era quase um católico fundamentalist. Acreditava que o diabo e seus demônios realmente existiam e, portanto, seria bastante temerário desdenhar de assuntos sérios como este”. (J.R.R.Tolkien, O Senhor da Fantasia, editora Darkside, p.133).

O Bradley J. Birzer, no livro “J.R.R. Tolkien’s Sanctifying Myth” apresentou de forma mais agressiva a ideia de que Tolkien não gostou do livro:

A dedicatória de Lewis enfureceu Tolkien, pois o livro perturbava-o profundamente. Como o Lewis poderia mergulhar tão profundamente nas artes do Inimigo, Tolkien deve ter se perguntado? Inequivocadamente, Tolkien desaprovava tais empreendimentos — mesmo quando realizada por bons cristãos como Lewis”.

Com os trechos das cartas do Tolkien citadas acima não se pode concluir que o professor tenha ficado enfurecido com a dedicatória feita pelo Lewis, apenas que ele não gostou de não ter sido comunicado sobre isso. Assim, Bradley J. Birzer em seus argumentos ultrapassa um pouco a linha do possível para o que ele acha que o Tolkien pensaria.

Assim, há uma certa concordância entre os biógrafos que o Tolkien não gostou do livro, em especial por seu aspecto religioso, mas não sabemos ao certo sua opinião diretamente por ausência de documentos deixados.

De todo modo, a leitura do livro é interessante para aqueles que desejam compreender um pouco mais sobre o escritor C.S. Lewis e tentar entender por que Tolkien não gostou do livro. Para quem é cristão é uma leitura praticamente obrigatória, o livro é uma história muito intrigante e mostra pontos de alto interesse religioso.

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A edição brasileira

 

A primeira publicação no Brasil de Cartas de um diabo a seu aprendiz ocorreu em 2005 pela editora Martins Fontes e logo mais re-publicada pela editora Wmf Martins Fontes.

A edição é baseada na versão do sexagésimo aniversário da obra, que inclui pela primeira vez “Fitafuso propões um brinde”, no qual o notório Fitafuso oferece um jantar aos jovens demônios na Faculdade de Treinamentos de Tentadores.

A Claire Scorzi apresente em seu canal no youtube uma série de resenhas dos livros de C.S. Lewis. Confira abaixo a vídeo resenha do livro Cartas de um diabo a seu aprendiz:

É importante lembrar que em outubro de 2009, foi lançado o audio book (em inglês) do livro e o personagem principal da trama foi interpretado por Andy Serkis (o ator que interpretou e dublou o Gollum nos filmes do Senhor dos Anéis e O Hobbit). Confira um pequeno vídeo da produção do audiobook AQUI.

Sobre Filmes

JACK and TOLLERS: Mais um projeto para filme da vida de Lewis e Tolkien!

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A época de filmes do Hobbit dirigidos por Peter Jackson é muito boa e produtiva para os fãs. Não apenas porque grandes filmes estão sendo lançados nos cinemas, cheios de efeitos especiais e com uma maior possibilidade de divulgação das obras de Tolkien  decorrente disso. Mas especialmente pelo fato de que novas produções menores ganham mais fôlego e possibilidades de se concretizarem, utilizando do momento em que o tema está evidenciado.

O exemplo mais claro que essa divulgação massivas dos filmes da New Line produz são filmes que buscam recontar a história do maior escritor do século XX, o J.R.R.Tolkien. Atualmente dois filmes  estão sendo produzidos, em que recontam parte da vida do Tolkien. (Veja as notícias AQUI e AQUI).

Até o momento nenhum filme foi lançado em que o Tolkien estivesse como protagonista ou como coadjuvante. De fato, a vida do professor Tolkien é cheia de momentos que podem gerar bons filmes. O professor se tornou órfão quando criança, estudou em Oxford, teve um romance digno de filmes com a Edith (que se tornou sua esposa), lutou na primeira guerra mundial (onde muitos de seus principais amigos morreram), estudou línguas antigas, na segunda guerra mundial foi voluntário de serviços de guarda e dois de seus filhos serviram na luta contra o eixo, se tornou uma figura popular após a publicação do Senhor dos anéis e isso trouxe diversas implicações em sua vida. Sem contar o fato de que era uma pessoa muito criativa e ocupada, mas um pai muito amoroso. E especialmente escreveu um dos livros mais lidos na história mundial, sendo um marco na literatura do gênero. Evidente que se torna complicado resumir os pontos relevantes da vida do professor, mas esses são aspectos que poderiam ser explorados em filmes sem dúvida, pois o professor Tolkien é um exemplo de ser humano.

