Mitopoeia

Nacionalismo e a mitologia para a Inglaterra de J.R.R. Tolkien

By Eduardo Stark

Uma mitologia não é apenas um conjunto de histórias que envolvem deuses e heróis. Ela é na verdade um instrumento de poder em uma sociedade organizada. Através das histórias nações foram construídas com uma base de sentimentos de nacionalidade. A partir dessas ideias de amor ao seu lugar e de fidelidade ao que se acredita que vários escritores desenvolveram obras e estudos sobre mitologias.

Nesse contexto, de modo indireto, Tolkien acabou sendo influenciado pela ideia de uma mitologia para a Inglaterra. Porém, isso não significa afirmar que ele fosse um nacionalista inglês, mas sim um patriota.

O presente texto visa apresentar uma breve noção dessa relação da ideia de nacionalidade e mitologia e evidenciar o momento em que Tolkien decide criar sua própria mitologia.

Conceito e diferenças de nacionalismo e patriotismo

Inicialmente é importante apresentar uma diferenciação entre a ideia de patriotismo e nacionalismo. Embora atualmente sejam muitas vezes utilizadas como sinônimo, essas duas tendências se diferenciam substancialmente.

O patriotismo está relacionado ao amor à pátria, ao lugar, língua e um povo. Nesse aspecto o patriotismo envolve laços culturais de um individuo que a assimila por nascimento ou por desenvolvimento de sua vida. Essa ideia tem suas origens na época da antiguidade, quando os povos se formavam e se diferenciavam por sua identidade cultural.

Enquanto o Nacionalismo é algo da era moderna que surgiu com as ideias da Revolução Francesa. Trata-se de uma ideologia (ou várias ideologias) que em sua origem tem a ideia de formar um Estado soberano, que seja independente de influências estrangeiras. Nesse sentido, tem a ideia de que cada nação tem o direito de sua auto determinação e que nenhum outra nação pode interferir naquele país.

Um conceito de nacionalismo apropriado é o disposto pelo jurista De Plácido e Silva: “assim se entende o princípio que, por uma ideia de patriotismo exagerado, pretende instituir um regime, de exclusividade nacional, a fim de que todos os problemas de ordem jurídica, política, social ou econômica se resolvam dentro do interesse da nação, sem qualquer atenção às relações de ordem internacional”. (SILVA, p.940)

Os termos se aproximam muito. Pois normalmente quem é nacionalista exerce o patriotismo. Porém, quem é patriota não é necessariamente um nacionalista.

O nacionalismo do século XIX e a importância da mitologia

Segundo e o historiador Eric Hobsbawn, a política do nacionalismo foi o intensa durante boa parte do século XIX.  Como uma decorrência das ideias da Revolução Francesa, que destacou a vinculação do cidadão em relação ao Estado. Em 1848, conhecido como a “Primavera dos Povos”, viu-se a afirmação da nacionalidade em diversas partes da Europa, em forma de movimentos revolucionários. (ver HOBSBAWN, Eric. p.138).

Esses movimentos não apenas apresentaram uma ideologia própria, mas também buscavam apresentar elementos que o justificasse através da própria cultura local. É uma ideologia que busca a identidade nacional, a noção de pertencer a um determinado laço cultural, histórico e linguístico que passa a ser regido por um único Estado.

Acontece que nem todos os países da Europa tinham essa unificação, e por isso no século XIX destacam-se, sobretudo, os momentos de unificação da Itália e da Alemanha. Deles surgiram diversas noções que repercutiram no século seguinte em formas autoritárias de governo.

Os mitos tiveram um papel fundamental para desenvolver essa identidade nacional nos países Europeus. Pois eles formam um laço cultural, simbólico e linguístico que são importantes para formar o nacionalismo.

Começando com a Grécia que lutou por sua independência do Império Otomono entre 1821 e 1832. Com o fim das batalhas os Gregos passaram a apresentar a mitologia Grega com mais força em estudos e ocorreu uma maior exploração desses mitos como forma de identidade nacional. Novos artistas passaram a explorar a temática da mitologia grega como forma de afirmação e unificação do país. E novos estudos sobre a Ilíada e Odisseia de Homero passaram a serem peças centrais daquela época.

Talvez como decorrência disso, o finlandês Elias Lönnrot escreveu o épico nacional conhecido como “Kalevala”, publicado em 1835. Nesse livro o autor reuniu o conjunto de lendas e a mitologia do povo finlandês. A obra foi tão promissora que serviu como uma das bases de nacionalismo, que posteriormente influenciou a independência da Finlândia, saindo do domínio Russo em 1917.

A Itália passou a ter uma ampliação de seus estudos mitológicos e busca de laços que unificassem aquele país. Foi nesse período que as histórias do Império Romano foram amplamente estudadas como demonstrativos do orgulho nacional de grandezas históricas e os mitos que se relacionavam, como a Eneida de Virgilio.

Na Alemanha o fenômeno nacionalista também ocorria com intensidade. O instrumento que se buscava para unificar o país estava relacionada aos mitos antigos, em especial a mitologia vinculada a lendas antigas e o conhecido Nibelungenlied (A Canção dos Nibelungos), que foi adaptado naquela época por Richard Wagner na conhecida opera “O Anel dos Nibelungos”.

Em todas as mitologias dos países citados existem as historias de como o mundo foi criado pelos Deuses, como os heróis realizaram grandes feitos em meio a batalhas e magias e finais de um período apocalíptico. Mas nem todos os países europeus tem essas mitologias. A Inglaterra, de onde J.R.R. Tolkien era nacional, não tem uma mitologia própria e isso parece ser até os dias de hoje motivo para debates naquele país.

Frodo e o Um anel
Frodo e o Um anel

O sentimento Inglês da falta da mitologia nacional

“Diferente da Grécia, a Inglaterra não tem uma mitologia de verdade. Tudo que temos são bruxas e fadas”. Essa intrigante frase é retirada do premiado filme Howards End (No Brasil: O Retorno a Howards End, 1992) dirigido por James Ivory, com participação de Anthony Hopkins. Nesse filme a personagem Margaret Schlegel (interpretada por Emma Thompson) expressa sua indignação em afirmar que o seu país não possui uma mitologia própria tal como os clássicos gregos.

O filme é baseado em um livro homônimo de E.M. Forster, publicado em 1910, que retrata aquela mesma época, conhecido como período Eduardiano (reinado de Eduardo VII de 1901 a 1910). Nele é demonstrado que os ingleses dessa época constantemente tratavam sobre temas como “Goblins” com uma certa naturalidade, porém com um constante questionamento.

“E os goblins, eles realmente não estiveram lá? Eram apenas os fantasmas da covardia e incredulidade? Um impulso humano saudável poderia dissipa-los? Homens como o Wilcoxe, ou o ex-Presidente Roosevelt, diriam que sim. Beethoven entendia melhor. Os goblins realmente tinham estado lá. Eles poderiam voltar e eles voltaram.” (FORSTER, p.36)

A obra de Forster reflete os ingleses de seu tempo. A sociedade em mudanças e pretendendo alcançar novos patamares intelectuais em um período anterior as grandes guerras mundiais. Esse aparente vazio dos Ingleses parece ser algo comum, especialmente para aqueles que tem um certo nacionalismo e busca de justificativas intelectuais. No livro Forster expressa esse sentimento com maestria:

“Por que a Inglaterra não tem uma grande mitologia? Nosso folclore nunca avançou além da superficialidade, e as maiores melodias sobre o nosso país são todas emitidas pelos tubos da Grécia. Profunda e verdadeira quanto a imaginação nativa pode ser, parece ter falhado aqui. Ela parou com as bruxas e fadas e não pode vivificar uma fração de campo do verão, ou dar nomes a meia dúzia de estrelas. A Inglaterra ainda aguarda o momento supremo de sua literatura, para o grande poeta que a deve expressar, ou, melhor ainda para os milhares de pequenos poetas cujas vozes passarão em nossa conversa comum.” (FORSTER, p.283)

Nesse trecho destacado, Forster demonstra claramente que a Inglaterra não tem uma mitologia e que isso é necessário para o país, sendo que no futuro algum grande escritor irá apresentar “o momento supremo de sua literatura”.

Curiosamente, nos anos 1910 e 1911, quase que repercutindo esse questionamento (mas sem precisamente ter tido contato com o livro de Forster), o então jovem estudante J.R.R. Tolkien iniciava suas primeiras leituras de mitologias setentrionais. E foi a partir dessas leituras que ele teve a mesma insatisfação apresentada por Forster: “A Inglaterra não tem uma mitologia própria”. Foi a partir disso que Tolkien decidiu criar um corpo de lendas e histórias para seu país, que mais tarde seriam um grande sucesso mundial no seu expoente “O Senhor dos Anéis”.

J. R. R. Tolkien jovem soldado da Primeira Guerra Mundial
J. R. R. Tolkien jovem soldado da Primeira Guerra Mundial

A percepção de J.R.R. Tolkien sobre a falta de mitologia inglesa

Nas primeiras décadas do século XX, ao ter acesso ao Kalevala, Tolkien foi altamente influenciado pelos escritos de Elias Lönnrot. Foi assim que decidiu realizar seus estudos e escreveu ensaios e composições relacionadas a mitologia finlandesa. Nessa época é que ele teve as primeiras ideias da falta de mitologia para a Inglaterra, como ele atesta da seguinte forma:

Contendo-me em virar as páginas dessas baladas mitológicas, cheias daquele substrato primitivo que a literatura Europeia, no geral, tem continuamente aparado e reduzido, durante muitos séculos, com diferente e prévia completude entre diferentes povos Gostaria que nos tivesse restado mais disso – algo do mesmo tipo que pertencesse aos ingleses. Mas este meu desejo não se deve a um motivo terrível e fatal, não está adulterado pela ciência, está isento de toda suspeita de antropologia”. (TOLKIEN, A História de Kullervo, p. 104).

Comentando sobre essa passagem Verlin Flieger anota que a observação de Tolkien foi relacionada “ao movimento de mito e nacionalismo que se espalhou pela Europa ocidental e as ilhas ao longo do século XIX e no começo do século XX, que foi detido pela guerra de 1914”. (TOLKIEN, A História de Kullervo, p.126).

Essa percepção de ausência da mitologia nacional incomodava Tolkien, tal como acontecia entre os ingleses que buscavam literatura do mesmo estilo. Sobre isso Tolkien comenta, em carta para Milton Waldman:

Desde cedo eu era afligido pela pobreza de meu próprio amado país: ele não possuía histórias próprias (relacionadas à sua língua e solo), não da qualidade que eu buscava e encontrei (como um ingrediente) nas lendas de outras terras. Havia gregas, celtas e românicas, germânicas, escandinavas e finlandesas (que muito me influenciou), mas não inglesas, salvo materiais de livros de contos populares empobrecidos. (Carta 131 para Milton Waldman, 1951)

Evidente que a cultura Inglesa é muito rica em literatura. Muitos se valem das histórias do Rei Artur como forma de mito nacional, porém, Tolkien rejeita a ideia de que essas lendas possam ser consideradas como mitos genuinamente apenas ingleses.

É claro que havia e há todo o mundo arthuriano mas este, poderoso como o é, foi naturalizado imperfeitamente, associado com o solo britânico mas não com o inglês; e não substitui o que eu sentia estar faltando. Por um lado, sua “faerie” é demasiado opulenta, fantástica, incoerente e repetitiva. Por outro lado e de modo mais importante: está envolta (e explicitamente contém) a religião cristã. (Carta 131 para Milton Waldman, 1951)

Assim, as lendas arthurianas segundo Tolkien não são propriamente inglesas e são mais derivadas da religião cristã. Não uma cosmogonia ou mesmo tempo apocalíptico nessas lendas, pois elas integram um ciclo de lendas medievais relacionadas ao cristianismo e uma certa relação com os celtas.

O amor à Inglaterra de J.R.R. Tolkien e as Guerras Mundias

Em 28 de Julho de 1914 teve inicio a chamada Primeira Guerra Mundial. O mundo acadêmico e amigável de Tolkien se mudou completamente. No mês seguinte seus amigos e seu irmão Hilary se juntaram ao exército inglês para combater a Alemanha.

Por causa da guerra apenas 24 pessoas permaneceram em toda a Universidade de Oxford. Tolkien permaneceu até o fim de seus estudos em 10 de junho de 1915. Após treze dias ele se alistou no exercito britânico para ir lutar na batalha mais sangrenta da história inglesa: a Batalha de Somme.

Em período de guerras é natural que as pessoas em países ameaçados passem a se tornarem ainda mais nacionalistas. Os valores de defesa passam a ampliar esse sentimento como se fosse um escudo intelectual e cultural. O gosto por seu país deve ter sido ampliado ainda mais em Tolkien com os treinamentos militares.

J. R. R. Tolkien na primeira guerra mundial
J. R. R. Tolkien na primeira guerra mundial

O sentimento de amor ao seu país e a relação com a ameaça da guerra é evidenciado novamente no período em que O Senhor dos Anéis estava sendo escrito, na época da Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido em carta para seu filho Christopher Tolkien ele afirma:

Pois amo a Inglaterra (não a Grã-Bretanha e certamente não a Commonwealth britânica (grr!)) e, se eu estivesse em idade militar, eu estaria, imagino, resmungando em um serviço de combate e disposto a ir até o fim — sempre com a esperança de que as coisas possam acabar de um modo melhor para a Inglaterra do que parece estar acontecendo. (Carta 53 para Christopher Tolkien, 9 de dezembro de 1943).

O autor do Hobbit demonstra que novamente estaria disposto a lutar na Segunda Guerra Mundial se tivesse a idade militar, demonstrando sua vontade de defender o país. Nesse trecho vemos que Tolkien tinha um gosto especificamente pela Inglaterra, que é uma nação dentro do conjunto político que forma o Reino Unido. Em outra carta ele novamente demonstra o seu carinho pelo país:

“Ainda há alguma esperança de que, ao menos em nossa amada terra da Inglaterra, a propaganda derrote a si mesma e produza, inclusive, o efeito contrário”. (Carta 77 para Christopher Tolkien, 31 de julho de 1944).

Embora Tolkien demonstre um grande apego ao seu país, isso não o torna necessariamente um nacionalista como aconteceu com escritores do século XIX, afetados pelos pensamentos iluministas. Na verdade Tolkien tinha uma visão de que o Estado era um ente criado que de certa forma atrapalhava a vida cotidiana e pacifica. O patriotismo de Tolkien parece estar mais relacionado ao sentimento de honra, de defesa de sua cultura e modo de vida do que em relação a um governo ou Estado.

Um comparativo que pode ser feito é a relação dos Hobbits frente ao ataque das forças de Mordor. Os hobbits não tinham verdadeiramente um Estado consolidado, nos moldes do que se formou nos séculos XIX e XX. Não havia um líder poderoso ou uma figura impositiva de normas. Os Hobbits tinham um apego a sua terra, ao seu modo de vida, a sua cultura etc. Esse amor a raiz é que pode ser visto como uma semelhança da ideia de Tolkien em relação a seu amor pela Inglaterra.

Uma mitologia para a Inglaterra

Com os seus estudos das mitologias finlandesas e nórdicas Tolkien começou a ter a ideia de que poderia, como forma de entretenimento pessoal, escrever uma simulação de uma mitologia para o seu próprio país. Em carta para Milton Waldman, Tolkien explica com detalhes essa ideia de criar uma mitologia para a Inglaterra:

Não ria! Mas, certa vez (minha crista há muito foi baixada), eu tinha em mente criar um corpo de lendas mais ou menos associadas, que abrangesse desde o amplo e cosmogônico até o nível do conto de fadas romântico — o maior apoiado no menor em contato com a terra, o menor sorvendo esplendor do vasto pano de fundo —, que eu poderia dedicar simplesmente à Inglaterra, ao meu país. Deveria possuir o tom e a qualidade que eu desejava, um tanto sereno e claro, com a fragrância de nosso “ar” (o clima e solo do noroeste, tendo em vista a Grã-Bretanha e as partes de cá da Europa: não a Itália ou o Egeu, muito menos o Oriente) e, embora possuísse (caso eu pudesse alcançá-la) a clara beleza elusiva que alguns chamaram de céltica (embora ela raramente seja encontrada em antigos materiais célticos genuínos), ele deveria ser “elevado”, purgado do grosseiro e adequado à mente mais adulta de uma terra já há muito saturada de poesia. Desenvolveria alguns dos grandes contos na sua plenitude e deixaria muitos apenas no projeto e esboçados. Os ciclos deveriam ligar-se a um todo majestoso e ainda assim deixar espaço para outras mentes e mãos, lidando com a tinta, música e drama. Absurdo. E claro que uma proposta pretensiosa como essa não se desenvolveu de uma só vez. As próprias histórias eram o ponto principal. Elas surgiam em minha mente como coisas “determinadas” e, conforme vinham, separadamente, assim também as ligações cresciam. Um trabalho cativante, embora continuamente interrompido (especialmente porque, mesmo à parte das necessidades da vida, a mente esvoaçava para o outro pólo e esgotava-se na linguística); porém, sempre tive a sensação de registrar o que já estava “lá” em algum lugar, e não de “inventar”. (Carta 131 para Milton Waldman, 1951)

A ideia de criar uma mitologia para o seu país não é totalmente nova, uma vez que o alemão Jacob Grimm e o norueguês Dane Nikolai Grundtvig, tiveram uma atitude nesse sentido. Mas foi a partir de sua vontade de uma mitologia para a Inglaterra que Tolkien desenvolveu as primeiras ideias sobre a Mitopoeia, a teoria literária relacionada a criação (ou subcriação) de mitos por escritores.

Em suas obras, Tolkien deixa claro que se passam em nosso próprio mundo em um passado mitológico subcriado, com histórias das lutas de elfos, humanos, anões e hobbits contra as forças malignas de Morgoth e Sauron.

Muitos aspectos culturais ingleses foram colocados em suas histórias. A ideia era forma o conjunto de lendas pré-cristãs e mitológicas que dessem base para o surgimento da Inglaterra.

O sucesso das obras de Tolkien foi crescente, em especial na década de 60 do século XX. Milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes do mundo passaram a ler e admirar as obras do autor inglês.

Ao que parece Tolkien se sentia um tanto satisfeito com a reconhecimento por parte de alguns leitores, como ele expressou em carta:

Tendo designado a mim mesmo uma tarefa, cuja arrogância reconheci totalmente e pela qual tremi, sendo precisamente a de restaurar aos ingleses uma tradição épica e de apresentar-lhes uma mitologia deles próprios, é maravilhoso saber que fui bem-sucedido, pelo menos com aqueles que ainda possuem o coração e a mente não-enegrecidos. (Carta 180, para o “Sr. Thompson”, 14 de janeiro de 1956).

De forma magistral, Tolkien parece ter conseguido se aproximar do que pretendia, mesmo que na época dessa carta o seus escritos de O Silmarillion ainda não tinham sido publicados.

Arda, o mundo de Tolkien
Arda, o mundo de Tolkien

A mitologia para o mundo

Como visto, as mitologias no século XIX pareciam ser utilizadas como instrumentos para unificação nacional e que essa noção, de certa forma indiretamente, acabou influenciando Tolkien na ideia de que ele deveria escrever uma mitologia para seu país. Assim, as mitologias estão vinculadas com aspectos culturas, sociológicos, históricos e linguísticos de determinados países e não existe uma mitologia global, para todo o planeta.

Segundo Joseph Campbell haverá uma nova mitologia que preencherá a lacuna e representará um elemento cultural para todo o mundo. Uma mitologia sem se vincular a determinada cultura e território do globo, mas um conjunto de histórias que unifique agora todos os povos do mundo.

Os velhos deuses estão mortos ou morrendo e as pessoas em toda parte estão pesquisando e perguntando: “Qual será a nova mitologia, a mitologia dessa terra unificada como uma coisa harmoniosa? Não se pode prever a próxima mitologia mais do que se pode prever o sonho de hoje à noite, pois uma mitologia não é uma ideologia. Não é algo projetado a partir do cérebro, mas algo experimentado pelo coração, do reconhecimento das identidades ou com as aparências da natureza, percebidas com amor um “tu” onde haveria de outra forma apenas um “Isso”. (CAMPBELL, The Inner Reaches… p.19)

Com o passar dos anos, em especial com a globalização, facilitação nos meios de comunicação mundial (televisão, internet e outras tecnologias) o mundo está cada vez mais integrado. As relações internacionais são muito mais frequentes do que há cem anos atrás. Sendo assim, formam-se cada vez mais novas ideias internacionais e surgem elementos culturais além de nações. É nesse sentido que em outra oportunidade Campbell esclarece mais detalhes sobre sua ideia da nova mitologia que virá:

Os motivos básicos dos mitos são os mesmos e têm sido sempre os mesmos. A chave para encontrar a sua própria mitologia é saber a que sociedade você se filia. Toda mitologia cresceu numa certa sociedade, num campo delimitado. Então, quando as mitologias se tornam muitas, entram em colisão e em relação, se amalgamam, e assim surge uma outra mitologia, mais complexa. Mas hoje em dia não há fronteiras. A única mitologia válida, hoje, é a do planeta – e nós não temos essa mitologia. (CAMPBELL, O Poder do Mito, p. 62)

O tremendo sucesso literário de O Senhor dos Anéis pode levar a diversos questionamentos relacionados a essa ideia de Joseph Campbell da nova mitologia mundial.

Os livros de Tolkien passaram a ser não apenas uma mitologia para a Inglaterra. Eles ultrapassaram fronteiras, a ponto de… bem, vocês está lendo um artigo em Português escrito por um Brasileiro sem nenhum vínculo nacional com a Inglaterra.

Será que a obra de Tolkien pode ser vista como essa nova mitologia mundial, Tendo em vista que pessoas do mundo inteiro admiram e estudam suas obras? Ou seria a obra de Tolkien a precursora de uma nova mitologia que surgirá por um escritor (ou escritores) habilidosos?

 

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

CAMPBELL. Joseph. O Poder do Mito. Palas Athenas, 2012.

_________________The Inner Reaches of Outer Space Metaphor as Myth and as Religion. New World Library, 2012.

CARPENTER, Humphrey, J.R.R. Tolkien, uma biografia, Martins Fontes. São Paulo, 1992.

FORSTER, E.M, Howards End, Globo, Rio de Janeiro, 2012.

GARTH, John. Tolkien and the Great War: The Threshold of Middle-Earth. London: HarperCollins, 2003.

HOBSBAWN, Eric. A Era do Capital (1848-1875). São Paulo: Paz e Terra, 15ª edição, 2009.

_______________Nações e Nacionalismo desde 1780. – Programa, Mito e Realidade. São Paulo: Paz e Terra, 5ª ed, 2008.

NEWMAN, Ernest. História das Grandes Óperas e dos seus compositores. Porto Alegre: Globo, 1943, volume III.

TOLKIEN, J.R.R. As Cartas de J.R.R. Tolkien. Editado por Humphrey Carpenter com assistência de Christopher Tolkien, Arte e Letra, Curitiba, 2006.

______________ A História de Kullervo. Wmf Martins Fontes, São Paulo, 2016.

Poesia

O Poema “O Clamor do Menestrel” de J.R.R. Tolkien

by Eduardo Stark

Ao concluir seu primeiro poema relacionado ao legendarium em 24 de Setembro de 1914, “A Viagem de Earendel, a estrela vespertina”, Tolkien começou a se questionar do que se tratava aquele poema. O conteúdo não havia sido desenvolvido ou planejado em forma uma narrativa coerente. Mesmo sendo o autor, o poema surgiu quase que espontaneamente para reverenciar a palavra “Earendel” que tanto o havia impressionado ao ter acesso aos versos de Cynewulf.

Quem seria aquele personagem “Earendel” e para qual direção seu barco seria conduzido e quais aventuras ele sofreria era o grande questionamento que havia em sua mente no final de 1914. Para solucionar isso, começou com pequenas anotações, tentando relacionar nomes e esquemas. Foi nesse período que fez o seu primeiro rascunho tentando vincular elementos da viagem de São Brandão com o personagem Earendel, que foi analisado anteriormente. Esse primeiro rascunho se encontra no verso de um poema e por isso associado a ele como um dos primeiros escritos do Tolkien.

Foi no inverso de 1914, quando Tolkien estava se questionando sobre Earendel, que surgiu o seu segundo poema relacionado ao Legendarium, intitulado “The Bidding of the Minstrel, from the Lay of Earendel”, aqui traduzido como “O Clamor do Menestrel, da Balada de Earendel”.[1]

O poema foi escrito em Oxford na St. John’s Street, quando Tolkien ainda permanecia na Universidade como estudante, enquanto o mundo estava aflito com o inicio da Primeira Guerra Mundial. A data do poema é imprecisa e deriva apenas de uma nota apressada do Tolkien no manuscrito indicando que foi composto no “inverno de 1914”, provavelmente nos últimos dez dias de dezembro daquele ano. Segundo Christopher Tolkien “não há nenhuma outra evidência que comprove a data” [2], assim o que determina a época de escrita do poema é a confiança na memória de Tolkien, já que não há outro modo de prova que diga o contrário (por exemplo: testemunhas, publicação, registro, etc).

Embora tenha sido escrito em 1914, em anos seguintes Tolkien fez alterações, mudou títulos, dividiu o poema em partes separadas. Sobre a condição dos manuscritos do poema e sobre seu processo de escrita, Christopher Tolkien comenta o seguinte:

“O poema era então muito maior do que se tornou, mas os trabalhos são excessivamente brutos. Eles não têm nenhum título. Ao mais antigo texto acabado um título foi apressadamente acrescentado mais tarde:aparentemente se lê “O Menestrel renuncia a música”. O título tornou-se então ‘A Balada de Earendel’ e mudou na último texto para ‘O Clamor do Menestrel, da Balada de Earendel’.Há quatro versões seguintes ao  rascunho original bruto, mas as alterações feitas neles eram leves” [3]

Segundo Christina Scull e Wayne Hammond (Reader’s Guide, p.107), por volta de 17 e 18 de março de 1915, Tolkien dividiu o poema em duas partes:“The Bidding of the Minstrel” (O Clamor do Menestrel) e “The Mermaid’s Flute” (A Flauta da Sereia). Este último poema ainda é um material inédito e permanece guardados nos arquivos em forma de manuscrito. Novamente, o autor fez uma série de revisões em O Clamor do Menestrel no período de 1920 a 1924.

Após o falecimento de Tolkien em 1973, The Bidding of the Minstrel foi publicado no livro The Book of Lost Tales, Part Two, com edição e comentários de Christopher Tolkien, em 1984. O livro é o segundo volume da serie de doze livros chamada “A História da Terra-média”, que ainda não foi traduzido oficialmente para o Português. 

Christopher Tolkien apresenta a última versão do poema, porém ressalta que os termos “Eldar” e “Elven”(Elfos) foram acrescentados em data posterior para substituir “fairies” (Fadas) e “fairy” (Fada).[4] A relação de Tolkien com os elfos viria um pouco mais tarde quando começou a desenvolver as palavras de sua língua “Qenya”. Além disso, na quinta linha o menestrel parece responder ao pedido para cantar mais sobre as histórias de Earendel “Então escute – um conto do imortal anseio pelo mar”, enquanto na versão mais recente ficou “Cante-nos – um conto do imortal anseio pelo mar” [5].

Earendil em seu barco branco…

Os Menestréis na idade média inglesa

O menestrel é uma figura que remete ao medievalismo europeu. Inicialmente eram relacionados a atividades circenses e de entretenimento. Com o tempo eles ficaram conhecidos como músicos especializados que narravam histórias de eventos antigos ou criados. A Enciclopédia Britânica apresenta uma síntese histórica sobre o termo “Minstrel” (menestrel) entre os britânicos medievais:

Os saxões, bem como os antigos dinamarqueses, estavam acostumados a manter os homens desta profissão com a mais alta reverência. Sua habilidade foi considerada como algo divino, suas pessoas eram consideradas sagradas, seu comparecimento era solicitado pelos reis, e eles estavam todos carregados com honras e recompensas. Em suma, os poetas e a sua arte se mantiveram entre eles naquela admiração grosseira que um povo ignorante mostra sempre, tal como os excede em realizações intelectuais. Quando os saxões se converteram ao cristianismo, na medida em que as letras prevaleceram entre eles, essa admiração rude começou a diminuir, e a poesia não era mais uma profissão peculiar. O poeta e o menestrel se tornaram duas pessoas. A poesia foi cultivada por homens de letras indiscriminadamente, e muitas das rimas mais populares foram compostas em lazer e reclusão em mosteiros. Mas os menestréis continuaram uma ordem distinta de homens, e ganharam seus meios de vida cantando versos com harpa nas casas dos grandes. Lá, eles ainda eram recebidos hospitaleiramente e respeitosamente, e mantinham muitas das honras concedidas aos seus predecessores os Bardos e Escaldos. E, de fato, embora alguns deles apenas recitassem as composições dos outros, muitos deles ainda compuseram músicas próprias, e provavelmente poderiam inventar algumas estrofes na ocasião. Não há dúvida de que a maioria das velhas baladas heroicas foram produzidas por esta ordem de homens. Pois, embora alguns dos romances métricos maiores possam vir da caneta dos monges ou outros, ainda assim as narrativas menores provavelmente foram compostas pelos menestréis que as cantaram. A partir das incríveis variações que ocorreram em diferentes cópias dessas peças antigas, fica evidente que eles não tinham nenhum escrúpulo ao alterar as produções do outro, e o recitador adicionava ou omitia estrofes inteiras de acordo com sua fantasia ou conveniência. (Encyclopedia Britannica, 6 ed. Vol. XIV, 1823p.275-276) 

Diante de uma grande maioria da população europeia sem conhecimento nota-se a importância dos Menestréis na cultura medieval, especialmente na preservação dos contos da época e no entretenimento dos intelectuais e o publico em geral. As músicas eram cantadas e acompanhadas de instrumentos com o estilo peculiar de cada região.

A escolha da figura de um menestrel no poema demonstra a conexão que o Tolkien havia feito em relação a história de Earendel se passar em nosso mundo, especificamente em um período medieval, tal como estava cheio de pensamentos sobre as lendas medievais de São Brandão e Orendel, e suas relações com as palavras de Cynewulf.

Os Menestréis em um manuscrito medieval

O conteúdo do poema ‘O Clamor do Menestrel’

Como parte do conjunto de poemas que tratam sobre o personagem Earendel, O Clamor do Menestrel acrescenta mais informações sobre o desenvolvimento do legendarium. Nele o autor ainda procura entender o significado da palavra e qual o sentido dela para se adequar a uma história.Tolkien começou a ter suas primeiras ideias de como seria a viagem marítima e é como se ele próprio estivesse pedindo ao menestrel que cantasse músicas sobre esse então desconhecido herói de outros tempos.

Então, os primeiros versos são um clamor, um pedido para que o menestrel cante mais sobre os acontecimentos em torno do herói mitológico Earendel “Cante-nos ainda mais de Eärendel, o viajante” (Sing us yet more of Eärendil the wandering). São apresentadas características de ele possuir um navio com remos brancos, cuja estrutura é mais engenhosa que as feitas por humanos.

Em seguida, o requerente informa um elemento do que quer ouvir, que é um conto sobre um “imortal anseio pelo mar” (immortal sea-yearning), e que “Outrora os Eldar fizeram antes da mudança da luz” (The Eldar once made ere the change of the light). Como visto o termo “Eldar” foi acrescentado posteriormente para indicar a pluralidade dos elfos, mas no original Tolkien se referia apenas a Fadas. Então, o conto que se pede ao menestrel é relacionado à imortalidade, ao mar e de uma época que não havia ocorrido a mudança da luz.

Atribui-se aos elfos a autoria desse conto de Earendel. Isso teria implicações no legendarium até o final da vida do Tolkien. Pois o autor utilizou o estilo de escrita de “um livro dentro do livro”, onde os contos das primeiras eras foram registrados pelos elfos e humanos, e a guerra do anel pelos hobbits.

Com isso o requerente descreve um pouco das viagens de Earendel, ressaltando que ele passou pelo oceano em diferentes climas e encontrou ilhas estranhas e esquecidas. Nota-se um verso diferenciado , quando se descreve o navio de Earendel como sendo pássaro branco em meio ao mar “Um petrel, um pássaro do mar, uma gema de asas brancas” (A petrel, a sea-bird, a white-wingéd gem). Não se pode afirmar que essa “gema de asas brancas” seja uma origem das pedras preciosas de O Silmarillion, mas traz ideia de ser algo luminoso, estando dentro da ideia de luz relacionada ao nome Earendel. O navio posteriormente ganhou o nome próprio de Vingelot ou Vingilótë.