O número elevado de fãs das obras do professor Tolkien faz com que um filme sobre o autor seja mais que bem vindo. Diante disso, além da produção dos filmes “Tolkien & Lewis” da Atractive Films e o filme “Tolkien” da Fox, algumas pessoas pretendem lançar outro filme com o foque na vida dos escritos Lewis e Tolkien.

THE LION AWAKES PROJECT

Em março de 2012 surgiu um projeto de filme chamado “The Lion Awakes“, cuja produção estava a cargo da Three Agree Films e o produtor executivo Wernher Pramschufev (atual produtor executivo da Atractive Films que está desenvolvendo o filme “Tolkien & Lewis”).

Mas em agosto desse ano (2013) o projeto do filme “The Lion Awakes” foi cancelado.

Não há informações adicionais do porque esse filme foi cancelado, mas ao que parece não havia fundos disponíveis o suficiente para a realização do filme. Além disso parece ter ocorrido um desacordo entre os roteiristas do filme e a direção. Os roteiristas queriam algo mais próximo da história real, sem buscar criações e fantasiar a vida dos escritores.

Diante disso, os roteiristas procuraram um novo produtor executivo. Buscando contatos, eles confiaram o seu roteiro já escrito ao Chris Dodge, produtor executivo da Third Dart Studios.

E o produtor executivo do filme “The Lion Awakes” Wernher Pramschufev decidiu montar uma nova equipe com outros roteiristas e iniciou a produção do filme “Tolkien & Lewis“, cujo roteiro ainda está sendo escrito.

Agora o produtor executivo, Chris Dodge, com o roteiro praticamente pronto em mãos, busca o apoio dos fãs que querem ver uma tradução mais fiel da vida dos grandes escritores Tolkien e Lewis.

JACK & TOLLERS – The true story of the friendship between C. S. LEWIS and J.R.R. TOLKIEN

Agora a equipe do Third Dart Studios está pretendendo realizar um filme que conte a história de Lewis e do Tolkien. Mas, de uma forma diferente.

Inicialmente o projeto não tem patrocinadores e não está relacionado com o estilo de produção de Holywood. Ou seja, eles não estão querendo um formato de filme que seja amplo, massivo e que não retrate a vida dos escritores como ela foi realmente.

A ideia é contar a história dos escritores da forma como ela aconteceu. Sem modificações para tornar a história mais atrativa etc. Por ser uma produção independente isso dará a possibilidade dos fãs terem um contato maior e moldar o estilo do filme da forma como seria mais atrativo ou mais fiel possível ao que se pretende recontar.

O projeto está em uma fase bem inicial. É necessário primeiramente buscar fundos (dinheiro) para que sejam pagas as despesas com toda a produção. Mas como se trata de uma produção independente o produtor executivo Chris Dodge decidiu levar isso aos fãs e humildemente pedir aos fãs que façam doações.

Veja o vídeo lançado por eles pedindo aos fãs que ajudem a financiar o filme (recebemos autorização deles para traduzir e legendar o vídeo, mas estamos sem tempo para isso no momento):

Dois dos maiores autores de nossa época que criaram paisagens icônicas e histórias épicas se tornam amigos durante o seu serviço na Universidade de elite do Mundo . Dentro dos muros de Oxford, C.S Lewis e J.R.R Tolkien são puxados para dentro das terras de fantasia de Nárnia e da Terra-média através do seu amor pela literatura e a línguas. Embora fossem homens muito diferentes, a sua amizade inesperada tornou-se um forte reforço e catalisador para os homens comuns da academia se tornarem vozes extraordinárias de esperança para o mundo. Ambos irão servir aos seus compatriotas lutando na Grande Guerra ;  ambos também vão descobrir o seu lugar na Segunda Guerra Mundial. Do trauma de infância à perda da Fé, das trincheiras do Somme para os salões da Academia, de um homem de fé influenciando um homem com dúvidas, para o impacto que a verdadeira amizade e duradoura tem em nossas vidas … a jornada deles juntos é lendária e seu legado de mitos continua até hoje. Jack & Tollers é uma história que nos lembra que os melhores momentos de nossas vidas acontecem com os amigos ao nosso lado .