A segunda parte do poema é a fala do Menestrel propriamente. Ele responde ao pedido dizendo que a música está quebrada e suas palavras estão quase esquecidas. É como se ele mostrasse que essas histórias são de tempos tão antigos que não foram preservadas devidamente seus relatos. O tempo passou e as coisas mudaram muito, pois a luz do sol ficou fraca e a lua envelheceu. Ou seja, a história de Earendel é de uma época muito antiga em que tudo ainda parecia novo no mundo, até mesmo os astros. E então surge o verso Os navios élficos estão naufragados ou cobertos de algas e podres (The Elven ships foundered or weed-swathed and rotten). Como já ressaltado, inicialmente Tolkien usou a palavra “Fadas”, mas que foi alterado depois para “Elfos”, de todo modo essa foi a primeira referência ao que conhecemos como os elfos de Tolkien em sua forma inicial.

O Menestrel demonstra um certo saudosismo em relação as histórias do passado. Algo que é constante nas histórias de Tolkien. A ideia de um passado que foi glorioso e cheio de coisas interessantes em relação a um presente que perdeu aquele encanto. Isso está inclusive presente em O Senhor dos Anéis, onde as coisas parecem estarem mudando e o tempo dos elfos está no fim na Terra-média. É nesse sentido que ele diz “O fogo e o encantamento dos corações se esfriaram” (The fire and the wonder of heart is acold). O próprio Menestrel questiona se é possível alguém narrar aqueles grandes feitos de outros tempos com a mesma qualidade, riqueza e melodias.

Em seguida, o Menestrel elogia o barco de Earendel, ressaltando sua beleza e seu brilho natural decorrente da madeira branca e como se assemelhava a um grande cisne passando no mar. Sendo a segunda parte do mesmo poema que trata sobre o navio de Earendel, pode-se imaginar que o poema tem como conteúdo principal descrever o barco do viajante e imaginar como seria suas aventuras, mas ainda não se revela qual seria essa aventura marítima.

Na última parte, o Menestrel finalmente informa que vai atender ao pedido de cantar a lenda de Earendel. Mas ele deixa claro que ele apenas fará o possível com pedaços que se lembra.

A canção que posso cantar são lembranças esvanecidas
Que no sono nasceram as douradas ilusões,
Um conto sussurrado pelas brasas enfraquecidas
De antigas coisas distantes que poucos guardam nos corações.[6]

Nesses últimos versos Tolkien deixa claro que as histórias são muito antigas, mas que poucas pessoas guardam os fragmentos do que aconteceu com Earendel. É como se o passado fosse tão distante que são apenas pálidas referencias a algo muito maior. Essa ideia permanece ainda na mentalidade de Tolkien até mesmo quando começa a escrever o Livro do Contos Perdidos (The Book of Lost Tales), onde o personagem marinheiro encontra os elfos e esses narram as histórias antigas que acabariam se tornando o que se conhece como O Silmarillion.

Breve análise comparativa com Homero e Camões

O poema de Tolkien tem aproximadamente 276 palavras, dispostas em 36 versos e duas estrofes. O estilo de rima é simplificado na variação cruzada ABAB. Seu estilo pode ser comparado a outros poemas com estilo épico. É interessante, sobretudo aos lusófonos, estabelecer um paralelo entre o poema Tolkieniano e Os Lusíadas de Luis de Camões. Ao que tudo indica Tolkien não teve contato com as obras em língua portuguesa naquela época e por isso o comparativo exposto é meramente complementar e não significa uma tentativa de mostrar uma inspiração de Tolkien em Camões.

Assim, temos que primeiramente ambas tratam de histórias de navegantes “por mares nunca de antes navegados”. Em seguida existe uma relação na forma de rimas ABABABCC em Os Lusíadas que pode auxiliar no entendimento sobre esse tipo de escrita com a língua portuguesa, como pode ser observado na estrofe 19 do Canto I:

Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos, onde as proas vão cortando
As marítimas águas consagradas,
Que do gado de Proteu são cortadas

Em relação a Homero, há uma similaridade no ato de começar o poema com alguma invocação de música a um terceiro. No poema de Tolkien é feito o pedido ao Menestrel que “Canta-nos ainda mais de Eärendel, o viajante”, enquanto que em Homero é feita uma invocação às musas divinas para que cantem ou inspirem o autor, na Iliada “Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles” e na Odisséia “Canta,ó Musa, o varão que astucioso”. Nesses primeiros versos é feita uma breve introdução do conteúdo do Canto, o que se assemelha a forma como Tolkien escreveu seu poema. Em Lusíadas esse tipo de invocação divina acontece nas estrofes 4 e 5 do Canto I, em que Camões pede inspiração para escrever às ninfas do Tejo.

NOTAS:

[1] A palavra inglesa “Bidding” é o presente particípio de “Bid”,  podendo ter vários significados na língua Portuguesa, transmitindo o sentido de “clamar, pedir, demandar, protestar, queixar, rogar, suplicar, vociferar, invocar, solicitar, requerer, chamar, comandar, reivindicar, ordenar,”. Nessa tradução a palavra escolhida foi “clamor”. Quanto a “Minstrel” é uma palavra que tem sua etimologia relacionada a “menestrel” no Médio Inglês, que por suas vez tem origem no Latim “Ministeralis”. Sendo assim o resultado da tradução para o português é: “O Clamor do Menestrel”. Poderia também ser traduzido como “O Clamor ao Menestrel”, uma vez que o poema inicia com o pedido de uma pessoa para que o Menestrel narre os feitos de Eärendel. Nas edições publicadas do poema em Espanhol o título é “La llamada del menestral” e em Francês “L’Ordonnance du ménestrel”
[2] “there is no other evidence for its date”.(p.269).
[3] The poem was then  much longer than it became, but the workings are exceedingly rough; they have no title. To the earliest finished text a title was added hastily later: this apparently reads ‘The Minstrel renounces the song’. The title then became ‘The Lay of Earendel’, changed in the latest text to ‘The Bidding of the Minstrel, from the Lay of Earendel’. There are four versions following the original rough draft, but the changes made in them were slight. (p.270).
[4] “Eldar in line 6 and Elven in line 23 are emendations, made on the latest text, of ‘fairies’, ‘fairy’”. (p.270).
[5] only that originally the minstrel seems to have responded to the ‘bidding’ much earlier — at line 5, which read ‘Then harken — a tale of immortal sea-yearning. (p.270).
[6] The song I can sing is but shreds one remembers /Of golden imaginings fashioned in sleep/A whispered tale told by the withering embers /Of old things far off that but few hearts keep.

Mitopoeia

Os significados de Earendel, a palavra que originou a mitologia Tolkieniana

 

by Eduardo Stark

Ao encontrar as palavras de Cynewulf Tolkien ficou maravilhado com a sua multiplicidade de significados e com a beleza sonora da palavra Earendel. Dessas palavras ele buscou conhecer o seu real significado e a partir delas seu legendarium se formou.

A palavra “Earendel” é como uma semente de histórias que estavam guardadas a espera de um jardineiro que pudesse cuidar dela a ponto de poder crescer e se tornar uma árvore frondosa. Ou mesmo, seria um rabisco que traria a imagem de uma pintura de uma árvore em um quadro. Seus primeiros ramos estavam sendo rascunhados.

Tendo essa importância fundamental, se faz necessário ver esses significados tanto no plano externo quanto no interno do legendadium. Primeiramente uma análise dos significados em nosso mundo e em seguida o significado dentro do próprio universo de Tolkien.

O significado de Earendel 

A palavra “Earendel” tem a característica de ser polissêmica, ou seja, tem mais de um significado aplicado a contextos diferentes. Isso se deve a utilização da palavra em sentido simbólico ou metafórico em escritos medievais.

Ao analisar as origens e significados da palavra Earendel o autor de O Senhor dos Anéis sugere o significado de ‘aurora’ ou um nome próprio para o João Batista do Novo Testamento:

Sua mais primitiva forma a-s registrada é earendil (oer-), posteriormente earendel, eorendel. Principalmente em notas sobre jubar=leoma; também sobre aurora. Mas também em Hom[ilias] Blick[ling] 163, se níwa éorendel, apl. A S. João Batista; e de forma mais notável Crist 104, éala! éarendel engla beorhtast ofer middangeard monnum sended. Frequentemente se supõe que se refere a Cristo (ou Maria), mas a comparação com as Homs. BI. sugere que se refere ao Batista. Os versos referem-se a um arauto e mensageiro divino, claramente não o sodfaesta sunnanleoma = Cristo. (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967).

Interessante notar que o primeiro nome de Tolkien é “John”, que é o equivalente a João em Português. E pelo fato de ter nascido na oitava de São João, o evangelista, ele considerava esse como sendo o seu patrono, embora seus pais não tivessem dado esse nome pensando nessa ideia tão católica. Certamente essa conexão de nomes não interferiu no julgamento de Tolkien ao definir que Earendel tem o significado relacionado a João Batista, que é diferente daquele que ele considerava ser devoto.

Além desses significados acredita-se que “Earendel” fora originalmente o nome da estrela que anuncia a aurora, isto é, Vênus. Como Tolkien explica, o nome também parece ser aplicado “às vezes à estrela-d’alva, um nome de conexões mitológicas ramificadas (agora obscuras em sua maioria)”. (Carta 131, MiltonWaldman, 1951).

Richard North, dando o significado da palavra “eorendel”, apresenta as mesmas interpretações que o Tolkien fez da palavra, especificamente em relação a ela possuir relação com a figura do João Batista:

Eorendel. Cognato com Eostre são os primeiros elementos de três formas germânicas: Inglês Arcaico eorendel; o nórdico Aurvandill, cuja história é evidenciada de uma conexão entre deuses e constelações na mitologia nórdica, e Orendel, um herói cujas aventuras ocorrem no Oriente, em um romance do Médio-Alto-Alemão do século XII. Existem seis casos sobreviventes do Inglês Arcaico eorendel (variantes oerendil, earendil e earendel). Em dois desses casos, eorendel glosa Lat aurora (‘amanhecer’); Em dois mais, Lat iubar (‘radiante’). Em mais um exemplo, em Christ 104-7, Jesus é invocado como “estrela da manhã, o mais brilhante dos anjos” (earendel, engla beorhtast), enviado sobre a terra para os homens, além de ser o “verdadeiro raio do sol, deslumbrante acima de todas as estrelas” (soðfæsta sunnan leoma, torht ofer tunglas), cuja luz ilumina cada era. Aqui o poeta, sem uma consideração exata para a astronomia, parece combinar tanto a estrela da manhã (isto é, Vênus como se eleva um pouco antes do sol em certos momentos) e os raios do sol na pessoa de Jesus. Em Christ 104, earendel provavelmente denota a “estrela da manhã” e nas Homilias Blicklings do século X, João Batista em seu nascimento é chamado tanto de “a nova estrela da manhã” (se niwa eorendel) quanto “o raio do verdadeiro sol”, assim como ele é o precursor de Jesus. Neste caso, o eorendel parece descrever um planeta, provavelmente Vênus, preparando o caminho para o sol (NORTH, p.228-229).

Como visto, vários significados podem ser atribuídos a essa mesma palavra, sendo uma infinidade de possibilidades. Existem três grandes divisões que pode ser feita quanto a esses significados da palavra. Primeiramente em relação ao aspecto mitológico, em seguida aspecto religioso e por último astrológico. Abaixo estão os principais tópicos que podem ser analisados com um grau de relevância:

Relação mitológica:

1 – Aurvandil –
2 – Orendel – herói  do século XII
3 – Horwendill

Relação religiosa:

1 – Jesus Cristo – estrela da manhã
2 – João Batista – a nova estrela da manhã, precursor de Jesus
3 – Maria – a mãe de Jesus, geradora de Jesus

Relação com os astros:

1 – Eorendel (oerendil, earendil e earendel) – Em Inglês antigo ‘amanhecer’, ‘radiante’.
2 – Vênus ou Estrela D’alva – que antecede a vinda do sol
3 – Uma estrela da constelação de Orion

Embora a palavra possa ter outros significados que não estejam elencados acima, todos esses, de certa forma, se ligam pela ideia de algo que traz “luz”, algo “iluminado”.

 

Relação mitológica:

Existem diversas relações com mitologias e contos que podem ser observadas. Inicialmente há a relação com a palavra Aurvandil, que é mencionada na mitologia Nórdica, no Skáldskaparmál, um texto do Edda em Prosa de Snorri Sturluson:

Thor foi para Thrudvangar, e a pedra de amolar permanecia presa em sua cabeça. Então veio a mulher sábia (Volva) que era chamada Gróa, esposa de Aurvandill, o Valente. Ela cantou seus feitiços sobre Thor até que a pedra se afrouxou. Mas quando Thor percebeu isso, pois pensava que não houvesse esperança de que a pedra pudesse ser removida, desejava recompensa-la dando a ela um presente para sua alegra. E disse-lhe estas coisas: que ele tinha passado pelo norte sobre o córrego gelado e carregou Aurvandill em uma cesta nas costas, do norte até Jotunheim. E acrescentando disse que um dos dedos do pé de Aurvandill tinha furado o cesto e saído ficando congelado. Portanto, Thor quebrou-o e lança-o no céu e fez a estrela chamada “ponta de Aurvandill”. Thor disse que não demoraria muito até Aurvandill voltar para casa, mas Gróa ficou tão alegre que esqueceu seus encantamentos, e a pedra não foi afrouxada, e está ainda na cabeça de Thor. Por isso, é proibido lançar uma pedra de amolar no chão, pois a pedra na cabeça de Thor se agitará.

Observa-se a relação de Aurvandill com uma estrela, assim como os outros significados do nome. Sobre isso Jacob Grimm apresenta seus comentários:

Mas o Edda tem outro mito, ao qual se aludiu ao falar da pedra na cabeça de Thôrr. Grôa está ocupada com seu feitiço mágico, quando Thôrr, para recompensá-la pela cura que se aproxima, transmite a notícia de boas-vindas, que, vindo de Iötunheim, no Norte, ele carregou seu marido Örvandill ostensivo numa cesta nas costas e ele tem certeza que estará em casa em breve; Ele acrescenta, que o dedo do pé de Örvandil tinha saído da cesta e ficou congelado, o quebrou e jogou no céu e fez uma estrela dele, que é chamada de Örvandils-tâ. Mas Grôa em sua alegria com a notícia esqueceu seu feitiço, então a pedra na cabeça do deus nunca se soltou, Sn. 110-1. Grôa, o crescimento, a grama verde, é equivalente a Breide, ou seja, Berhta (p.227), a brilhante. Outra parte de sua história que está relacionada aqui: Örvandill deve ter voltado a suas viagens e nesta segunda aventura perdeu o dedo do pé que Thôrr colocou no céu, embora o que ele tinha a ver com o deus não é dito claramente. (GRIMM, Jacob, Teutonic Mythology Volume I, p.374-376).

Suposições quanto à identidade desta estrela incluem o planeta Vênus, Sirius e a estrela Rigel que forma a ponta da constelação Orion, embora Aurvandil deve ser identificado com a constelação de Orion, pode-se esperar que Aurvandil seja traduzido como a constelação e não apenas uma ponta.

Além de significar uma divindade (gigante ou deus nórdico), existe também a relação com o herói mitológico germânico Orendel. Segundo Jacob Grimm ele é o primeiro dos heróis mitológicos, sendo até similar na mitologia de Tolkien que iniciou suas história com Earendel, o seu primeiro herói:

Nós preservamos um poema de certa forma rudimentar, certamente encontrado em um material muito antigo, sobre um rei Orendel ou Erentel, a quem o apêndice ao Heldenbuch pronuncia o primeiro de todos os heróis que já nasceram. Ele sofre um naufrágio em uma viagem, se abrigou com um mestre pescador Eisen, ganha o casaco sem emenda de seu mestre e, depois, conquista a Breide, a mais bela das mulheres, o rei Eigel de Trier era o nome de seu pai. Todo o tecido da fábula lembra a Odisseia: o homem naufragado se apega à prancha, escava um buraco, segura um ramo diante dele; Mesmo o casaco sem costura pode ser comparado ao véu de Ino, e o pescador aos suínos, os templários da dama Breide seriam os pretendentes de Penélope, e os anjos são enviados com frequência, como os mensageiros de Zeus. No entanto, muitas coisas assumem uma direção diferente, mais na moda alemã, e incidentes são adicionados, como a colocação de uma espada descoberta entre o casal recém-casado, que a história grega nada sabe. O nome do herói é encontrado mesmo em OHG [Old High German – Antigo Alto Alemão]. Documentos: Orendil, Meichelb. 61; Trad. Fuld. 2, 24. 2, 109 (Schannat 308); Orendil um conto bávaro (an. 843 em Eccard’s Fr. or. 2, 367); Uma aldeia Orendelsal, agora Orendensall, em Hohenlohe, v. Haupts zeitschr. 7, 558. (GRIMM, Jacob, Teutonic Mythology Volume I, p.374-376).

Orendel tem uma relação com o viagem ao mar e com a luz, em especial relacionando o seu nome a sua esposa Breide (brilhante). Continuando, Grimm ressalta que Orentil pode ter também relação como um Deus, sendo companheiro do Deus do Trovão, assim como Aurvandill também o era:

Mas volto para Eigil. Possivelmente, Orentil foi o companheiro do Deus do trovão em expedições contra gigantes. Será que a história das viagens de Orentil é tão antiga entre nós, que em Orentil e Eigil de Trier estamos encontrando Ulysses e Laertes a quem Tacitus colocou em nossa Rhine? O nome não mostra nada em comum. (GRIMM, Jacob, Teutonic Mythology Volume I, p.374-376).

Essa última observação de Jacob Grimm é interessante por mostrar que a mitologia germânica de Orentil ou Orendel, embora tenha semelhanças com a história da Odisseia, em termos de línguas os nomes não tem relação alguma.

Além dessas relações, existe também o personagem Horwendill, que aparecem em Chronicon Lethrense e Gesta Donorum de Saxo Grammaticus, sendo uma fonte de inspiração para o Hamlet de William Shakespeare.

 orendel

Relação religiosa:

Além dos significados relacionados a mitologias germânicas antigas, o nome Earendel tem o seu significado cristão. Inicialmente está presente no Exeter Book, em Christ de Cynewulf. Jacob Grimm anota o seguinte:

Sem questionamento, o nome do grupo estelar brilhante é referido, nas glosas em AS [Anglo-saxão] trocando “jubar” por Earendel, e um hino à Virgem Maria no Cod. Exon. 7, 20 apresenta a seguinte passagem:

”Eala Earendel, engla beorhtast,
ofer middangeard monnum sended,
and sôðfæsta sunnan leoma
torht ofer tunglas, þu tîda gehwane
of sylfum þe symle inlîhtes!”

i.e., O jubar, angelorum splendidissime, super orbem terrarum hominibus misse, radie vere solis, supra stellas lucide, qui omni tempore ex te ipso luces! Maria ou Cristo está aqui endereçado sob o nome pagão da constelação. Só tenho dúvidas quanto à ortografia e interpretação corretas da palavra; em OHG. (GRIMM, Jacob, Teutonic Mythology Volume I, p.374-376)

Nota-se a possibilidade da palavra significar o próprio Jesus Cristo, tendo em vista diversos versículos bíblicos que implicam em afirmar que seja a estrela da manhã.

Pedro escreve sobre Jesus como a Estrela da Manhã em 2 Pedro 1:19 “E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações”.

Assim também faz o livro de Apocalipse menciona Jesus como a Estrela da Manhã, em Apocalipse 22:16: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas a favor das igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a resplandecente estrela da manhã”.

O livro de Apocalipse também apresenta que Jesus irá iluminar o mundo: “E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de luz de lâmpada nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os alumiará; e reinarão pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 22:5).

O escritor do Apocalipse revela o seguinte: “Nela não vi santuário, porque o seu santuário é o Senhor Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro. A cidade não necessita nem do sol, nem da lua, para que nela resplandeçam, porém, a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória. As suas portas não se fecharão de dia, e noite ali não haverá; e a ela trarão a glória e a honra das nações” (Apocalipse 21:22-26).

Outro significado possível é que seria a virgem Maria, por ser a geradora do Cristo e por isso a primeira luz antes do nascer do Sol. O nome também pode ser associado com o João Batista, por ser considerado a nova estrela da manhã que anuncia a vinda do messias, tal como nascimento do sol no horizonte.

jesus retratado como a estrela da manhã em manuscrito medieval
jesus retratado como a estrela da manhã em manuscrito medieval

Relação com os astros:

Earendel se relaciona o astro solar, por isso é traduzido como “sol nascente”. Em outras traduções também é identificado com a estrela Vênus, que em alguns momentos antecede o nascimento do Sol.

Além disso, sua forma sugere fortemente que em origem foi um nome próprio e não um substantivo comum. Isso é sustentado pelas formas obviamente relacionadas em outros idiomas germânicos, a partir dos quais, entre as confusões e corrupções de tradições tardias, ao menos parece certo que ele pertencia a mitos astronômicos e era o nome de uma estrela ou grupo de estrelas. Na minha opinião, os usos a-s parecem indicar claramente que era uma estrela que anunciava o amanhecer (ao menos na tradição inglesa): isto é, aquela que agora chamamos de Vênus — a estrela d’alva tal como pode ser vista reluzindo brilhantemente na aurora, antes do nascer do Sol propriamente dito. De qualquer modo, é como o compreendi. (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967)

Há também uma relação com a constelação de Orion ou Orionte, que está localizada no equador celeste e, por este motivo, pode ser vista praticamente em todas as partes habitadas do mundo. Além de outros estudos que podem ser observados nos escritos de Jacob Grimm:

Ôrentil implica AS. Eárendel, e os dois exigem ON [Old Norse – Nórdico Antigo]. Aurvendill, eyrvendill. Mas se começarmos com ON. Örvendill, então AS. Earendel, OHG. Erentil pareceria preferível. A última parte do composto certamente contém entil = wentil. A primeira parte deve ser ôra, eáre (auris), ou então ON. Ör, gen. Örvar [[seta]] (sagitta).Agora, como ocorre em um conto em Saxo Gram., p. 48, um Horvendilus filius Gervendili, e em OHG. Um nome Kêrwentil (Schm. 2, 334) e Gêrentil (Trad. Fuld. 2, 106), e como geir (hasta) concorda melhor com ör do que com eyra (auris), a segunda interpretação pode comandar o nosso consentimento. Uma visão da lenda completa explicaria o motivo do nome. Eu acho que o pai de Orentil também merece atenção: Eigil é outro nome antigo e obscuro, por exemplo, por um abade de Fulda, que morreu em 822 (Pertz 1, 95. 356. 2, 366. Trad. fuld. 1, 77-8. 122). No Reno-Mosela? O país é o singular Eigelsteine, Weisth. 2, 744 (ver Suppl.). Em AS. Encontramos o nome Aegles burg (Aylesbury), Aegles ford (Aylesford), Aegles þorp. (GRIMM, Jacob, Teutonic Mythology Volume I, p.374-376).

Em relação a etimologia, a palavra anglo-saxã “Earendel” parece ter sua origem relacionada com a palavra da língua proto-germanica *Auziwandilaz, sendo uma fusão das palavras *auzi (“amanhecer, raiar,) e *wandilaz (“flutuante, vagante”), talvez via as formas intermediárias *Ēarwendel ou *Ēarwandel. A palavra *Auziwandilaz também foi a origem de Erentil ou Orentil em Antigo Alto-Alemão, Auriwandalo na línguas dos Lombardos, Aurvandil em Nórdico Antigo e Auzandil em Gótico.

"Groa's Incantation" (1908) arte de W. G. Collingwood.
“Groa’s Incantation” (1908) arte de W. G. Collingwood.

O significado de Earendil no mundo mitológico de Tolkien

Importante ser observado que mesmo tendo escrito esse poema sobre um personagem protagonista de suas histórias, ele só passou a fazer parte do legendarium, do conjunto de histórias mitológicas, posteriormente através de sua adoção. Afinal Tolkien ainda não sabia o verdadeiro significado de Earendel e de certa forma ainda não tinha uma consciência de construir um mundo ficcional, conforme escreveu:

Antes de 1914, escrevi um “poema” sobre Earendel que lançava seu navio como uma centelha brilhante dos portos do Sol. Adotei-o em minha mitologia — na qual ele tornou-se uma figura principal como um marinheiro, e eventualmente como uma estrela anunciadora e um sinal de esperança aos homens. Aiya Eärendil Elenion Ancalima (II 329) “salve Earendil, a mais brilhante das Estrelas” é remotamente derivada de Éala Éarendel engla beorhtast. (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967)

Assim, dentro da própria mitologia Tolkieniana o significado do nome Earendel se tornou diferente. Não tem mais relação com o advento de cristo ou mesmo sua simbologia mitológica germânica. Agora a palavra passa a ser vista dentro do contexto do mundo subcriado.

Quando Tolkien escolhia uma palavra para colocar em seu mundo, normalmente ela perdia o seu vinculo com a nossa realidade para ser inserida dentro do contexto de significado do seu mundo.

No caso da palavra “Earendel”  foi adotada em seu mundo, mas o seu significado não é o mesmo, o que se aproveitou foi apenas o aspecto estético sonoro. A única relação que há de significado é a ideia de estrela da manhã com o personagem que na história traz essa ideia. Conforme Tolkien diz:

A “fonte”, caso haja alguma, forneceu unicamente a sequencia sonora (ou sugestões para o estímulo desta), e seu propósito na fonte é totalmente irrelevante, exceto no caso de Earendil (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967)

 

O final da palavra foi alterado e a palavra ficou como “Earendil”, deixando de ser uma palavra anglo-saxã e se torna uma palavra élfica, como Tolkien atesta: “Na realidade, seu nome é Élfico e significa o Grande Marinheiro ou Amante-do-Mar” (Carta 131, MiltonWaldman, 1951). Em carta Tolkien explica a etimologia élfica para essa palavra e como ele fez a alteração para adotá-la:

Mas o nome não podia ser simplesmente adotado dessa forma: ele tinha de ser acomodado à situação linguística Élfica, ao mesmo tempo em que um lugar para essa pessoa era criado nas lendas. Disso, há muito tempo na história do “Élfico”, que após muitos começos experimentais na mocidade estava começando a tomar uma forma definida à época da adoção do nome, eventualmente surgiu (a) o radical E.C. *AYAR “Mar”, aplicado primeiramente ao Grande Mar do Oeste, que se situava entre a Terra-média e Aman, o Reino Abençoado dos Valar; e (b) o elemento ou base verbal (N)DIL, “amar, ser devotado a” — que descreve a atitude de alguém a uma pessoa, coisa, curso ou ocupação ao qual se dedica por conta própria. (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967)

Assim, Earendil na mitologia de Tolkien está relacionada com um personagem. Mas sua relação com a estrela d’alva parece permanecer, tendo em vista que “O navio de Earendil, adornado com a última Silmaril, é colocado no céu como a mais brilhante das estrelas.” (Carta 131, para Milton Waldman).

Earendil por Jenny Dolfen
Earendil por Jenny Dolfen

O vínculo com o significado original, relacionado a figura de Jesus Cristo, ou mesmo João Batista ou qualquer relação com o nosso mundo deixou de ser observada, tendo em vistas aspectos da própria história de seu mundo que não se adequariam a essa forma de equiparação. Além do mais, Tolkien era contrário a qualquer forma de alegoria o que implica em afirmar que ele não tinha intenção de incluir um personagem com um significado relacionado a nosso mundo, conforme atesta:

O uso de éarendel no simbolismo cristão a-s como o arauto do nascimento do verdadeiro Sol em Cristo é completamente estranho ao meu uso. A Queda do Homem está no passado e fora de cena; a Redenção do Homem no futuro distante. Estamos em uma época em que a existência do Deus Único, Eru, é de conhecimento dos sábios, mas não está acessível exceto pelos ou através dos Valar, embora Ele ainda seja lembrado em preces (não-pronunciadas) por aqueles de origem Númenóreana. (Carta 297 Rascunhos para uma carta para o “Sr. Rang” ago. de 1967)

Pode-se verificar toda uma nova etimologia dentro do mundo de Tolkien para essa palavras. ëar “mar” (WJ:413), pl. ëari “mares” (FS, LR:47); Eär “o Grande Mar”, ablativo Eärello “do Grande Mar”, et Eärello “fora do Grande Mar” (EO). Em nomes como Eärendil “Amigo do Mar”, Eärrámë “Além do Mar (SA), Eärendur nome masc., *”Servo do Mar”; em efeito uma variante de Eärendil (Apéndice A). Usado como “marinheiro (profissional)”. Nome fem. Eärwen “Dama do Mar” (Silm). Eärnil nome masc., contração de Eärendil (Apéndice A).

Famosos, Sobre Livros

J.K. Rowling ama O Hobbit e acha que Tolkien é genial!

harry potter
harry potter

By Eduardo Stark

Esse artigo é uma homenagem a todos os fãs de Harry Potter e especial os que reconhecem a importância das obras de Tolkien e que vieram me pedir mais informações a respeito do tema e que participam de nosso grupo no facebook AQUI.

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Desde o grande sucesso de O Senhor dos Anéis esse livro é visto como um parâmetro para comparação em relação a outras obras do mesmo gênero literário. Já ressaltamos aqui influências de G.R.R. Martin (veja o artigo aqui) e Stephen King (veja o artigo aqui) e outros escritores (veja aqui). Agora apresentamos detalhes sobre J.K. Rowling e sua relação com a obra de Tolkien.

Joanne Kathleen Rowling ou J. K. Rowling é uma notável escritora conhecida por sua série de livros infantis Harry Potter. Ela é uma típica inglesa e com isso acabou tendo contato com essa cultura e evidentemente com os seus escritores clássicos e renomados. Com isso, a escritora ainda na juventude leu os livros de J.R.R. Tolkien e C. S. Lewis.

Desde que foi publicado o primeiro livro da série Harry Potter foi comum em diversas entrevistas e até entre os amigos pessoais da escritora o questionamento dela ter sido influenciada por escritores de fantasia que a antecederam.

O presente texto visa apresentar grande parte das entrevistas que Rowling ressaltou algo sobre as obras de Tolkien e tentar verificar quando a escritora teve o primeiro contato com O Senhor dos Anéis.

Os paralelos de suas obras não foram levados em consideração e o foco do texto são as declarações da própria escritora J.K. Rowling. Ela diz em várias ocasiões que leu o Hobbit e que foi “maravilhoso” e que ama a obra. Sobre o escritor Tolkien diz que o admira e dentre outras afirmações que serão expostas.

Existe uma certa dificuldade em determinar com qual idade a autora leu o Senhor dos Anéis e isso é verificado em contradições nas diversas entrevistas. Fato é que em sua vida a escritora desejou estudar na Universidade de Oxford, onde não foi admitida como aluna. Essa era a mesma universidade em que J.R.R. Tolkien foi professor durante muitos anos e se tornou doutor.

Abaixo segue a compilação de grande parte de suas referências sobre Tolkien em entrevistas. As fontes de onde foram publicadas estão junto ao corpo do texto em que é feita a citação. (boa parte das entrevistas completas podem ser encontradas no site conteudo.potterish.com).

O marketing da comparação de Tolkien aplicado a Harry Potter

As obras de Tolkien em relação a fantasia são consideradas padrões ou objetos de parâmetro.Ou seja, elas são algo basilar nesse tipo de literatura. E devido ao seu grande sucesso literário não é estranho que os novos escritores que venham a surgir sejam comparados com ele.

Parece ser uma estratégia comum do marketing utilizar as obras de Tolkien para conseguir assim chamar a atenção e atrair novas pessoas. Não é preciso relatar os vários momentos em que isso acontece com os livros de G.R.R. Martin, Eragon e outros.

Com os livro de Harry Potter não é diferente. Logo no início da publicação dos livros, ainda na década de 90, vários jornais e mídias já iniciavam as comparações da pedra filosofal e O senhor dos Anéis.