Two of the greatest authors of our Age who created iconic landscapes and Epic storylines become friends during their tenure at the leading University in the World. Within the walls of Oxford, C. S. Lewis and J. R. R. Tolkien push outward into the fantasy lands of Narnia and Middle Earth through their shared love of literature and language. Although very different men, their unexpected friendship becomes a strong reinforcement and catalyst for ordinary men of academia to become extraordinary voices of Hope for the world. Both men will serve their Countrymen fighting in the Great War; both men will also discover their place in the Second World War. From childhood trauma to the loss of Faith; from the trenches of the Somme to the Halls of the Academy; from a man of Faith influencing a man of doubt; to the lasting impact true friendship has on our lives…their journey together is legendary and their legacy as Wordsmiths continues on to this day. Jack & Tollers is a story which reminds us the best moments of our lives happen with friends by our side.

A história do filme incluirá cenas que retratam momentos importantes na vida dos escritos. Dentre essas cenas o filme irá incluir o instante em que Tolkien estava na Batalha de Somme, na Primeira Guerra Mundial e está sendo perseguido por soldados da infantaria alemã, galopando com toda velocidade para conseguir a segurança, e Tolkien se volta para ver os soldados da infantaria de transformando em Espectros em sua fértil imaginação.

Um dos pontos chave da amizade de Tolkien com Lewis foi o processo de conversão ao cristianismo do autor de Nárnia. O filme irá explorar esse lado da vida dos escritores. Um momento em que Tolkien explica as suas razões de ser um cristão e Lewis deixa de ser ateu para se tornar um dos principais escritores cristãos do século XX.

JACK era o apelido que C.S. Lewis tinha entre seus amigos e TOLLERS era um apelido dado ao Jovem J.R.R.Tolkien.

Se tudo acontecer com planejado. O filme será lançado em Oxford, Inglaterra, em outubro de 2014. 

Para realizar as doações necessárias para a produção do filme basta criar uma conta no Indiegogo, que é um site que busca reunir fundos para projetos diversos. Muitos bons projetos já foram concretizados usando o poder da internet e esse site inovador. Um exemplo de filme que usou o site Idiegogo para reunir fundos é o filme The Rise of the Fellowship, lançado recentemente.

Então acesse mais dados sobre o filme e como doar para a realização do filme AQUI e você pode acompanhar novidades sobre o filme na fanpage AQUI.

Sobre Filmes

Em produção o Filme ‘TOLKIEN & LEWIS’!

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Um projeto muito interessante começou há poucos meses e já está atraindo a atenção dos fãs de Tolkien.  O plano é produzir um filme que narra a história de dois dos maiores escritores do século XX:  J.R.R.Tolkien e Lewis.

Com produção de Wernher Pramschufer , pela empresa Attractive Films, o filme parece ser promissor, especialmente porque já conta com uma equipe bem preparada. Estão trabalhando na produção executiva o renomado Mark Cooper (Chocolate, Shakespeare Apaixonado, As loucuras do Rei George,   A Outra, Sete dia com Marilyn), Michael O’ Sullivan (ex VP Paramount Pictures), trabalha na industria de filmes por mais de 40 anos e tem uma vasta experiência em filmes internacionais, TV, video/DVD e cinema. E ainda na produção executiva  Joan Lane, que trabalhou no filme O Discurso do Rei.

O roteiro ficou sob os cuidados de Jacqueline Cook, uma escritora australiana e Paul Bryan um roteirista da Inglaterra.  A diferença de fuso horário parece não ter sido um grande problema para a comunicação entre eles. Escrever o roteiro desse filme se torna uma tarefa muito complicada e exige muitas pesquisas, pois tanto Lewis quanto Tolkien tiveram vidas cheias de acontecimentos intrigantes.

Então até o momento a equipe está sendo formada e temos os seguintes nomes:

 

Screenplay……………………………….  Jacqueline Cook  & Paul Bryan

Producer ………………………………….Wernher Pramschufer (Attractive Films)

Executive Producers ………………… Michael O’Sullivan, Leo Cooper & Joan Lane

Co-Producer ……………………………. Mark Cooper

Composer ……………………………….. Wernher Pramschufer

Music Arranger ………………………… John Cameron

Music Supervisor ……………………… Graham Walker

 

O elenco ainda está sendo  criteriosamente analisado, pois além dos aspectos físicos (semelhança com os escritores), estão buscando talentos que possam expressar os sentimentos desses dois grandes escritores de forma mais intensa.