Essa questão toda refletiu até mesmo na forma como o nome da autoria seria colocado no livro. De fato, os autores de fantasia infantil tinham o nome abreviado logo no início C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, etc. Como podemos ler a seguir, a ideia partiu da editora e não da autora:

Ela se nomeia J.K. porque imagina ser uma moderna Tolkien? “Não, foi ideia da editora.” ela diz. “Eles eram cautelosos por eu ser uma mulher.” A Bloomsbury  acha que não alcançariam os meninos, então eles a fizeram hermafrodita. “Eu estava tão agradecida com a publicação que isso não importava para mim” (Hattestone, Simon. “Harry, Jessica e eu”. The Guardian, 08 de julho de 2000).

As primeiras notícias em jornais entre os anos de 1995 e 1998 utilizam ideias de comparação entre os autores de Nárnia e O Hobbit em relação aos livros de Harry Potter. E isso começou a ser mais continuo com os lançamentos dos filmes.

J. K. Rowling
J. K. Rowling

Com que idade Rowling leu O Senhor dos Anéis? 14, 19 ou 20 anos?

Como ressaltado, Rowling por ser uma típica mulher inglesa isso implicou com as primeiras leituras dos escritores de seu país. Mas a escritora parece se contradizer em várias entrevistas sobre o momento em que ela leu O Senhor dos Anéis, variando de 14 para 21 anos.

A primeira entrevista concedida em que a escritora fala algo sobre Tolkien ocorreu em 1999 em que afirmou ter lido as obras de Tolkien e Lewis e reconheceu os autores como gênios:

Eu li ambos, ahn – ambos eram gênios, estou imensamente lisonjeada em ser comparada a eles, mas acho que estou fazendo algo ligeiramente diferente. Fonte: “Christopher Lydon. “Transcrição da entrevista com J.K. Rowling para o The Connection”. Rádio WBUR, 12 de outubro de 1999. Transmitida em: 12 de outubro de 1999, das 10h06min às 11h00min da manhã”).

Em uma entrevista no ano seguinte a escritora informa ter lido O Senhor dos Anéis com 14 anos de idade. Nada mais natural, pois em 1977 e 1978 os filmes animados de O Hobbit e O Senhor dos Anéis estavam nos cinemas e  proporcionaram uma publicidade maior em relação as obras naqueles anos. Na entrevista foi perguntado “Você tem algum tipo de público alvo quando escreve esses livros?” e ela respondeu:

Eu mesma. Eu sinceramente nunca sentei e pensei, O que será que as crianças vão gostar? Eu realmente estava tão empolgada com a idéia quando ela veio a mim que eu pensei que seria divertido de escrever. De fato, eu não gosto muito de fantasia. Não é bem que eu não goste, na verdade eu não li muito isso. Eu li “Senhor dos Anéis” no entanto. Li quando tinha uns 14 anos. Fui ler “O Hobbit” depois dos vinte. Nessa época eu já tinha começado “Harry Potter”, e alguém me deu esse livro, e eu pensei: Sim, Eu realmente devo ler isso, porque as pessoas sempre diziam, “Você já leu “O Hobbit, obviamente?” e eu dizia, “Hum, não”. Então eu pensei “Bem, vou ler”, li, e foi maravilhoso. (Sorriso encabulado). (Jones, Malcolm. “A mulher que inventou Harry”. Newsweek, 17 de julho de 2000).

Em resposta na entrevista publicada no site Scholastic.com, “Sobre os livros: Entrevista de J.K. Rowling para Scholastic.com”, (16 de Outubro de 2000), Rowling afirmou ter lido a obra de O Senhor dos Anéis com dezenove anos de idade. A pergunta foi a seguinte: “eu estava pensando em o quanto Tolkien inspirou e influenciou a sua escrita?”:

Difí­cil de dizer. Eu não li O Hobbit até que o primeiro Harry estava escrito, se bem que eu li O Senhor dos Anéis quando eu tinha dezenove. Eu acho que deixando de lado o fato óbvio que ambos usamos mito e lenda, as similaridades são muito superficiais. Tolkien criou uma nova mitologia inteira, o que eu nunca poderei dizer que fiz. Por outro lado, eu acho que faço piadas melhores. (Scholastic.com, “Sobre os livros: Entrevista de J.K. Rowling para Scholastic.com”, 16 de Outubro de 2000)

No ano seguinte em março de 2001, em entrevista para Comic Relief (trecho publicado mais abaixo na parte de influências), a autora de Harry Potter disse ter lido O Senhor dos Anéis com vinte anos. Estranhamente, no mesmo mês, poucos dias após essa entrevista ela afirmou em entrevista na BBC Online que tinha lido O Senhor dos Anéis com vinte anos.Assim foram feitas as perguntas “O que você acha de “O Senhor dos Anéis”, de Tolkien?” e ela respondeu o seguinte:

Eu li quando tinha uns vinte anos, creio e eu gostei muito, embora nunca tenha relido, que é algo revelador (normalmente releio meus livros favoritos constantemente), mas ele criou toda uma mitologia, uma incrível façanha. (“Transcrição do chat ao vivo da Comic Relief”. Comic Relief, março de 2001).

Com uma ideia diferente, diferindo em pouco em sua resposta afirmou o mesmo, ao ser perguntada “O que você acha do livro “O Senhor dos Anéis“, de Tolkien?” em que ela responde:

Eu li quando eu tinha mais ou menos vinte anos e eu gostei muito, apesar de nunca ter tido a oportunidade de reler. O que é relevante, porque meus livros favoritos eu leio várias vezes. Mas ele criou uma nova mitologia, uma façanha incrível. (“Chat do dia do Red Nose”. BBC Online, 12 de março de 2001).

Para ter uma ideia mais formada sobre isso, é interessante ver o que o Sean Smith escreveu na biografia de J.K. Rowling a respeito de O Senhor dos Anéis.

Um dos livros que ela leu durante os seus dias universitários foi O Senhor dos Anéis, o famoso romance de fantasia do Professor de Oxford, J. R. R. Tolkien. Joanne se tornou uma grande admiradora da saga e seu volume de 1000 páginas contendo toda a história, que se tornou maltratado e desgastado ao longo dos anos. (J.K. Rowling A Biography, 2003, p. 90).

Esse trecho demonstra que ela leu o livro aos 19 anos e que ela se tornou uma grande admiradora da saga de Tolkien. E para ressaltar ainda mais, o biografo expõe que Rowling levou para Portugal o seu volume de O Senhor dos Anéis:

Joanne invariavelmente tinha o Senhor dos Anéis com ela [em Portugal], que ela tinha lido pela primeira vez quando tinha dezenove anos, mas era um dos livros que ela queria levar para Portugal. Maria Ines confirma que ela sempre teve sua cópia com ela e Jorge lembra que não podia deixar o livro. (J.K. Rowling A Biography, 2003, p. 108)

Fato é que J.K. Rowling leu O Senhor dos Anéis em alguma parte de sua juventude. Estranhamente ela parece mudar a idade em que ela leu o livro com o passar dos tempos e até evitar comentar que teve alguma influência de Tolkien. Sua resposta sobre ter lido O Senhor dos Anéis e não ter relido é uma demonstração disso, pois o seu próprio biografo afirma que ela releu a obra e a carregou para a viagem a Portugal.

Com o lançamento dos filmes de Harry Potter quase que simultaneamente com os filmes de O Senhor dos Anéis foi necessário uma resposta menos clara quanto a essa influência por parte da autora. O marketing da comparação já não era mais necessário. Pois era comum a comparação de sua obra com O Senhor dos Anéis e foi agora necessário ter uma autonomia.

Então se supõe ter sido algo em relação às empresas relacionadas que recomendaram a ela evitar assumir influência ou pelo fato dela pretender se dissociar de alguma influência de autores antecedentes. A mesma forma de atuação parece ter ocorrido em relação a influência de C.S. Lewis, visto logo adiante.

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Em 2005, a Revista Time disse que “Rowling nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis” e a autora afirma que não é muito fã de fantasia e que não sabia que estava escrevendo um estilo de livro de fantasia:

A escritora de fantasias mais popular do mundo nem mesmo gosta especialmente de romances de fantasia. Nunca sequer ocorreu a ela, até publicar Pedra Filosofal, que havia escrito um. “Esta é a verdade nua e crua”, diz ela. “Você sabe, os unicórnios estavam lá. Existia o castelo, Deus sabe. Mas eu realmente não sabia que era isso que eu estava escrevendo. E eu acho que talvez a razão de isso nunca ter me ocorrido é que eu não sou muito fã de fantasia”. Rowling nunca terminou de ler “O Senhor dos Anéis”. (Grossman, Lev. “J.K. Rowling, Hogwarts e tudo”. Revista Time, 17 de julho de 2005).

Talvez um erro da Revista Time? Ou alguém passou essa informação errada para o jornalista?

Com essas entrevistas verifica-se que a escritora não parece se localizar muito no tempo quanto o momento em que leu O Senhor dos Anéis. Ao que parece que ela pretende se distanciar de alguma influência ou afirmação do tipo, chegando a afirmar como lido acima que ela não releu a obra e culminando com a afirmação da Revista Time de que ela não leu.

1999 – 12 outubro – Diz que leu Tolkien. E ele é um gênio. Grata em ser comparada.

2000 – 17 julho – Diz que leu o Senhor dos Anéis com 14 anos.

2000 – 16 outubro – Diz que leu O Senhor dos Anéis com 19 anos.

2001 – Março – Diz que leu com 20 anos

2005 – 17 Julho – Nunca terminou de ler O Senhor dos Anéis (Segundo a Revista Time)

O fato é que ela leu O Senhor dos Anéis e que leu antes de O Hobbit.

A influência de Tolkien

Ao ser perguntada diretamente  “Você é uma fã de Tolkien? O trabalho dele influenciou a série de Harry Potter?”, Rowling respondeu o seguinte:

Bem, eu amo “O Hobbit“, mas eu acho, se você deixar de lado o fato que os livros se sobrepõem em termos de dragões e varinhas e bruxos, os livros sobre Harry Potter são muito diferentes, especialmente no tom. Tolkien criou uma mitologia inteira, eu não acho que alguém possa dizer que fiz isso. Por outro lado… ele não tinha o Duda.  (“Bate-papo com J.K. Rowling”. AOL Live, 04 de maio de 2000).

Ainda ela confessa admirar o escritor Tolkien por sua capacidade de detalhes:

Outra comparação foi feita com a série de sete livros Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, a qual tem um forte tema moral e religioso. Ainda mais, sobre tudo a maior parte desta escrita é a realização de J.R.R.Tolkien. “Eu o admiro”, ela fala sobre o autor cuja atenção obsessiva aos detalhes excede até a dela própria. (“Mãe de todos os trouxas”. The Irish Times, 13 de julho de 2000).

Nessa mesma entrevista ela respondeu a comparação da capa da invisibilidade em relação ao Anel de O Senhor dos Anéis: “Capas são mais divertidas que anéis, você pode tropeçar nelas, rasgá-las, elas podem cair – elas são divertidas”.

Em 2001, Rowling faz um comentário sobre a necessidade que as crianças tem em relação a obras de fantasia e mencionou Tolkien como referência a conhecimento e soberania dentro de um mundo imaginado:

as crianças adoram “conhecimento e soberania dentro de um mundo imaginado. Daí o apelo de coisas tão diversas como Sherlock Holmes e Tolkien”. Entretanto, até esses dois são ofuscados pelo bruxinho que usa óculos. “Nenhum deles apresenta uma mistura tão única de humor, medo e diversão”. (Gaisford, Sue. “Dando voz a Harry e Cia”. BBC Worldwide, abril de 2001).

Ao ser perguntado sobre influências de seus livros ela respondeu o seguinte:

Bem, é muito, muito difícil separar as influências. Coisas como Guerra nas Estrelas e Senhor dos Anéis e a série Harry Potter, muitos são… Eles, eles seguem o formato de aventura. Eles seguem o formato de bem contra o mal e o que isso faz com as pessoas. (Vieira, Meredith. “J.K. Rowling cara-a-cara: parte um”. Today Show (NBC), 26 de julho de 2007).

J.K. Rowling se aprofundou nas obras de Tolkien

Em uma entrevista ao jornal El País, publicada em 8 de fevereiro de 2008, a autora de Harry Potter demonstra um conhecimento de certa forma aprofundado sobre as obras de Tolkien.

Pergunta: Solidão, morte. Falamos de coisas sombrias. Talvez tenha tudo a ver com literatura.

Resposta: Bom, acho que foi Tolkien quem disse que todos os livros importantes tratam sobre a morte. E há algo de verdade nisso, porque a morte é nosso destino e devemos afrontá-la. Tudo o que fazemos na vida é uma tentativa de negar a morte. (Cruz, Juan. “Ficar invisível? Isso seria o melhor…”. El País, 8 de fevereiro de 2008).

Essa relação que Tolkien faz em relação a morte em suas obras não é algo muito divulgado em massa, o que demonstra que a escritora pesquisou com mais profundidade preceitos sobre O Senhor dos Anéis.

A referência sobre a morte em o Senhor dos Anéis é vista no documentário da BBC de Londres de 1968, um material secundário, pois no livro não há referências sobre a morte por parte de Tolkien. O que demonstra que ela buscou mais informações sobre o tema e o autor.

C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien
C. S. Lewis, escritor e amigo de Tolkien

J.K. Rowling é uma fã de C. S. Lewis

Rowling parece ser muito mais uma fã de C.S. Lewis do que de Tolkien propriamente. Ela afirmou ter lido os livros de Crônicas de Nárnia quando era criança ao recebê-los como presentes de sua mãe aos oito anos.

Bertodano, Helena. “Harry Potter encantou uma nação”. Eletronic Telegraph, 25 de julho de 1998.  “Até mesmo hoje, se encontrasse um dos livros Nárnia em minha frente, com certeza o pegaria para reler de uma vez só”.

E nesse mesmo sentido, uma entrevista em novembro foi afirmado que ela sempre relê As Crônicas de Nárnia:

Hoje em dia, pessoas com boas intenções dão livros de fantasia para que Rowling os leia. Mas ela prefere Jane Austen e Roddy Doyle. “Fantasia não é o meu gênero predileto. Embora eu adore C. S. Lewis, eu tenho um problema com aqueles que o imitam”.Aos 33 anos, Rowling ainda relê As Crônicas de Nárnia, famosas por O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa (seu preferido é A Viagem do Peregrino da Alvorada), junto com os outros preferidos de sua infância, E. Nesbit, Paul Gallico e Noel Streatfield. “Eu tento fazer o mesmo que eles no quesito de pegar uma boa história e contá-la da melhor maneira possível”, ela diz. “Não havia nada de descuidado com o jeito que eles escreviam”. (Blakeney, Sally. “O conto de fadas dourado”. The Australian, 7 de novembro de 1998).

Pergunta sobre quais seriam seus heróis e heroínas favoritos em literatura infantil a escritora respondeu o seguinte:

Eu realmente gosto do Eustáquio em “A Viagem do Peregrino da Alvorada” de C.S. Lewis (terceiro na série de Nárnia). Ele é um personagem muito desagradável que se torna bom. Ele é um dos personagens mais engraçados de C.S. Lewis, e eu gosto muito dele. “Entrevista de Barnes and Noble”. Barnes and Noble, 19 de março de 1999.

Quando perguntada sobre quais são suas maiores influências e qual o preferido quando ela leu quando crianças ela respondeu:

“Quem eu mais admiro são E. Nesbit, Paul Gallico e C.S. Lewis. Meu livro favorito quando era criança era “O Pequeno Cavalo Branco” de Elizabeth Goudge”. (“Transcrição da entrevista na eToys”. eToys.com, outono de 2000)

Assim como visto com O Senhor dos Anéis, antes dos filmes Rowling parece ter uma visão mais amigável em relação a C.S. Lewis. Admitindo influência e dizendo que iria ler sempre que pudesse as Crônicas de Nárnia.  Com o passar do tempo, em 2005 ela afirma não ter lido o último livro de Crônicas de Nárnia, dando a ideia de um distanciamento de influência em relação a C.S. Lewis, provavelmente por conta dos diversos comentários que relacionavam sua obra a do Lewis:

Na verdade eu não li muita fantasia, e o mais engraçado é que mesmo que tenha lido os livros de Nárnia, eu nunca terminei a série, nunca li o último livro. Talvez eu devesse voltar e completar a minha educação nesse assunto. Mas eu li muito livros adultos, e minha mãe nunca me proibiu, nunca fui proibida de ler nada da estante, então eu lia tudo e qualquer coisa, e não apenas livros infantis. (Conferência “mirim” em Edimburgo. ITV, 16 de julho de 2005).

Contudo, evidente que mesmo assim a autora não negou sua influência das obras de C.S. Lewis, de modo que as afirmações anteriores se mantém coerentes. Em uma entrevista no dia seguinte a revista Time afirma que a autora não leu As Crônicas de Nárnia, o que contradiz as afirmações da própria autora vistas acima, e logo em seguida a mesma tece criticas quanto a obra de Lewis:

Ela nem leu as “Crônicas de Nárnia” de C.S.Lewis, aos quais seus livros são muito comparados. Existe algo na sentimentalidade de Lewis em relação a crianças que a deixa irritada. “Tem um momento lá onde Susan, a menina mais velha, se perde em Nárnia porque se interessa por batom. Ela se torna sem religião principalmente porque descobre sexo”, diz Rowling. “Eu tenho um grande problema com isso”. (Grossman, Lev. “J.K. Rowling, Hogwarts e tudo”. Revista Time, 17 de julho de 2005).

Com isso, podemos concluir que J.K. Rowling leu O Senhor dos Anéis de Tolkien em sua juventude provavelmente aos 19 anos e O Hobbit aos 20 anos. Ela diz não ter relido o livro, mas o seu biografo diz ter relido e andava com o livro sempre, isso com base em duas testemunhas que viram ela levando o livro para portugal. Ela disse que ama O Hobbit, chama Tolkien de Gênio e acha que não seria capaz de criar uma mitologia como a dele. E, ressaltando que  J. K. Rownling leu as Crônicas de Nárnia por volta dos oito anos e se tornou uma influência em suas obras.

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Atores dos filmes e sua relação com O Senhor dos Anéis

Vários atores dos filmes se declaram fãs de O Senhor dos Anéis e outros atores tiveram papéis relacionados ao Senhor dos Anéis como dublador de Aragorn e a voz de Sam na Rádio BBC, John Vincent Hurt e William Francis Nighy.  Um outro artigo só falando sobre o elenco e o quanto eles são fãs de O Senhor dos Anéis seria necessário, já que grande parte deles são ingleses, assim como o próprio Tolkien.

Daniel parece ter um certo apresso pelos filmes do diretor Peter Jackson, já que uma vez foi assistir aos filmes de forma ‘escondida’:  “eu fui ver uma prévia de O Senhor dos Anéis em Leicester Square, que é um dos maiores cinemas do país. Estava lotado e ninguém me reconheceu. Eu faço mais coisas do que as pessoas pensam”. (novembro de 2003, DanRadcliffe.com) 

Existe uma certa tendência por parte de alguns leitores em atacar uma ou outra obra.Em “My Boy Jack” entrevista do  GQ concedida em 05 de outubro de 2007, o ator Daniel Radcliffe apresenta um exemplo de conduta com relação a essas ideias de comparação entre as obras e conflitos entre fãs:

Eu sou constantemente confundido com Elijah Wood. Eu estava no Japão e alguém me deu uma foto dele para assinar. Eu não sabia falar isso em japonês, então eu escrevi “Eu não sou Elijah Wood, mas obrigado de qualquer forma, Daniel Radcliffe.” Se eu fosse um pouco mais infantil eu teria escrito “O Senhor dos Anéis é um lixo.”

Acho que essas palavras finais de Elijah Wood… digo… Daniel Radcliffe dizem muita coisa.

Colunas

As influências de Tolkien nas obras de Stephen King

by Cláudia Letícia Pivetti

“Um produto é algo feito em fábricas; uma marca é algo que é comprado pelo consumidor. Um produto pode ser copiado por um concorrente; uma marca é única. Um produto pode ficar rapidamente obsoleto; uma marca de sucesso é eterna. “

Stephen King

 

O universo de Tolkien influenciou muitas pessoas, inclusive escritores que hoje fazem parte da literatura contemporânea, como George R. R. Martin, J. K. Rowling, Stephen King, Neil Gaiman. É notável perceber elementos de fantasia nas obras desses autores e algumas características das obras do professor, mas alguns devem se perguntar “Stephen King? Mas ele não escreve horror e o que Tolkien influenciou?”. Esse artigo irá mostrar as influências do Tolkien nas obras do “mestre do horror” Stephen King.

Stephen King, nascido no dia 21 de setembro de 1947 na cidade Portland – Maine,   EUA, filhos de Nellie Ruth Pillsbury e Donald Edwin King. Stephen foi o segundo filho do casal e após a separação, junto com seu irmão, David (filho adotado), foram criados pela mãe. King passou sua infância em Fort Wayne, Indiana, e também em Stratford, Connecticut. Aos 11 anos, sua mãe, junto com Stephen e David, teve que voltar para Durham, Maine, pois seus avós necessitavam de ajuda.

King graduou na Universidade do Maine em 1977 e obteve qualificação para lecionar. Durante sua graduação participou do jornal da universidade “Maine Campus” e tinha sua própria coluna “King´s Garbage Truck”. Foi nessa época que Steve conheceu sua esposa, Tabitha, e se casou em 1971.

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Sua primeira obra publicada foi “Carrie” que foi traduzida para o Brasil por “Carrie, a estranha”. King achou a história tão ruim que jogou no lixo o romance, mas sua esposa encontrou no lixo e foi quem incentivou o autor a continuar e publicar. Depois disso King se tornou famoso e suas obras são uma das mais vendidas no mundo.

Em 1999, Steve foi atropelado por uma van numa estrada perto da sua residência e ficou gravemente ferido. Mas o acidente não abalou o King ao ponto de parar de escrever, pois o mestre do horror continuou escrever mais e conseguindo mais fãs.

Aos 19 anos, King era fissurado por livros de ficção científica, policiais, de horror e quadrinhos, além de gostar muito dos filmes de caubóis do Velho Oeste. Explorava também gêneros que eram bem populares naquela época: fantasia, e foi assim que conheceu as obras do Tolkien. Resolveu escrever sua própria história de fantasia intitulada “A Torre Negra” e é nessa saga, composta por 8 livros, que encontramos várias citações dos livros “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”. Porém Stephen não quis deixar sua obra parecida com a de Tolkien, pois tinha que fazer as coisas do jeito dele e não do jeito de Tolkien.

“Fiquei maravilhado com a mágica da história, com a ideia da jornada, a sua amplitude, e pelo tempo gasto em contar as lendas”

“Tinha que fazer as coisas do meu jeito. Não podia fazer as coisas do jeito de Tolkien, e se fizesse teria me dado muito mal […] Tinha que ser algo com os cenários escandinávicos de Tolkien […] mas não com seus personagens camponeses […]”- Coração Assombrado

A história de A Torre Negra é sobre a busca de Roland Deschain, o último da linhagem dos Eld e último pistoleiro, pela Torre Negra. Esta torre negra é o centro de todos os universos existentes, um ponto que existe em todos os espaços e tempos, e diz a lenda que no topo da torre estaria Deus, porem é algo que ninguém sabe, e para poder chegar a torre ele persegue o Homem de Preto, um ser que ele acredita saber a localização da Torre. O cenário de “O Pistoleiro” é o Mundo Médio, um mundo alternativo do nosso e envelhecido, deixando de existir.

Logo no prólogo do primeiro volume da saga “O Pistoleiro” ele escreve:

Os hobbits eram grandes quando eu tinha 19 anos (um número de alguma importância nas histórias que você vai ler).Havia provavelmente meia dúzia de Merrys e Pippins marchando pelo barro da fazenda de Max Yasgur durante o Grande Festival de Música de Woodstock, o dobro disso em número de Frodos, e Gandalfs hippies sem conta. O Senhor dos Anéis,de J. R. R. Tolkien, era tremendamente popular naquele tempo e, embora eu nunca tenha passado por Woodstock (certo, é uma pena), acho que fui no mínimo um meio-hippie. O suficiente, sem dúvida, para ter lido a coleção e me apaixonar por ela. Os livros da Torre Negra, como a maioria dos romances fantásticos escritos pelos homens e mulheres da minha geração. As Crônicas de Thomas Covenant, de Stephen Donaldson, e A Espada de Shannara,de Terry Brooks, são apenas dois dentre muitos), tiveram suas raízes nos de Tolkien.
Mas, embora eu tenha lido a coleção em 1966 e 1967, demorei a escrever. Reagi (e com um fervor algo tocante) ao ímpeto da imaginação de Tolkien — à ambição de sua história —, mas queria escrever uma história ao meu jeito e, se tivesse começado naquela época, teria escrito no dele. Isso, como a falecida Velha Raposa Nixon gostava de dizer, não seria direito. Graças ao senhor Tolkien, o século XX teve todos os duendes e magos de que precisava.- O Pistoleiro

É interessante perceber que durante a saga Steve faz menções de personagens dos livros do professor, mas não utiliza-os dentro da sua história e sim faz comparações com suas personagens e os lugares que elas percorreram.

Passaram acima de uma fissura que ziguezagueava num rumo norte-sul como um leito de rio seco… só que não estava morto. Lá no fundo corria um fino fio do mais escuro escarlate, pulsando como um batimento cardíaco. Outras fissuras menores esgalhavam-se dessa, e Susannah, que lera Tolkien, pensou: Isso foi o que Frodo e Sam viram quando chegaram ao coração de Mordor. Estas são as Fendas da Perdição.- As Terras Devastadas

É como se as personagens tivessem lido as obras de Tolkien e como elas são importantes para o próprio desenvolvimento. Encontramos também no livro “Canção de Susannah” uma personagem que gostaria de morar em Hobbiton, vivenciar a cultura do local, compara sua infância com o local.

Escritor Stephen King
Escritor Stephen King

“Gostara muito dos hobbits e achava que poderia passar o resto da vida em Hobbiton, onde o tabaco era a pior droga que rolava e os irmãos mais velhos não ficavam dias inteiros atormentando os caçulas. O pequeno chalé que John Cullum tinha no bosque o fazia voltar, com surpreendente força, àqueles dias e àquele período sombrio da sua vida. Pois o chalé transmitia de alguma forma uma sensação de convívio hobbit.” – Canção de Susannah

As obras de Tolkien influenciaram na vida das personagens da saga de King, algo que dificilmente encontramos em obras de outros autores que frisam a importância de Tolkien em suas escritas e vidas. King fez uma jogada esperta, com essas menções ele instiga o leitor a ler as obras do Tolkien, pois como uma pessoa irá saber o que é hobbits? Ou Hobbiton? E quem seria Sam, Frodo e Mordor? Pois alguns lugares da saga, King compara com lugares da mitologia de Tolkien  e para um leitor ter uma maior compreensão é importante saber sobre essa mitologia.

Também encontramos na obra “Canção de Susannah” menções de  Sam e Frodo, e se ambos enfrentaram algo parecido com o que as personagens do livro do King estão enfrentando.

“Tentou se lembrar se Frodo e Sam tiveram de enfrentar algo que se aproximasse dos horrores do mertiolato e não conseguiu se lembrar de nada. Bem, é claro que eles tinham duendes para curá-los, não tinham?” – Canção de Susannah

Em outra obra, “Insônia”, que possui ligações com “A Torre Negra”, também é visível menções de algumas personagens do Tolkien.

Quase tinha esperanças de que fosse, porque a palavra – Centuriões – começara a suscitar uma imagem muito mais terrível em sua mente cada vez que surgia: os ringwraiths da trilogia fantasiosa de Tolkien. Vultos encapuzados, que montavam cavalos esqueléticos de olhos vermelhos, atacando um pequeno grupo de hobbits amendrontados do lado de fora da taverna Prancing Ponny, em Bree.

Pensar em hobbits levou-o a pensar em Louis, e o tremor de suas mãos aumentou. – Insônia

Steve achava que ninguém leria a saga, pois era muito diferente de seus outros livros publicados.

“Eu não pensava que alguém fosse querer ler aquele livro”, disse. “Era mais uma fantasia à la Tolkien de algum outro mundo. E não estava completa. Havia muita coisa a ser resolvida, incluindo o que é essa torre e por que esse cara precisa ir para lá?” – Coração Assombrado

E até James Kidd, do jornal britânica The independent, disse “O Vento Pela

Fechadura faz alusões diretas a C.S. Lewis [autor de As Crônicas de Nárnia (1949-1954)] e a O Mágico de Oz (1900) de L. Frank Baum, além de ter uma forte dívida para com Tolkien e os westerns spaghetti de Sergio Leone”

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Não encontramos elfos, anões, duendes, orcs, trolls, hobbits nas obras do King, muito pelo contrário, de alguma forma eles influenciam em algo na personalidade, na vida das personagens que Steve criou. Para alguns podem ser insignificante essas comparações, mas ajudam muito o leitor a entender melhor a personagem e o que acontece com ela. Pois King instiga muito a importância do leitor estar na pele delas e acorda seus maiores pesadelos que arrepiam e fazem sentir medo para o resto da vida.

Dois autores totalmente distintos, mas que de alguma forma se interligam. Possuem seus próprios estilo de escrita, suas próprias ideias, seus próprios “jeitos”, mas um influenciou e o outro transpassou o essencial dessa influência.

Fandom

Domínio público: Quando a obra de Tolkien será de “todos nós”

Para contextualizar o artigo e saber a sua razão dele veja primeiro o vídeo acima. É Importante para você entender do que se fala a seguir. E clique AQUI para se inscrever no canal. Sobre a opinião de Tolkien contrária a adaptações de sua obra acesse AQUI.

by Eduardo Stark

Tendo em vista que a família Tolkien não pretende no momento vender os direitos das obras do professor para realizar novas adaptações. O que se vislumbra de mais próximo para que aconteça novas adaptações  é sob o tempo do Domínio Público.

Algumas pessoas ficaram em dúvida sobre o que seria Domínio Público e como isso repercutiria sobre as obras de Tolkien. Como advogado e administrador desse site, é quase uma obrigação esclarecer esse tema. Tenho aqui o objetivo de apresentar com palavras simples as questões jurídicas de direitos autorais. Apresentando conceitos e informações objetivas e sem o linguajar típico da área jurídica. Então vamos à consultoria…

Inicialmente é preciso saber o conceito de Direito autoral. Esse direito pertence ao autor de alguma criação intelectual (escrita, áudio, visual etc) em que ele poderá ter aproveitamento criativo e financeiro de sua obra. Ou seja, quem criar algo intelectualmente novo terá o direito de realizar atividades de modo exclusivo e ninguém além dele ou sem sua permissão poderá obter lucro.

O Direito Autoral não é eterno. Isso por que seria complicado limitar o acesso a informação e até mesmo por questões culturais. Se fosse um direito que transferisse aos herdeiros de forma eterna até hoje os descendentes de Richard Wagner teriam direitos sobre as obras teatrais das operas dos Anéis de Nibelungo. Ou toda vez que se fosse gravar um CD com músicas clássicas de Beethoven deveria se pagar uma quantia a família do músico que faleceu há mais de um século.

Quando passado um determinado prazo fixado por lei após o falecimento do autor, a obra poderá ser utilizada por qualquer pessoa, até mesmo com o objetivo de lucro, e sem autorização dos descendentes daquele autor. A isso damos o nome de Domínio Público.

No Brasil, Estados Unidos e no Reino Unido, o prazo dos direitos autorais é contado enquanto o autor estiver vivo somado a mais setenta anos após a sua morte. Sendo legado aos herdeiros o direito de atuar como proprietários intelectuais durante esse prazo.

Por exemplo, Antoine de Saint-Exupéry escreveu o livro O Pequeno Príncipe durante sua vida, tendo publicado em 1943. Esse autor faleceu em 1944. Nesse meio tempo seus descendentes teriam o direito sobre a obra até o ano de 2014 e a obra entraria em domínio público em 2015, como de fato aconteceu. Hoje qualquer pessoa pode publicar o livro O Pequeno Príncipe. No mesmo ano que entrou em domínio público já foi lançado um filme feito com técnicas de computação gráfica.

Outro exemplo é o caso do escritor Monteiro Lobato. Ele faleceu em 1948 e suas obras entrarão em domínio público em 2019. A partir desse ano qualquer emissora de televisão poderá fazer series sobre o mundo de Narizinho e a boneca Emília e qualquer editora poderá publicar esses livros.