O C.S. Lewis já teve alguns filmes dedicados a sua vida completa ou parte dela. Um dos filmes mais conhecidos é o Shadowlands (Terra das Sombras), em que Lewis é interpretado peplo famoso ator Anthony Hopkin. Dificilmente será escolhido para  o filme Tolkien e Lewis um ator do porte de Hopkin, mas espera-se que novos talentos sejam revelados.

Como Tolkien nunca foi representado em um filme (de uma forma decente e como protagonista) essa é uma oportunidade para um artista mostrar seu talento e nos apresentar um pouco do que poderia ter sido Tolkien.  A responsabilidade se torna ainda maior, especialmente se o roteiro pretender distorcer ou mesmo passar uma imagem equivocada de quem foi o professor Tolkien.

Não há filmes biográficos sobre o Tolkien até o momento em razão de uma política conservadora e protecionista por parte da Tolkien Estate (herdeiros do Tolkien), que busca sempre preservar a imagem do professor Tolkien, evitando abusos ou distorções. Até o momento não se sabe qual a posição da TOLKIEN ESTATE a respeito da produção desse filme, mas acredita-se que não haverá problemas judiciais como ocorreu no filme “Mirkwood”.

A representação de Tolkien por atores até o momento foi feita basicamente em filmes ou documentários para televisão (geralmente que o relacionam ao Lewis também). A última aparição foi em  “Tolkien’s The Lord of the Rings: A Catholic Worldview” em 2011, em que é interpretado por Kevin O’Brien.

O filme TOLKIEN & LEWIS parece ser ousado nesse sentido por tentar aprofundar-se na representação da vida de dois grandiosos escritores e pretende preencher essa lacuna de filmes com interpretações de Tolkien e Lewis.

Foi divulgado um pôster para o filme. Na imagem há a figura do Nazgul (Senhor dos Anéis) montado em seu cavalo e também o leão Aslan (Crônicas de Nárnia). Logo abaixo há um livro aberto e em cima dele um anel e uma chave dourados, representando O UM anel do Senhor dos Anéis e a chave do guarda roupa para Nárnia.

Veja abaixo o primeiro pôster oficial do filme (clique na imagem para ampliar):

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Juntamente com a imagem, a equipe apresentou um resumo do filme que você confere a versão traduzida para o português e em seguida da versão original em inglês:

 

Tolkien & Lewis é um drana biográfico que se passa durante a guerra na Grã-Bretanha , em 1941, revelando como J.R.R. Tolkien e C.S Lewis tornaram-se os autores de fantasia mais importantes do mundo . Ambos são superstars literários , conhecidos em todo o mundo como os criadores da Terra-média e Nárnia . Mas poucos sabem da importante e complexa amizade entre estes dois brilhantes, mas disfuncional estudiosos de Oxford.A amizade sem a qual nunca poderiam ter escrito seus amados clássicos, O Senhor dos Anéis ou O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.Enquanto cada um ajuda o outro:  Tolkien a enfrentar seus pesadelos psicóticos e  Lewis redescobrir sua criança interior – sua amizade parece mais profunda do que nunca. Mas mesmo as sociedades mais fortes são testadas. Quando Lewis revela seus contos de Nárnia e se projetou nos holofotes com discursos religiosos na rádio BBC, Tolkien desperta suas inseguranças.  Ciúme , neurose, e as questões de fé agora ameaçam sua amizade.

Algumas amizades duram para sempre. Outras duram até que não sejam mais necessárias…

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Tolkien & Lewis is a biopic drama set in war torn Britain in 1941 revealing how J.R. Tolkien and C.S. Lewis became the world’s foremost fantasy authors. Both are literary superstars, known the world over as the creators of Middle-Earth and Narnia. But few know of the important and complex friendship between these two brilliant but dysfunctional Oxford scholars. A friendship without which they might never have written their beloved classics, The Lord of the Rings or The Lion, The Witch and the Wardrobe. As each helps the other: for Tolkien to face his psychotic nightmares and for Lewis to rediscover his inner child – their friendship seems deeper than ever. But even the strongest fellowships are tested. When Lewis reveals his tales of Narnia and catapulted into the spotlight with faith-inspired speeches on BBC Radio, Tolkien’s insecurities are awakened. Jealousy, neurosis, and matters of faith now menace their friendship.