Certamente nossa geração não verá o dia em que as obras de J. K. Rowling e George R.R. Martin serão domínio público. Pois ambos ainda vivem e gozam de boa saúde no momento.

Tolkien em 1958
Tolkien em 1958

O escritor J.R.R. Tolkien faleceu em setembro de 1973. Se for somado setenta anos e acrescido mais um ano teremos 2044 como a data que serão de domínio público suas obras. Isso quer dizer que qualquer pessoa poderá editar, copiar, traduzir, mudar, publicar, adaptar para filmes ou séries e tudo o que achar interessante e ainda ter o direito de obter lucro financeiro com isso.

Lembrando que as traduções não vão entrar em domínio público nessa época, por que elas são consideradas produtos autorais dos próprios tradutores. Por isso as próprias editoras terão que fazer suas próprias traduções.

Essa questão do prazo para entrar em domínio público varia de país para país. Sendo aqueles que aderiram à convenção internacional de direitos autorais ou que possuem prazos menores do que no Brasil e Reino Unido.

 

Animes da Terra-média ou Elfos com olhos puxados e falando japonês

 

Segundo a convenção de Berna passado cinquenta anos após o falecimento do autor a obra entrará em domínio público. Por exemplo, as obras de Tolkien entrarão em domínio público em 2024 (daqui a oito anos) em alguns países como Uruguai, Canadá, Bolívia, China, Egito e Japão.

Esses países, com exceção do Japão, não são considerados internacionalmente por terem grandes produções cinematográficas de entretenimento.

Contudo, o Canadá está localizado próximo aos Estados Unidos e poderia acontecer de algum cineasta se deslocar a fim de realizar adaptações. Nesse país existem vários leitores de Tolkien, com destaque para um dos maiores ilustradores o Ted Nasmith.

Chama a atenção especialmente o caso do Japão, que é notavelmente conhecido por diversas produções relacionadas a animações, os chamados Animes. Observado que nesse país os filmes de Peter Jackson alcançaram um grande público, nada impediria uma das empresas que trabalha com animações realizar algo com as obras de Tolkien.

Eu particularmente não acho que as obras de Tolkien tenham algum enquadramento para animações no estilo japonês, embora existam animes com perfil de fantasia medieval. Mas há outros meios, como exemplo filmes com técnicas de computação gráfica e stop motion. Não passa pela minha mente um Frodo com olhos puxados se caso fizerem filmes live action.

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A dificuldade de realizar uma adaptação no Canadá ou Japão é a venda para fora desses países, já que muitos ainda terão a plena vigência dos direitos autorais. Seriam, portanto, produções nacionais, o que não impediria de serem publicadas pela internet de modo informal.

Sem contar ainda o fato de que esses países poderão alterar suas leis e seus prazos de cinquenta anos passarão para setenta. Isso parece ser uma tendência, já que o Canadá recentemente aprovou um acordo internacional com a Nova Zelândia e outros países em que estendem os prazos de proteção autoral de um país em relação aos outros.

Certamente que grandes produções holywoodianas como vemos em O Hobbit e O Senhor dos Anéis só irão acontecer quando a família Tolkien decidir vender os direitos autorais ou quando a obra entrar em domínio público em 2044. Isso por que as grandes produções visam obter um grande retorno financeiro e isso só é possível com o público dos Estados Unidos para consumir.

Um exemplo de autor, cujas obras já entrou em domínio público no Canadá e no Japão, o amigo do professor Tolkien, o C.S. Lewis. Ele faleceu em 1963 e em 2013 completou cinquenta anos de seu falecimento, tendo suas obras entradas em domínio público em 2014 nesses países. Já se pode até mesmo encontrar sites com as obras completas do autor de Crônicas de Nárnia, tudo de forma legalizada. Em especial o Projeto Gutenberg canadense.

Ressalto ainda que o prazo para cair em domínio público não está interligado e não precisa ser o mesmo em relação ao país de origem da obra. Enquanto o Senhor dos Anéis irá se tornar domínio público em 2024 no Canadá, no Reino Unido, que é o país de origem da obra, isso só acontecerá em 2044. Tal fenômeno de prazos diferenciados acontece, por exemplo, com o já citado O Pequeno Príncipe, em que o mundo todo já considera como obra de domínio público, mas no seu país de origem, a frança, isso só acontecerá em 2039, em virtude de sua lei interna.

Co-autoria de Christopher Tolkien?

Se a co-autoria for indivisível a mesma regra do autor também se aplicará ao co-autor. Ou seja, se for considerado que Christopher Tolkien é um co-autor os direitos das obras que ele atuou entrariam em domínio público somente setenta anos após o seu falecimento.

Contudo, Christopher Tolkien se limitou em apenas editar e comentar os textos de seu pai. Salvo em poucos parágrafos ele interviu com algum escrito inovador, apenas para ajustar a obra.

Para que O Silmarillion, Os Filhos de Húrin e outros livros pudessem ser considerados como tendo co-autoria de Christopher Tolkien, seria necessário que ocorresse o fenômeno da indivisibilidade da autoria. Ou seja, não seria possível separar o que foi escrito por Tolkien e o que foi escrito por seu filho.

É claramente possível separar a autoria do Tolkien do que foi editorialmente alterado. A prova disso são os doze volumes da série History of Middle Earth, que contém todos os textos originais dessas obras.

O livro Arda Reconstructed de Douglas Charles Kane, presta um ótimo serviço indicando quais são os manuscritos do Tolkien que o seu filho se valeu para compilar o Silmarillion em 1977. Demonstrando claramente que a obra é divisível, se separa o autor do seu editor.

O direito de editor certamente permanecerá com os herdeiros de Christopher Tolkien. De modo que O Silmarillion e os outros livros póstumos que sofreram intervenções do filho do professor serão blindados pela lei de direitos autorais. Mas os manuscritos e as histórias não terão essa proteção e cairão em domínio público.

Existirá a versão do Silmarillion editada pelo filho do Tolkien, como conhecemos hoje e existirá as edições feitas por outras pessoas a partir dos manuscritos de Tolkien.

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Direito de marca relacionado a Tolkien

O direito de marca é diferente do direito autoral, pois está relacionado a algo que agrega a produtos e bens que podem ser explorados economicamente. E esse direito não tem um prazo limite como os direitos autorais, sendo apenas passível de renovação em órgãos de registros.

A Tolkien Estate já registrou diversos títulos como: “Children of Húrin”, “Silmarillion”, “Beren and Lúthien” e o próprio nome “Tolkien” (Sim, a família Tolkien autoriza o nome do site Tolkien Brasil). E do mesmo modo a empresa Saulz Zaentz (que tem os direitos dos filmes do Hobbit e O Senhor dos Anéis) registrou os termos “Middle-earth”, “Gandalf”, “Hobbit”, “Lord of the Rings” para produtos diversos.

Isso quer dizer que, mesmo as obras de Tolkien entrando em domínio público, não poderá existir um filme chamado “O Silmarillion”, sem antes ter o consentimento da família Tolkien. E também não poderá existir produtos (camisas, canecas, jogos, etc) com esse nome como marca dos produtos.

Certamente as obras de Tolkien serão adaptadas para o cinema. Isso é algo inevitável e o tempo irá proporcionar isso. Ou a família Tolkien venderá os direitos antes de 2044 ou os direitos irão chegar ao público. Só espero que as adaptações sejam algo que nos faça ter gosto de ver e ao menos imaginar que aquilo é algo digno da grandeza das obras do professor Tolkien.

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Caso tenha curiosidade de saber mais sobre domínio público e até mesmo ter acesso a obras que já estão nessa categoria acesse o site: www.dominiopublico.gov.br

Para ler a lei brasileira de direitos autorais acesse aqui: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm

Para ler a Convenção de Berna acesse Aqui: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1970-1979/d75699.htm

Entrevistas

Entrevista com o ilustrador Jef Murray!

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Entreva realizada por Eduardo Stark (administrador do site Tolkien Brasil) com o ilustrador Jef Murray, com tradução de Sérgio Ramos. O Jef Murray não é apenas um entrevistado, mas o consideramos como um colaborador constante do site Tolkien Brasil em diversos assuntos, de tal forma que é uma alegria publicarmos essa entrevista.

Jef Murray (www.jefmurray.com) é um artista, autor e ilustrador internacionalmente conhecido. Suas pinturas, desenhos e escritos aparecem em publicações de fantasia e jornais culturais ao redor do mundo. Sua arte estrelou calendários, cursos em vídeo e especiais para a televisão sobre J. R. R. Tolkien, e suas pinturas e desenhos foram expostos nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Holanda. Seu primeiro livro de contos, poesia e ponderações, Seer: A Wizard´s Journal (Vidente: Jornal de um Mago) foi publicado pela Oloris Publishing em 2012.

 

1.      Conte-me acerca de sua vida

 

Eu nasci em Melbourne, Florida, nos Estados Unidos, mas passei grande parte da infância no norte da Geórgia, aos pés das Montanhas Apalaches. Estas são, a propósito, as montanhas mais velhas do mundo, e elas ainda guardam inúmeros mistérios; me sinto abençoado por ter sido criado em local tão selvagem!

Fui educado em Atlanta e trabalhei no mundo dos negócios/engenharia por quase duas décadas antes de voltar atrás e começar a explorar as questões mais profundas; sobre a vida, sobre a arte, sobre mistério e magia…

2. Quando você começou a pintar?

 

Eu levei a sério as aulas de arte de estúdio primeiro na faculdade, mas tinha que fazer isso em segredo. As aulas de arte não eram nem mesmo assim chamadas no Instituto de Tecnologia da Geórgia; elas eram chamadas de cursos de “comunicações visuais”. E eu era um dos poucos não arquitetos a fazê-las. Mas, mesmo nos meus dias de engenheiro, eu desenhava e esboçava, fazia trabalhos com caneta e tinta, e criei minha companhia de design de logomarcas. Eu só comecei a pintar em meados dos anos 80, quando eu fiz aulas de pintura a óleo na Faculdade de Arte de Atlanta (agora chamada Faculdade de Design e Arte Savannah). Continuei pintando desde então, mas profissionalmente eu comecei em 1999.

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3.      Quando você teve o primeiro contato com os trabalhos de Tolkien?

 

A primeira lembrança que eu tenho é de minha mãe lendo O Hobbit para mim quando eu estava na 2ª série. Ela recitava um capítulo por noite para mim e meu irmão mais novo como estória de dormir, junto com capítulos dos contos de Nárnia; e desde então eu confundia os dois naquele reino encantado e misterioso de glamour infantil que é a lembrança.

Nós também soubemos, naquele tempo, que havia uma sequência para O Hobbit, mas que não tínhamos idade suficiente para ler antes de dormir. Felizmente, neste ponto, minha mãe estava certíssima; os pesadelos que poderiam ter acontecido se ela tivesse se deixado levar por nossos protestos seriam de proporções épicas! O que a minha imaginação infantil teria conjurado sobre ela lendo acerca dos Espectros do Anel, eu prefiro nem pensar!

Mas, finalmente, eu peguei O Senhor Dos Anéis no colegial e, como tantos outros, me apaixonei por aquele mundo mais encorpado que Tolkien havia criado. Isso foi mais estimulado pois, como falei, meu colegial foi realizado aos pés das Montanhas Apalaches, e para ultrapassar o Limiar do Selvagem, tudo que eu tinha que fazer era mergulhar na floresta que rodeava o campus.

No entanto, eu não sinto que realmente entendia e apreciava O Senhor Dos Anéis e O Silmarillion até voltar a ambos os mundos já adulto. E, como em muitas histórias clássicas, cada releitura subsequente me ensina um pouco mais sobre mim mesmo, sobre o grande mundo lá fora, sobre a natureza da vida e mistério; porque a cada leitura eu me aproximo dos textos como uma pessoa diferente.

 

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4.      O que você aprecia nos trabalhos de Tolkien?

 

Há muitos locais e pessoas maravilhosas no legendarium de Tolkien para que eu possa dar uma resposta adequada, então deixe-me virar sua pergunta de cabeça para baixo e sugerir cenas que não me inspiram.

Através de seus escritos, Tolkien adota o ponto de vista dos povos livres que escolheram se opor e superar a maldade, a vontade de poder, ódio, ao invés de tomar a perspectiva dos aliados do mal. Nós tipicamente só “entramos na cabeça” dos personagens degenerados e corrompidos (Morgoth, Sauron, o Rei dos Bruxos, Smaug, Saruman, os orcs, etc.) através das experiências, perspicácia e conselhos dos Sábios; e mesmo nesses casos, fica claro que eles estão expressando suas melhores impressões de como o Inimigo opera, ao invés de um entendimento pessoal íntimo dos trabalhos do mal.

Então, Tolkien pega o lado que eu creio ser aquele que todos nós devamos tomar, que é o das pessoas falíveis, apesar de decentes, lutando contra o mal. Ele não chafurda em cenas e imagens horríveis, embora eventos horríveis estejam certamente retratados em seus escritos. Na verdade, ele transita pela esperança, perseverança, na fé, na honra e no amor.

Como resultado do próprio posicionamento de Tolkien, eu raramente pintei ou desenhei uma cena da Terra-Média que fosse deliberadamente feia, sinistra ou que eu tivesse a intenção de glorificar ou honrar o poder ou triunfo do mal. Eu espero seguir Tolkien no caminho da luz brilhante, da vida, e da profunda ânsia que temos pelo bem, pela verdade e as coisas belas.

E, como eu disse, os contos de Tolkien estão impregnados de cenas que permitem a um artista retransmitir: florestas outonais e névoas matinais espumantes; as colinas onduladas do Condado; as planícies arrebatadoras de Rohan; os picos escarpados das Montanhas Sombrias; a beleza do povo élfico e suas moradas; o valor dos Dúnedain; a agudeza da luta resoluta contra adversidades esmagadoras; a paz que vem com o reconhecimento da fraqueza e da necessidade de ajuda de uma Providência maior.

Essas são as coisas que eram importantes para Tolkien, e são as coisas que são importantes para mim como artista.

 

5.      O que você acha dos filmes de Peter Jackson?

 

Quando eu penso no trabalho de Peter Jackson, eu lembro do poema infantil de Henry Wadsworth Longfellow que diz assim:

“Havia uma garotinha

Que tinha um cachinho

Bem no meio de sua testa.

Quando ela era boa,

Ela era muito boa,

Mas quando ela era má, ela era horrível.”

Existem muitas e muitas coisas que Jackson e outros escritores e artistas contribuíram para suas versões de O Senhor Dos Anéis e O Hobbit que foram fantásticas e cheias de magia. Mas, houve tantas outras coisas, penso eu, que foram horríveis. Alguns aspectos da nobreza original dos contos parecem ter sido estupidificados, sensacionalizados e algumas vezes apenas confundidos.

É claro que não podemos julgar O Hobbit completamente ainda, pois só conferimos a primeira parte, mas esta, para mim, não fez jus ao amado conto infantil que fez parte do crescimento de tantos de nós. Quanto a OSdA, receio que muita liberdade foi tomada com a estória, e muita ênfase foi dada a cenas de perseguição, batalhas, e uma obsessão com imagens chocantes que tangenciam ou glorificam o mal, a feiura e o horror; e isso, às vezes, com a exclusão da esperança, honra, auto sacrifício, lealdade e tantas outras qualidades com as quais Tolkien deliberadamente despejou em seus personagens.

Mas, O Hobbit pode se redimir – nós só podemos esperar e rezar!

 

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6.      Qual seu personagem preferido da Terra-Média?

 

Novamente, não há resposta simples a essa pergunta. Os personagens de Tolkien raramente são muito simples; eles geralmente exibem profundidade em sabedoria, nuance, bom humor, vaidade, humildade, inteligência. Eles passam por uma gama de personagens difíceis, confusos, e criaturas comprometidas como Gollum até seres profundos e sábios como os Valar. E Tolkien, de forma convincente, cria não apenas uma multitude de raças, mas de uma grande variedade dentro de cada raça, então escolher ainda que um punhado de personagens favoritos é difícil.

Dito isso, como a maioria, sou muito atraído pelos Hobbits em particular, porque eles parecem dispor das melhores qualidades de bondade, solidez, sensibilidade; não são altos aristocratas, mas almas simples com quem você amaria dividir uma refeição e uma bebida. Os outros personagens que me intrigam são os Istari, os magos. Como anjos encarnados, eles constroem uma ponte, de alguma forma, entre a humanidade caída e o mundo espiritual, e apesar disso são, também, vulneráveis à corrupção e engano.

Um personagem favorito meu, em particular, e que quase não é mencionado nos trabalhos de Tolkien, é Alatar, um dos Magos Azuis que “foram para o leste”. Eu sempre fico intrigado quando Tolkien deixa para o leitor se perguntar acerca de personagens que ele mesmo deixou em aberto de propósito. Quem eram os Magos Azuis? Por que eles viajaram ao leste, e por que, aparentemente, eles não ajudaram na batalha contra Sauron? Nós não sabemos, mas é divertido especular; e eu mesmo fiz isso em algumas de minhas estórias curtas.

 

7.      Você pinta apenas sobre Tolkien?

 

De forma alguma! Eu pinto e desenho também cenas de Nárnia dos contos de C. S. Lewis e de outros contos de fadas. Além disso, eu ilustrei alguns livros, tanto cavalheirescos, como “The Magic Ring” [O Anel Mágico] de Fouque, quanto estórias infantis como “Black And White Ogre Country” [País-Ogro Preto E Branco] de Hilary Tolkien. Hilary, a propósito, era irmão de J. R. R. Tolkien. Você pode ver mais de minhas pinturas e desenhos em www.jefmuray.com.

 

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8.      Me conte mais sobre como é pintar sobre Tolkien

 

Toda arte é exploração, e há poucos mundos mais prazerosos de se explorar do que o de Tolkien. E isso é precisamente o que se faz quando se pinta; é dada a você a oportunidade de imaginar como um local ou pessoa se pareceria. E, à medida que você prossegue, você geralmente não fica com a sensação de estar “inventando coisas” como se as estivesse descobrindo pela primeira vez – você as “vê” como elas realmente devem ter sido.

Eu prefiro pensar que Tolkien também descrevia sua escrita e a forma que contava história em termos similares; é uma descoberta seletiva – a descoberta de contos e pessoas que, de alguma forma, não são menos reais pelo fato de nunca terem existido em carne e osso. De alguma forma, se estamos fazendo nosso trabalho corretamente como artistas, eles são mais reais em nossa arte do que talvez eles pudessem ser fisicamente. E o que é mais divertido de pintá-los é que não é somente para mim como artista; eu tenho a chance de tornar reais esses lugares e pessoas para os outros, e partilhar o que eu aprendi nas minhas jornadas à Terra-Média. Não há prazer maior para mim do que ter alguém apreciando uma pintura ou desenho meu e dizer “sim, foi exatamente como eu imaginei!”.

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Sobre Filmes

Assista a ‘versão purista’ do início do filme O Hobbit, uma jornada inesperada!

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O professor Tolkien tem milhares de admiradores, leitores, e fãs. Essa diversidade de pensamentos e gostos geram diversas visões acerca de suas obras e até mesmo quanto a forma de sua adaptação nos cinemas. Algumas pessoas classificam essas pessoas de acordo com algum tipo de paradigma..

Em se tratando dos filmes,  existe claramente aquelas pessoas que são fãs do diretor Peter Jackson e sua produção nos cinemas, são chamados comumente de RINGERS e há também aquelas pessoas, que embora admiram os filmes e sua adaptação, ainda gostariam de ver algo mais fiel aos livros no cinema, esses  são chamados de PURISTAS. (Lembrando que ambos gostam dos filmes e dos livros, mas cada um com uma proporção diferenciada).

As maiores contestações dos Puristas reside no fato de que os roteiristas do filme distorceram alguns pontos do livro, em especial quando criam novas coiras ou mesmo eliminam partes fundamentais da história.

Em 2007,  três fãs puristas  Kirk Shelton, Phil Dragash, e Aleksander Kerr decidiram editar os filmes de Peter Jackson, retirando partes que consideravam inadequadas (como os elfos lutando no abismo de helm, cenas de faramir etc). E formaram assim as versões puristas dos filmes “The Lord of the Rings: The purist Edition”. Eles usaram as versões estendidas dos filmes e as reduziram e modificaram a ordem das cenas, tentando proporcionar algo mais próximo dos livros. Os três filmes estendidos que tem cerca de doze horas, na versão purista ficou com cerca de oito horas.

Em comparação com o Senhor dos Anéis, o Hobbit, uma jornada inesperada teve muito mais mudanças e acréscimos, até mesmo em partes essências da história. Esses acréscimos e modificações foram necessários para transformar a história do Hobbit que é narrada em um pequeno livro em três filmes de mais de três horas cada.

Recentemente um fã, seguindo a mesma linha dos puristas mencionados, criou uma introdução do filme O Hobbit tendo como base o livro. O Dalton Filipino, usando seu pouco conhecimento em edições de vídeos editou som e imagem do filme O Hobbit, uma jornada inesperada e formou o primeiro vídeo de uma série que ele pretende fazer.

Ele tem a pretensão de editar todos os filmes e formar um único com cenas mais próximas do livro possível. Segundo informou Dalton, ele ainda está aguardando os outros dois filmes e suas versões estendidas para só assim concluir o trabalho. Nesse tempo de espera ele pretende aperfeiçoar sua capacidade de editar os vídeos, formando algo que não passe a ideia de ser uma edição de fã, mas um filme mesmo. Por razões de direitos autorias ele não pretende compartilhar suas edições na internet,  irá apenas mantê-las para uso próprio. Mas ele deixou o email pessoal para caso alguém queira saber mais sobre esse projeto: daltonfelipino@yahoo.com.br.

O Dalton Filipino disponibilizou o resultado de sua primeira edição, veja e dê sua opinião a respeito:

 

Para acompanhar mais novidades você poderá participar do nosso grupo no facebook (AQUI) onde você poderá encontrar vários fãs de todo o Brasil e do mundo. Ainda poderá curtir nossa fanpage e ter acesso a novidades (AQUI) pode ainda nos acompanhar no canal do youtube (AQUI) e pelo twitter (AQUI). E se você quiser pode mandar um email com alguma dúvida ou mesmo se você escreveu algo e gostaria de publicar: tolkienbrasil@gmail.com

 

 

Sobre Filmes

Cena inédita da versão estendida de O Hobbit, uma jornada inesperada

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A Warner Bros lançou finalmente uma data de lançamento e mais informações sobre a versão estendida do filme O Hobbit,uma jornada inesperada.

O filme estará disponível para compra nas lojas dos E.U.A em 05 de novembro desse ano, mas já poderá ser feito o pedido a partir do dia 01 de Outubro, e será possível fazer o download do filme (por meio pago) em 22 de outubro desse ano. A data internacional de lançamento ainda não é certa, mas provavelmente seja no dia 04 de novembro.

Em relação a conteúdo, haverá cerca de apenas 13 minutos de cenas extras.

 

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Na versão dos E.U.A será possível adquirir os filmes em três formas:

1 – 5 discos de Blu-ray com cenas em 3D (incluindo uma versão do filme sem 3 D em Blueray)
2- 3 disco Blu-ray (provavelmente sem aqueles sobre os bastidos)
* 5-disc DVD ($34.99

Segundo Peter Jackson:

“Estou muito feliz que a versão estendida dará aos fãs a oportunidade de experimentar algumas cenas-chave do filme de como eles foram originalmente filmados, bem como uma abundância de características especiais. É emocionante  apresentar esta versão ampliada e enriquecida de ‘Uma Jornada Inesperada’ permitindo que os fãs mergulhem totalmente no filme, antes de ver a segunda parte da trilogia.”

Os discos de bastidores terão cerca de nove horas de conteúdo.  são comentários em áudio com o  Peter Jackson, diretor / produtor / roteirista, e Philippa Boyens, co-producer/ roteirista, e “Os apêndices”, um documentário de várias partes enfocando diversos aspectos do filme e da Trilogia.

 

Você pode conferir a cena lançada aqui:

 

 

É interessante uma cena de uma conversa entre Elrond e o Bilbo para mostrar sua amizade. É mais interessante ainda para mostrar a aproximação dos hobbits com os elfos. Durante todo o filme do Senhor dos Anéis só há basicamente um diálogo entre um hobbit e uma elfa, o que deixou um certo vazio na relação de Elrond com os hobbits (ele só conversa com Gandalf  e Aragorn basicamente).

Veja o texto oficial do lançamento do filme (em inglês)

THE HOBBIT: AN UNEXPECTED JOURNEY EXTENDED EDITION

A PRODUCTION OF NEW LINE CINEMA
AND METRO-GOLDWYN-MAYER PICTURES,
ARRIVES ON DIGITAL DOWNLOAD ON
OCTOBER 22TH AND ON BLU-RAY 3DTM,
BLU-RAY™ AND DVD NOVEMBER 5TH FROM
WARNER BROS. HOME ENTERTAINMENT

Features a 13-Minute Longer Cut and 
 Nearly Nine Hours of New Special Features
Burbank, Calif., July 31, 2013 – Fans of Middle-earth will have the opportunity to gain a broader experience of The Hobbit: An Unexpected Journey, from Academy Award®-winning filmmaker Peter Jackson, when the epic fantasy adventure is released as an Extended Edition on Digital Download October 22nd and on Blu-ray 3D, Blu-ray and DVD on November 5th from Warner Bros. Home Entertainment (WBHE). A production of New Line Cinema and Metro-Goldwyn-Mayer Pictures, this new cut includes 13 minutes of extra film footage that extends individual scenes, making this the must-see, definitive version for fans. All disc versions of the Extended Edition include nearly nine hours of new bonus features and will be available just ahead of the December 13 theatrical release of the second film of the trilogy, The Hobbit: The Desolation of Smaug.

“I’m thrilled that the Extended Edition will give fans the opportunity to experience certain key scenes in the film as they were originally shot, as well as an abundance of special features,” said Jackson. “It’s exciting to present this expanded and enriched version of ‘An Unexpected Journey’ to allow fans to fully immerse themselves in the movie, before seeing the second part of the trilogy.”
The Hobbit: An Unexpected Journey Extended Edition will be available as a 5-disc Blu-ray 3D set ($54.98 SRP) that features the Blu-ray 3D and Blu-ray versions of the Extended Edition; a 3-disc Blu-ray ($35.99) and a 5-disc DVD ($34.99) The Blu-ray 3D, Blu-ray and DVD all include UltraVioletTM which allows consumers to download and instantly stream the Extended Edition in high definition to a wide range of devices including computers and compatible tablets, smartphones, game consoles, Internet-connected TVs and Blu-ray players.*
The nearly nine hours of new special features boasts audio commentary with Peter Jackson, director/producer/screenwriter, and Philippa Boyens, co-producer/screenwriter, and “The Appendices,” a multi-part documentary focusing on various aspects of the film and the Trilogy. Complete special feature details are provided below.
The first of a trilogy of films adapting the enduringly popular masterpiece The Hobbit, “The Hobbit: An Unexpected Journey” was nominated for three Academy Awards®1.

SYNOPSIS

The Hobbit: An Unexpected Journey is the first in Peter Jackson’s highly anticipated trilogy adapting the enduringly popular masterpiece The Hobbit, by J.R.R. Tolkien.
The adventure follows the journey of title character Bilbo Baggins, who is swept into an epic quest to reclaim the lost Dwarf Kingdom of Erebor from the fearsome Dragon Smaug. Approached out of the blue by the Wizard Gandalf the Grey, Bilbo finds himself joining a company of 13 Dwarves led by the legendary warrior, Thorin Oakenshield. Their journey will take them into the Wild, through treacherous lands swarming with Goblins, Orcs and deadly Wargs, as well as a mysterious and sinister figure known only as the Necromancer.
Although their goal lies to the East and the wastelands of the Lonely Mountain, first they must escape the Goblin tunnels, where Bilbo meets the creature that will change his life forever…Gollum.
Here, alone with Gollum, on the shores of an underground lake, the unassuming Bilbo Baggins not only discovers depths of ingenuity and courage that surprise even him; he also gains possession of Gollum’s “precious” ring that holds unexpected and useful qualities…A simple, gold ring that is tied to the fate of all Middle-earth in ways Bilbo cannot begin to know.
The screenplay for The Hobbit: An Unexpected Journey is by Fran Walsh & Philippa Boyens & Peter Jackson & Guillermo del Toro, based on the novel by J.R.R. Tolkien. Jackson also produced the film, together with Carolynne Cunningham, Zane Weiner and Fran Walsh. The executive producers are Alan Horn, Toby Emmerich, Ken Kamins and Carolyn Blackwood, with Boyens and Eileen Moran serving as co-producers.

New Line Cinema and Metro-Goldwyn-Mayer Pictures (MGM), Present a WingNut Films Production, The Hobbit: An Unexpected Journey. All three films in The Hobbit Trilogy, also including The Hobbit: The Desolation of Smaug, and the final film, The Hobbit: There and Back Again, are productions of New Line Cinema and Metro-Goldwyn-Mayer Pictures (MGM), with New Line managing production. Warner Bros. Pictures handled worldwide theatrical distribution, with select international territories as well as all international television distribution handled by MGM.

ALL-NEW SPECIAL FEATURES ON BLU-RAY 3D, BLU-RAY AND DVD:

Commentary with Peter Jackson, Director/Producer/Screenwriter and Philippa Boyens, Co-Producer/Screenwriter
The Appendices – A multi-part chronological history of the filming of The Hobbit: An Unexpected Journey, covering pre-production in the various departments of the film in the months leading up to the start of principal photography, the boot camp training for the main cast, the work done on set chronologically through the three shooting blocks and in the world of its digital effects.
New Zealand: Home of Middle-earth

The Hobbit: An Unexpected Journey Extended Edition
Street Date: November 5, 2013
Order Due Date: October 1, 2013
Rating: PG-13
Run Time: 184 mins.
Blu-ray 3D: $54.98 SRP
Blu-ray: $35.99 SRP
DVD: $34.99 SRP

Note: All enhanced content listed above is subject to change.

Blu-ray Disc™ and Blu-ray™ and the logos are the trademarks of Blu-ray Disc Association.
Warner Home Video Blu-ray Discs offer resolution six times higher than standard definition DVDs, as well as extraordinarily vibrant contrast and color and beautifully crisp sound. The format also provides a higher level of interactivity, with instant access to extra features via a seamless menu bar where viewers can enjoy features without leaving or interrupting the film.

ULTRAVIOLET

*UltraViolet allows you to collect watch and share movies and TV shows in a whole new way.  Available with the purchase of specially marked Blu-ray discs, DVDs and Digital Downloads, UltraViolet lets you create a digital collection of movies and TV shows.  Services such as Flixster and VUDU allow you to instantly stream and download UltraViolet content across a wide range of devices including computers and compatible tablets, smartphones, game consoles, Internet-connected TVs and Blu-ray players.  Restrictions and limitations apply.  Go to http://www.ultraviolet.flixster.com/info for details.  For more information on compatible devices go to wb.com/ultravioletdevices.


About Warner Bros. Home Entertainment Inc.

Warner Bros. Home Entertainment (WBHE) brings together Warner Bros. Entertainment’s home video, digital distribution and interactive entertainment businesses in order to maximize current and next-generation distribution scenarios. An industry leader since its inception, WBHE oversees the global distribution of content through packaged goods (Blu-ray Disc™ and DVD) and digital media in the form of electronic sell-through and video-on-demand via cable, satellite, online and mobile channels, and is a significant developer and publisher for console and online video game titles worldwide. WBHE distributes its product through third party retail partners and licensees, as well as directly to consumers through WBShop.com and WB Ultra.

About Metro-Goldwyn-Mayer Inc.
Metro-Goldwyn-Mayer Inc. is a leading entertainment company focused on the production and distribution of film and television content globally.  The company owns one of the world’s deepest libraries of premium film and television content.  In addition, MGM has investments in domestic and international television channels. For more information, visit http://www.mgm.com

Sobre Filmes

Posters em 3d dos personagens de O Hobbit, uma jornada inesperada

Veja alguns posters em 3d dos personagens de O Hobbit, uma jornada inesperada. Em alguns cinemas essas imagens foram colocadas para divulgação do filme antes de sua estréia.Alguns apresentam pequenos defeitos na imagem pela velocidade que se movimentam, mas nada que atrapalhe a visão do poster:


Gandalf

 

Bilbo

 

 

Thorin

Bofur

 

Ori