Some friendships last forever. Others last until they are no longer needed…

 

Provavelmente quem não conhece um pouco da vida do professor Tolkien deve ter lido com uma certa admiração a frase “Tolkien a enfrentar seus pesadelos psicóticos”. Há aí um destaque para algo que ocorria na vida do professor. Ele tinha certos pesadelos com o mar, possivelmente uma lembrança da viagem que realizou quando criança da Inglaterra para a África do Sul, mas isso não seria algo que o atrapalhasse profundamente a ponto de precisar de uma amizade como a de Lewis, como suporte psicológico.

O tema da amizade de Tolkien e Lewis foi explorado em alguns livros, com destaque especial para a obra “O Dom da Amizade Tolkien e Lewis”, publicado no Brasil pela editora Nova Fronteira (uma obra biográfica indispensável) de autoria de Colin Duriez.

A amizade de Tolkien com o Lewis foi intensa, mas sofreu um certo desgaste nos últimos anos e até o momento não se sabe ao certo o que levou Tolkien a se afastar de Lewis. Talvez o fato de que Tolkien queria que seu amigo deixasse o ateísmo e se convertesse ao catolicismo (Lewis se tornou cristão, mas protestante), ou pelo fato de Lewis ter uma forte amizade com o Charles Williams (que se envolvia com assuntos do ocultismo que não agradavam Tolkien). Alguns dizem que o fato de Tolkien ter deixado de lado sua amizade por um tempo foi o fato de Lewis ter publicado livros que contrariavam suas teorias sobre como os livros de fantasia deveriam ser escritos (Tolkien não gostou de Crônicas de Nárnia). Há também o descontentamento do Tolkien em relação a algumas coisas que foram copiadas (não necessariamente um plágio) por Lewis e escritas em suas histórias. Alguns dizem que sua amizade ficou mais distante apenas pelo fato do sucesso do Senhor dos Anéis e a exigência de tempo que isso implicaria na vida de Tolkien.

Enfim, fato é que pelo menos durante vários anos esses dois escritores foram grandes amigos e trouxeram obras maravilhosas e que encantam o mundo todo. E o mais fascinante é saber que ambos eram amigos.

 Espera-se que o filme tenha lançamento para o final de 2014. Aguardemos…

 

Sobre Livros

Disponível ebook da pior escritora do mundo, criticada por J.R.R.Tolkien

piorescritordomundo

Amanda McKittrick Ros, uma professora nascida em 1860 na Irlanda do Norte, é considerada como a pior escritora (conhecida) do mundo, justamente pela ruindade de sua literatura. Dentre os seus principais livros há o mais comentado “Irene Iddesleigh”. O livro é uma coisa meio que incompreensível e sem alguma lógica literaria, isso fez com que fosse objeto de várias duras críticas. Em especial dos Inklings, grupo de amigos que se reunia informalmente para discutir literatura. Nesse grupo temos C.S.Lewis, J.R.R.Tolkien e outros escritores.

Segundo o livro The J. R. R. Tolkien Companion and Guide: Chronology, escrito por Wayne G. Hammond and Christina Scull, vemos que desde 1939 era comum o grupo de amigos de Oxford se reunirem para lerem o livro de Amanda Ros.

Segundo Walter Hooper, se tornara comum entre os Inklings, desde 1939, reunirem-se para competir quem conseguiria ler uma passagem dos escritos de  Amanda M’Kitterick Ros sem conseguir fazer uma cara de riso. Isso demonstra o grau de ridiculo da obra de Amanda Ros, onde não se consegue interpretar seu livro como algo sério nem mesmo em poucos trechos. A competição se prolongou durante algum tempo, mas em 1946, John Wain, que havia se tornado membro do Inklings, havia ganho a competição de ler um capítulo de Irene Iddesleigh sem nenhum tipo de riso. Contado que passou todo esse tempo e ninguém havia conseguido ganhar essa competição pode-se concluir que Tolkien certamente deve ter dado umas boas gargalhadas ao ler o livro de Amanda Ros.

É interessante notar que Tolkien foi considerado um dos maiores escritores do século XX (e até o maior para alguns) e ele ter contato justamente com a pior obra da história. Certamente ele deve ter aprendido o que NÃO deveria fazer em um livro.

O livro Irene Iddesleigh de Amanda Ros agora se encontra em domínio público e pode ser encontrado na biblioteca virtual gutenberg AQUI. O livro já conta com mais de 2.000 downloads registrados. Evidentemente que o livro está em inglês, mas alguém se habilitaria a traduzir e publicar no Brasil o pior livro de todos os tempos?